Bella p.d.v

  Segurei o envelope pardo com certo receio do que poderia encontrar dentro dele, levei alguns minutos longos para abri-lo e olhar e então meu coração disparou. Eram fotos e havia varias delas, e se aquilo tivesse haver com nosso fim de semana? Se alguém tivesse tirado fotos dos nossos momentos e resolveu mandar para Tanya? Eu estaria perdida? Nós estaríamos perdidos? Edward continuou cabisbaixo enquanto eu demorava séculos para finalmente pegar as fotos em minhas mãos, enfim um alívio percorreu todo meu corpo, eliminando a adrenalina que tinha sido injetada segundos antes. Mas eu não deveria ter me sentido assim, uma alegria horrível me dominava por completo, como se eu sempre quisesse ter visto aquelas fotos, como se eu tivesse esperado minha vida inteira para ver aquelas cenas. Era a Tanya, em diversos lugares, com caras diferentes, na boate, no motel, e até mesmo na rua, atrás havia datas se referindo aos dias que ela o traia.

  - Não deram nem 6 meses que estávamos casados quando ela começou. – a voz dele saiu rouca e abafada.

  - Edward... Eu... Sinto muito. – menti.

Eu me odiava por estar sentindo isso, mas sou humana e infelizmente humanos são assim... Egoístas. Não sentia muito, alias eu não sentia nada, eu queria mesmo era gritar na cara dele: Eu te avisei! Bem feito seu idiota que acreditou nessa vagabunda! Mas não gritava, eu não podia, era injusto, do contrário, estiquei minha mão e afaguei seus cabelos, dessa vez ele levantou os olhos até se encontrarem com os meus.

  - Como ela pôde ter feito isso comigo? O que fiz de errado? Quer dizer, eu nunca deixei de fazer nada que poderia ter a deixado feliz. Eu dei amor, carinho, compreensão e dinheiro! Toda mulher quer isso. Porque ela não? Porque me traiu? Eu não sou ruim na cama... quer dizer eu acho, eu sou ruim?

Olhei assustada e pensei sinceramente que ele poderia ter tomado uma grande quantidade de bebida alcoólica enquanto eu estive fora.

  - Edward você ta bem? Porque está me perguntando isso?

  - Sabe de uma coisa? Eu devo ser o homem mais corno de New York e porque? O que eu fiz?

  - Edward pare de se culpar! A culpa não é sua e sim dela.

  - Agora tudo faz sentido, as saídas constantes dela, todas as desculpas esfarrapadas, as roupas sensuais que tinha no armário dela, claro que não era tudo pra mim! Era para os mil amantes que ela tinha. Bella, ela nem ao menos esperou que fizéssemos um ano de casados, eu estava tão feliz, eu sentia como se tudo aquilo fosse um sonho perfeito, que não poderia acabar.

  - Eu entendo Edward, você é apaixonado nela desde a quinta série.

  - Será que em todo esse tempo, ela mentiu pra mim? Quer dizer, será que nunca me amou? Todo o tempo foi em vão? Como ela pode ser tão falsa a ponto de mentir pra mim nesses anos? E eu tão idiota, eu me matava para fazer aquela mulher feliz, a ponto de querer dedicar cada minuto do meu tempo para ficar do lado dela.  

Fiquei calada esperando que o Edward continuasse a filosofar sobre as questões que levaram a Tanya traí-lo, para mim, a única razão plausível é que ela era uma vadia. Isso era tão óbvio, ela sempre foi, e pessoas como ela, não são capazes de mudar.

  - E o que eu recebi em troca? Isso! – ele pegou as fotos e olhou com raiva – traição e mais traição! Olha aqui Bella, até na rua, na confeitaria no setor da nossa casa! – ele me mostrou a foto.

A Tanya e outro homem de cabelos pretos na altura do fim da orelha, um sorriso marcante e os olhos escuros, se beijavam em uma mesa da confeitaria.

  - Aquela vadia, ah eu vou lá mandar ela ir embora da minha casa e não olhar na minha cara nunca mais. – ele disse se levantando.

  - Edward não! Você não pode ir falar com ela desse jeito – eu segurei seus ombros impedindo de continuar.

  - Bella eu... não sei porque ela fez isso comigo, é injusto.

Disse em um fio de voz e logo depois me abraçou, foi um abraço forte e me fez ter uma espécie de deja vu, que em nossos tempos de amizade ele fazia isso quando estava sofrendo pela Tanya, tão típico, tão clichê. Aninhou sua cabeça em meu ombro e comecei a fazer carinho em seus cabelos.

  - Que tal irmos à cafeteria daqui da empresa mesmo? Só pra você... Sei lá, espairecer um pouco.

Depois de algum tempo ele se soltou dos meus braços e tentou sorrir pra mim, objetivo não alcançado e não pude evitar uma careta. Ele deve estar realmente mal.

  - Vamos sim, talvez seja melhor mesmo.

Ele segurou minha mão e entrelaçou seus dedos nos meus, eu devia soltar, mas não queria. Saímos em direção ao elevador e eu preferi não olhar para mesa da Cindy para confirmar se ela estava ali, subimos para o terraço e para nossa sorte a cafeteria da empresa não estava muito cheia, escolhemos uma mesa mais próxima da sacada sendo mais distante um pouco.

  - Quem mandou aquele envelope pra você?

  - Não sei. Ele chegou do nada sem nenhuma pista de quem poderia ter mandado, a única escrita que tem são aquelas datas.

  - Edward... você nunca desconfiou de nada?

  - Não, eu sempre fui um bobo cego que não queria ver a verdade estampada na sua cara. Quer dizer... na verdade um dia eu cheguei a desconfiar, ela me disse que iria a casa de uma amiga, achei estranho porque ela já não conversava com essa amiga a muito tempo, mas ela acabou indo. Então liguei pra irmã dela, a Kate, e ela me disse que fazia anos que a Tanya não conversava com aquela amiga e que tinha muito tempo que também não a visitava, ou seja, todas as vezes que Tanya disse que visitava a Kate não era verdade. Mas é claro! Tava tudo na minha cara e eu nunca percebi.

  - E o que ela te disse sobre isso?

  - Me disse que a Kate estava errada, elas tinham brigado e talvez ela queria se vingar dela e outras coisas sem sentido... mas pra mim, a única coisa que eu fiz foi me desculpar milhões de vezes e me culpar por dias pensando que tinha sido um idiota com ela. Ela devia rir de mim Bella, quando se encontrava com aqueles caras ela ria do quanto eu era um imbecil.

  - Eu não sei o que te dizer, me desculpe. Olha você não tem culpa alguma sobre isso, o que ela fez não tem explicação. O que resta agora é você ver se quer acabar com isso e tocar sua vida.

  - Vou tirar ela da minha casa, vou dizer tudo que tenho pra dizer...

  - E o que tem a dizer? Vai xingá-la e mandá-la pra fora?

  - O que quer dizer Bella?

  - Quero dizer que antes de tudo precisa pensar, colocar tudo em seus lugares, descobrir o que realmente tem a dizer, xingamentos não vão levar a nada, apesar de que sei que é só isso que se encaixa a ela. – eu sorri.

  - Obrigado, por tudo, por sempre ter tentado me mostrar que ela não valia nada e eu continuava insistindo no meu erro.

  - De nada, eu acho.

Sorrimos um para o outro e continuei ouvindo tudo o que ele tinha a dizer.

Edward p.d.v

Ouvi o barulho do carro estacionando na garagem e me arrumei melhor na poltrona. Apertei o envelope pardo em meu colo e respirei fundo algumas vezes tentando parecer despreocupado e calmo. A maçaneta girou e ela entrou cantando alguma música que eu não me preocupei em reconhecer, abriu um enorme sorriso e correu ao meu encontro, sentou em meu colo e encheu meu rosto de beijos.

  - Ah meu amor! Que bom te ver aqui, mais tão cedo? Teve folga do trabalho?

Continuei calado e apenas fixei em seus olhos, antes eu acreditaria nesses carinhos infindáveis, nessa inocência, mas agora não, agora eu sabia o que ela realmente era.

  - Aconteceu alguma coisa meu amor? – ela disse saindo do meu colo.

  - Me explique você! – disse jogando o envelope em suas mãos.

Ela me olhou confusa e abriu o envelope rapidamente, continuei fixado em seus olhos azuis e percebi a reação dela quando viu as fotos. Passou uma por uma como se não acreditasse que tinha sido descoberta, possivelmente repassou os lugares em sua mente tentando se certificar de que tinha feito tudo tão bem para que ninguém descobrisse, ficou visivelmente apreensiva, e suas mãos tremiam, engoliu em seco e deu um sorriso sem graça.

  - O que é isso amor? Não acredito que você acreditou nessas montagens baratas!

  - Montagens? Para de mentir Tanya! Eu sei de tudo!

  - Do que está falando meu bem? Isso aqui não é verdade! São montagens, não percebe? Eu nunca faria isso com você, nunca!

  - DEIXA DE SER MENTIROSA! Não adianta contornar a história Tanya, é tarde demais. Será que você achou que eu nunca ficaria sabendo disso?

  - Edward, meu amor, para, o que ta acontecendo com você? Você sabe, eu sei que sabe, que isso é uma completa mentira, eu amo você, porque faria isso?

  - Eu queria acreditar nisso mesmo Tanya, como queria.

  - E porque não acredita? Eu estou muito chateada com você Edward, duvidando de mim, logo de mim, que te amo tanto, que sou completamente louca por você.

  - CHEGA TANYA! CHEGA! EU NÃO VOU MAIS ACREDITAR NAS SUAS MENTIRAS! ACABOU! VOCÊ NÃO VAI MAIS ME ENGANAR!

  - Para você Edward! Não posso crer que está duvidando de mim. Eu estou tão mal, pensar que meu próprio marido não confia em mim – ela disse fingindo estar magoada.

  - Acabou o teatro Tanya, não precisa mais mentir, pode dizer. Você quer negar? Depois de todas essas provas? Eu só queria saber de verdade, porque fez isso comigo?

  - Eu não fiz nada meu amor!

  - PARA TANYA, QUE SACO, ADMITE SUA VAGABUNDA! – segurei os punhos para que não a empurrasse.

Mais do contrário de mim, a sua mão foi até meu rosto me dando um tapa. Aquilo foi o estopim, depois de tudo eu ainda era o vilão da história? Eu estava cansado de ter sido esse tempo todo um fantoche para os desejos dela, enganado e ainda depois de descobrir ter que ficar vendo esse teatrinho que ela fazia querendo me convencer, mais uma vez, que era inocente.

  - Acabou, vai embora da minha casa – forcei para que não me descontrolasse.

  - Como é que é?

  - Vai embora daqui! Eu não quero ver você nunca mais, pega toda essas suas coisas e não fica mais nenhum segundo aqui!

  - Está me expulsando da minha casa?

  - Da sua casa uma vírgula Tanya! Essa casa é minha e você vai procurar algo pra morar com algum dos seus amantes, não vai ser dificil pra você né?

  - Você não fala assim comigo Edward, você não tem o direito!

  - Eu não agüento mais suas mentiras, suas falsidades, chega Tanya! Não sou mais o seu fantoche, o seu idiota que você podia brincar e inventar qualquer desculpa que eu acreditava, acabou!

  - Não vou embora daqui ta? A casa não é sua Edward! A casa é minha! O dinheiro é meu! Alias se não fosse ao meu tio você não teria nem essa casa!

  - Como é que é? Ta querendo dizer que eu só estou na empresa do seu tio porque casei com você?

  - Mas é claro! Você achou mesmo que você se elevaria do nada para simplesmente ser gerente de uma empresa como a Good Life? Você tem tudo o que tem por minha causa, porque se casou comigo! E agora está jogando mesmo, toda nossa história, assim na lama? Como se não fosse nada?

  - Como se não fosse nada? Peraí, foi você que jogou toda nossa história na lama! Você que acabou com nosso casamento! Tanya, você não esperou nem fazermos um ano de casados e já estava me traindo com qualquer cara. Como pôde mentir esse tempo todo pra mim? Disse que me amava Tanya...

  - E eu te amo meu amor, amo tanto.

  - Você não ama sua vadia! A única coisa que você ama, é você mesma! Sempre pensando em você, no seu bem estar, no seu prazer, no seu estranho conceito de felicidade.

  - Você não fala assim comigo, não tem o direito de falar isso pra mim. E sabe de uma coisa? Eu fiz sim, eu fiz tudo isso e sabe o que é melhor? Não me arrependo de nada! Menti, menti sim Edward, eu não amo você, nunca amei, eu te usei esse tempo todo.

Então ela enfim deixou a máscara cair. Porque eu fingi que não enxergava isso? Estava aí em todos esses anos, a verdadeira Tanya na minha frente, quando ela tratava mal meus amigos, quando fazia coisas ruins com a Bella ou com os outros alunos excluídos da escola, e eu simplesmente fingi que não era comigo, que não era ela e na verdade, sempre foi, ela sempre foi má, insensível.

  - Me usou?

  - Claro! Bom, ficar só com você era muito chato Edward, eu precisava mudar, conhecer outras coisas. Mas eu sabia que quando voltasse teria você para me satisfazer e não foi diferente. Você sempre esteve aqui.

  - Mas porque casou comigo se na verdade nunca me amou?

  - Meu tio precisava de um idiota pra arcar com as dividas da Good Life, e você caiu muito bem! Sem falar que você é lindo, gostoso, me ama, e fazia tudo por mim, eu simplesmente uni o útil ao agradável amor.

  - Quer dizer que não foi minha culpa que a Good Life quebrou naquela época?

  - Não! Meu tio deixou a filial daqui quebrada, mas até que você fez um bom trabalho, conseguiu fazer com que a empresa se reerguesse novamente. Então ele achou que você era realmente bom e te deixou como gerente da empresa.

  - Foi tudo uma farsa, tudo era bem maior do que eu imaginava.

  - Enfim, quem tem que sair daqui é você.

  - Quer saber? Eu vou embora mesmo, qualquer lugar é melhor do que ficar aqui com você.

Subi as escadas correndo, peguei a mala em cima do armário e comecei a jogar as roupas lá dentro, pensando em onde eu poderia ficar que seria o mais distante possível daquela vadia loira que infelizmente eu amo tanto.