V - Itadakimasu... Porra.

Enquanto  dirigiam-se para a cozinha, Sasuke ia assobiando uma música desconhecida dos ouvidos de Hinata. Olhou para Itachi, e percebeu que o mesmo também a assobiava. Uma dúvida criou-se em sua mente. Ela era a única que não conhecia a música?

Como se lesse seus pensamentos, Itachi perguntou:

-\t - Não conhece a música? Não é possível! É aquela que sempre passa na Tv Tóquio, antes daquela novela ridícula. Não se lembra?

E de certo modo, não teria como a Hyuuga lembrar. Tinham vendido sua tv a mais ou menos três dias, o que tinha resultado com uma Hanabi irritada. Mas como dizia seu pai: “É só até Hinata começar a ganhar na empresa. Depois disso, com algum dinheiro, compramos outra.”

Ela começaria no dia seguinte. Estava de certo modo tensa e nervosa. Tinha a esperança de que daria tudo certo, mas ao mesmo tempo ela acreditava que tudo poderia ir por água abaixo.

-\t - Não – respondeu ela, distante – nunca ouvi.

-\t - Não vê muita tv então – conclui Itachi.

-\t - É – respondeu ela – não... Não vejo muito.

Chegaram à cozinha. Combinaram que fariam sushi. Hinata o sabia fazer, apesar de ser uma comida mais nobre. Ela tinha aprendido certa vez, quando ganhara em um sorteio, um curso gratuito sobre comidas japonesas em geral. E tinha de agradecer muito ao tal curso – ele possibilitou-a cozinhar direito, coisa que ela adorava fazer.

Começaram a cozinhar. Logo a Hyuuga viu que nenhum dos dois irmãos tinha jeito na cozinha, e pediu-os para que a deixassem fazer. Itachi sorriu e agradeceu, enquanto Sasuke apenas bufou e saiu da cozinha.

Assim, ela começou a fazer um verdadeiro banquete. Explorou a cozinha, e descobriu que na mesma tinham ingredientes fantásticos do qual ela sempre tinha sonhado fazer um prato. Ela se viu agarrada a uma oportunidade fantástica, e não abriu mão da mesma.

Botou a mão na massa.

...

A Tv na sala de estar estava ligada. Enquanto Itachi tentava tocar seu violão – não era muito fácil com uma televisão ligada – Sasuke lia um livro, a biografia de Ozzy Ousborne. Ambos não prestavam atenção na tv – no entanto, ela permanecia ligada.

-\t - O que está passando? – perguntou Itachi a Sasuke, dedilhando atentamente seu violão.

-\t - Sei lá – respondeu o mais novo, não tirando os olhos de seu livro – como vou saber, se não estou vendo, idiota?

Um silêncio permaneceu na sala até um cheiro agradável chegar até eles. Itachi largou o violão, e se dirigiu a sala de jantar correndo. Sasuke ouviu-o exclamar algo como: “Uau, que verdadeiro banquete!” e apenas bufou.

-\t - Sasuke-kun... – o moreno levantou os olhos, para encontrar a Hyuuga olhando-o, curiosa – você...Vem?

O moreno largou seu livro no sofá, e se dirigiu a sala. Quando chegou na mesma, ouviu o barulho da Tv sumindo.

-\t - Porque desligou a tv? – ele virou-se para a menina, que tinha uma expressão apavorada no rosto.

-\t - Achei que... Achei que ninguém fosse ver m-mais...

-\t - E, de fato, ninguém vai – confirmou Itachi – Pare de reclamar e sente-se logo, Sasuke.

O mais novo, vencido, sentou-se, e só naquele momento pareceu reparar na comida. Como seu irmão tinha dito, estava um verdadeiro banquete. Preparou a resposta dá provável pergunta de Hinata: Não, a comida não estava boa. Mas a pergunta não veio.

-\t - Itadakimasu – as vozes de Itachi e Hinata disseram.

E assim, atrasado, Sasuke falou:

-\t - Itadakimasu... Porra.

...

 O começo do jantar definia-se a uma palavra apenas: silêncio. Hinata conseguia ouvir o mastigar de cada um que ali estava. Isso a deixava, de certo modo, constrangida. Afinal, só quem mastiga com muita falta de etiqueta faz isso.

Mas etiqueta não lhes faltava.

E certamente Itachi e Sasuke não liam pensamentos, para adivinhar o que se passava pela cabeça da Hyuuga.

Hinata tomou coragem.

-\t - O... O jantar está...?

-\t - Sim! – respondeu Itachi, sem ao menos deixá-la terminar de falar – uma delícia, Hinata! Parabéns!

- A-arigatou – agradeceu ela, para logo depois se virar para Sasuke, com receio – S-sasuke-kun...?

O Uchiha mais novo terminou de mastigar, para enfim falar:

-\t - É. Aceitável.

A Hyuuga abriu um largo sorriso.

-\ - Mas dona Yuki cozinha melhor – contrapôs.

...

Depois de terminarem, a Hyuuga recolheu os pratos, e os levou até a cozinha.

Chegando lá, começou a lavá-los, mas uma mão lhe impediu.

Hinata levantou os olhos, para encontrar Sasuke falando:

-\ - Deixe que eu faço isso.

Ele lhe deu um empurrão, na qual a mesma foi arremessada para longe, mas não reclamou. O silêncio tomou o local. Hinata não seria atrevida a falar. Só aquele olhar de Sasuke já a deixava arrepiada.

Mas não foi ela que quebrou o silêncio.

 -    Então... – Sasuke pigarreou – quando... Você vem aqui?

-\t - N-nani?

-\ - Para estudar – pigarreou novamente – você sabe, não se faça de burra. Estudar. Você. Comigo.

-\ - Ah – ela lembrou do que Kakashi-Sensei havia dito – mas achei que você não...

-\ - Mas agora quero – cortou-lhe.

-\t - O-ok. – respondeu ela, timidamente – amanhã é sábado, então creio que não seja um bom dia. Que tal... Segunda?

-\t - Pode ser.

-\t - Hinata! – a Hyuuga ouviu um grito vindo lá de fora, e reconheceu a voz de Itachi – vamos! Lembra que sou eu quem vai te levar em casa?

-\t - Tenho que ir, S-sasuke-kun. Tchau e... Arigatou por me deixar jantar aqui.

O moreno nada respondeu, apenas continuou a lavar a louça, enquanto via a cabeleira azulada sair correndo para fora de casa.

...

-\t - Neji-niisan?

O menino sorriu amarelo; a mala que carregava parecia estar pesada, e ele parecia querer, a todo custo, joga-la em qualquer canto.

-\t - Oi, Hina.

A menina fitou-lhe: ele tinha um olho roxo.

-\t - O... O que aconteceu com você, Neji-niisan?

Ele bufou.

-\t - TenTen.

-\t - Ela... Te deu um soco?

Ele afirmou.

Hinata levou as mãos à boca.

-\t - Por Kami! Porque?

-\t - Não sei.

A Hyuuga então deixou que o primo entrasse; a mala parecia mais pesada cada vez que ela olhava para a mesma.

-\  - Então... Você voltou p-para casa?

Ele assentiu.

-\t - Acho que sim né.

O menino foi tomado por um grande abraço. Ficou meio sem graça de primeira, mas como viu que não conseguiria fazer Hinata recuar um passo, retribuiu-lhe o abraço.

-\t - Que bom Neji-niisan! Isso é ótimo!

-\t - O-obrigado. Eu acho.

-\t - Que falatório é esse ai, mana...?

Hanabi encontrava-se na porta de seu quarto. Tinha os cabelos um tanto bagunçados, uma cara de sono pior do que o normal, e uma baba escorria por sua boca.

Seus olhos se arregalaram, mas depois ela retomou a expressão de cansaço.

-\ -O que exatamente está fazendo aqui, Neji?

-\t - Pirralha, não vou lhe responder.

Hanabi já ia partir para cima do mesmo, mas Hinata a segurou.

-\t - Hanabi-chan, não! Neji-niisan acabou de voltar para a casa! N-não podemos simplesmente b-bater nele...

Hanabi desprendeu-se da menina, para enfim falar:

-\t - Você não ia sair?

-\ - Sim – confirmou ela.

-\ - Vamos – disse Neji, puxando a Hyuuga mais velha pelo braço – eu te levo aonde precisar ir.

-\t - Ok – disse a Hyuuga, enquanto saía – Bye bye, Hanabi-chan!

-\ - Bye... Bye.

...

-\ -Aonde você vai em pleno sábado? – perguntou Neji.

-\ -Vou te contar, Neji-niisan, mas, por favor, não comente com ninguém, nem mesmo com a TenTen – ela viu que a expressão do primo enrijeceu – pois Kakashi-Sensei me pediu para não falar com ninguém...

Hinata contou-lhe toda a história: a troca que iriam fazer com a família Uchiha, ela ajudando Sasuke com os estudos, e o mesmo dando a ela um emprego, e que aquele seria seu primeiro dia de emprego...

Depois de terminada a história, Neji arregalou os olhos:

- -A situação do tio é tão grave assim? Bom, sendo assim... Acho que vou ter de trabalhar também.

Hinata olhou para o primo, estranhando-o.

-\ - V-v-ocê, Neji...?

-\ - É – ele bufou – eu, droga.

Um silêncio permaneceu, até Hinata perguntar:

- - Mas enfim... O que levou TenTen-chan a fazer isso?

O Hyuuga demorou um pouco para responder: Observou o céu, atento aos passarinhos, até finalmente falar:

- - Não sei direito... Certo dia ela chegou em casa estranha. Com medo com certeza. Eu e sua mãe perguntamos a ela o que tinha acontecido... Mas ela não abria a boca. Desde esse dia – antes de ontem – ela tem agido estranho, não podemos ficar nem no mesmo ambiente que ela foge. Ontem Lee foi lá, fazer uma visita, mas ele também foi expulso e ainda saiu machucado... Não sei o que houve com ela – ele corou um pouco –mas... A-a-cho que estou preocupado...

Se não fosse uma situação tão séria, Hinata teria pulado no primo e apertado suas bochechas com força, de tão fofo que ele conseguia ser. Mas deixou a vontade passar. Poderia fazer isso depois.

Andaram mais um pouco, até enfim pararem em um comprido prédio, com mais ou menos uns vinte andares, escrito nele: Empresas Uchiha.

A Hyuuga respirou fundo, para depois olhar para o primo.

-\ - Arigatou, Neji-niisan. Por me trazer aqui. A-a-cho que, a partir daqui, consigo ir sozinha – ela sorriu.

-\t - Ok, Hina – ele deu-lhe um beijo na testa, o que a fez corar um pouco –Boa sorte. Dê o melhor de si.

 - Arigatou.

Então, com todas as suas forças reunidas, entrou no prédio.

Já tinha estado lá antes. Mas não era nada parecido com a primeira vez.

Pessoas corriam de um lado para o outro, passando telefone para um, documentos para outro, e assim por diante. Hinata se adiantou a mesa de uma pessoa que conhecia já.

-\t- Bom dia, Uchiha-kun – disse ela a Itachi, sorrindo – Como você está?

-\t- Hina-chan! – ele sorriu, e saiu de sua mesa para abraça-la – Eu vou bem, graças a Kami. E você?

-\t- Eu estou bem também – ela se sentiu espremida por um abraço forte, e só aquela hora pode ver como Itachi era alto. Ela batia no peito do garoto.

Ele abriu um largo sorriso; segurou sua mão, e saiu correndo com a mesma.

-\t- Vou lhe mostrar aonde vai ficar – disse ele, a vontade – Concluímos que você é muito tímida para secretária sabe, mas achamos outra coisa bem legal para você. Acho que você vai gostar.

A menina assentiu; qualquer coisa lhe servia muito bem.

Eles seguiram em um corredor comprido, que a levava até a parte de trás do prédio. Lá, não se encontrava um depósito ou algo parecido como Hinata pensou – encontrava-se um café.

-\t- “Kimi Ni Todoke” – leu ela, em voz alta, para depois sorrir – nome bonito.

-\- Até hoje não entendo o porque de se chamar assim, mas enfim. Esse café é nosso também – explicou Itachi, sorrindo – como vi que você gosta de cozinhar – e cozinha bem, é claro – pensei que gostaria de ficar aqui. Sem falar que aqui tem alguns funcionários de sua idade.

A Hyuuga alargou um sorriso enorme no rosto. Cozinhar era com certeza bem melhor do que ficar atendendo telefonemas de empresários.

-\t- Arigatou-Gozaimasu, Uchiha-Kun.

-\t- Itachi, por favor.

-Itachi-kun – corrigiu ela.

Assim, reunindo suas forças, a Hyuuga se dirigiu até o Kimi Ni Todoke, enquanto Itachi dava meia volta e voltava para seu trabalho.

“Alcançando Você”, pensou ela.

-\t- Certamente alcançarei você, Sasuke-kun – pensou a Hyuuga alto, para logo depois levar as mãos à boca e certificar de que ninguém tinha ouvido aquela fala de maluca. De onde aquilo viera?

A garota olhou para frente, para encarar um garoto olhando-a, desconfiado, apoiado na porta do café. Os olhos ônix demonstraram algum humor, mas logo isso foi embora.

O rosto da menina era praticamente um pimentão. Quando ela passou por ele, ele sussurrou em seu ouvido:

-\t- Fique tranqüila... Ninguém ouviu.

Apenas quem ela mais temia que tivesse ouvido.

Sasuke.