Edmund segurava a minha mão, aos poucos sentia-a afrouxar o aperto.

- Você vai me deixar? Vai me abandonar?

- Nunca. Nunca vou te abandonar. Você pode não me ver, mas eu vou ver você, eu vou estar aqui.

Susan e Peter estavam atrás de mim, abraçados a chorar silenciosamente.

- Não, Ed, por favor eu te amo, você é meu irmão, você… - Chorei, delicadas lágrimas caiam sobre ele. Sobre meu irmão preferido, que estava prestes a desaparecer da minha vida.

- Não chora Lucy, por favor. Eu também te amo. Eu vou continuar cuidando de você, como sempre fiz.

Sangue jorrava da flecha que se cravara no flanco dele, a flecha que aquele tirano usurpador do trono, que o tio de Caspian, tinha atirado em Edmund.

Tentei acordar, tentei fazer com que parasse. Não parava e não era um pesadelo. Ele ia morrer. Edmund ia morrer. Na nossa frente. Na minha frente.

- Edmund por favor aguenta, logo vai chegar um de nossos médicos do exército e você vai ficar bom e…

A custo, meu irmão pousou seu dedo sobre meus lábios.

- Não faz mal... Está tudo bem Lu… Eu estou pronto…

- Se eu não fosse tão tonta… - Lamentei-me. – Se eu não tivesse partido o vidro da poção da cura…

- Poção nenhuma curaria uma flecha envenenada com ódio Lucy. – Notou Aslan, sabiamente.

- Ódio é só um sentimento! Não pode envenenar a ponto de não poder ser curado com aquela poção! – Gritei, desesperada.

- Talvez no seu mundo, Lucy, não possa. Mas neste mundo, até os sentimentos teem muito mais do que vida própria.

Isto me fez odiar Nárnia por um minuto, que mais pareceu uma eternidade. Edmund ficava cada vez mais pálido, pela perda de sangue e mal podia se mexer.

- Lucy, não chora mais por favor. Eu vou ficar bem… Você vai ficar bem.

- Eu ficaria bem com você!

Eu amava Edmund mais do que tudo. Eu amava meus outros dois irmãos, Susan e Peter, mas Edmund sempre fora o meu irmãozinho grande e sempre me protegera. Eu amava Edmund mais do que á minha própria vida.

- Lucy… Me promete uma coisa…

- Tudo. – Chorei. Como poderia ainda ter forças para chorar?

- Me promete… Me promete que vai me deixar orgulhoso. Que vai crescer, ter família e ser uma mulher. E que não vai, nunca se vingar de quem me fez isto. Você será melhor que ele.

- Eu.. eu… - Edmund me olhava quase sem poder. Eu queria me vingar. Mas Edmund importava mais. – Eu prometo.

Edmund sorriu. E aquele sorriso se desvaneceu junto com a vida em seus olhos.

Beijei sua testa.

Susan abraçou-me, Peter ordenou que levassem Edmund dali.

Soltei-me do abraço de minha irmã e corri. Corri dali para fora.

Subi uma colina verdejante. Estava um tempo magnífico. Parecia zombar da situação.

Peguei uma flor muito bonita. Olhei para baixo. Um rio se desenhava na profundidade. Joguei a flor para que ele a levasse.

Eu prometo…

E assim, com Edmund no coração. Vivi e fui feliz.

Cumpri minha promessa.

A promessa que nos uniria para sempre.