Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Betado por Siegfried-aenslaed



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Saga depositara os talheres em seu prato para que o criado o retirasse. Havia participado de um almoço delicioso, na companhia de homens que poderiam garantir um futuro promissor a ele e ao seu irmão, e agora esperava o momento de saborear um brandy e fumar charutos na sala ao lado.

Mas alguém o lembrou de outro compromisso, apontando o relógio discretamente, Milo sorria:

–Não se esqueceu de algo, meu caro?

Saga estreitou o olhar, faltavam quinze minutos para as treze horas. Céus, iria duelar com Frederick Werder às trezes horas. Desde quando treze horas era um horário civilizado? Homens decentes a esta hora ou estavam trabalhando ou degustando brandys.

–Melhor eu ir, não posso deixar um cavaleiro esperando.-disse Saga levantando-se da cadeira.

–Iremos juntos.-frisou Aiolos, com ar divertido.-Nem sempre temos a oportunidade de apreciar um belo espetáculo de esgrima.

–Mas...

–Duelo?-a voz de Kanon se fez presente e ele cumprimentou a todos com um ligeiro aceno de cabeça.-Cavalheiros.

–Onde esteve irmão?

–Andando por aí.-suspirou.

–Certamente, pensando em uma bela dama.-alfinetou Milo.-Diga-me, roubou algum beijo de alguma jovem apaixonada? Como aquela que o acompanhou por um passeio pelos jardins.

Saga olhou ansioso para o irmão, desejando ouvir exatamente isso, mas encarou o rosto pálido de Kanon e um olhar de desagrado, como se lembrasse de algo desprezível.

–Lógico que a beijei!-mentiu.

–Ótimo!-Saga animou-se.-Bem, vamos?

–Que história é esta de duelos?-indagou Kanon.

Saga respondeu que explicaria no caminho, e todos aqueles cavalheiros caminharam até a academia do salão de jogos, onde um grupo de rapazes, incluindo Werder, os esperavam.

Os duelistas logo foram trocar de roupas, vestindo a de esgrima e escondendo seus rostos sob a máscara de esgrimista.

A academia ocupava o último andar, possuía amplas janelas, que ofereciam uma excelente luminosidade. Do lado oposto às janelas, um pequeno espaço retangular, separado por colunas de pedra, servia como sala para os espectadores. E havia cerca de vinte cavalheiros presentes além de seus novos amigos, incluindo os que haviam desafiado Saga para duelar. Incluindo Sutcliffe.

Lembrou-se da conversa durante o almoço. Sutcliffe era um ladrão, que quase manchou o nome dos Blackmoores ao usar a sociedade com o falecido barão para esconder negócios escusos. Após a morte do barão, tentou forçar uma união com a viúva e foi prontamente enxovalhado.

Não entrou em detalhes sobre isso, somente que uma noite antes de desaparecer de Londres, Sutcliffe foi colocado a socos e pontapés para fora da mansão Blackmoore pelo mordomo da baronesa, que apesar da aparência franzina, dizia Kamus, era um fiel guardião da família do barão.

Esta história aumentou o desejo de Saga de humilhar seu oponente diante de todos.

–Cavalheiros.-o professor de esgrima do clube havia sido chamado para ser o juiz do embate.-Preparem-se.

Saga analisou seu oponente, tentou lembrar das aulas de esgrima que recebeu quando era mais jovem de um cavalheiro falido que havia aportado em Athenas e era um tipo de professor e protetor dos gêmeos. Se sabia se portar com um cavalheiro, enganando com maestria a estes homens, devia ao seu velho professor.

Sorriu por detrás da máscara. Começou a duelar.

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Na mansão Blackmoore.

As jovens damas da família Dawes entravam pela sala principal, conversando animadas sobre a agradável manhã no clube, as mais jovens ao redor de Amanda, pois queriam mais detalhes sobre o passeio com Kanon.

–Ele foi gentil?

–Ele foi ousado?

–Como é um beijo?

–Hum-Hum!-ouviram o pigarrear de Igor, fazendo-as voltarem a uma postura mais recatada.

Amanda sorriu, e respondeu às irmãs.

–Sim, ele foi muito gentil. Um cavalheiro. Não fez nada ousado, até o momento que tentou me beijar.-as meninas riram e depois ela acrescentou.-Mas eu não sei explicar como é o beijo dele...-suspirou.-Igor, você poderia nos explicar?

As meninas olharam sem entender para o mordomo e para Amanda. Igor estremeceu e assumindo uma postura austera falou:

–Preciso ver se está tudo bem na cozinha. Com licença.

A baronesa adentrava na sala naquele instante, achando estranho a atitude do mordomo, mas acabou se distraindo com outros detalhes.

–Sugiro que parem de fazer tanta algazarra e subam para seus quartos, para arrumarem suas malas.-disse a dama.-Lembre-se que temos pouco tempo para nos prepararmos de maneira adequada.

Todas concordaram e subiram as escadas, Carla ia logo atrás com ar sonhador, ainda pensando no estrangeiro vindo do Oriente. Tal expressão não passou desapercebida pela baronesa. Mais tarde indagaria sobre o que estava acontecendo. Notou então Inis ainda parada ao pé da escada.

–Algo errado, querida?

–Não. Podemos levar Ludmila?-perguntou esperançosa.-Ela não é só uma criada milady. É minha amiga.

A baronesa sorriu, antes de responder:

–Claro. Não imagino vocês duas muito tempo separadas. Será uma excelente dama de companhia. Avise-a da viagem então, para que se prepare de maneira adequada. Ah, Inis...-a baronesa acrescentou.-Se necessário for, providenciaremos as roupas para que ela leve, está bem?

–Sim!-Inis saiu apressada aos aposentos da criada.

Naquele instante, Igor retornou a sala.

–Precisa de algo mais, senhora?

–Agora não. Apenas avise ao senhor Francis e ao seu convidado que iremos viajar.

–Sim, senhora. Ah, creio que ainda não lhe falei do nosso novo jardineiro.

–Mais tarde, peça para falar comigo no escritório.-pediu a dama, se dirigindo a biblioteca.-Agora, gostaria de descansar.

–Sim senhora.

Ao entrar na biblioteca, o mordomo discretamente fechara a porta, deixando-a a sós. O relógio marcava quase duas horas, a tarde prometia ser quente e acolhedora. Mas não tão quente quanto o beijo que Saga havia lhe dado mais cedo, ou acolhedor quanto os braços que haviam envolvido seu corpo. Tais sensações e lembranças teimavam em não lhe deixar.

–Maldição.-suspirou. Estava acostumada e resignada a não sentir nada disso com um homem, porque aquele vigarista de quinta categoria ousou despertar nela tais sensações...fazê-la lembrar que ainda era mulher?-Maldito trapaceiro! Ah, mas se prepare para a retaliação, senhor Saga Tassouli!

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Inis saiu correndo para o quarto de Ludmila que praticamente atropelara uma pessoa que aparecia de repente no corredor. Teria caído com o impacto se duas mãos ágeis não tivessem prontamente detido sua queda, segurando firme sua cintura.

–Deveria ser mais cautelosa, senhorita.

Inis encara então o homem que estava até aquela manhã, dormindo em sua calçada...e ele ainda a segurava pela cintura, de uma maneira que não era apropriado a uma dama.

–Você?

–Boa tarde, senhorita.-Dohko sorriu, ignorando o tom incrédulo dela, achando-o divertido.

–Com licença!-ela se solta das mãos, ajeitando o vestido.-Como ousa me tocar desta maneira?

–Decerto é melhor que deixar uma dama cair ao chão. Aliás, deveria olhar por onde corre, senhorita.

–Eu ia cair porque esbarrei no senhor!-defendeu-se.-E o que o senhor faz aqui? Vou chamar a criadagem!

–Me chame de Dohko, senhorita. Sou seu novo jardineiro.-apresentou-se mantendo o sorriso.

–J-jardineiro?-espantou-se, e depois avaliou que tê-lo na casa não era uma boa idéia, afinal, ele a vira voltar antes do amanhecer para casa, enquanto a jovens de boa reputação deveriam estar em suas camas dormindo.-Bem...eu...

– Sobre esta manhã...-Inis enrubesceu.-Não pretendo falar nada para ninguém de seu passeio noturno.

–Eu não sei do que está falando! Está me confundindo!-replicou, assumindo um ar de indignação.

–Claro, eu me enganei.-ele sorriu irônico. O rosto dele ficou mais bonito, e Inis não sabia o que a irritava mais. O sorriso, o rosto ou ele saber de sua escapada.-Uma dama Dawes jamais sairia a noite para passeios perigosos ou jogatinas.

Inis abriu a boca, a voz falhara, as palavras não saiam.

–Lady Inis?-a voz de Ludmila se fez presente, fazendo a dama suspirar aliviada.

–Ludmila! Eu a procurava.-estendeu a mão e segurou a criada pelo pulso.-Vem, temos muito o que fazer antes de viajarmos!

Então, ela arrastou Ludmila escada acima, arriscando um último olhar por sobre o ombro. Aquele rapaz ainda sorria para ela. E isso a irritou ainda mais.

–Senhorita...preciso lhe falar.-Ludmila disse em um tom preocupado, e Inis já havia notado o motivo. Sentia que teriam problemas.

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De volta ao Clube de Cavaleiros.

Saga estava em guarda, avaliando seu novo oponente, Sutcliffe. Já havia derrotado todos os que o haviam desafiado, e com isso conseguira não só a admiração dos presentes bem como o braço e corpos doloridos pelo esforço físico.

Sutcliffe ficou o tempo todo observando o modo que Saga lutava esgrima, e parecia confiante. Ele levantou sua máscara, e, antes que o juíz pudesse evitar, ele se pronunciou:

– Espero que esteja pronto para a derrota, sir.

–Ia dizer ao mesmo ao senhor.-respondeu Saga.

–Confiante. Que tal uma aposta amigável?

–Aposta?

–Sim. O perdedor desta contenda...irá se afastar da vida de lady Blackmoore.-respondeu Sutcliffe.

Saga percebeu que não gostava nada da idéia de ouvir o nome dela sendo mencionado naquele lugar cheio de homens.

–Esta aposta é um insulto, senhor Sutcliffe!

–Então recusa?-sorriu, percebendo que a menção da viúva causara uma certa reação ao humor, até então confiante do grego.-Basta se dar por vencido, e deixar a jovem viúva sob meus cuidados.

–Hunf!-resmungou Milo.-Sutcliffe é um verme. Usando o nome de uma dama desta maneira.

–Creio que ele estará comprando uma briga com o protetor das damas Dawes desta maneira. O idiota sabe que o primo veio da Índia especialmente para cuidar da família?-indagou Shura a Milo.

– Creio que a intenção é tirar a concentração de nosso novo amigo.-respondeu Kamus, sempre analítico.-Vimos pelas lutas recentes que Saga é um excelente esgrimista. Sutcliffe notou isso também. Além do cansaço, deve estar querendo deixá-lo furioso com seus comentários.

–Tsc...-Kanon observava a cena, realmente o irmão pareceu se incomodar com o que o desafiante havia dito. Será porque envolvia a tal dama? Justo seu irmão que nunca se importou com a reputação de nenhuma mulher com quem se envolvera. Sempre fora negócios e divertimento.

– Eu aceito. –respondeu Saga, recolocando a máscara de esgrimista, sob os murmúrios de admiração e de espanto dos presentes.

Saga e Sutcliffe testaram suas lâminas com batidas de ataque, simulações, paradas, estocadas e retiradas. Isso continuou por alguns minutos e o murmurinho na platéia aumentou. Saga mantinha sua posição, Sutcliffe já ofegava e tentava disfarçar seu tremor, variando a direção e a velocidade de seus ataques.

Sutcliffe tocou de leve a ponta da espada de Saga e este, girando o pulso, tocou de volta, em guarda.

–Não deveria brincar em uma hora como esta meu caro.-comentou Sutcliffe em um tom áspero.

–Eu nunca brinco.

–Prepare-se para ser derrotado de forma humilhante. Um homem do povo, de origem desconhecida, talvez da ralé de Athenas, não é digno de uma mulher como lady Blackmoore.

–Um homem da realeza, de sangue azul, mas um ladrão e pervertido é?-replicou Saga, sério.

Neste momento, todos perceberam que pelas forças aplicadas em cada golpe, os homens estavam levando a sério o que seria uma competição mais esportiva. Saga estava determinado a defender sua honra e que se alguém merecia uma mulher bonita como lady de Blackmoore, esse alguém era ele.

A imagem dela apareceu em sua mente acompanhada de luxúria, fazendo-o se distrair e perder seu passo e sua guarda. Sutcliffe o atingiu diretamente no ombro.

–Primeiro toque para sir Sutcliffe.-anunciou o juíz.-Afastem-se e voltem a se cumprimentar. E se acaso eu notar alguma contravenção às regras desta casa, eu darei o duelo por cancelado.

Os dois se afastaram, cumprimentaram-se e recomeçaram. Dessa vez Saga encontrou mais dificuldades,estava cansado e o ombro atingindo começava a latejar. Mas percebeu que Sutcliffe ofegava, e aproveitando-se de uma brecha oferecida pelo oponente, o grego o atingiu no estômago.

Reiniciaram o duelo, Saga deixou que Sutcliffe retomasse sua guarda, este pensando em uma vitória certa, ciente de que era superior, mergulhou para dar uma estocada no estômago de Saga, e garantir outro ponto. Nesse momento, com seu alcance perfeito e pulso firme, Saga moveu de leve sua espada para trás e deu sua estocada. Um toque certeiro no coração de Sutcliffe...e em seu orgulho inglês.

– Vitória para sir Tassouli. — o juíz anunciou.

Saga saudou o juíz e Sutcliffe, então, mal tirou a máscara e uma multidão já o estava cumprimentando.

Ele aceitou os cumprimentos com desembaraço, ciente da raiva de Sutcliffe, que saiu apressado do local. Mas algo dizia que ele não cumpriria a sua parte na aposta.

–Cavalheiros.-Saga entregava nas mãos da pessoa mais próxima, no caso Shura, o florete e as luvas.-Se me permitem, preciso ir embora e resolver alguns negócios ainda esta tarde.

–Certamente.-Kamus sorriu.-Foi um espetáculo e tanto o que nos proporcionou.

–Humilhação pública daquele verme é sempre bem vinda.-acrescentou Milo.

–Disponham.-Saga sorriu.-Kanon, me ajudaria a tirar estas roupas? Precisamos conversar.

–Claro.-Kanon se despede dos demais e segue o irmão ao vestiário.

–Como estamos em caixa?-perguntou assim que entraram no vestiário.

–Muito bem, com o dinheiro das apostas que eu fiz agora com seus duelos.-sorriu.

–Ótimo.-fez uma careta ao tocar no ombro dolorido.-Precisaremos do dinheiro para providenciarmos nossa temporada no campo. Teremos que parecer aos olhos de todos que somos ricos.

–Aonde pretende ir agora?-perguntou Kanon, lhe entregando a camisa.

–Visitar uma bela dama.-sorriu com malícia.

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Southampton.

Luna finalmente havia encontrado a irmã. Faziam horas que Annely havia desaparecido, desde o encontro nada agradável com aquelas mulheres fofoqueiras na loja da cidade. Ela estava sentada a sombra de uma árvore, olhando para o movimento das águas do rio.

–Annely!-chamou Luna, e a irmão levantou o olhar até ela.-Está ficando tarde. Papai vai ficar preocupado.

–Eu sei me cuidar, Luna. O que você faz aqui? Nem gosta de andar na grama!

–Procurando minha irmã.-sorriu sentando ao lado dela, notando as iniciais esculpidas na árvore.-Sabe, tenho inveja de você.

–Inveja?-estranhou o comentário da irmã mais jovem.

–Sim. Apesar de tudo o que houve, você pode se gabar de ter vivido um grande amor.

Annely piscou os olhos várias vezes antes de responder. Luna via romantismo em qualquer coisa, até mesmo em uma corrida de porcos.

–Não seja ridícula, Luna.

–Mas é verdade. A despeito dele ter sido um covarde e ter ido embora sem mais nem menos, o que viveram antes foi...tão lindo.-suspirou.

–Está proibida de ler meus livros novamente.

–Diga Annely. O que você faria se visse o Visconde novamente na sua frente? Assim, se ele aparecesse na sua frente do nada?-perguntou ignorando o mal humor da irmã.

–O que eu faria?-mil idéias surgiram em sua mente.-Socaria aquele rosto e tiraria aquele ar de nobreza que ele tem.

–Um merecido soco no meio daquele nariz!-incentivou Luna.

–Impossível eu errar o soco!

–Ele tem um nariz enorme, pelo o que eu me lembro.

–Ele não tem não!-Annely o defendeu imediatamente, ficando corada.-Só é...Ah, Luna!

Luna não conteve o sorriso, depois falou com serenidade.

–Independente do que houve entre vocês, creio que deveria procurá-lo, mesmo que fosse apenas para tirar as dúvidas destes anos todos, Annely.-ela ficou calada, pensando no que a irmã mais nova dizia.-Para que possa deixar o passado para trás e continuar em frente.

–Você tem razão.-suspirou.-Farei isso, quando ele aparecer por aqui.

–É assim que se fala!-a loira bateu palmas alegre.-Agora vamos embora? Antes que algum sapo apareça.-estremecendo.

–Vamos.-Annely ajudou a irmã a se levantar e caminharam de volta para casa, pensando em como seria este reencontro com o passado.

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Londres.

A baronesa acabava de analisar alguns papéis, havia feito a entrevista com o novo jardineiro. Dohko parecia ser mais do que aparentava. Demonstrava em seus gestos uma educação primorosa, que contradizia o fato dele ser um simples trabalhador braçal.

Notou que as mão dele não tinham calos como os de um homem acostumado ao campo. Mas, como Igor havia garantido que era de confiança, e que o pai do rapaz fora amigo de seu falecido marido, não viu motivos para não contratá-lo.

Então, houve uma batida na porta.

–Milady.-Igor apareceu, com uma expressão séria.-Um cavalheiro a aguarda e pede para vê-la.

–Um cavalheiro? E quem seria?

–Bem...-Igor parecia constrangido.-Ele se parece muito com o amigo de lady Amanda.

–Se parece..? Ah, não...

A porta da biblioteca foi aberta, e Saga entrou no aposento sem cerimônia alguma.

–Como vai, lady Blackmoore?-fez uma mesura, achando-a encantadora, mesmo com uma expressão de espanto no rosto.

–Desculpe-me.— disse Julie se levantando da cadeira —, mas eu não o esperava em minha casa. Aliás, não esperava que invadisse minha biblioteca.

Saga sorriu, mantendo o ar inocente.

– Que gentil deixarem a porta da biblioteca aberta!

–A porta da rua também está aberta.

–Prometo que serei breve — ele disse.

Julie caminhou até uma poltrona vermelha e sentou-se nela, sentiu o aroma do perfume dele, ao passar próxima àquele homem, e vendo os contornos daquele belo rosto, o dia havia sido cansativo.

– Por favor, sir, seja breve. O que o traz aqui?

Saga a surpreendeu quando se sentou numa poltrona a sua frente. Abriu a boca para falar, mas fitou o mordomo que estava prostrado na porta, como um cão de guarda.

–Importa-se?-perguntou a ele.

–Não me importo, sir.-respondeu Igor, sem se mover.

–Igor, pode nos deixar a sós.-o mordomo não gostou do que sua senhora havia pedido.-Se o senhor Saga se comportar mal, eu o chamarei no mesmo instante.

–Irei providenciar refrescos.-disse o mordomo, saindo a biblioteca e fechando as portas.

Assim que ficaram a sós, ele foi direto ao ponto.

–Sabe de onde estou vindo agora, milady?

–Não faço idéia em que antro esteve, senhor.-sorrindo inocente ao responder.

–Vim do clube de cavalheiros, ao qual estive em quatro duelos, milady.

–Deve ter sido um exercício relaxante.

–Os duelos foram por sua causa!-acusou.

–Minha?-injuriada.

–Sim. Ao o que parece tem muitos admiradores, madame. Que não gostaram que eu tivesse beijado sua pessoa em público.

–Ah, precisa me dizer quem foram. Que gentil defenderem minha honra assim. Acho que os convidarei para um jantar.-sorrindo, para provocá-lo.

–Ah, creio que Sutcliffe adoraria tal convite.

Neste momento, ele notou que o sorriso dela sumiu e o rosto perdeu as cores, parecia que iria desmaiar quando mencionou o nome daquele homem. Por instinto, Saga a segurou pelo braço.

–Milady está bem?

–Sim...não...eu, por favor...me sirva uma dose de conhaque.-apontou para a mesinha com bebidas e Saga logo lhe serviu uma dose, que a baronesa bebeu em um gole só, de maneira nada refinada.-Aquele bastardo desprezível teve a coragem!

–Isso significa que não deseja vê-lo? De algum modo, ele acha que tem algo com a senhora.

–O que o leva a pensar nesta asneira?-apertando a taça entre as mãos.

–Que interesse ele tem pela senhora?

–O que você acha que ele quer de mim, milorde? Algo que pretendeu tirar a força uma vez.

–Se ele ousar tocar na senhora, eu o mataria.-disse sem pensar e ela o fitou com os grandes olhos castanhos arregalados.

–Está brincando comigo, agora?-um tremor tomou conta dela ao segurar a respiração.

Sentia desejo por ele, era claro, mas não suportava a idéia de que Saga pudesse de algum modo estar brincando com seus sentimentos, então o empurrou para se levantar do sofá e recuperar sua pose protetora de lady, mas ao tocar no ombro dele, ele emitiu um murmúrio de dor.

– O que foi isso? —ela indagou.- Quem o feriu durante os combates de esgrima?

Ele se recompôs, endireitou os ombros e respondeu:

–Sutcliffe. Mas a culpa foi minha. Eu me distraí.

–O senhor não deveria ter aceitado tantos duelos em um dia só!

–Valeu a pena. Mostrar a eles que você era minha...

Julie corou com o comentário, e deu um passo para trás, mas foi retida pela mão firme de Saga na sua.

–Não diga asneiras, sir!-o repreendeu.

–Eu daria tudo para beijá-la mais uma vez.-se aproximando mais.-Duelaria com o triplo de homens para poder beijá-la, Julie,

E, com facilidade, removeu os grampos que prendiam o cabelo dela num coque. Os cabelos deslizaram com leveza por entre os dedos de Saga, fazendo-a estremecer.

Este era o sinal que parecia esperar. Sinal de quem ela também desejava aquele beijo tanto quanto ele. Certo disso, a trouxe para mais perto de seu corpo e cobriu os lábios carnudos da mulher com os seus, em um beijo terno, mas muito exigente.

A porta da biblioteca abriu, Igor viu a cena, arqueou a sobrancelha, pigarreou. Ninguém lhe deu atenção. Saga levou a baronesa a se apoiar na mesa, e sem parar o beijo, a inclinou sobre a mesma.

Igor arregalou os olhos, pigarreou mais alto, não obteve resposta. Suspirou, balançou a cabeça negativamente e saiu da sala, fechando a porta atrás de si novamente, quase esbarrando em Louise que vinha até a biblioteca também.

–A senhorita vai aonde?

–Pegar um livro para passar o tempo.-respondeu.

–Não pode entrar agora.-declarou.

–Por que?

–Ratos.-respondeu imediatamente, e ouviu-se o som de algo cair no chão, e um gemido.-Enormes. Não entre que vou dar um jeito neles depois.

–C-claro.-respondeu a moça e saiu dali desconfiada.

Dentro da biblioteca, a baronesa parecia ter recuperado um pouco da razão ao ouvir a porta se fechada e empurrou Saga com força ao chão, este caiu e não conteve um gemido de dor.

–Por favor...queira sair daqui agora!-pediu, ofegante.

–Por que? Você me quer tanto quanto eu a quero!-ficou em pé, se aproximando, mas a baronesa se colocou atrás de uma cadeira, como um escudo protetor.

–É um patife! Quer roubar o dote de Amanda para seu irmão e ainda me seduz!

–Você quem me seduziu...com este fogo em seu olhar.-se aproximando, como um predador que encurrala sua presa.

–Não ouse!-avisou.

–Ousar o que? Fazer o que seu corpo deseja que eu faça?-se aproximando mais dela, afastando a cadeira.

–Sir, não me force a tomar medidas extremas contra a sua pessoa.-ameaçou.

–Ah, me deixe ansioso por estas medidas, milady.-a puxando novamente para seus braços e beijando-a.

Por um longo momento, se deixou levar pelo beijo, correspondendo a ele, chegando a deixar que um gemido tímido escapasse de seus lábios, para em seguida sentir que ele se afastava. Julie ficou parada um tempo, ainda com os olhos fechados e os lábios entreabertos, até que se deu conta que ele havia parado o beijo.

O fitou sem entender. Saga sorria, pegando o chapéu e as luvas que havia deixado sobre uma mesinha.

–Foi memorável milady. Espero voltar e continuar de onde paramos.

O desejo foi substituído pela indignação e pela raiva. Julie pegou um peso de papel com a forma de um leão e jogou em Saga, que por pouco não o atingiu na cabeça.

–Sua louca! Quer me matar?

–Como adivinhou?-jogando um vaso.

Do lado de fora, Amanda e Louise se aproximaram da biblioteca. Igor estava do lado de fora, parecendo preocupado. Para a surpresa de todos, Saga saiu correndo de dentro dela, a tempo de evitar que uma bíblia pesadíssima o atingisse.

–Seu filho de uma...!-gritou a baronesa, corando as garotas com o teor da ofensa.

Saga se recompôs e cumprimentou as meninas.

–Senhoritas...é a lady a quem meu irmão sempre fala, Amanda sim?

–S-sim...

–Encantado.

–PONHA-SE FORA DA MINHA CASA!-Julie irrompeu furiosa.-Oh...boa tarde meninas.-se recompondo.

–Boa tarde.-disseram as duas, sem entender.

Julie virou-se para Igor, e acrescentou em um tom reservado.

– O senhor Saga está de saída, sr. Igor.

Saga ainda continuava em pé ao lado das meninas e de costas para a porta, parecia que nada estava acontecendo, que estavam em alguma situação constrangedora.

– O senhor poderia me acompanhar até a saída, milorde? — o mordomo falou num tom de voz que denunciava o prazer em mostrar-lhe a porta da rua.

Saga caminhou devagar. Seus olhos azuis, intensos, estavam fixos em Julie. De repente, ele pegou sua mão. Ela sentiu raiva por dentro, mas ao mesmo tempo seu corpo implorava que Saga voltasse a beijá-la.

Ele se curvou sobre a mão de Julie e a beijou com um gesto de reverência e disse:

–Adoraria repetir os momentos agradáveis que passei ao seu lado, milady. Boa tarde.

E saiu em seguida para a rua. Julie respirou fundo, e percebeu que era alvo dos olhares curiosos das meninas, ajeitou o corpete do vestido e subiu as escadas para o seu quarto, sem falar nada.

Louise e Amanda trocaram olhares cúmplices.


Continua...


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