Xeque.

Os olhos acinzentados evitavam cruzar-se com os olhos dourados. Mantinham-se fixos naquela superfície quadriculada e bicolor, com algumas peças de cores igualmente distintas sobre ela.

Ansiedade. É, o rapaz de cabelos rosados estava ansioso. A mão, pousada sobre o braço oposto, torcia seus finos dedos, apreensivos. Os lábios do moreno se curvaram inevitavelmente, deixando que sua expiração escapasse entre a fina abertura com um som sarcástico.

- Essa não será a primeira vez, Chrona. – Murmurou. O garoto delicado fechou os olhos, apertando as pálpebras. Sabia que o que o outro dizia era verdade.

- Não sei como lidar com essa situação ainda. – Confessou, retirando a mão do braço e erguendo-a sobre a superfície quadrada. Pegou uma pequena peça e movimentou-a na diagonal, três casas.

O rapaz de cabelos negros e alinhados levou a mão direita até o rosto, tocando delicadamente o indicador sobre o queixo. Poderia ser uma jogada desesperada do menor, mas não deixava de ser inteligente. Porém, ele ainda precisava de mais treino. Não era apenas uma única peça que Kid havia posto para deixar o outro encurralado.

Venceria de qualquer jeito.

- Xeque-mate. – Disse em bom tom, terminando a partida em seguida com o auxílio de um cavalo. Os olhos dourados fecharam-se, e um sorriso vitorioso surgiu nos lábios bem cuidados. Do outro lado da mesa, o rapaz com traços femininos suspirou, desanimado.

- Você sabe que não consigo vencê-lo. Terei que sofrer uma punição sempre. – Desviou os olhos para um ponto qualquer do chão, com um leve rubor surgindo nas bochechas pálidas.

O shinigami ajustou a postura, mantendo-a correta. Seus olhos, aparentemente impassíveis, estavam fixos nas feições ansiosas do outro.

- Não seja por isso. Deixarei você escolher o próximo jogo. – O menor de cabelos claros sorriu, com o semblante aliviado. – Mas sempre iremos reservar um tempo para o xadrez. – O rubor tornou-se mais intenso. Chrona era uma pessoa sincera. O moreno levantou-se, mas não saiu de onde estava. Apenas aguardou.

Chrona já sabia o que o outro esperava. A punição era sempre a mesma. Em vez de também levantar-se, apoiou as mãos na mesa, de forma que pudesse sustentar seu corpo, trazendo os joelhos em seguida. Nesse movimento, o tabuleiro foi empurrado para uma das extremidades, ameaçando cair a qualquer momento. O som de alguns peões e bispos, talvez até torres ou rainhas, podia ser ouvido, indo de encontro ao chão. Sentou-se sobre os joelhos, ainda com seu nervosismo característico no rosto.

O moreno encarou o corpo rígido e encolhido do outro sobre a mesa. Nem um pouco simétrico, mas despertava sua atenção. Aproximou-se os centímetros que faltavam, erguendo uma das mãos e levando-a até o rosto contido.

- Não fique tão nervoso, Chrona. – Sorriu de forma gentil, aquecendo o coração do menor. Inclinou-se, abandonando sua postura impecável, e fechou os olhos dourados, beijando os lábios pálidos com suavidade, segundos depois.

Inicialmente, Chrona não se atrevia a aumentar o contato. Mas aos poucos, conforme o leve selinho ia sendo substituído por um intenso beijo de língua, controlado pelo shinigami, o tímido garoto demonstrava suas vontades, ao levar os braços até o pescoço de Kid, trazendo-o mais para perto de si, e ao acariciar os cabelos listrados com um afeto ímpar.

Death the Kid havia perdido a noção de quando tudo aquilo havia começado. De simples cortes simétricos de cabelo e conversas sobre assuntos cotidianos, sua relação com o rapaz andrógino havia chegado àquele ponto: Jogos. Em particular, o xadrez. O shinigami, no início, queria apenas alguém que pudesse desafiá-lo. Para incentivar Chrona, propôs punições para o perdedor e maneirava na forma como jogava, perdendo às vezes de propósito.

Porém, ao abrir os olhos e encarar Chrona já despido, em seus braços, fez com que o shinigami se lembrasse do motivo que o impulsionou a ganhar todas as partidas de um certo ponto, até aquele momento.

Empurrou o corpo do menor contra a mesa, fazendo com que o tabuleiro finalmente fosse de encontro ao chão. Retirou a camisa social branca, que já estava desabotoada graças ao perdedor do jogo. Os cabelos negros com listras estavam completamente desorganizados, mas em nenhum momento o shinigami tentou corrigi-los. Pelo contrário, seu foco estava no corpo esguio e simétrico de Chrona. Ele não sabia se a perfeição que enxergava era realidade ou era efeito de sua luxúria, mas não iria se dedicar a essa questão. Quem se importava com simetria mesmo?

- Kid... – Chrona sussurrou fracamente, tentando controlar sua respiração ofegante. Já havia feito aquilo diversas vezes, mas a sensação quente em seu corpo era como se cada ocasião sempre fosse a primeira. Tocou, hesitante, a própria ereção, surpreendendo-se com o estímulo que proporcionava ao seu próprio corpo. Mas a sensação tornou-se bem mais intensa quando o shinigami impediu que o andrógino iniciasse qualquer movimentação, decidindo fazer por ele.

O moreno subiu, finalmente, sobre a mesa. Agradeceu mentalmente por ela não ser frágil o suficiente para virar ou quebrar-se com aquele tipo de coisa. Sua mão direita massageava o membro rosado do menor habilmente. Já sabia que Chrona gostava de algo lento e instigante quando o assunto era masturbação, diferente dele próprio, que era apressado e instintivo. Aquela característica suave de Chrona, até mesmo durante o sexo, enchia de êxtase a mente de Kid, que parava de agir racionalmente e de forma controlada. Possessivo, buscava os lábios do menor, mordendo-os e sugando-os, como se necessitasse sentir o sabor de Chrona mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Por outro lado, Chrona sentia-se completamente perdido. Cada toque de Kid em seu membro o fazia torcer os dedos em prazer, e a ansiedade para alcançar o gozo aumentava a cada segundo. Quando o shinigami finalmente fez o movimento que o menor desejava, no momento certo, este gozou espontaneamente. O rosto, completamente corado, transparecia uma expressão que apenas Death the Kid teve a chance de presenciar. E se dependesse do desejo de ambos, continuaria sendo algo apenas deles.

A mão de Kid abaixou-se ainda mais, tocando a entrada do menor, com os dedos cobertos pelo líquido viscoso. Um gemido alto escapou dos lábios pálidos quando o shinigami apressou-se e introduziu um dedo, enquanto sua língua quente percorria o pescoço alvo e bem delineado. Kid já não aguentava sentir-se preso com a calça preta e a peça íntima, insatisfação que foi percebida pelo garoto de cabelos rosados, pois logo levou as desajeitadas mãos em direção a calça do shinigami, abrindo-a e abaixando o zíper. O membro, ereto, pulsava, quase para fora da peça íntima. Um movimento simples de Chrona foi o suficiente para que pudesse tocá-lo sem impedimentos. Ao observá-lo, pelo canto dos olhos semi-cerrados, o menor sentiu vontade de satisfazer os desejos impulsivos de Kid.

- Pode... colocar... – Murmurou, para a surpresa do shinigami, que sabia que o rapaz ainda não estava pronto. Os olhos dourados, sob os fios negros desarrumados, estavam confusos, mas Chrona insistiu, tocando com a ponta de seus dedos na glande do shinigami. Ele soltou um gemido rouco, não questionando mais nada. Se era o que Chrona queria, ele iria fazer. 

Posicionou-se entre as pernas abertas do menor, de joelhos, e aproximou seu pênis da entrada de Chrona, que mordeu o dedo indicador da mão esquerda quando a penetração foi iniciada. Era dolorido, mas o menor sabia que Kid estava sendo o mais gentil possível. O shinigami mordeu os próprios lábios. O interior de Chrona era quente e apertado, mas, lentamente, ia acostumando-se ao seu membro, trazendo uma sensação prazerosa para ambos.

Neste momento, Kid começou a mexer-se com cautela, mas a cada investida, as estocadas tornavam-se mais profundas, fazendo com que os lábios pálidos deixassem escapar gemidos e sílabas desconexas, acompanhadas sempre pelo nome do shinigami. Chrona já havia experimentado a loucura diversas vezes, mas nada se comparava à insanidade de quando seu corpo reagia de forma perfeitamente simétrica com o corpo de Kid.

O tórax definido do shinigami subia e descia rapidamente, úmido pelo suor que formava-se na sua pele cálida. Os fios listrados, grudados na testa, contrastavam com a pele vermelha do seu rosto. Apenas Chrona tinha aquela capacidade, de tirá-lo do seu estado perfeito, de tirá-lo de sua simetria. Antes, imaginava que era estranho nutrir tais sentimentos por uma pessoa do mesmo sexo, mas ao sentir tudo aquilo que acontecia com o seu corpo, perante o corpo submisso de Chrona, fez com que o shinigami concluísse que desde o começo não havia nada estranho. Estranho seria se eles privassem seus corpos e suas mentes daquele prazer único e descomunal, que logo alcançou seu ápice. Os sons dos gemidos se misturaram, como se fossem de um único ser.

Os movimentos diminuíram de intensidade, até terminarem. Exausto, Kid abandonou o corpo de Chrona, deitando-se ao lado do rapaz, não esquecendo de beijá-lo tão docemente quanto fizera no início de tudo. As mãos suadas se entrelaçaram, enquanto os batimentos cardíacos e a respiração dos rapazes tentavam se normalizar.

- Kid... – Chamou Chrona, recebendo em resposta um leve aperto entre os dedos da mão, indicando que o shinigami estava escutando. – Foi correto termos feito isso em uma das mesas da sala dos professores? Digo, Stein apenas liberou hoje para jogarmos xadrez... – Indagou, voltando a ficar apreensivo. O que eles haviam feito, realmente seria difícil de limpar. O moreno riu, finalmente lembrando-se de onde estavam. Havia até o risco de serem pegos no flagra, mas não iria deixar o menor desesperado por mais um motivo.

- Está tudo bem. Jogaremos em outro lugar, na próxima vez. – Esclareceu, imaginando onde poderia ser. Primeiramente, precisava saber que jogo Chrona escolheria, já que ele havia prometido dar ao menor a chance de optar pelo que bem entendesse. – Falando nisso, qual jogo você irá escolher? – O rosto de Chrona voltou a ficar corado. A resposta já estava na ponta da língua.

- Pode ser xadrez? Acho que estou começando a aprender as regras.