[Narrado por Vittany]

Um mês depois...

Estava eu e meu pai dentro do carro, ele me levava para a escola. Há um mês, meu verdadeiro pai morreu, perdera toda a vontade de fazer ou falar qualquer coisa. Mal se alimentava, trabalhava no automático. Recebia uma ligação, entrava no avião, ficava dias fora, saia do avião e esperava até receber outra ligação. Eu parei quase da mesma maneira. Matei a menina rebelde dentro de mim. Casa, escola, casa de novo. Chegamos enfim ao nosso destino, desci do carro e ele me desejou boa aula. Fui até minha sala e quando abri a porta, percebi todos me metralhando com os olhos. Que espetáculo, todos já sabiam de tudo! Sentei em meu lugar e minha melhor amiga, Fabiana, pulou em cima de mim num abraço.

- Vi!!! Que saudade de você! Um mês e você não atendia meus telefonemas!

- Eu andei meio ocupada.

- Engravidando e quase matando a própria mãe. – falou o demônio da sala, Priscila.

- Vi... Você estava grávida? – Fabiana estava totalmente por fora do assunto.

- Eu pretendia te contar, mas não consegui ser mais rápidas que as fofocas. – Priscila se levantou e apoiou soberanamente a mão sobre minha mesa.

- Mas está muito magrinha. Perdeu a criança? Soube que foi o seu namoradinho que cuidou deste assunto. Realmente, é muito amor...

- Priscilete, cuide de sua vida! Morda a língua e morra com o próprio veneno!

Bati com as duas mãos na mesa, levantando-me e seguindo até o banheiro, onde eu poderia chorar sem ouvir especulações. Ao passar pela porta, bati meu ombro esquerdo no corpo de um garoto. Devia ser aluno novo. Pude perceber que os olhos eram verdes e cabelo me pareceu ser ruivo, mas passei direto quando senti uma lágrima escorrer.

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[Narrado por Leony]

Quando aquela garota esbarrou em mim, teve uma coisa que imediatamente chamou minha atenção. Seus olhos eram absurdamente verdes, bem mais que os meus. Chegavam a brilhar em neon. Percebi a lágrima sutil escorrer por seu rosto e ela saiu correndo. Entrei na sala e fui recebido por uma loira eufórica.

- Olá. Você é o aluno novo certo?

- Ahn... Exato.

- Seja bem vindo. Meu nome é Fabiana. Se precisar de algo estou aqui para ajudar.

- Falou a representante de classe. – resmungou Priscila.

- Muito obrigado. – o garoto ignorou a loira venenosa e abriu um belo sorriso para Fabiana – Meu nome Leony.

- Se me permitir, vou te chamar de Leon.

- Fique a vontade. – ambos sorriram – Diga-me. Aquela garota que saiu agora pouco...

- Ah! Ela é minha melhor amiga, Vittany.

- Vittany... Estava chorando... – ele disse olhando para a porta, com o olhar perdido na lembrança dos olhos dela.

- Culpa desse povo sem coração.

- Como é? – ele voltou o olhar para Fabiana.

- Se você estiver algum interesse na Vittany, é melhor tomar cuidado. Ela adora dar o golpe da barriga.

- Cale a boca, sua víbora. – protegeu Fabiana.

Priscila encarou o garoto com um olhar todo malicioso, se insinuando para o novato. Leony lhe olhou com total indiferença e ainda disse:

- Não é extremamente desagradável? Essa mania que as pessoas têm de rirem da desgraça alheia? – ele passou direto por Priscila e foi se sentar em uma cadeira próxima da janela. Fabiana ficou rindo da cara quebrada da víbora.

Fabiana e Leony ficaram conversando mais um tempo até a aula começar. Vittany voltou depois que a professora já estava dentro de sala e foi cabisbaixa até sua mesa, que Fabiana posicionou de acordo. Leony estava sentado atrás de Vittany e ela estava ao lado dele, perfeito para vigiar e conversar com os dois.

A aula acabou e Vittany estava saindo dos recintos escolares, rumo a sua casa, quando foi parada por Fabiana e Leony.

- Oi, Vi.

- Oi, Fabi. – disse com uma voz cansada.

- Deixe-me apresentar vocês dois. Este aqui é o Leony, o novo aluno.

- Aquele que senta atrás de mim por “coincidência do destino” e que ficou a aula inteira encarando minhas costas e trocando bilhetinhos com você.

Fabiana deixou o queixo despencar, pasma, e Leony apenas ergueu uma sobrancelha, impressionado com a perspicácia dela.

- É... Bem... Pensei eu irmos para sua casa estudar, que tal? – Vittany não disse nada. Nem precisava, seu olhar já dizia tudo – Ok, ok. Eu compro uma torta de limão com doce de leite pra você.

- Fechado. – Vittany disse em meio segundo. Fabiana sorriu e Leony conteve um riso.

Todos seguiram para a casa de Vittany, mas antes passaram na confeitaria e compraram o prêmio dela. Eles entraram, foram até o quarto dela e depositaram as mochilas. Vittany pegou a torta e foi até a cozinha, pegou três pratinhos e partiu um pedaço para cada um.

- A casa da Vittany não é linda? – disse Fabiana.

- Tem razão. – concordou Leony.

- Sabe, Vi, o Leon...

- Quem? – perguntou Vittany.

- O Leony.

- É Leon ou Leony?

- Leony é o nome dele e Leon é um apelido que eu dei.

- Vou te chamar de Bob. – ela disse para o garoto. Ele riu.

- Chame como quiser. – disse simpático e sedutoramente para ela.

Impressionada, ela passou uns 10 segundos encarando o rapaz.

- Vi! Você está corando!

- Não enche, Fabiana.

- E você, Bob, senta.

- Não sou um cachorro. – ela o encarou novamente - O que foi?

- Você é loiro, ruivo, moreno ou o quê?

- Meu cabelo é uma espécie de castanho claro alaranjado.

- Muito específico.

- Sinto muito se não te agrado.

- Não tem que agradar.

- Isso, realmente, é um alívio.

- Como você é chato, Bob.

- VOCÊS VÃO REALMENTE FINGIR QUE EU NÃO ESTOU AQUI? – ambos olharam para Fabiana e pediram desculpas.

Depois de algum tempo sem conversar, apenas comendo bolo, Leony perguntou:

- O que aconteceu com a sua vida?

- Pra quê quer saber?

- Sou um seqüestrador e pretendo te extorquir da melhor maneira possível.

- Então, não direi nada.

- Você engravidou? – ela deu um suspiro pesado.

- Sim, engravidei. O pai do meu filho atropelou a mim e minha mãe. Eu perdi a criança. Minha mãe fraturou cinco costelas e ainda lesionou o pulmão, teve hemorragia interna e está em coma há um mês sem previsões para acordar. E meu pai é um zumbi de terno e gravata.

- Sinto muito.

- Sei que sente. – ela se levantou e levou o prato até a pia – Olha, Fabiana. Não me sinto muito bem. Importa-se de marcamos outro dia para os estudos?

- Não. Claro que não. Já que você está mal... – ela lançou um olhar fatal para Leony.

Os dois foram até o quarto de Vittany, pegaram suas mochilas e ela os conduziu até a porta.

- Obrigada pela torta. – disse Vittany abraçando Fabiana.

- Disponha, minha amiga.

Leony se aproximou para se despedir, mas Vittany não moveu um músculo a seu favor. Leony abriu um sorriso de canto e sussurrou na orelha dela.

- Mas eu, realmente, sinto muito. – disse colocando as mãos no bolso da calça e em seguida dando um beijo na bochecha dela. Mas não foi um simples beijo de despedida – Até amanhã. – disse agora em voz alta.

- Até. Tchau, pra vocês dois.

Eles saíram, Vittany fechou a porta e recostou contra a parede, deslizando até cair sentada no chão. Então, as lágrimas começaram a correr.