Me Dá Um Chiclete? escrita por LittleAngeel


Capítulo 1
Me dá um chiclete?




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Corri debaixo de uma chuvinha fina, indo em direção da entrada do metro.

 

Eu precisava de um chiclete.

 

Sentia a mochila escorregando por meus ombros, e ouvia o irritante chiado que meus tênis faziam enquanto eu andava pelo principal metro de Destin. Sentei na ponta do primeiro banco que vi, sem nem prestar atenção em o que fazia.

 

Eu precisava de um chiclete e queria ir para a casa.

 

Respirei fundo. Relembrar os 17 anos que se passaram da minha vida – a vida de uma adolescente com deslexia chamado Percy Jackson -, era extremamente estressante, e exatamente por isso, eu precisava de um chiclete. Mas fala serio! Você também precisaria se estivesse na minha situação.

 

Sem contar que eu adorava chicletes. De preferência os de menta azul.

 

Eu precisava exatamente disso. Um chiclete de menta azul, aqueles que sempre me acalmavam minutos antes da prova de cálculos. Ou segundos depois que minha mãe descobria que seu vaso de flores preferido estava quebrado, e que a culpa era minha.

 

Costumava mascar também quando algo me incomodava, pessoas ou lugares... Como quando o senhor Blófis pegava no meu pé com suas lições entediantes de inglês, ou quando meu pai e contava histórias sobre o mar, as mesmas desde que eu me entendia por gente - se mitos fossem verdade, eu poderia dizer meu pai é da familia de Poseidon, mas como raramente os filhos se interessam pelo o que os pais fazem, com certeza ele foi fruto de uma pulada de cerca - mas nada se comparava a minha necessidade de marcar quando meu irmão por parte de pai começava a ter "convulsões" por bonequinhas em lojas de departamento. Geralmente nessa hora eu acreditava ainda menos em mitos, porque assim, se eu me jogasse no mar teria grandes chances de me afogar, sem correr o risco de ser salvo por um sei lá, avô? Que seja, nessas horas me afogar me parecia extremamente atraente!

 

Agora eu estava entediado, cansado, com sono e com fome, e precisava de um chiclete, enquanto ainda esperava o metro. Mas minha caixa de Trident de 12 unidade havia acabado antes do final da aula. E eu não podia fazer nada! Não quando a ultima aula era a mais entediantes do planeta: Inglês. E eu não estou me referindo ao professor, não conheço uma palavra que descreva o quanto ele... Me dá sono!

 

Então eu ouço aquele barulhinho, tão reconfortante, leve, perfeito... – ótimo, já estou virando psicótico.  Olho para o lado, e vejo uma garota de cabelos pretos e cacheados, caídos em forma de cortina por seu rosto abaixado em direção ao seu colo, enquanto lia um livro que eu não sabia identificar o titulo. Mesmo com seus belos cachos impedindo-me de ver seu rosto, eu podia ver a bola de chiclete azul que ela fazia em sua boca.

 

Então soltei aquela maldita – ou seria sagrada? – pergunta sem pensar:

 

- Me dá um chiclete?

 

Alguns minutos se passaram, e a garota que deveria ter a minha idade ainda não havia tirado a sua atenção dos livros, enquanto eu ainda a encarava. Ou encarava a bola de chiclete. Não sabia ao certo.

 

- Você esta falando comigo? – ela perguntou e se virou para olhar para mim, então eu percebi que... Woow.... Tipo, wow mesmo. A garota era muito, muito, muito bonita.

 

- Er... eu acho que estava. – respondi bobamente, sabendo que estava vermelho.

 

- O que foi? – perguntou meio rude, alternando seu olhar para mim e para a foto em seu livro, do que eu conseguir identificar ser o templo de Atena.

 

- Esse é o chiclete Trident sabor menta azul?

 

- Hum... é.

 

- Me dá um chiclete? – eu pedi novamente, sabendo que agora poderia mascar o quanto eu quisesse.

 

- Er... hum... chiclete?

 

- É... chiclete... tipo esse que você tem na boca. – falei dando um sorrisinho.

 

A garota piscou algumas vezes, seus olhos cinzentos, que mais pareciam dias nublados – como hoje -, ficaram confusos. Ela balançou a cabeça fazendo o cabelo se agitar em sua volta, me fazendo lembrar uma boneca de porcelana. Ela parecia uma boneca de porcelana.

 

- Um chiclete. – repetiu. Depois assentiu, não parecendo mais confusa, e do bolso da jaqueta tirou um pacotinho quase intacto de chiclete. Meus olhos brilharam.  – Toma. – e me deu um na minha mão. Coloquei na boca comecei a mascar.

 

- Me dá outro? – pedi.

 

- Mas eu acabei de dar um! – a garota disse parecendo incrédula.

 

- Mas com um chiclete não dá para fazer bolas duplas.

 

Ela travou o maxilar e eu ajeitei meu rosto para conseguir vê-la melhor. Ela voltou a ler o livro que parecia ser todas as grandiosas obras dos mitos gregos. O outro livro que estava ao seu lado era de só sobre cálculos – coro de Eca! – e outro só de aritmética. Já pela capa, eu pude perceber três coisas.

 

Primeiro: Mesmo eu estando no segundo ano, provavelmente eu não sabia nem um terço de nada do que havia naqueles livros sobre números em geral.  Segundo: Aquela era uma CDF, sabe-tudo.  E terceira: Garotinha chata.

 

- Quem liga para bolas duplas? – a sabidinha perguntou com sarcasmos, para finalmente bufar, voltando a olhar para mim.

 

- Eu ligo para bolas duplas. Elas me acalmam. – admiti.

 

- Você faz bolas duplas com chiclete para não se estressar?

 

- Na verdade, eu masco chiclete de menta azul para não ficar estressado. Ou entediado, ou... quando estou em aulas chatas... ou quando não estou a fim de estar em um lugar e estou. Na verdade, sou viciado em mascar chiclete de menta azul.

 

- Você não é viciado! – a sabidinha disse, e ela começou a gargalhar baixo, ainda de forma irônica. – Você já virou obsessivo com gomas de mascar de menta azul.

 

- Posso ser paranóico, mas pelo menos não sou uma CDF chata. – a acusei com raiva e percebi que o livro sobre a mitos eram específicos sobre Atena.

 

Ah! A garota nem sabia escolher seu Deus preferido!

 

- Eu não sou uma CDF chata!

 

- Isso é você quem estar dizendo! Eu só falei que ser paranóico, é melhor que ser uma CDF chata. Não denominei quem era essa. – falei, e a sabidinha me olhou como se quisesse me socar. Abriu a boca como se fosse jogar uma praga, mas logo voltou a prestar atenção em seu livro.

 

Voltei a mascar o chiclete de menta azul desviando meus olhos da sua figura. Mas não demorou nem cinco minutos e eu voltei olha-la. Era difícil admitir, mas aquela garota desconhecida-CDF-chata era muito bonita.

 

- O que foi? – ela perguntou de repente.  Percebi que ela estava tão corada quando eu devia estar.

 

- Nada. – respondi coçando a nuca.

 

- Então por que estava olhando para mim como um idiota?

 

- Eu não sou um idiota.

 

Ela revirou os olhos e sorriu.

 

- Falei que você parecia um. Mas se você esta dizendo que é, quem sou eu para descordar?

 

Droga! O feitiço jogado contra o feiticeiro não devia doer tanto!

 

- Afinal, por que estava me olhando? – Sabidinha perguntou.

 

- Tentando entender por que uma menina tão bonita como você, consegue gostar de Atena. – Hã?! Eu havia colocado as palavras “bonita”, “gostar” e “você” na mesma frase? Eu só podia estar pirando.

 

Por sorte, ela não reparou meu “elogio”. Estava mais preocupada com o fato de eu ter menosprezado Atena.

 

- Como você pode não gostar de Atena? – perguntou envaidecida. – Ela tem uma beleza natural e uma sabedoria esplendida. O que você pode ter contra ela?

 

- Prefiro Poiseidon. – falei dando os ombros. Não podia negar, que assim como meu pai Peter, tinha certa afinidade com o mar e realmente admirava aquele Deus. 

 

- Há! Poseidon! Se não me engano, não foi o nome dele que colocaram na cidade de Athena.

 

- Você acha que isso é bom? Atena tem seu nome em uma cidade, Poseidon é deus de todos os mares. – Eu defenderia meu deus preferido. Ta... confesso... eu meio que sou fã do cara. Mas fala serio?! Ele tem um reino no fundo do mar.

 

Eu parecia até aquelas garotinhas berrando pelos Jonas Brothers - ou pelo pessoal da Saga do Vampiro, ou por aqueles bruxinhos de óculos fundo de garrafa – quando se tratava daquele Deus. Cheguei até discutir com minha mãe, perguntando por que ela colocou meu nome de Perseu, ao em vez de Nereu.

 

- Atena tem sabedoria. É uma donzela. Não se limita em um desafio. – Sabidinha retrucou, e cruzou os braços na frente do corpo, de forma determinada.

 

- Poseidon tem um tridente. – disse estupidamente. Eu não sei se poderia ter pensado em uma resposta melhor, já que no momento em que eu tentava fazer isso, Sabidinha estourou uma bola de chiclete em sua boca.

 

E dessa vez, não foi o chiclete que me chamou atenção. Mas a boca dela. Uma boca que parecia ser muito beijavél.

 

 Não que eu tivesse muito experiência com bocas beijáveis, ou não, e muito menos com garotas. Eu conseguiria contar com apenas a metade da minha mão direita, quantas garotas eu havia beijado.

 

Só que não era burro o suficiente para não saber que Sabidinha, seria bastante beijável.

 

- E o que ter um tridente, faz Poseidon melhor que A... – ela parou de falar no meio da frase e fixou seu olhar no metro que saia em disparada para fora. – OH DROGA! – praguejou. – Aquela era a minha carona! E você me fez perde-la!

 

Segui seu olhar e vi minha carona partindo. Aquela também era a minha carona. 

 

- Droga! – esbravejei, não tão irritado por perder o metro, quando deveria estar. Virei para olhar a Sabidinha novamente, e ela estava vermelha. Dessa vez, eu tinha certeza que não era de vergonha. – Você vai para aqueles lados?

 

- Sim. – respondeu seca, folheando o livro.

 

 - Você mora por lá?

 

 - Não.

 

 - Você esta com raiva?

 

 - Sim.

 

 - De mim?

 

 Ela me olhou como se eu tivesse algum problema mental gravíssimo, e que esse afetasse completamente a minha capacidade de raciocínio lógico.

 

 - É claro que sim!

 

 - Você vai ficar só respondendo “sim” ou “não”? – perguntei rolando os olhos e finalmente conseguindo estourar uma bolinha com o meu único chiclete.

 

 - Provavelmente. – Sabidinha respondeu dando um sorrisinho do estilo: Sou invencível!

 

 - Pode pelo menos responder por que esta com raiva de mim?

 

 - Você me fez perder o metrô! E vou ter que esperar mais uma hora e acabar chegando tarde em casa seu Cabeça de Alga!

 Não entendi o que ela quis dizer com: Cabeça de Alga, mas imaginei ser um apelido “carinhoso” que ela havia inventado para mim, assim como eu havia inventado o meu para ela.

 

 - Sabidinha, para de ser dramática! – ela ergueu a sobrancelha ao ouvir o apelido. – Não deve ser nem dez minutos de metro até a sua casa!

 

 - Mas eu não moro para lá! Eu moro para o leste! Preciso ir para o oeste entregar esses livros para uma amiga minha.

 

 - Ah... desculpa. Desculpa mesmo por ter feito você perder o metro. – parei, pensando em uma forma de me desculpar com ela. – Ei! Ainda vamos ter que esperar mais uma hora! Por que não vamos a sorveteria que tem do outro lado da rua? – quando terminei a pergunta, eu podia sentir meu rosto quente.

 

 - Por que eu iria? Você pode ser um assaltante, um estuprador, um louco, foragido da policia...

 

 Agora foi a minha vez de olha-la como se ela fosse louca. Na minha vida inteira, eu ouvi que era um retardado, e que não conseguia fazer mal nem a uma formiga. Eu realmente não sabia se me sentia raivoso, ou simplesmente agradecido pelas acusações.

 

 - Olha bem para a minha cara. – falei. – Você acha que eu tenho capacidade de ser tudo isso ai que você falou?

 

 Ela ponderou por um momento, então falou:

 

 - Se você gritasse com um peixe, eu já acharia muito. - Sabidinha se levantou, pegando seus livros e ajeitando sua jaqueta jeans. – Pode colocar meus livros em sua mochila? Não quero que eles molhem.

 

 Peguei os livros da mão dela e coloquei na mochila:

 

 - Vamos?

 

 

_X_

 

 

- Então quer dizer que você é amiga de Thalia, a garota punk que é minha vizinha? – eu perguntei, enquanto colocava uma colherada do meu sorvete azul com cobertura de chocolate.

 

 Sabidinha e eu estávamos sentados em uma das mesas da sorveteria vazia. Estávamos conversando besteira – já passando da fase das brigas – e eu nem percebia que ainda não sabia seu nome, e nem ela o meu.

 

 - É essa mesma! Só não chame ela de punk... provavelmente você sairá ferido. – ela falou rindo, e seu sorriso agora, não era mais tão irônico.

 

 - Eu sei. A primeira e ultima vez que fiz isso, ela deslocou meu braço.

 

 - Então você era o vizinho-pequeno-e-retardado que ela havia deslocado o braço? – olhei para ela com raiva quando ela falou a aparte do pequeno e retardado. – Desculpe, palavras dela.

 

 Eu sorri e ficamos em silencio por um longo momento desde que havíamos chegado a sorveteria. Eu não me incomodei com um silencio, já que eu ainda pensava que seria muito bom beijar Sabidinha, mesmo sem nem saber o nome dela.

 

 Percebi então que mesmo não sabendo essa crucial informação, eu sabia coisas demais da vida daquela garota. Seus pais eram separados, a mãe morava em Nova York, e ela morava com o pai. O pai casou novamente e teve dois filhos gêmeos. Sabidinha, tinha alguns problemas de convivência com a família e poucos amigos. E nada disso impedia que ela continuasse sonhando em ser uma arquiteta.

 

 - Hã... sabe, eu acho que vou para a minha casa.  Amanhã eu passo cedo na casa de Thalia, já que é sábado. Só preciso entregar uns livros mesmo a ela. – ela falou se levantando da mesa. E fiz o mesmo. – Já são oito e meia. Não posso demorar mais.

 

 - Olha... se você quiser, eu levo os livros para ela  . – propus.

 

 - Serio? – ela perguntou e eu assenti, sem poder esconder o sorriso em meu rosto. – Mas prometa que não vai chama-la de punk. Não será nada legal ela deslocar seu ombro de novo, Cabeça de Alga.

 

 - Não vou correr esse risco. São todos esses livros que estão na minha mochila?

 

 - Só os de cálculos. – respondeu e eu tirei o livro de mitologia grega. – Obrigada.

– Sabidinha agradeceu sorrindo. – Bem Cabeça de Alga, a gente se vê por ai... – então se virou, saindo da sorveteria.

 

 - ESPERA! – eu gritei.

 

 Ela se virou:

 

 - O que foi?

 

 - Qual o seu nome? – perguntei, dando três passos, e me colocando em sua frente.

 

 Sabidinha sorriu ainda mais, e de alguma forma eu soube que ela estava feliz por eu ter feito a pergunta.

 

 - Annabeth Chase. E o seu?

 

- Percy Jackson. – bem, agora que eu já sabia o seu nome, eu poderia beija-la. Mas será que eu teria coragem de fazer isso?

 

 E então eu não descobrir. Por que antes que eu pudesse pensar, Annabeth encostou seus lábios nos meus. De forma rápida, mas que me deixou bastante tempo em modo “ofline”.

 

 - Tchau Percy! – ela gritou e só assim pude perceber que ela estava já do outro lado da rua acenando para mim. – Foi um prazer te conhecer! 

 

Então ela correu para a entrada do metro, e eu nem tive a oportunidade de dizer: “Espero te ver de novo!”. 

 


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Notas finais do capítulo

- Então pessoal? O que acharam? Eu sei... historia meio ridicula, mas eu realmente me diverti escrevendo. Mandem Reviews para saber se gostaram, ou se eu posso melhorar da próxima. Ou até mesmo, se eu devo postar uma continuação para maiores de 18! UAHSUAHSUA #zuei

X.O.X.O