Foi então que ele saiu da frente e...

- Ah..Não pode ser. - Foi tudo o que saiu de minha boca, mas foi alto o suficiente para os outros ouvirem.

Aquela era...não podia ser. Katherine estava, morta, não é?!

Eu não conseguia acreditar no que via. Era ela, a criatura desprezível que deveria estar morta com uma estaca fincada no meio do peito. Ela tinha os mesmos olhos e cabelos castanhos escuros dos quais eu ouvira falar. Era igual a foto que encontrei no quarto de Damon ontem. Era tudo culpa dela; Stefan e Damon não se entendiam por culpa dela. Minha vida estava assim por culpa dela. Tive vontade de pular em seu pescoço naquele instante, sem me importar com os humanos que estavam presentes.

 Mas então meu instinto me disse que eu devia ter medo. Ela era mais velha, mais antiga, portanto era mais forte. Eu tinha grande chance de perder uma luta. E eu não queria que as pessoas presentes na sala se machucassem, eu não podia ser responsável por isso.  Eu precisava pensar melhor antes de agir.

Todos esses pensamentos passaram por minha mente em um segundo; as pessoas próximas olhavam pra mim tentando entender meu sussurro desesperado de "não pode ser" mas eu não tinha tempo para explicações. Puxei minha bolsa do chão e me levantei bruscamente. Como se já não fosse uma cena terrível, pude sentir lágrimas escorrendo por meu rosto antes que eu pudesse impedi-las. Saí correndo em direção a porta sem dar chance à Alaric de me perguntar o que estava acontecendo. O pior foi que tive que passar por ela para sair da sala. Aquela safada ainda tinha a cara-de-pau de se fingir de inocente. Droga! Eu devia acabar com ela.

Bati a porta ao sair; foi quando admiti a mim mesma que sabia o motivo das lágrimas estúpidas: eu me sentia traída. Stefan havia encontrado ela à alguns meses, planejou tudo para que eu a encontrasse na nessa maldita escola e não me contou nada!! Ele havia armado um plano, mas como? E porquê? Ele só me conhecia há dois dias!

Passei correndo pelo estacionamento vazio e não desacelerei; ao invés disso continuei até entrar em um bosque que cercava os fundos da escola. No meio das árvores onde ninguém conseguiria me ver mesmo que estando bem próximo, eu decidi parar e me sentei em um montinho de folhas secas.

Preciso de Damon, pensei. Se o conhecia bem ele estava em alguma parte da cidade..caçando. Era o que fazia quando algo o aborrecia.

Eu poderia ir correndo pra casa; havia decorado o caminho facilmente, mas em primeiro lugar, eu tinha medo de ir pra lá sozinha e Stefan e Katherine me acharem, eu seria uma presa fácil. Em segundo lugar, eu estava muito chocada e abatida, precisava do abraço reconfortante de meu irmão que sempre me acalmava nas horas difíceis. Já tinha complicações demais em minha cabeça,não estava pensando direito e não parava de chorar. Odeio chorar.

Peguei o celular dentro da bolsa e liguei para aquele número tão familiar. 

Cruzei os dedos para que ele não estivesse tão bravo comigo que resolvesse ignorar minhas chamadas. Não precisei me preocupar tanto, no terceiro toque eu pude ouvir a voz que eu precisava, a voz que estava irritada também.

- Lizzie? Achei que estivesse na escola, com Stefan. - Disse ele. Não me importava que ele estivesse me repreendendo. Suspirei de alívio por poder falar com meu irmão.

Respirei fundo para tentar disfarçar a voz de choro.

- Damon, você pode vir me buscar por favor? - Não deu certo, eu ainda tinha a voz de uma criança que cortou o dedo e pede pra mãe dar um "beijinho pra sarar".

- O que aconteceu? Você está chorando! Lizzie? Você está bem?! - Ele sempre ficava alarmado quando me via/ouvia chorar.

- Eu queria te contar depois, mas é muito importante..

- Diga! Por favor, o que aconteceu? - Ele era muito curioso.. mas também estava muito preocupado, eu podia ouvi-lo entrando no carro. Ele havia comprado um carro?

- Ainda está na escola?

- Estou, no bosque que ficam nos fundos.

- Estou indo! - Disse ele.

- E então..

- Ela voltou. - Eu disse, verificando se não havia ninguém por perto. - Ela não está morta.

- Lizzie, quem voltou?

- Katherine. - Me encolhi ao dizer o nome; parecia ridículo, mas quanto mais eu pensava no assunto mais vulnerável eu me sentia.

Do outro lado da linha só vinha silêncio.

- Tem certeza? - Perguntou Damon depois de um minuto absorvendo a ideia.

- Eu a vi, na mesma sala que eu estava.

Pude ouvir o barulho do carro acelerando.

- Onde está Stefan? - Perguntou a contra-gosto.

- Ele sabia de tudo Damon, ele já planejava encontrá-la aqui.

- Me dê trinta segundos.

A chamada terminou. Comecei a contar.- Sou paranóica, eu sei.

(...)

...28, 29, 30!

Ouvi o som de pneus freando. Depois de dois segundos vi um vulto bem perto de mim. Reconheci o cheiro.

- Aqui! - Eu disse. Quando será que minha voz ia voltar ao normal?

- Lizzie! - Ele parecia muito aliviado - Que bom que você está bem! 

Ele me puxou pelos braços e me ergueu. Um segundo depois eu estava aninhada em seu abraço carinhoso que eu senti tanta falta.

- Obrigada por vir maninho. - Eu disse toda emocionada. - Eu estava com medo dela.

- Não se preocupe, meu amor. - Disse ele olhando em meus olhos. - Eu vou sempre cuidar de você, porque é isso que os irmãos fazem, e porque eu te amo. Muito.

Vem, vamos sair daqui. Vou te levar para um lugar seguro e prometo não tirar os olhos de você enquanto essa história não estiver resolvida. Depois podemos voltar pra Europa, o que acha?

- Ia ser ótimo. - Eu disse abraçando ele mais forte.

Ele me levou até um carro, que era um modelo novo da Ferrari.

- Discreto, como sempre. - Eu disse brincando. Já me sentia mais segura por estar com meu irmão. Entramos no carro e eu encostei minha cabeça em seu ombro.

Ele deu a partida á caminho de um hotel.

Por alguns instantes, eu não estava preocupada. Não importava que a escola toda achasse que sou louca. Não me importava que não fosse mais amiga de Stefan. Não importava que todas as minhas coisas estivessem naquela mansão, nem sequer importava que Katherine tivesse "voltado dos mortos".

Nada importava desde que eu estivesse nos braços aconchegantes de meu irmão.