Shimmer escrita por scarlite


Capítulo 16
Capítulo 16




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CAPÍTULO 16: Acontecimentos inesperados

“Essas grandes descobertas são como a entrada para um novo mundo”

Eu estava no meio de um extenso bosque.

Não havia nenhum indicio de luz, a não ser pelos pequenos pedaços de claridade que escapuliam entre as folhas das arvores.

Havia o vento e seu barulho esquisito. Mas, não era nenhum desses elementos – a noite, o escuro, o vento ou o fato de eu estar perdido – que me consumia em desespero: Eu estava procurando algo. E nessa busca frenética, minha respiração ecoava em meus ouvidos, intermitente. Era tudo muito confuso, e no meio de toda confusão e frustração, uma figura aparecia e desaparecia entre as arvores, como se fosse um fantasma. Quase podia sentir os pêlos do meu corpo se arrepiando agourentos.

         Eu esticava minhas mãos e gritava, com toda a força que meus pulmões puderam juntar; mas, minha voz saía rouca, estrangulada como se estivesse desaparecendo. Nesse ponto tropecei e rolei por um enorme barranco.

Uma parte de mim sabia que aquilo era um sonho. Essa mesma parcela, desejava acordar logo no conforto da minha cama, sabendo que a figura que perseguia não era um fantasma e nem estava a desaparecer sob meus olhos, ela estaria segura no quarto ao lado.

Com um ultimo grande solavanco, finalmente acordei ofegante e completamente empapado de suor. Sentia meus cabelos pegajosos no rosto e a camiseta pregando nas minhas costas, os lençóis revirados e dois grandes olhos assustados.

         - Eddie você me assustou. – Bella estava sentada bem na ponta da cama, aos meus pés. Encostei-me na cama, e encarei o colchão.

Meu Deus, um pesadelo. Era só um pesadelo.

Ficava repetindo isso na minha cabeça. O efeito do sonho não havia me deixado ainda. Sentia aquela estranha coisa que sentimos quando ainda temos o gosto do sono após um pesadelo, as imagens ainda vívidas, o coração ainda palpitante. Restava-me tentar analisar aquele delírio onírico bizarro.

         Então me dei conta de Bella e suas pequenas mãos nas minhas costas. Ela tentava me prestar consolo com uma massagem nas costas. Daquelas que as mães dão quando somos crianças. E bastou para apagar o terror inicial e me trazer a percepção da realidade e do absurdo de me agitar tanto com um sonho ruim.

         - Não se preocupe Bells, foi um pesadelo. Daqueles bem esquisitos.

         - Bem esquisitos? Qual a classificação?

         - Humm... - Cocei a barba inexistente entrando no espírito da analise de Isabella. – Nível de bizarrice: 89.

         - Nível de susto?

         - Elementar meu caro Watson. – Olhei para ela com a melhor cara assustadora que pude. E vi seus olhos se arregalarem no meio da penumbra. De um salto agarrei seus ombros lançando-a no colchão ao meu lado. Ela riu alto e eu lhe tapei a boca, temendo que acordássemos mais pessoas na casa.

         - O nível de susto foi... Fraquinho assim – Fiz o tamanho mínimo entre os dedos polegar e indicador.

         - Mentira, você revirou tudo aqui ó – mostrou os lençóis no chão e os travesseiros espalhados por todo lado. Retirei os cabelos que caíram do lado esquerdo do rosto dela e contemplei a imagem de minha menina crescida.

         - Espertinha você, hein? – Apertei a ponta do seu nariz e ela sorriu.

Ela se aconchegou no meu peito, e eu enrolei a nós dois com uma das cobertas, tive certa dificuldade em retirá-la de debaixo de nós.

         Passaram-se alguns minutos de completo silencio, quebrado apenas pelo criquilar dos grilos e dos sapos lá fora. Meu peito subia e descia, o sonho já quase esquecido sob o calorzinho gostoso da cama e de Bella. Ela começou a fazer círculos no meu estomago e eu quase ronronei com o carinho.

         - Posso saber o que a mocinha faz acordada a essa hora? Ainda esta muito longe do amanhecer. Que horas são? – Me estiquei na direção da mesa de cabeceira constatando que ainda não passava das quatro da manhã. E um grande bocejo fez com que meus olhos lacrimejassem.

         - Não sei. Acordei com um barulho na janela.

         - Então ficou com medo e veio em busca do super Edward! – Fiz um muque ilustrando minha força superior.

         - Nada a ver seu bobão. – deixei o braço cair sobre o colchão, fazendo um barulho oco.

         - Na verdade, vim atrás disto – Ela ergueu o “livro do tédio.” Era assim que chamávamos um antigo volume com poesias decadentistas. Quando crianças, a última coisa que queríamos era poesia. Ansiávamos pelas estórias e contos, desprezando a literatura lírica completamente.

         - Baudelaire sempre funcionou com nossa falta de sono. Não custa tentar agora não é? – Bella sugeriu. Capturei da sua mão o volume e abri numa pagina aleatória, amparando-o no meu estomago e segurando uma das bordas com a mão livre. Bella segurou a outra, enquanto eu brincava displicentemente com uma mecha dos seus cabelos compridos. Pigarreei e fiz uma voz grossa e enfeitada de brincadeira:

“Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramos

Numa bela manhã radiante:

Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos, uma carniça repugnante.”

         - Ew... – Bella se retorceu e eu apenas ri. Folheei um pouco mais, encontrando um poema de Shakespeare. Comecei a ler, mas, parei na metade:

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora

No momento em que parei a leitura, a voz tenra de Bella continuou, e fechei os olhos sentindo as palavras me perfurando como dardos:


Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

         - Bonito. – Suspirei abrindo novamente meus olhos. Bella levantou-se do seu lugar ao meu lado, e me olhou com um carinho palpável.

         - Amo você Eddie. – Fiquei ali parado como um idiota, olhando para ela com um aperto no peito, tendo uma vontade doida que aquilo fosse um dia mais do que amor de irmão. Imaginando se haveria um momento, ou um mundo em que beijá-la seria algo mais que um absurdo.

         - Ah Isabella, você não imagina o quanto eu amo você. – Percebendo a excessiva intensidade que minha frase assumiu, tratei de emendar. – Sua pirralha! – acrescentei o bagunçado do cabelo castanho. Ela sorriu, aquele riso lindo que faz meu peito se inflamar. E ficou me olhando como se estivesse vendo algo pela primeira vez. Tocando meu rosto com a ponta dos dedos, sobrancelhas, bochecha, nariz e lábios. Nem percebi que minhas mãos estavam possessivamente em torno do corpo dela, que por sua vez, estava meio deitado por cima de mim. Ela se equilibrava com os cotovelos no meu peito.

         Minhas mãos subiram para o rosto dela, deslizando pela maciez da pele branquinha. E tenho certeza que meu sorriso era o mais bobo possível, pois minha mente estava em branco e eu me encontrava completamente embebedado por Bella. Sem nunca deixar de me fitar, ela encostou a testa na minha, a ponta do nariz fazendo cócegas no meu. Perdi o fôlego quando ela fechou os olhos como um gato, aninhando seu rosto no meu.

         Soltei um longo suspiro, e não pensei. Fiz questão de chutar a sanidade para debaixo da cama. Larguei todas as resistências, os nãos, os impedimentos. Porra, eu nem me importei com os laços sangüíneos, tudo que eu queria era sentir como era...

         Carinhosamente, beijei o canto dos seus lábios; passeei pelo seu rosto com minha boca depositando beijos suaves por toda a extensão, ate alcançar o destino final. Bella não me impediu, nem se assustou. Foi tudo tão natural, como respirar: O primeiro contato me causou um choque, mas, não me paralisou. Senti com minha língua a macia carne da sua boca, e me surpreendi com as pequenas mãos em torno do meu rosto. Como uma planta que se direciona para o sol, Bella se pressionou contra mim. Ainda que inexperiente, não demonstrou hesitação alguma quando recebeu meu beijo. Devagar, movimentei a boca contra a dela, e o sabor, a sensação... Foi simplesmente inominável. Não há nada com que possa comparar.

Afundei minha mão em seus cabelos sentindo na pele da sua nuca os pelinhos arrepiando. E ela agarrou meu pescoço com avidez. Era como estar morrendo, uma euforia, uma sensação de deslimitação... O contato foi se aprofundando, e eu já tinha dificuldades em manter o ritmo da respiração. Então, de um único golpe a realidade me tomou. Fui diminuindo a velocidade, terminando com um leve selinho e um último beijo na testa de Bella.

Ela me olhou com aqueles expressivos olhos castanhos. Eu podia identificar perfeitamente o que via: Encantamento, surpresa, medo, dúvida, carinho, e muitas perguntas.

         Encostei minha fronte na sua e pedi aos céus que ela não saísse correndo pela porta.

         - O... O que foi isso Edward? – Ela cobriu minha mão que acariciava seu rosto com a dela. E fiquei aliviado por perceber que não a tinha assustado o suficiente para que saísse porta afora.

         - Bells, me desculpe... Isso não...

         - Isso foi incrível! – ela me cortou. E aquela era a ultima reação que esperava. Esperava que ela fosse gritar, me bater, dizer que fiquei doido. Menos isso. Ergui meu rosto repentinamente, encarando o seu sorriso.

         - Bella, o que? – Será que havia entendido bem.

         Mas, o barulho da porta de Emmett batendo, quebrou a bolha que eu tinha criado. Ou que eu e Bella criamos, não sei! Logo em seguida, os gritos de Rosalie ecoaram pela casa. Emmett irrompeu pela minha porta com os olhos arregalados. Ele berrou para que todo o condado ouvisse:

         - O BEBÊ, O BEBÊ!!

         - Emm, calma homem, o que há? – Falei me erguendo da cama.

Em seguida, ele pronunciou as palavras que deixariam toda a casa Cullen em polvorosa:

         - Meu filho vai nascer!


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