Towards The End escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

CARÁCOLES! Mais de dois meses sem atualizar! Desculpa mesmo, gente (apesar de que suspeito que boa parte dos leitores deve ter até parado de acompanhar a história...), é que eu andava desanimada MESMO com PJ. MAAAAS, foi só ler Os Arquivos do Semideus que ganhei de Natal e dar uma re-lida em alguns caps de AFDN que eu mal podia esperar pra escrever de novo. Não estou dizendo que vou postar como antes, mas vou TENTAR escrever e postar mais seguido. E por favor, não pensem que isto é só mais uma promessa como em várias outras vezes.
Ah, e desculpem por não ter respondido os reviews ultimamente, mas prometo que responderei os desse cap! =)
Enfim...
Este capítulo ficou bem longo. Tem algumas novidades, uma tentativa fail de humor e uma coisa meio tensa no final... Mas espero que leiam, avaliem vocês mesmos e, claro, que gostem. Também adicionei dois gêneros na descrição da fic, vejam lá e me digam suas conclusões...
Enfim, enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/89071/chapter/13

  Eu poderia ter ficado esperando horas até a poeira baixar, mas meus sonhos gostavam de me dar o melhor ângulo da coisa, de modo que meu ponto de vista mudou instantaneamente para junto do trio de semideuses, como se eu estivesse literalmente entre eles. Nico e Katie estavam encolhidos no chão com as mãos na cabeça e os olhos apertados, mas não vi Connor. Os tímpanos deles deviam estar literalmente estourados. Katie, encostada em uma pilha de madeira quebrada, chegava a tremer. Demorou um pouco até que Nico fosse o primeiro a abrir lentamente os olhos e levantar a cabeça.

  — Katie? — Ele chamou. Seu rosto se contorceu em uma careta de dor quando ele falou, provavelmente por causa da dor nos ouvidos.

  — Hmmm — Katie gemeu, parando de tremer e tapando os ouvidos com as mãos.

  — Connor? — Chamou Nico, olhando em volta lentamente.

  — Presente, professor. — Disse Connor com a voz tremida a alguns metros deles, a perna direita formando um ângulo doentio enquanto a cabeça repousava no pneu traseiro da moto vermelha caída no chão.

  — Você... Sua perna... — Disse Nico, chocado, apontando debilmente para a perna obviamente quebrada de Connor.

  — Ela dói. — Foi a resposta inteligente do filho de Hermes. — Pra cara...

  — AI MINHA DEMÉTER! — Katie exclamou quando seus olhos cor de trigo focalizaram Connor, em seguida parecendo se arrepender de ter quase gritado devido aos ouvidos.

  — Não grita. — Nico sibilou entredentes. Pode ser estranho e tudo o mais, mas a frieza com que ele a tratou me deixou extremamente feliz.

  — Que é, acha que meus ouvidos não doem, também? — Resmungou ela de volta. Nico revirou os olhos.

  — Gente... — Murmurou Connor com dificuldade. — Caso tenham esquecido, a gente tem que procurar o meio-sangue... Shea sei-lá-de-quê...

  — É Sean Montgomery. — Corrigiu Katie, com as mãos nas orelhas e olhos fechados. — Minha mãe! Você pareceu o Sr D. agora.

  — Ei, não me ofende assim. — Brincou Connor. Achei incrível a capacidade dele de fazer piada em um momento desses. Zeus, porém, não pareceu concordar, se for considerar o raio furioso que cortou o céu assim que Connor disse isso.

  — Connor, como você pretende ir conosco nesse estado? — Perguntou Nico com a cabeça apoiada nas mãos.

  — Sei lá. — Respondeu o filho de Hermes. — Rastejando. Pulando em uma perna só. Indo de galho em galho pelas árvores. Ou eu posso arranjar uma daquelas cadeiras elétricas com cesta que deficientes físicos usam em supermercados.

  — E como você pretenderia arranjar essas cadeiras, se você nem anda direito? — Perguntou Nico.

  — Ah, então você concorda com a ideia?! — Perguntou Katie, genuinamente irritada. — Idiotas, essas coisas são para quem precisa!

  — Katie. — Disse Connor, que para surpresa de todos, estava sério. — Nós podemos salvar um semideus de ser devorado por monstros se formos rápidos. Acho que isso é mais importante que a ida de alguém ao mercado. Além do mais, minha perna está inutilizável. Logo...

  — Olha, além de pensar, ele sabe palavras com mais de três sílabas! — Interrompeu a irritante filha de Deméter. Connor e Nico suspiraram. E pensar que eu havia sentido pena dela no começo.

  — E por que a gente simplesmente não vai até o tal de Sean e, quando voltarmos ao continente, mandamos Connor de volta pra casa num avião? Talvez ele até possa levar o novato junto. — Sugeriu Nico, parecendo cansado.

  Ei, como assim? Ele queria ficar sozinho com a irritante ou algo assim?

  Acho que teremos um homicídio duplo. As Queres ficariam ainda mais felizes de ter um corpo a mais para devorar. Eu poderia dá-los ao Cérbero também, mas ele poderia ter indigestão com o cadáver de Katie e ficar deprimido com o de Nico.

  — Mas eu... — Respondeu Connor, parecendo agora uma criança prestes a cair no choro.

  — Nico está certo. — Assentiu Katie. — Connor, não interessa se você gosta do mundo exterior e queria ficar mais em missão ou não. Se não for fazer isso por você mesmo, faça por nós. Você vai ser um fardo pra nós com essa perna, e sabe disso.

  Ótimo. Além de colocar o pobre Connor ainda mais pra baixo, ela consente em ficar sozinha em missão com Nico.

  — Valeu, Katie. — Disse Connor sarcasticamente, fazendo sinal de positivo com as duas mãos. — Mas mesmo assim vocês ainda vão ter que me aguentar aqui em Bald Head Island. Então, quem me carrega?

  — Folgado! — Resmungou Katie.

  — Folgado? — Connor perguntou. Seu rosto dava a entender que estava prestes a cair na gargalhada. — Vamos quebrar sua perna e bater sua cabeça contra o pneu de uma moto pra ver quem é folgado, agricultora querida.

  — Você está assim porque resolveu ficar se exibindo com essa moto em vez de largá-la em qualquer canto e se abaixar para se proteger. Você colhe o que planta, ladrãozinho querido.

  Os dois trocaram olhares raivosos. Nico, no meio dos dois, parecia cansado e seus pensamentos pareciam distantes.

  — Ótimo. Me deixem aqui, então. Apodrecendo. Me decompondo. Quem sabe a águia do Prometeu não está enjoada e não quer vir me comer pra dar uma variada no cardápio?

  — A águia ia se engasgar, e o solo ia ficar ainda mais infértil, para sempre.

  — Dá pras criancinhas calarem a boca? — Resmungou Nico. — Connor, deixa de ser dramático, até parece uma garota. Vocês não se dão conta que temos que trabalhar em equipe? Acho que por isso Quíron nos colocou juntos, pra aprendermos a ficar unidos, mesmo tendo nossas desavenças de antes. Agora esqueçam isso. Katie, que tal se você ficasse aqui enquanto eu procuro uma cadeira de rodas ou algo assim pro Connor?

  — Não. — Resmungou ela, aparentemente ignorando todo o papo sobre união e trabalho em equipe de Nico. — Eu procuro. Fique você com seu amiguinho drama queen.

  A filha de Deméter se levantou, meio zonza, e saiu do meio de escombros onde eles se encontravam, provavelmente sem destino específico, apenas doida para sair de perto de Connor. Este lançou um olhar aliviado ao Nico, mas o olhar que recebeu de resposta foi de censura. Nico havia ficado tão maduro de repente! Ou talvez ele estivesse desde o início, só que meu ciúme doentio me impediu de ver. Acho que Hera precisa largar do meu pé um pouquinho.

   Connor e Nico passaram a maior parte do tempo quietos. Connor tentou falar mal de Katie algumas vezes, mas Nico sempre cortava o papo dele, falando do trabalho em equipe e que ele também não gostava nada de Katie, mas teria de aguentá-la mesmo assim. Pouco mais de meia hora após sua saída, Katie voltou.

  — O que você conseguiu, Katie? — Perguntou Nico.

  — Connor, você vai ter que me desculpar, mas o único mercado que achei por aqui não tem suas amadas cadeiras elétricas. — Respondeu Katie. — E eu obviamente não ia roubar a cadeira de rodas de alguém que precisa. Então, você vai ter que se contentar com o que eu trouxe, ok? Se bem que é capaz de você gostar pelo simples fato de ser roubado...

  Katie contornou os escombros da casa e foi até onde estava o tal meio de locomoção de Connor. Percebi que ele e Nico ficaram com as respirações trancadas e as posturas tensas até verem o que a garota havia arranjado, que se revelou um daqueles carrinhos de supermercado com carrinhos de brinquedo embutidos para as crianças irem brincando enquanto os pais fazem as compras na cesta em cima do carrinho.

  Nico explodiu em gargalhadas no momento em que viu o carrinho. Connor, porém, pareceu atônito.

  — Eu não caibo nisso aí! — Foi a única coisa que ele disse. — Por que não trouxe um carro de supermercado normal?

  — Não trouxe um carro normal porque todos os carros normais do supermercado daqui estavam sendo usados. Além do mais, seria “um pouco” estranho ver dois adolescentes perambulando por aí com um terceiro em um carro de supermercado. Se você se enfiar no carrinho pode parecer um pouco menos estranho. De nada, a propósito. — Respondeu Katie, se referindo ao fato de ele nem ter agradecido. Connor revirou os olhos, enquanto Nico continuava rindo.

  — Dá pra hiena ficar quieta e me ajudar, já que essa é aparentemente nossa única opção? — Resmungou Connor. Nico fez algum esforço, mas finalmente conseguiu parar de rir e andou até Connor.

  Foi divertido ver Nico e Katie tentando enfiar Connor naquele carro em que uma criança de onze anos provavelmente não caberia, ainda mais com a perna quebrada dele. O garoto soltava um grito exagerado de dor a cada movimento mínimo que eles fizessem, e as partes boas de seu corpo não cooperavam em nada, de modo que Nico e Katie tinham que arrastá-lo e ajeitá-lo como se todos os seus membros estivessem quebrados. No final das contas, após uma meia hora de diversão à custa alheia para mim, Connor acabou terrivelmente corcunda, com os cotovelos tocando a parte de trás do carrinho enquanto os pulsos ficavam apoiados em cima do volante, e com as pernas cruzadas, ficando a perna direita quebrada em cima e os joelhos completamente para fora pelas janelas. A cara de Connor demonstrava que ele estava sentindo dor, mas acho que qualquer um sentiria em uma posição daquelas, não pela perna quebrada, mas pela engenhosidade e desconforto da posição em si.

  Nico tirou a cesta de cima do carrinho usando sua espada, e no momento que Katie começou a empurrar o brinquedo, Connor começou a grunhir. Eles saíram de trás do que restava da casa e seguiram pela praia até uma calçada que devia levar à cidade no interior da ilha. De longe dava para ver um porto onde estava a balsa na qual eles haviam estado mais cedo, mas já não havia mais ninguém por lá.

  Nas primeiras partes da cidade de Bald Head Island, a ilha parecia feita apenas para pessoas em “ótima situação financeira” passarem as férias em suas mansões e casas grandes (mas não tão grandes a ponto de serem consideradas mansões), mas à medida que o trio foi adentrando na cidade, era possível ver que as pessoas que moravam ali eram mais simples, em suas casinhas de estilo vitoriano rodeadas de árvores, flores e muitas áreas verdes. Tirando a parte das casas onde as pessoas de fora passavam as férias, a cidade mais parecia um vilarejo arrumadinho.

  Após quase uma hora de procura e muitos pedidos de informações, o trio de semideuses parou em frente a um pequeno prédio de tijolos com uma placa onde se lia algo como ALR ED RICANAÇS ED ALBD EHDA SILNAD... ALR ED CRINAÇAS DE BLAD HADE ILSNAD... Lar de Crianças de Bald Head Island. Um orfanato.

  Nico estalou os dedos e o ar à volta deles se agitou, o que sempre acontecia quando a Névoa era manipulada.

   — O que você fez? — Perguntou Katie.

  — Apenas manipulei a Névoa para que possamos entrar, pegar o tal de Sean e sair rápido sem dar satisfações a ninguém. — Nico informou. — A moça da recepção vai nos ver como se fôssemos órfãos que moram aqui voltando de um passeio e nós podemos sair por alguma porta dos fundos.

  — Hunf. — Katie resmungou, provavelmente irritada por Nico ter pensado naquilo sem consultá-la.

  Os três entraram no orfanato. Nico acenou para a moça da recepção como se ela fosse sua tia e já ia entrando em um corredor lateral, mas Katie se debruçou no balcão para falar com a moça gordinha de óculos sentada ali.

   — Bom dia... — Katie baixou um pouco o pescoço, provavelmente para ler o crachá da mulher. —...Agnes. Você viu o Sean Montgomery por aí?

  — Sean Montgomery? — A mulher perguntou com uma voz falsamente animadinha. — O mocinho de cabelo azul?

  Cabelo azul?

  Percebi os rostos confusos de Nico e Connor. A confusão passou pelos olhos de Katie também, mas ela logo tratou de escondê-la. Nunca pensei que filhas de Deméter fossem atrizes tão boas... Ou talvez Katie tenha andado demais com filhas de Afrodite, o que também explicaria seu mau-humor e o jeito como ela xingou Connor de drama queen (algo que só consigo imaginar as filhas frescas de Afrodite fazendo).

  — Sim, aquele nosso amigo de cabelo azul. Você o viu?

  — Não o vi hoje, querida. Mas ele deve estar no pátio dos fundos... Você sabe como ele adora ficar olhando aquele lago.

  Katie agradeceu Agnes e entrou pelo corredor lateral com Nico e Connor, e os três começaram a procurar uma porta que levasse ao tal pátio dos fundos. Como o orfanato era pequeno, eles não demoraram muito a encontrá-la. Assim que abriram uma única porta no final de um longo corredor, um pátio relativamente grande se estendia à frente. Havia alguns bancos e canteiros com flores que Katie suspirou ao ver; três balanços velhos e, em um canto distante próximo ao muro que limitava o pátio, um pequeno lago onde um garoto estava sentado, de costas para nós.

  E ele não tinha cabelo azul.

  Nico fechou a porta atrás de si com um baque que fez a postura quase melancólica do garoto se alterar, ficando mais descontraída, mas ele não olhou para ver quem era.

  — Er... Oi? — Disse Katie, insegura.

  Sean finalmente levantou o rosto. Ele devia ter uns 15 anos, mas quem olhava apenas seu rosto dizia que ele tinha uns 12. Ele tinha olhos de um tom indefinido entre azul e verde que me lembravam um pouco os de Percy e de seu pai, apesar de os deles serem só verdes. O cabelo preto de Sean tinha um corte aparentemente “na moda”, com aquela franja enorme quase tapando o olho esquerdo. E seu cabelo de fato tinha reflexos azuis bem evidentes, mas não a ponto de alguém conhecê-lo por “o garoto do cabelo azul”.

  — Vocês são... Novos aqui? — Perguntou Sean, a voz tão insegura quanto a de Katie. Katie, Nico e Connor trocaram olhares.

  — Não exatamente. — Respondeu a filha de Deméter.

  — Então o que fazem aqui? — Sean virou o corpo totalmente para eles, mas ainda estava sentado. Ele usava uma camiseta preta justa e uma jaqueta fina quadriculada azul.

  — Viemos te buscar. — Respondeu Nico com uma voz séria que o fez parecer que estava interpretando algum mensageiro da morte num filme trash.

  — O negócio é o seguinte... — Connor começou, sem mais demoras. — Sabe os deuses gregos? Pois é, eles existem, e...

  — E eu sou filho de um. — Sean interrompeu, deixando surpreendendo os três... E a mim. — Eu sei disso. Aposto que o próximo passo seria vocês dizerem que é por isso que tenho DDA, dislexia, hiperatividade e esse blábláblá todo. Então vocês diriam que eu corro risco de ser morto por monstros e que vão me levar para o Acampamento Meio-Sangue. Confere?

  Nenhum dos três falou. Estavam todos muito surpresos. Como assim? Como esse garoto já sabia de tudo? O que era tudo aquilo?

  — É, confere. — Sean respondeu à própria pergunta. — Pois eu só tenho um aviso a dar a vocês: saiam daqui enquanto podem. Eu até queria ir com vocês, mas sinto que não tem como passar pelo sistema de segurança comigo.

  — Ei, pára tudo! — Katie exclamou, mexendo os braços. — Como você sabe de tudo isso?

  — E por que temos que sair daqui sem você? — Perguntou Connor de um jeito que deveria ser curioso, mas que fez a frase soar bem gay.

  — E o que quer dizer por “sistema de segurança”? — Completou Nico.

  — Caramba, vocês são teimosos ou burros mesmo? — Sean perguntou, levantando e abanando um pouco de grama que havia ficado em seu jeans. — Ouçam o meu conselho, por favor. Eu já jurei a mim mesmo pelo Styx que não vou ajudá-los, mas mesmo assim eles ainda querem me fazer mudar de ideia e ficar do lado deles, por isso me mantêm aqui. Não percam o tempo de vocês. Vão embora enquanto o sistema de segurança ainda não percebeu a presença de vocês. Ah, e um conselho: não voltem de balsa.

  — Quem são “eles”? — Perguntou Nico, se aproximando de Sean. Percebi que o garoto estranho o olhou da cabeça aos pés como se o estivesse avaliando. E depois diziam que eu era a esquisita.

  — Vocês não sabem? — Perguntou Sean, os olhos azul-esverdeados (ou verde-azulados?) surpresos. — Caramba, eles são bons mesmo em agir nas sombras... Ou nas águas, no caso.

  — Anda, garoto! — Katie também se aproximou, parecendo a ponto de espancá-lo. Percebi que Sean não deu nela a mesma olhada que deu em Nico. — Se você tanto fala desse sistema de segurança, seja lá o que for, temos que nos apressar. Então fala logo, porque você não vai ter tempo de falar no caminho pro Acampamento. E não, nós não vamos te deixar aqui!

  Sean a olhou sem um pingo de interesse, como se fosse um adulto sendo incomodado por uma criança que nunca viu na vida. Ele abriu a boca para responder, mas seus olhos ficaram alarmados de repente.

  — ABAIXEM-SE! — Ele gritou, puxando Nico e Katie para baixo pelos braços.

  Assim que os três se abaixaram e Connor se encolheu em seu carrinho (como se fosse possível ele se encolher ainda mais), seis figuras pretas saídas aparentemente do nada passaram a mil por onde antes estavam as cabeças dos semideuses, fazendo barulhos indescritíveis que me lembravam pessoas surtando em um hospício e coisas felizes assim.

  — QUE PORRA É ESSA? — Gritou Connor, provavelmente sentindo-se muito indefeso estando todo quebrado e encolhido dentro de um carrinho de criança.

  — “Essa porra” é o sistema de segurança... Ou daemons do leste, se preferirem. Daemones Proseous se gostam do nome em grego antigo.

  Se eu estivesse lá naquele momento, teria bufado e feito uma cara de “Por que eu?”. Parecia que os daemons me perseguiam. Primeiro Lissa, depois tive de passar meses com as Queres (que eram, sim, daemons), e agora essas coisas estranhas. Como eu não estava lá, não pude fazer nada além de acompanhar tudo e rezar para que ninguém se machucasse... Principalmente Nico. Connor e Sean também, claro.

  Mas eu nunca mencionei o nome de Katie Gardner. A não ser que você esteja falando da minha lista negra.

  Nico tirou sua espada de ferro estígio sei-lá-de-onde (acho que já comentei várias vezes, mas eu realmente não entendo essas armas mágicas) e Katie transformou sua pulseira em um arco. Ambos olharam na direção onde as seis coisas estavam, próximos aos balanços, alguns atirados contra o canteiro. Eles pareciam focas pretas do tamanho de Maine Coons com mãos meio humanas e garras compridas em vez de dedos. Cada um tinha olhos de uma cor diferente – preto, azul marinho, verde escuro, vermelho, cinza e castanho – mas todos tinham uma loucura inegável nos olhos enormes. Eles encararam os semideuses, principalmente Katie e Sean.

  — Acalmem-se. — Disse Sean, se postando na frente de Nico e Katie e puxando o carro de Connor para perto. — O trabalho deles é me proteger e me manter preso aqui. Podem ser loucos, mas fazem qualquer coisa interessante que digam, tipo ser guarda-costas de um semideus rebelde. Não vão me machucar, e não vão tentar passar por mim pra pegar vocês. — Ele deu uma olhada em Katie, que preparava uma flecha em seu arco cor de trigo. — Tenha cuidado você, principalmente. O passatempo favorito deles quando enlouqueceram era estuprar a própria mãe.

  — UUUUUGH! — Katie fez uma cara que era um misto de nojo e pavor e acabou deixando a flecha escapar. A flecha quase pegou o ombro de Sean, mas passou reto e foi parar a uns vinte centímetros do daemon de olhos verdes atirado no canteiro.

  — Vamos, eu posso ir dando uma espécie de cobertura pra vocês. Só saiam daqui. Por favor. — Sean lançou um olhar suplicante de cachorrinho sem dono a Connor, depois Nico, e por fim, Katie. Era impressão minha ou ele parecia ter mais interesse nos meninos? Será que o garoto era gay?

  — Pode parar aí, espertinho. — Uma voz feminina entediada falou de perto do lago. Virei o rosto naquela direção e vi uma mulher parada no meio do lago como se estivesse de pé no chão sólido. Sean deu um suspiro cansado ao vê-la.

  — Rhodes, por favor. — Ele olhou suplicante para a mulher de pele azulada parecida com as náiades do Acampamento. — Eu não falei nada pra eles e eu já disse que vou ficar aqui. Só quero que vão embora em segurança. Não precisa matá-los.

  — Eu, assim como meus irmãos loucos, só estou fazendo meu trabalho. — A náiade, aparentemente Rhodes, ergueu uma das mãos com unhas compridas e se preparou para estalar os dedos. — Então é melhor não se meter, moleque.

  — Sério, Rhodes, não faça isso, por favor! — Sean parecia a ponto de se ajoelhar e implorar ao pés de Rhodes para que ela não fizesse o que quer que estivesse prestes a fazer. Rhodes lhe lançou um olhar de desprezo e ia estalar os dedos quando Katie atirou duas flechas ao mesmo tempo – uma pegou o pulso erguido da ninfa e outra acertou sua coxa em cheio.

  — Jardineira maldita! — Rhodes praguejou, arrancando as flechas do corpo. Sean lançou um olhar de gratidão a Katie, mas ela estava ocupada demais encarando Rhodes com raiva.

  — Não... Me chame... De JARDINEIRA! — Katie cuspiu a última palavra com tanto repúdio que ficou parecendo o pior insulto do mundo. Ela posicionou três flechas ao mesmo tempo no arco e lançou, e apenas uma não acertou o alvo.

  — KATIE, CUIDADO! — Connor gritou, mas Katie não foi rápida o suficiente e o daemon de olhos castanhos voou em cima dela, atirando-a no chão e quase fazendo com que ela se cravasse uma de suas próprias flechas. Me perguntei o que diabos Nico e Connor estavam fazendo, e então olhei o resto da cena e percebi que Nico estava lutando contra três daemons enquanto outros dois tentavam arrancar (ou invadir) o carro de Connor, que lutava contra os dois de um modo meio tragicômico com uma adaga. Sean continuava choramingando para Rhodes fazer os daemons pararem, mas ela havia ficado furiosa demais com Katie.

  Ah, se eu estivesse lá...

  Percebi uma pequena explosão de pó quando Nico conseguiu matar um dos três daemons que o estavam atacando. Enquanto Nico chutava o segundo daemon para longe e tentava cortar o terceiro ao meio, percebi que os dois que estavam com Connor haviam conseguido virar seu carro e o estavam puxando de lá pela perna quebrada, e o que havia atacado Katie estava rasgando sua blusa com a boca enquanto prendia (e arranhava) seus braços com as garras. Certo, eu havia realmente ficado com raiva de Katie Gardner, mas eu também não estava nem um pouco a fim de vê-la sendo estuprada por uma foca mutante. Fiz uma careta mental de nojo daquele bicho louco e tarado e desejei estar lá para ajudá-los.

  Sean analisou a cena e seus olhos cor de água (finalmente achei a definição perfeita praquela cor!) ficaram espantados e, em seguida, determinados e raivosos. O garoto se virou para Rhodes, que admirava tudo com um sorriso satisfeito no rosto.

  — Você pediu, Rhodes. Só não vá reclamar pra sua vovó depois.

  E, com isso, a água do pequeno lago se elevou num pequeno redemoinho, engolindo Rhodes. O redemoinho saiu do leito do lago e deu uma volta pelo jardim, “coletando” os daemons sobreviventes (que agora eram quatro, pois Connor havia conseguido matar um). Parecendo extremamente concentrado, Sean não fez o redemoinho voltar a ser um lago. Em vez disso, ele o mandou para longe, provavelmente para o meio do mar, onde Rhodes e seus irmãozinhos ficariam perdidos por um tempo.

  Assim que o redemoinho sumiu de vista, Sean desabou no chão e segurou a cabeça nas mãos. Connor, com o corpo metade para fora do carro, gemia de dor e segurava a perna desfigurada. Katie, com a blusa e um pouco da calça rasgados e os braços cheios de marcas fundas e sangrentas de garras, tinha as mãos no rosto e parecia estar chorando (eu também estaria se tivesse sido quase estuprada por uma foca mutante louca), e Nico estava sentado em um canto segurando o pulso direito.

  — Cara — ele perguntou para Sean, levantando o rosto — quem é você, afinal?

  Sean respirou fundo e levantou o rosto também, os olhos parecendo cansados e melancólicos como antes.

  — Sou Sean Montgomery, filho de Tálassa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Weeee, mais um filho de deus primordial pra galerë o/ Este eu imagino como uma versão bem jovem de franja do Adam Lambert, se alguém quiser saber. rs
E, caso alguém não saiba, Maine Coon é uma raça de gatos enormes.
Enfim, espero que, ao contrário de mim, vocês tenham gostado. Então feliz Natal atrasado pra todo mundo! Que tal me dar reviews de presente? *-* (tá, essa foi podre, mas eu passei a noite em claro e estou postando isto às 7:10, não esperem notas inteligentes).