Doll House escrita por Aleksa
Yuri, um alemão de olhos escuros e cabelos claros, estava agora, sentado balançando as pernas na cadeira mais próxima em um silêncio amigável. Com o tempo, a presença dele no quarto parecia mais um enfeite do que um intruso, por natureza, Eleonor começou a encará-lo.
- Hum? – ele pergunta, esperando que ela dissesse algo depois de tanto observá-lo e analisá-lo.
- Hã...? Ah, nada. – ela diz, mexendo as mãos no ar em sinal negativo.
Interiormente Eleonor repreendia-se por observar tão atentamente algo que seus pais sempre a alertaram a manter-se longe.
Enquanto Eleonor pensava, Yuri cantarolava uma melodia em alemão. A curiosidade vinda de sua cabeça falou mais alto e ela teve de perguntar algo que sempre quis saber:
- Er... Posso lhe perguntar uma coisa?
- Dependendo do que preciso pedir permissão à mestra antes de responder. – ele disse, sem muita preocupação na pergunta que viria.
- Vocês nunca se importaram com o fato de não serem... Bem... Humanos?
- Por quê? – ele disse, girando na cadeira.
- É que sabe... Vocês são bonecos.
- Eu sinto amor, eu sinto raiva, eu sinto dor, eu penso. Me sinto perfeitamente normal.
- Vocês não vão morrer nunca... Como é a eternidade?
- Acho que Oliver poderia te responder com mais certeza, ele é o mais velho. – Yuri sorri.
- Oliver me assusta... – ela diz, pensando no encontro dos dois mais cedo naquele dia.
- Oliver tem muito do que se arrepender. – Yuri retoma, fechando os olhos condolentemente, num sorriso de simpatia.
- Como assim?
- Não posso falar sem a permissão da mestra Katrina. – ele diz, rodando mais uma vez.
- Ah.
Ela não iria insistir, sabia que a palavra de Katrina seria ferro e fogo aqui, nada nem ninguém poderiam dizer o contrário.
Toca o relógio de pêndulo em quatro longas e sonoras badaladas.
- Quatro horas, hora de ir ver Gerrard tocar piano. – ele sorri, levantando-se. – Não tenha medo de nós, podemos não ser humanos, mas não lhe queremos mal. Ah, eu trarei sua bagagem para cima, está atrapalhando a passagem da porta. – ele sorri, saindo pela porta com um sorriso.
Eleonor suspira, em breve seria hora do jantar, e ela não tinha certeza se estava preparada para conviver com 8 homens... Quer dizer, Dolls, e uma garota de olhar gelado.
Eleonor se encolheu em sua cama e aguardou, observando o tic-tac incessante do relógio de pêndulo logo à frente. Ela puxa um livro de sua bolsa de mão, ela ainda deve deixá-la desarrumada por algum tempo.
O badalar das horas se passa sem a consciência completa de Eleonor, até que uma batida suave na porta a desperta de seu transe parcial.
- Pode entrar... – ela diz, ainda pouco a vontade.
De todos os 8, logo o que ela menos queria ver, surge em sua porta... Oliver.
- Desça para o jantar senhorita. – os olhos acinzentados lançam-lhe um olhar que parece atravessá-la e ir diretamente para a parede atrás dela.
Eleonor engole seco e diz, com o máximo de firmeza que pode:
- Certo Oliver, já vou descer...
- Sim senhorita. – ele diz, virando-se na direção da porta.
Agora, sem os olhos de Oliver nela, Eleonor podia respirar sem a sensação de que seus pulmões estavam sendo massacrados por uma pilha de pedras.
Caminhando escada a baixo, a figura de Katrina, ainda sentada em sua cadeira, lendo o mesmo livro de capa branca a assustou. Ela como sempre estava cercada por suas 8 Dolls.
- Achei que já estivessem jantando... – Eleonor disse.
- Nessa casa não se janta até que todos estejam sentados a mesa. – ela disse, ainda com o olhar no livro.
- Ah... Eu não sabia, eu não queria lhe causar nem um incômodo... – ela se desculpou.
- Não importa, Oliver me disse que você parecia indecisa sobre descer ou não, estava disposta a esperar se fosse necessário. – ela diz, finalmente fechando livro.
- Ah... – ela disse, sentindo-se subitamente aliviada por não ter de confrontar o olhar de desaprovação de Katrina... Aliás, por não ter de confrontar olhar nenhum olhar, uma vez que Katrina não olhava muito em sua direção, devia estar percebendo o incômodo de Eleonor e poupando-a de sentir-se um animal acuado.
- Se preferir, pedirei que Gerrard que leve o seu jantar até o seu quarto.
Katrina podia não ser muito boa no trato com as pessoas, mas sabia quando não estavam à vontade, e no caso, ela não queria causar desconforto à garota que fixamente encarava o chão com uma expressão amedrontada.
Gerrard já se preparava para levantar, quando uma explosão de vergonha manifestada num rubor subiu até as orelhas de Eleonor.
- Não é preciso. – ela disse, gesticulando as mãos em negativa no ar.
- Como preferir. – Katrina diz, dando de ombros.
Seguindo na direção da cozinha, todos se sentaram à mesa, Katrina observou Eleonor no outro extremo da mesa, muito pouco à vontade entre eles.
- Então. – Katrina chama. – O que faz com que um tribunal decida trazer alguém como você a um lugar como este aqui?
- Você é a minha parente mais próxima, e como não há nenhuma prova de que você é uma ameaça, então...
- Entendo, resumindo, a intenção é mandar alguém me espionar?
- N-Não! – ela disse, ficando muito envergonhada por passar essa impressão.
O redemoinho em seu estômago não deixaria Eleonor tocar em seu jantar, por mais maravilhoso e saboroso que parecesse.
Todos os 8 permaneciam paralelos à conversa, mantendo-se entretidos em seus próprios pensamentos, o que compunha um longo e confortável silêncio.
Os lindos oito olhares observavam, sem muita atenção, o ambiente que os cercava. Ao fim da refeição, mesmo que Eleonor não tivesse tocado em seu prato, Katrina não disse nada, e se Katrina não disse nada, não havia por que observar.
Sete dos oito se levantaram, apenas Dominik permaneceu sentado observando um quadro pouco à frente, seus olhos amarelados não tinham um foco muito especifico, e seus cabelos cor de caramelo, estavam agora, espalhados desordenadamente em seu rosto lhe davam uma expressão quase sonolenta.
Eleonor passou ao lado dele, a movimentação do ar atrás dele o assustou, como se o tirassem de um longo momento de pensamento e meditação; ele levantou de supetão, empurrando um pouco a mesa, o que fez o enfeite de centro cair e se despedaçar no chão, tal como fez com que Eleonor caísse pra trás.
Os olhos de Dominik se voltaram na direção de Eleonor, com uma aparência preocupada.
- Oh céus...! Você está bem? – ele perguntou, ajudando-a a levantar.
- Estou bem sim... – ela omitiu a parte da dor.
O som do enfeite se despedaçando chamou a atenção de Vivaldi, que passava pelo corredor, e, parando em frente ao pandemônio com um olhar absorto, disse:
- Oliver não vai gostar...
Dominik estremece diante da menção do nome de Oliver, claramente usado como ameaça, ao que parece, ele era quem mantinha a “ordem na casa”.
Passos firmes são plantados ao longo do corredor, possivelmente Oliver, que se aproximava com aquele penetrante olhar acinzentado, Eleonor sente a espinha gelar...
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
A Eleonor não será um gato assustado para todo o sempre XD
Relaxem