Kiss Me, Kill Me escrita por aegyo nad


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem *--*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/88069/chapter/1

 - Eu não te amo mais.- Ele disse alto, com os olhos baixos e os lábios trêmulos.

 Permaneci estática. Eu não acreditava em suas palavras. Soltei suas mãos devagar. Ele nem ao menos olhou para mim. Abri a boca, tentando dizer algo, mas não encontrei minha voz. Vendo que ele estava firme, e que não iria voltar atrás, sai correndo daquele lugar, deixando as lágrimas escaparem.

 

 É a única lembrança que eu tenho. A única lembrança do mundo lá fora.

 Observava o muro que cercava a clínica de reabilitação, a que eu chamo carinhosamente de hospício. O verde da planta que se enroscava nele, misturado ao rosa de pequenas flores, enganava. Você pensa ser um lugar de paz, onde as pessoas com problemas podem se recuperar e voltar a ter uma vida normal. Quanta hipocrisia! Mal sabem as pessoas que pensam assim que é apenas um disfarce para esconder o verdadeiro inferno.

 É a minha única lembrança do que há fora desse lugar. Não lembro o que eu fiz pra estar aqui. Não sei se tenho família. Não sei se tenho casa. Não sei qual é o meu problema.

 Eu não sei nem ao menos o meu nome direito. Só sei que me chamam de Becky.

 Sobre o garoto da minha lembrança, eu lembro apenas de seu rosto. A pele branca, os olhos castanhos amendoados, a expressão séria e brava, mas ao mesmo tempo infantil e fofa, os lábios finos, o cabelo loiro... Mas não sei seu nome.

 Ele está em meus sonhos, em meus pesadelos, em cada pensamento, e meu coração dispara a simples menção de seu rosto em minha memória.

 Talvez eu o ame. Eu não sei o que é o amor. E se sei, não me recordo. Também, como poderia?

 Eu não sou louca. Não sou alcoólatra. Não sou dependente química. Sou uma pessoa normal. Então... O que faço aqui?

 Eu pensava sobre isso, como sempre, quando Nancy me chamou. Eu não me virei. Continuei olhando o muro que me isola neste inferno. Ela me chamou mais uma vez. Virei para trás suspirando, com um sorriso calmo e falso no rosto.

 - Sim, enfermeira?- Minha voz saiu doce demais. Eu costumava usar esse tom com todos. Talvez assim, percebessem que não represento perigo à sociedade e me deixassem sair.

 - Sei que já pedi pra me chamar de Nancy.- Ela pôs as mãos na cintura, e tentou fazer uma expressão que indicasse rigidez. Não conseguiu.

 - Desculpe, Nancy. Em que posso ajudá-la?

 Ela não pareceu se impressionar com a minha gentileza. Se estou certa, o Dr. Climer, o psicólogo, já disse a todos que sou dissimulada, e que apenas finjo ser simpática para conseguir o que quero.

 O que não é mentira.

 - O Dr. Climer te espera. Vamos?

 Respirei fundo e me levantei do banco no jardim da Clínica vagarosamente, sem vontade alguma.

 Acompanhei Nancy até o segundo andar, onde a sala do Dr. Climer ficava. Ela deu duas batidinhas na porta, e pouco tempo depois ouviu-se um “entre!”

 Nancy sorriu e deixou que eu abrisse a porta, enquanto se distanciava.

 Respirei fundo, tocando a maçaneta gelada, e fiz a minha melhor expressão para encarar o psicólogo: sobrancelhas levemente erguidas, indicando indiferença e curiosidade ao mesmo tempo, o sorriso, para parecer simpática, e deixei a lucidez transparecer em meu rosto.

 Abri a porta cuidadosamente. O Dr. Climer estava sentado na mesma poltrona de sempre. Ele sorriu e apontou para um divã a sua frente. Fechei a porta atrás de mim e me dirigi até lá.

 Aquela era a sala mais reconfortante da clínica. Mas ao mesmo tempo, era um lugar de extrema concentração. Você deve tomar cuidado com o que diz, ou caso o contrário, pode ganhar uns dias a mais neste lugar.

 - Como foi a semana, Becky?- Perguntou o psicólogo, com sua voz rouca e sedutora. Era um homem bonito. Tinha poucos cabelos grisalhos misturado ao castanho escuro, as poucas rugas em volta dos olhos azuis o tornavam ainda mais bonito. Mas seu sorriso não me ajudava em nada.

 - Normal. Como todas as outras. Nada de especial como sempre.

 Ele abandonou o sorriso aos poucos, ficando sério. Franziu as sobrancelhas, como se estivesse curioso.

 - Você sempre diz isso.

 - É a mais pura verdade.

 - Naturalmente. Mas... Você nunca disse o que você espera que aconteça para que sua semana se torne especial. O que é?

 Hesito, pensando cautelosamente na resposta. Não posso dizer à ele sobre o menino da minha lembrança.

 - Talvez... Eu espero que percebam que estou bem. Que tenho condições de sair deste lugar e viver minha vida normalmente, como qualquer pessoa. Eu sei que não há problema algum comigo.

 - Posso te confessar uma coisa?- Disse ele, apoiando o queixo sobre a mão, no encosto da poltrona.

 - Sim, claro.

 - Eu a acho lúcida. Em perfeito estado para sair daqui.

 Uma chama de esperança acendeu dentro de mim. Tentei parecer mais interessada na conversa.

 - Mas então... Porque ainda não estou lá fora?

 - Este é o problema. Como você ficaria lá fora. Quem cuidaria de você, onde você moraria... Eu já pedi para os diretores da Clínica providenciarem isso. Além do que... Você não se lembra de nada.

 Pensei no garoto. Era a hora de falar sobre ele. Eu não podia deixar minha chance de sair deste lugar escapar.

 - Há um menino... Eu não sei quem é, mas... Eu sonho com ele, eu penso nele o dia inteiro... Eu acho que o amo. Ele é a única lembrança que eu tenho.

 Dr. Climer sorriu, aparentemente satisfeito. Eu tinha me aberto, depois de três longos e terríveis anos.

 - Eu estou certo. Você está realmente pronta para ir embora. E... Quer saber? Vou procurar pela pessoa que te trouxe até a Clínica há três anos. Talvez...

 Ele deixou a frase no ar. Mas eu sabia o que ele queria dizer. Eu iria sair daqui. Finalmente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem gostou? o/
Deixem reviews? *--*
Obrigada por ter lido, e obrigada pra quem vai deixar review o/
Beijos :*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kiss Me, Kill Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.