Nyx, a Demônio Banida escrita por Live Gabriela


Capítulo 10
Cemitérios não são Hoteis




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   - Hey mocinha, você não pode dormir aqui. - disso um velho barbudo e com uma pança notável, ele usava um macacão e se segurava uma pá.

   - Por que não? - perguntei ainda deitada.

   - Porque aqui é um cemitério, não um hotel!

   Me levantei do túmulo de sei la quem e sem expressar nenhuma emoção sai dali. O sol estava se pondo e formava uma bonita paisagem o que por acaso fazia com que todos os casais do mundo aparecessem do nada e parassem no caminho para apontar seus dedos tortos para o sol e se beijassem. Estragavam a paisagem desse jeito.

   Fui até a famosa rua Teodoro Sampaio até chegar na praça Benedito Calixto, quando cheguei lá já estava escuro, não muito, mas o suficiente para garotos bancarem os assaltantes.

    - E ai gatinha... que tal a gente dar uma volta? - disse um ser com um gorro preto.

    Não respondi, apenas me virei para outra direção.

    Ele me puxou pelo braço.

    - Tô falando com você!

    - Não toca em mim, mentecapto! - aumentei o tom de voz e puxei meu braço de volta.

    - Filha da puta, ta achando que ta falando com quem em sua vagabunda?!

    Lhe dei um tapa bem dado na cara e continuei andando.

    Provavelmente ele não gostou daquilo e foi atrás de mim para acertar as contas,mas isso é apenas uma dedução que fiz após acordar na calçada pra praça com um olho roxo. Era madrugada e estava bem escuro. Olhei em volta e o desgraçado não estava mais lá. Sorte dele.

    Algumas horas depois Gadrel surgiu no meu caminho e pra variar não pode conter suas palavras:

    - Hahahaha, você levou um soco?! Como eu perdi isso?! Hahahaha.

    - Cala a boca.

    - Que otária! - ele continuou me zuando.

    Levantei a mão para lhe dar um tapa, não como o que eu tinha dado no garoto do gorro, eu pretendia por mais força nesse.

    Gadrel segurou meu pulso antes que minha mão o acertasse.

    - Acha mesmo que eu deixaria você bater na minha cara?! - ele soltou meu pulso - Você é bem burrinha pra ser filha do Caos, não acha? - se virou de costas para mim e riu consigo mesmo.

    - Do que tá rindo imbecil?

    - Você cospe na cara do capeta e leva um soco de um humano?! É meio irônico, não acha?

    Virei os olhos.

    - Você não tinha que estar fugindo dos mil e um bichos e demônios que estão te caçando?! - perguntei.

    - É eu deveria, e você também!

    - Tanto faz.

    Ele abriu as asas.

    - Vai pra pedra? - perguntei.

    Ele fez que sim com a cabeça e se virou.

    - Por que você gosta tanto de lá?

    - Porque não tem você pra me encher o saco.

    Fiquei encarando-o com aquele olhar de "um dia eu ainda arranco sua cabeça fora"

e como resposta ele deu um sorriso de lado que parece que só ele sabe dar. Me puxou para perto. Bem perto eu diria. De repente é como se a cena passasse em câmera lenta, o que acho bem legal, e com a música The Scientist do Coldplay ao fundo. 

    Ele começou a voar, não fui muito alto, mas se distanciou um pouco, decidi continuar andando, mas de repente meus pés não estavam mais no chão e minha barriga estava sendo segurada por um par de braços pálidos e aparentemente não muito fortes.

   Fomos alto, bem alto mesmo mas ele parou de ir pra cima e me virou de frente pra ele. Aproximou sua boca do meu ouvido e disse baixinho "É melhor abrir as asas" e simplesmente me soltou.

   Não sei bem o que fiz, ou o que deveria fazer, mas abrir minhas asas não foi bem o que aconteceu ali. Eu fiquei estática enquanto caía de uma altura de uns 2000 pés (mais ou menos 610 metros de altura) não consegui mexer um músculo. 

   "Se eu morrer agora, facilito tudo." - foi o que pensei. Então continuei sem me mexer. O chão estava cada vez mais perto, eu já sentia a dor do impacto antes mesmo de ela começar. Faltando menos de dois metros sinto um puxão, meu pé direito está sendo segurando pelas mãos pertencentes aos braços não musculosos.

   - Qual é a sua? - perguntou Gadrel ofegante, irritado e confuso.

   - Que que é? Não posso nem morrer em paz?!

   Ele deu uma risadinha, apesar de não ter sido a melhor hora, afinal estávamos há dois metros do chão, tudo bem pra ele, mas quem estava sendo segurada pela canela era eu.

   Gadrel me pôs no chão até que gentilmente. Sentou-se ao meu lado. Estávamos novamente na Teodoro.

   - Eu gostaria de morrer. - disse ele olhando para o chão.

   Eu apenas o observava.

   - Como é não morrer nunca? - ouvi alguém dizer, e logo percebi que era eu.

   Ele não respondeu.

   - Você meio que sabe, já vive faz tempo né?!

   - 160 anos e você?

   - 1860.

   Arregalei os olhos.

   - Que velho...

   Ele deu um daqueles seus sorrisos tortos, o que pareceu bom para a situação, só não foi melhor que o beijo que dei nele, mas isso não vem ao caso.

   Me levantei e fui embora depois de mais alguns momentos em silêncio.

A essa hora o sol já estava dando as caras. Pra passar o tempo fiquei caminhando por ruas aleatórias até que alguma padaria abrisse. Fui na mais barata que achei e comi algo, claro que um cafezinho e três pães não me sustentariam mas daria pelo menos pra eu me manter em pé por algum tempo. Infelizmente isso não seria o suficiente para me manter viva por muito tempo. 

 


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