Uma Poderosa em Twilight escrita por Gabriela Cavalcante


Capítulo 6
A menina que entrava em livros


Notas iniciais do capítulo

Vou poupá-los de desculpas, caros leitores. Vamos ao capítulo.



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- Joana.

- Sim? – Ergui os olhos do livro que estava lendo. Um livro de poesias. Igual ao que eu dei à Salete no primeiro aniversário de casamento com o Apolo. Poesias me lembravam do João, mesmo que indiretamente.

- Tem uma pessoa no telefone... – informou Bella. - Querendo falar com você.

- Quem...?

- Olha, eu não sei. Parece que o nome é Júnior, mas tinha uma mulher gritando e uma outra voz dizendo que queria falar com a irmã.

- Júnior? – Eu me enchi de esperança.

- É. – Ela revirou os olhos, não entendendo meu sorriso.

Saltei da cama, jogando o livro para trás e passando por baixo do braço de Bella, sem paciência para esperar que ela saísse do meio do caminho. Desci as escadas de duas em duas e fiquei olhando para o telefone. Tirei o fone da mesa, onde estava apoiado para que Bella não precisasse desligar na cara de Júnior.

- Alô?

- Joana?

- Sim. – Eu sorri, escutando a voz de Xandi ao fundo. Depois veio a voz da minha mãe:

- Filha, eu te amo!

- Também te amo, mãe – respondi.

- Joana – a voz de João repetiu.

- Sim. – Legal, eu não tinha nada melhor para falar?

- Estou com saudades.

- Eu também. – Sorri.

Escutei a voz da minha mãe dizendo para o Xandi que eu e João precisávamos conversar a sós. Ele hesitou um pouco e tentou argumentar, mas ninguém pode com a dona Sônia. João e eu rimos.

- E então? – perguntei. – Como estão as coisas?

- Bom, eu acho que você arrumou uma cunhada.

- Hein?

- Estamos suspeitando do Alexandre.

- Está falando sério? – eu me espantei. – O Alexandre? Com. Uma. Namorada?

- Isso mesmo.

- Não acredito em você. – Sorri novamente.

- É sério.

- Tá. Agora eu acredito.

Ele sorriu. Conversa idiota. Conversando sobre o Xandi. Sobre o Xandi!

- Tem mais alguma novidade ou aquela peste de onze anos não aprontou mais nada de interessante? – perguntei.

Ele riu antes de responder.

- Bom... a Bia e o Samir não estão mais juntos.

- Como assim, terminaram? – Essa me assustou. Aqueles dois brigavam raramente. Até menos que João e eu.

- A Bia está muito triste.

- Eu sei. Mas por que isso aconteceu?

- Joana, isso é difícil de contar.

- O que foi? É uma coisa tão ruim assim? Eu sei que a Maria Beatriz está muito triste, isso é normal. E também sei que eu não posso me meter e escrever uma frase. – Pensei um pouco. Qual seria a razão para a Bia e o Samir terminarem? – Qual foi a razão para a Bia e o Samir terminarem?

- Joana, por favor, se sente.

Procurei o sofá mais próximo.

- Fala – pedi.

- Joana, hoje de manhã aconteceu um acidente. Eu também estava lá. Estávamos no carro do Paulo.

Ele parou um pouco e eu pensei. Carro do Paulo? Ah, sim. O Apolo. Aí eu pensei de novo. Acidente?

- O carro bateu – ele continuou, e eu já sentia as lágrimas. – Infelizmente, o Samir não resistiu.

- Está falando sério?

- Eu não brincaria com uma coisa dessas. – Ele suspirou. – Foi triste, Joana. Ele era o meu melhor amigo. Estávamos eu, o Samir e o Marcelo, com o Paulo e a minha mãe no banco da frente. A minha mãe só quebrou o braço.

Comecei a chorar.

- Joana – ele falou; o som abafado pelas minhas próprias lágrimas. – A Bia cogitou, ela pensou... Ela pensou imediatamente em você. Sabe, você trouxe de volta o Frederico um monte de vezes, a sua avó... Não poderia... Sei lá.

Entendi imediatamente.

- Claro, João. Imediatamente.

- E como ninguém vai suspeitar?

- Eu cuido disso. Com a mesma caneta.

Ouvi o sorriso dele. E as minhas lágrimas já diminuíam, sentindo o poder nas mãos. Virei e peguei o bloco e a caneta que ficam na mesinha do telefone. E escrevi.

Samir é um amigo muito forte, e ele não se foi. Ainda está vivo e cheio de saúde.

E ninguém percebeu que ele havia ido, exceto João, Bia, ele e eu.

Coloquei a tampa da caneta, e na mesma hora ouvi o sorriso do João. E as vozes ao fundo.

- João! O que eu estou fazendo aqui? – a voz de Samir perguntou. – Aqui é o céu?

- Samir! – A voz de João exclamou e me fez sorrir.

- Foi a Joana, não foi?

- Foi – João respondeu.

- Ainda vou agradecer a ela... Mas só depois de ver a Bia.

E eu ouvi passos rápidos, como o Samir correndo para procurar a Bia.

- Joana.

- Sim? – eu sorri.

- Deu certo. Ele está aqui. Eu não acredito ainda. Você é a melhor.

- Sinto muito por ser a melhor.

Nós rimos.

- Estou com saudade. Eu te liguei mais por isso, essa emergência, sabe.

- Estava certo em me ligar. Eu resolvi, não foi?

- Resolveu. Ele está bem. – Escutei ele sorrir.

- Acho que a minha amiga vai ficar muito feliz... E, falando nisso... Como está a Leninha? E o Marcelo?

- Esses estão bem. A Leninha ainda vive no mundo da lua.

- Sei disso.

- Júnior! – Ouvi a voz da minha sogra gritar. – Onde você está?

- Joana, eu preciso ir.

- Vai lá. E manda um beijo para a Salete.

- Ok.

- Te amo.

- Eu também. Beijo.

- Tchau. – E eu desliguei. Estava ficando meloso demais, e eu sei que nem ele nem eu gostamos disso. Mas eu estava com saudades, e isso que importa. Aí eu me joguei no sofá e comecei a sorrir sozinha.

- Joana? - a voz de Bella me chamou, em algum lugar atrás do sofá. Respondi algo inteligente demais, como:

- Hein...?

- Com quem estava falando? – Ela se sentou ao meu lado.

- Com o João. Meu namorado.

- Imagino que esteja com saudades dele.

- Estou sim. – Eu sorri.

- E então... Eu vou sair com a turma da escola. Vamos a La Push.

- La Push? – Eu me animei.

- É. Dizem que lá é legal.

- E eu acredito – disse, pensando logo em um certo lobisomem que costuma estar por lá e que ainda não sabe que é um lobisomem. Só vai saber em Lua Nova, ué. Devagar se vai ao longe.

Subi as escadas (de dois em dois degraus) e me arrumei do jeito mais rápido possível.

Realmente La Push era um lugar lindo.

Eu estava feliz de estar lá, e de conhecer o eterno rival do meu mais novo amigo Edward Cullen. Estava ansiosa para ver Jacob Black. Seria emocionante.

Depois de um tempo olhando o lugar, Bella foi fazer uma trilha com não sei quem e eu fiquei por lá, admirando a beleza daquele lugar. Era igual Bella descrevera no livro, tudo lindo. Com aquele tal de precipício de onde os lobos futuramente vão adorar pular para dentro da água.

Indescritível. Indiscutível. E outras palavras com “I” que eu não lembrei no momento.

Sentada em troncos, em volta de uma fogueira, eu observava o mar. Até que uma certa pessoa me interrompeu.

- Oi, Joana.

- Oi, Mike – eu respondi, sem tirar os olhos da paisagem.

- Joana – disse Eric, me assustando e me fazendo olhar para ele. Se os nerds tivessem um Conselho, Eric seria o presidente. – O que acha daqui?

- Aqui é muito bom.

- E – disse Tyler – o que achou de Forks? É muito diferente do Brasil?
- Muito. Onde eu morava, fazia muito calor. E as pessoas falavam português.

- Claro. Isso eu sabia – disse Mike.

- Não acho tão provável – provocou Jessica.

- Está me chamando de burro? Diz que eu não sou mentalmente capaz de me comunicar com alguém que fala português? A Joana Dalva é a maior prova de que você está errada.

- Mike – disse Eric -, tenho para mim que a Jessica tem razão.

Jessica ergueu uma sobrancelha.

- Vocês estão errados – ele protestou.

- E também – disse Jessica – não é capaz de perceber as coisas a sua volta.

- Está errada. Eu percebo tudo aqui. – Ele olhou para o mar. – Percebo que esta coisa azul bem ali se chama água. E que a Jessica me acha um idiota.

- Não é verdade – eu disse.

Todos me olharam.

- Jessica te acha muito idiota.

Todos riram, inclusive Mike.

- O que mais você percebe, sr. Observador? – perguntou Tyler.

- Eu percebo – ele virou de costas – que ali tem árvores bem bonitas, que agorinha o pessoal da trilha está chegando e que... Ei, tem um índio ali?

Jacob!

Virei para ver, e era ele mesmo. Ah, era uma emoção parecida com aquela que eu senti quando vi o Edward pela primeira vez. Eu me sentia tão feliz. E era real mesmo, agora que eu vira com meus próprios olhos o triângulo amoroso da saga.

- Bella! – ele chamou por ela, e ela foi atrás dele. Ficaram conversando pela praia, provavelmente sobre histórias de vampiros, e depois vieram para perto de nós.

- Gente – disse Bella -, este é Jacob. Um amigo de infância.

- Oi – disse Jacob. E ele ficou me olhando, o que eu achei bem esquisito.

- Estes são Eric, Tyler, Angela, Jessica, Mike e Joana. – Bella nos apresentou, e Jacob continuava me encarando. – Sobre o que estavam conversando?

- Estávamos discutindo a debilidade mental de Mike – eu informei.

- E então, Mike? – disse Jessica. – O que mais você percebe? – Ela sorriu e colocou o cabelo atrás da orelha. Algo me dizia que Jessica queria que Mike percebesse outra coisa, bem diferente do assunto. Algo como ela ser apaixonada por ele.

- Eu ainda percebo muita coisa. – Ele olhou para Jessica, e depois olhou para mim. Aquilo me assustou muito. Ele ficou me encarando, de um jeito pior e mais profundo que Jacob, e eu fui me afastando dele. Mas não adiantou de nada, porque ele me beijou.

Espera aí! COMO É QUE É???

Eu empurrei Mike e dei um tapa na cara dele, me levantando daquele tronco e vendo os olhares abismados em volta de mim.

- Uau. – Jacob piscou várias vezes.

- O que você pensa que está FAZENDO?

- Eu...

- Você por acaso é louco? Você quer me matar? Você é um idiota. A Jessica tem razão. Mas eu não sei como ela consegue gostar de você.

- Quem? Eu...

- Você o que? Eu só sei, Mike Newton, que se isso se repetir, você será um loiro morto!

- Hein?

Aí eu sentei no tronco de novo, tentando me acalmar. Todos me olhavam e Bella veio para perto de mim.

- Joana, você está bem?

Eu estava chorando.

- Não.

- O que foi?

- Está tudo dando errado, Bella. Não era para eu ter vindo para cá. Eu seria muito mais útil ficando na minha casa, resolvendo os problemas da minha família, como eu sempre faço. Era para eu ter ficado com a minha mãe, com o meu pai, com a vó Nina, com o meu irmão, com os meus amigos, com o... João.

E eu comecei a chorar novamente.

- Quem é João? - Mike perguntou.

- É o meu João! – eu choraminguei, com a cabeça encostada no ombro de Bella.

- É o namorado dela, Mike – disse Bella.

- Como assim, o namorado dela?

- O namorado dela – Bella repetiu.

- Por que ela nunca disse?

Fui eu que respondi:

- Porque eu não achei que fosse encontrar um loiro maníaco e maligno aqui em Forks.

- E por que você insiste em dizer que eu sou loiro?

- Olha – eu me levantei de uma vez e apontei-o com o indicador -, em primeiro lugar, você é loiro. E depois, eu não estou num dos meus melhores momentos, então eu não penso muito quando estou assim.

- Uau – Jacob repetiu.

- Para com isso, seu... seu... vira-lata!

E com esse final de conversa feliz, eu puxei meu casaco e saí pela praia sozinha e chorando.

Depois de algum tempo perambulando sem rumo, eu entrei na floresta e me senti perdida. E eu estava mesmo perdida.

Dormi à deriva, com a cabeça encostada em um tronco de árvore qualquer, com um frio quase insuportável. E acordei com uma voz.

- Joana Dalva?

Não era Bella. Não era Edward. Nem Jacob.

Abri os olhos devagar. Atrás da pessoa, vários olhares aflitos. Consegui ler na camisa do que estava mais próximo de mim: “Trilha Feliz pela Floresta de Forks”.

No início, minha visão estava turva, mas bastou a pessoa tirar o casaco para me emprestar e eu conseguir ver aquilo. A tatuagem do minotauro.

- Ivan?

- Vamos sair daqui – ele respondeu.

E eu não me lembro de mais nada, só de estar em uma casa estranha, no meio da floresta, num quarto apertado, com uma cama e uma escrivaninha repleta de livros intocados.

Sim, eu estava na casa de Jacob Black e não sabia como fui parar ali.

Só sabia que Billy Black, em sua cadeira de rodas, foi muito gentil comigo. Bella e todos os amigos dormiram lá também, amontoados na sala junto com o Ivan, que abandonara a trilha feliz pela floresta de Forks.

Naquele momento, no meio da noite, só eu estava acordada. E eu ouvi um estranho barulho, de uma voz estranha, feminina e infantil.

- Saukerl, ande logo.

- Calma, Liesel. Meu pé ficou preso. Espere. Como viemos parar aqui?

HEIN!?

Eu me levantei e abri a janela.

- Quem são vocês?

- Ah, eu sou o Rudy Steiner e essa é minha amiga Liesel Meminger. – Sorriu o menino, que parecia ter uns dez anos.

- Ei, saukerl! Estamos no meio de um crime, não podemos nos identificar.

- Um crime? Você quer roubar um livro e chama isso de crime?

As crianças tinham um sotaque estranho, algo que me lembrava a Alemanha, algo que me lembrava...

- Claro, Rudy. Eu tenho um título a zelar. A menina que roubava livros.

Hein!?

- Você me chamou pelo meu nome.

- Eu sei. É porque você já disse nossos nomes, então já era.

- Crianças, entrem – eu disse.

Ele pulou a janela, fazendo o mínimo de barulho possível. A menina levou um pouco mais de tempo porque ficou com o vestido preso na janela e Rudy teve de ajuda-la. Quando ela entrou, ele disse:

- Que tal um beijo, saumensch?

- Eu não acredito... – murmurei para mim mesma.

- Nem morta – a menina respondeu para o amigo.

- Deitem, crianças – eu disse para eles. – Amanhã veremos onde vão ficar.

- Como assim? – perguntou a menina.

- É complicado – admiti. – Eu estou meio confusa, porque duas crianças bateram na minha janela, no meio da noite. E essa casa não é minha.

- Oh, entendo. – O menino abaixou a cabeça.

- Boa noite – eu disse.

- Boa noite, responderam.

Na verdade, eu estava confusa porque duas crianças vindas de um livro bateram na minha janela, de uma casa que nem é minha. Se fossem crianças comuns, eu estaria menos preocupada.

- Moça...

- Sim?

- Qual é o seu nome?

- Olá, Liesel. Meu nome é Joana Dalva. Agora durma, por favor.

- Sim, Joana.


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Notas finais do capítulo

Para quem não leu a menina que roubava livros, saumensch é um xingamento em alemão. Olha, realmente eu não sei se é um palavrão, mas tem no livro A menina que roubava livros. Então...
Bom, Tchau, Obrigada por Lerem.



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