Hero escrita por Wyvern


Capítulo 1
The One




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            I am so high, I can hear heaven (Eu estou tão alto, eu posso ouvir o céu)

            I am so high, I can hear heaven (Eu estou tão alto, eu posso ouvir o céu)

            Whoa, but heaven...no, heaven don't hear me (Oh, mas o céu... não, o céu não me ouve)

 

            O outono sempre fora uma bela estação, mas parecia que se dedicara a tornar aquele específico dia perfeito. A manhã de 11 de Setembro ainda despontava quando Alfred saíra de casa. Logo mais teria uma reunião na ONU, e não queria passar o tempo de sobra entediado, uma vez que com certeza teria que aturar os irritantes comentários sobre seu “complexo de herói”. Bufou. Alfred não tinha nenhum complexo, ele era o herói de fato. Então simplesmente ligara para uma das poucas pessoas, senão a única, que o entendia naqueles momentos. Seria rever Mattie, já fazia tanto tempo que não se falavam que o americano teria esquecido como era seu rosto se não fosse tão parecido com o dele.

 

            And they say (E eles dizem)

            That a hero could save us (Que um herói poderá nos salvar)

            I'm not gonna stand here and wait (Não ficarei aqui e esperar)

            I'll hold on to the wings of the Eagles (Vou me agarrar nas asas das águias)

            Watch as we all fly away (Assistindo enquanto voamos para longe)

 

            A praça estava vazia quando chegou. Sacudiu a cabeça, sentindo o vento bagunçar seus cabelos e varrer as folhas de seu caminho enquanto dava uns poucos passos antes de parar. Ainda era cedo, nem deviam ser nove horas. Levantou o rosto, observando o céu límpido e as folhas secas voando como pássaros para longe, e não pôde conter um leve sorriso em sua face. Não importava o que os outros diziam, aquele era um bom país. Então fechou os olhos, permitindo-se perder em pensamentos.

 

            Someone told me (Alguém me disse)

            Love would all save us (Que o amor nos salvaria)

            But, how can that be (Mas como isso pode)

            Look what love gave us (Olhe o que o amor nos trouxe)

 

            Às 8:46, sentiu o primeiro golpe.

            O corte surgiu de repente, ardente como se tivessem atingido seu braço esquerdo com um ferro em brasa afiado. Olhou chocado para a origem da dor, e percebeu que um contínuo filete de sangue caía pela manga de seu casaco. Imediatamente arrancou-o, e pôde ver o longo corte que se estendia de seu ombro até quase seu pulso, vertendo uma quantidade ainda maior de sangue agora que fora exposto. Ofegando, tentou ignorar a ardência do ferimento e recuperou o casaco, rasgando-o em segundos. Largando a ruína em que a peça se transformara de volta no chão, pegou o maior pedaço de tecido e enrolou em volta do braço. Com a mão direita e os dentes, conseguiu atá-lo, fazendo um improvisado curativo para estancar o cada vez mais forte sangramento. Não funcionou, pois logo o tecido ficou ensopado, mas bastaria até que achasse alguma ajuda. Ainda não entendia como aquilo tinha acontecido.

 

            A world full of killing (Um mundo cheio de mortes)

            And blood spilling (E sangue jorrando)

            That world never came (Aquele mundo nunca virá)

 

            O segundo ataque foi às 9:02.

            Alfred não conseguiu ficar de pé quando sentiu a mesma dor de minutos antes, porém no braço direito. Fraquejou, caindo de joelhos no chão de concreto e curvando-se. Tentou levantar os braços e se apoiar, mas eles pendiam, inúteis e feridos, de ambos os lados. O solo foi se tornando lentamente carmim, combinando com as folhas moribundas que continuavam a cair, alheias à sua dor. Seus óculos despencaram de seu rosto vincado e as lentes se quebraram, mas não fazia diferença. A agonia deixara sua vista embaçada há muito tempo. Começou a tremer, olhando a sua volta desesperado. Quando conseguiu distinguir uma forma confusa ao longe. tentou gritar por ajuda, mas sua voz parecia ter se esvaído como seu sangue. Não precisou, pois logo a pessoa gritou seu nome ao reconhecê-lo, correndo em sua direção.

            Matthew.

 

            And they say (E eles dizem)

            That a hero could save us (Que um herói poderá nos salvar)

            I'm not gonna stand here and wait (Eu não vou ficar aqui e esperar)

            I'll hold on to the wings of the Eagles (Vou me agarrar nas asas das águias)

            Watch as we all fly away (Vendo enquanto voamos para longe)

 

            - Alfred!!– ouviu aquela conhecida voz gritar outra vez, quando o canadense ajoelhou-se ao seu lado e segurou seus ombros para que não desabasse no chão. A muito custo, fixou os olhos vidrados na face assustada, tão parecida com a sua...

 

            9:37.

            Ao sentir o terceiro e mais cruel golpe, Alfred conseguiu gritar. Gritou com toda a dor que sentia antes e naquele momento, enquanto um profundo rasgo abria-se em seu peito, lacerando pele e carne a ponto de quase expor seu coração. Sua voz atormentada ainda ecoava quando caiu nos braços do irmão. Libertado pela nova ferida, mais sangue escorreu, manchando seu impecável uniforme, tornando-o negro como a sombra que caía sobre seus olhos. Seria apenas a inconsciência, ou a morte? Lágrimas caíram de seus olhos quase fechados, misturando-se com finos rastros de sangue que desciam pelo canto de seus lábios. Mas não era por sua dor que chorava.

            Era porque podia ouvir seu povo sofrendo com ele.

 

            Now that the world isn't ending (Agora que o mundo não está acabando)

            It's love that I'm sending to you (É amor que mando à você)

            It isn't the love of a hero (Não é o amor de um herói)

            And that's why I fear it won't do (E por isso temo que não servirá)

 

            O último golpe foi às 10:06.

            Misericordiosamente, foi o menor dos cortes. Apenas um comprido porém raso rasgo em sua face esquerda. Em meio a tantas outras dores, mal o percebeu. Lutava para manter os olhos abertos, mas não distinguia mais nada. Não sabia se as lágrimas que derramava eram suas ou de sua nação atacada, não sabia se os gritos de desespero que ouvia eram de seu irmão ou de seu povo ferido, não sabia se a sombra negra que pairava acima dele era da sua morte ou a de todo o seu país. Mattie continuava a sacudi-lo para que não desmaiasse, mas de nada adiantava. Por quê? Por que atacar seu povo tão covardemente? Por que fazê-los sofrer, de dor ou de tristeza? Por quê, ele continuava a se perguntar, mas a resposta não lhe vinha.

 

            And they say (E eles dizem)

            That a hero could save us (Que um herói poderá nos salvar)

            I'm not gonna stand here and wait (Eu não vou ficar aqui e esperar)

            I'll hold on to the wings of the Eagles (Vou me agarrar nas asas das águias)

            Watch as we all fly away (Vendo enquanto voamos para longe)

 

            - Alfred... – Matthew estava chorando enquanto o segurava. – Alfred, não...

            Concentrando o pouco que restava de suas forças, fez seus lábios se moverem e sua voz a mostrar-se. Foi capaz de formas apenas duas palavras, sussurradas e tremidas. – Por quê?

 

            Mas antes que seu irmão pudesse responder, fechou os olhos e permitiu-se cair na escuridão.

 

            And they're watching us... (E eles estão nos assistindo...)

            They're watching us (Nos assistindo...)

            As we all fly away (Enquanto todos nós voamos para longe...)

 

            Levaria muito tempo para Alfred se recuperar daquele cruel atentado.

 


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Notas finais do capítulo

Por ordem dos acontecimentos:
Primeiro ataque: World Trade Center, Torre Norte.
Segundo ataque: World Trade Center, Torre Sul.
Terceiro ataque: Pentágono.
Quarto ataque: Pensilvânia.