Quase um mês depois de ter feito a inscrição, eu estava embarcando para uma viagem que me levaria ao lugar que eu mais desejava estar. Cartas já não eram mais suficientes para acalmar meu espírito, eu precisava estar onde ele estava; não importava se eu teria que enfrentar uma guerra para isso.

Mary, a nossa guia, era uma enfermeira que trabalhava em campo desde que as primeiras tropas partiram para o Afeganistão. Ela tinha por volta de 30 anos e estava longe de ser uma pessoa séria e centrada.

- Meninas, preparem-se para o assédio dos rapazes - ela exclamou toda animada enquanto voamos em um avião do exército direto para o Afeganistão - Eles vão ficar loucos quando as virem, especialmente você Sakura.

Olhei-a assustada quando ela mencionou meu nome em particular.

- Por que eu?

- Oras, você é a única médica do acampamento. Só temos homens médicos por lá. No entanto, devo dizer que os rapazes têm certa preferência pelas enfermeiras.

Algumas garotas mais agitadas ao fundo soltaram um gritinho de alegria.

Eu era a única médica que estava naquele grupo, e seria a única médica mulher no acampamento; ainda que eu fosse apenas uma médica residente que se inscreveu num estágio em primeiros socorros no Afeganistão.  Confesso que fiquei assustada no começo, mas me tranqüilizar pensar que eu finalmente ia me reencontrar com o Naruto depois de um ano separados. Passei o resto da viajem imaginando como seria o nosso reencontro, pensei no sermão que eu receberia e na postura firme que eu teria que adotar quando ele decidisse que me mandaria de volta para casa.

Pela tarde, ao chegar ao acampamento me surprendi pela recepção dos soldados que alegremente nos saudavam e nos lançavam olhares maliciosos. O coronel responsável afastou os homens para que pudessemos passar e nos guiou até nosso alojamento que era feito de madeira e que tinha em seu interior cinco beliches e um pequeno banheiro com chuveiro. Por um lado senti-me frustrada por não ter encontrado o Naruto em meio aos soldados e por outro lado senti-me feliz por ele não ser um daqueles “lobos selvagens”, como Mary os chamava.

A noite caiu rápido, o tempo estava quente e agradável. As enfermeiras estavam ansiosas para se reunir aos soldados no pequeno pub improvisado que havia no acampamento. Eu fui com elas na esperança de me encontrar com o Naruto, começava a me assolar o medo que ele estivesse no hospital ferido ou que estivesse morto. Iríamos somente até o hospital na manhã seguinte.

O pub ficava próximo ao rio e era simplesmente uma tenda com algumas mesas e cadeiras.

Assim que eu entrei, um dos soldados aparentemente bêbado se aproximou de mim ao mesmo tempo as enfermeiras que estavam comigo se afastaram.

- Olá, belezinha – saudou-me o homem tentando parecer sexy.

Enrijeci meu corpo e com um tom de voz alto e firme, eu retruquei:

- Eu estou procurando pelo soldado Naruto Uzumaki.

O homem se recompos rapidamente e balançando a cabeça apontou em direção ao rio.

- O Uzumaki está no rio. É, tá lá desde chegamos. Tá lendo pela décima vez a carta da noiva que ele recebeu ontem.

Emocionou-me saber que ele estava lendo a carta que eu escrevera com tanto carinho. A carta que tinha a montagem que eu fizera com as nossas fotos.

Girei os calcanhares e fui correndo na direção em que o soldado havia me apontado. O largo rio corria calmo e apenas se ouvia o som da festa no pub que ficava mais baixo a medida que eu avançava em direção ao alojamento dos soldados; a lua crescente no céu iluminava as águas turvas do rio. Caminhei com suavidade pelo mato que crescia a borda do rio enquanto meus olhos procuravam por Naruto.

A frente vi um ponto de iluminação instalado pelos soldados e próximo aos dormitórios que estavam vazios e tinham as luzes apagadas, vi a figura de Naruto sentado em um tronco de árvore olhando para a foto montada que eu havia feito de nós. Aproximei-me com cuidado dele e me posicionei as suas costas. Eu sabia que ele já havia notado que havia alguém estava ali, mas estranhamente ele não havia se virado par ver quem era.

Abri a boca para falar, porém a voz não saiu. Fiquei desesperada, eu finalmente estava ali tão próxima a ele, e não conseguia pronunciar nem mesmo o nome dele. Minhas pernas tremiam e seu estava com medo de cair, o coração disparado em meu peito me fazia ter falta de ar.

Respirei fundo e forcei a voz a sair.

- Um... Soldado que não confraterniza com seu grupo que... - eu não consegui falar mais nada.

As lágrimas vieram aos meus olhos e com a ponta dos dedos eu tentei limpá-las.

Naruto não se moveu e me fez acreditar por instantes que ele não havia me escutado, mas não tinha como ele não ouvir a minha voz rouca e chorosa em meio aquele silêncio. Passei a acreditar que ele estava tentando se decidir se havia sonhado com a minha voz ou não.

- Não vai me dizer nada depois de eu ter viajado até aqui para te ver?

Num sobressalto ele se pôs em pé deixando a carta e a foto cairem aos seus pés. O vento varreu os papéis que acabaram presos em uma pedra. Naruto virou-se rapidamente e pulou o tronco ficando a uma curta distância de mim.

- Sakura...

Ele me olhava de forma indecisa, seus olhos procuravam por detalhes que lhe permitissem ter a certeza de eu não era uma ilusão. Seus olhos marejados pareciam não acreditar no que viam a sua frente.

- Eu estou aqui... – eu disse baixinho - Eu vim até você.

Ansiosamente esperei por seu abraço que tão apertado sufocava, esperei por seu beijo nervoso, esperei pelo sermão, e mais do que tudo, esperei que ele me dissesse o quanto ele me amava. Porém nada disso aconteceu, em seu rosto apenas havia um olhar triste e vazio.