Seus amiguinhos, os Backyardigans...

Sim, eles eram realmente amigos. Antes. Antes de tudo acontecer.

Juntos, nós somos os Backyardigans...

Mas, agora, não poderia dizer que eram “amigos”. Na verdade, era estranho que ainda teimassem em andar juntos.

Temos o mundo inteiro no nosso quintal...

Na verdade, o mundo era o quintal deles.

Sempre inventamos coisas novas pra brincar,
Todos os dias, nós vamos...

Pablo, Tyrone, Tasha, Uniqua e Austin eram cientistas renomados do Centro de Genética de Michigan. Pablo, um latino de meia-idade que conseguira se formar e estabilizar-se nos Estados Unidos, era o chefe das operações. Mesmo de baixa estatura, era imponente e possuía uma autoridade invejável com seus subordinados: não, aquilo era amizade, mesmo. Tasha era uma moça bela, com seus trinta anos, e se formara em Cambridge. Já Austin, ex-garoto de rua que conseguira uma oportunidade pelo programa social do prefeito Mayer, em Nova York, agora era cientista-júnior do Centro de Pesquisa. Tyrone era do Texas. Filho de cowboy, nunca imaginou que pudesse se formar em uma faculdade como Harvard, muito menos em trabalhar no maior centro de pesquisa com genes do governo estadunidense. O sigilo das operações e a boa remuneração também chamaram a atenção de Uniqua, negra nascida no Brooklin, vítima de violência física e psicológica quando criança, achou escape nos livros, dedicando-se a seu sonho de tornar-se médica. Era realmente uma pena que todo aquele talento fosse engolfado pela mais pura e vil ambição.

O Dr. Pablo havia detectado, em uma de suas últimas pesquisas, um traço genético em cinco espécies de animais selvagens que seriam proporcionalmente compatíveis com as cadeias nucleicas dos seres humanos. Aquela era a chance que ele tinha para provar que Minotauros, Lobisomens – ou até mesmo o Drácula – poderiam, sim, existir além das histórias e dos quadrinhos.

Após novas pesquisas, o Dr. Pablo confirmou a base semelhante em quatro espécies: alce-canadense, pinguim-gentoo, hipopótamo-do-nilo e o canguru-australiano. Ele identificou que os traços da formiga-rosada poderiam ser utilizados apenas se combinados com os da joaninha-vermelha. Pablo foi além: seus quatro fiéis súditos acabaram caindo em sua teia de loucura.

Como era secreto (e perigoso) demais para recrutar cobaias, ele decidiu que os próprios cientistas deveriam se sacrificar. Pelo bem da ciência, como dizia ele.

E os babacas, contaminados pela embriaguez da descoberta, aceitaram. Mais do que isso: ajudaram na manipulação e no isolamento das cadeias de genes que seriam as “responsáveis” pelo desenvolvimento de habilidades extraordinárias.

- Tenham algo sempre em mente – o cientista-chefe disse, no dia derradeiro do experimento – Talvez dê tudo certo, mas talvez aconteça algo que não esperamos.

- Não há nada que não esperamos – Tasha disse, tentando encorajar os amigos. – Estamos diante de uma possível descoberta, e só saberemos se tentarmos.

- Façamos uma oração antes. – Uniqua implorou. Não era muito religiosa, mas encontrara na Bíblia, anos antes, uma possibilidade de redenção. Era reconfortante entregar tudo a um ser divino, que certamente daria conta de administrar as prováveis consequências daquilo.

Todos deram as mãos. Pediram a seus respectivos deuses que abençoassem aquele experimento, e que os resultados fossem os melhores para a humanidade.
Cada cientista pegou sua seringa. Nela, estava contido o traço genético isolado, com as propriedades básicas que definiriam habilidades particularmente poderosas a seu possuidor. Cada cientista com um animal aleatoriamente escolhido: Pablo com o pinguim; Tyrone com o alce, Tasha com o hipopótamo, Austin com o canguru e Uniqua com o misto de formiga e joaninha. Seria a descoberta mais importante desde a roda. Não: desde o fogo.

Agora estavam percorrendo a rua de um distrito afastado de Massachusetts. Cinco animais gigantes, deformados, com aparência bestial. Os cinco cientistas que foram atraídos pela doce voz da fama. E, agora, agiam inconscientemente, deixando para trás a racionalidade, a família, os valores... A humanidade. Tudo era ruído, para eles. O traço genético que Pablo isolara, afinal, era realmente a “fonte”. Ele só não havia mensurado corretamente o poder de transformação celular dos genes. Eles foram além de conferir características poderosas às cobaias. Na verdade, foram grotescas, repugnantes... Mortíferas.