Lives escrita por Rella
Capítulo 8
- Mas é claro que há, Sr. Jackson.
- Acredite, não sabe como me sinto ouvindo isso. Já estava ficando sem esperanças. – Confessou. – E quando poderemos começar? – Perguntou, ansioso.
- O quê? – Indagou, surpresa.
- Ora, o tratamento.
Sarah sorriu diante da inocência de Jackson.
- Sou uma cardiologista, Sr. Jackson, e não uma neurologista. Não tenho preparo para esses casos.
A excitação de Michael morreu quando sua expressão iluminada deu lugar a seu olhar melancólico de sempre. Sarah abriu a pequena gaveta, vasculhou e pegou papel e caneta.
- Mas posso te recomendar um especialista, lhe garanto que ele é ótimo!
Começou a anotar quando Jackson pôs as mãos sobre o bloquinho, interrompendo-a. Olharam para o papel e se fitaram. Ele retirou as mãos, tomando consciência de seu ato.
- Me desculpe.
Ele corou.
- Não duvido que você também seja ótima no que faz. – Continuou. – Queria a sua ajuda e não de outro.
- Sr. Jackson, eu não posso, não faz sentido.
- Por favor.
- Não. Eu posso terminar agravando o seu problema.
- Garanto que isso não vai acontecer. – Insistiu.
- Senhor, por favor, eu...
Foram interferidos por dois toques rápidos na porta. Honey entrou, ficou parada por um instante, muda, virou-se e saiu. Peterson pediu licença e foi alcançar Honey, encontrando-a apoiada na parede, ofegante e se abanando com uns papéis.
- Por que você não me avisou que ele estava aqui? – Perguntou Honey, nervosa.
- Você fala como se eu tivesse bola cristal! Eu nem sabia que ele viria! Acha que ele iria me ligar e dizer que estava chegando? Também fui pega de surpresa. Só me disseram que havia um paciente em meu aguardo.
Honey ainda respirava com dificuldade.
- Acho que estou passando mal. – Comentou ao pôr as mãos no peito.
- Ah, Honey, me poupe!
Peterson tomou os papéis dela e voltou à sala encontrando Jackson olhando minuciosamente contra a luz o seu enfeite de mesa preferido, da fada Sininho. Quando fez o barulho ao entrar, ele colocou rapidamente no lugar.
- Me desculpe, é que ela te viu...
- Até imagino o que houve.
Tinha um tom de desapontamento na sua voz.
Michael suspirou. Empertigou-se no assento e abriu a boca para falar. Nada. Tentou novamente.
- Liguei umas três vezes para cá no último domingo tentando encontrá-la. – Comentou rapidamente.
Sarah ficou perplexa. Me procurando? Acho que não ouvi direito.
- Como?
Michael limpou a garganta e repetiu a fala, um pouco mais devagar. Ela corou.
- Oh, lamento. É que estive num casamento.
Ele a encarou esperando que continuasse.
- Não, eu não era a noiva. Antes que pense nisso. – Sorriu, acanhada.
- Eu não pensei.
Ah, obrigada. Só faltou dizer: encalhada!
- E gostou?
Sarah elevou uma das sobrancelhas, descrente na pergunta.
-Sim. - Respondeu. - Foi ótimo!
- Isso é bom!
- Aqui está o número e o endereço do Dr. Arnold, neurologista. Ele irá superar suas expectativas!
Jackson passou os olhos sobre a letra jeitosa, e colocou a folha sobre a mesa.
- Por favor, Dra. Peterson.
Peterson pensou enquanto olhava a expressão piedosa do astro. Não era uma decisão fácil.
Talvez eu devesse ajudá-lo.
- Sei que tentou me alertar naquela vez. Eu percebi. - Sua voz era rouca. – Não tinha noção da gravidade do meu problema.
Silêncio.
Michael parecia ler os olhos de Sarah. Curvou-se para frente, hesitante em perguntar. Tinha o receio que ela o achasse um idiota. Seguiu em frente.
- Importa-se de deixar o posto de cardiologista e assumir o de psicóloga por alguns minutos?
Era uma proposta um tanto esquisita. Sarah endireitou-se na cadeira e passou as mãos em seu jaleco branco. Não haveria mal algum em aceitar.
- Sou uma psicóloga, Sr. Jackson. – Sorriu. – Pode falar.
Jackson iluminou-se e lhe contou o episódio com seus filhos. Sarah estava atenta a ele, e comovida ao imaginar a cena. Ele é triste por dentro. Deve ser muito difícil viver nesse seu mundo louco, concluiu.
Ao terminar, os olhos dele estavam marejados. Ela pegou uns lenços no fundo da pequena gaveta e lhe entregou.
- Lamento, eu acabei lhe importunando com os meus problemas.
- Não, não, senhor. Está tudo bem.
Jackson suspirou ao se levantar. Abaixou o olhar. Ainda havia umidez nos cantos dos olhos. Respirou fundo, olhou para além dos vidros da janela. Se preparava para enfrentar aquele mundo em caos, que tantas vezes o amou e também o injustiçou.
- Obrigado por ter me ouvido, Dra. Peterson.
Ela sorriu.
- E obrigado também ter estado em minha casa àquele dia. George me contou. E acredite, eu não me recordo de nada.
Ele corou o relembrar as palavras de George dizendo que ele ficara nu. Peterson o fitou, comovida.
Michael pôs as mãos no bolso da calça e vasculhou. Tirou uma carteira e abriu-a.
- Devo lhe recompensar pelo trabalho extra de hoje e daquele dia.
Antes que tirasse o maço de notas que seus dedos juntavam, Peterson o repreendeu abaixando-lhe a carteira. Michael ficou confuso.
- Não, Sr. Jackson. Guarde o seu dinheiro. Salvar vidas e ajudar pessoas, além de meu trabalho, é também minha paixão. – Ela hesitou. – Foi um prazer.
Ele insistiu e ela recusou novamente. Enfim desistiu, agradeceu mais uma vez e seguiu para a porta. Peterson o chamou, e seus batimentos estavam rápidos quando falou:
- Eu aceito. Só não garanto ótimos resultados.
O astro sorriu.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!