O carro corria a toda por hora e eu só conseguia vislumbrar a cara confusa de Ollie. Eu não sabia o que dizer. Eu não sabia se era certo dizer algo.

     Deus, eu havia saído de casa, o que tinha dado em mim? Como pagaria por mais de dois dias em um hotel? Eu não viveria sozinha de modo algum. O que fui fazer?

     - Claire, você esta muito nervosa, quer dar uma volta no parque pra se acalmar?

     Abaixei minha cabeça e senti as palavras de Oliver retumbarem em meu ouvido. Em pouco tempo as lagrimas dominavam meu rosto.

     - Seu pai foi um escroto dos grandes, eu não o perdoaria – eu estava ouvindo ele falar ainda? Porque cada palavra me fazia chorar mais?

     - Eu só quero ficar sozinha.

     Eu sabia que aquela era a mais pura verdade, mas ainda sim me senti culpada por afastar Ollie de mim.

      - Tudo bem, eu te entendo...

     - Ollie – algo me dizia que o nome dele saindo de minha boca o causava arrepios – Eu preciso de você principalmente agora, só não fale mais disso... – voltei a chorar

      - Vai ficar tudo bem – ele parou o carro no acostamento e me envolveu em seus braços

     - Podemos ficar parados aqui? – eu tentava falar em meio ao aperto forte

     - Eu preciso que você fique parada – foi ironia mas entendi o seu recado logo que ele se afastou de meu corpo e apenas juntou seu lábio no meu

     Eu não queria dizer nada, eu não podia dizer nada. Só retribuí o beijo calmamente tentando esquecer algum daqueles tantos problemas.

     - Eu preciso de você também – ele sussurrou em minha boca

Droga Oliver. Ele tinha entendido tudo errado, ele achava que eu precisava dele como... como... Namorado!

     - Ollie, vamos pra esse parque logo – eu achava que tinha sido fria demais até que ele me surpreendeu com sua resposta estranha:

     - Claro, lá é mais espaçoso para nós.

E o caminho foi tenso. Tanto pelos olhares acolhedores de Oliver, quanto pelo meu rosto que corava em excesso denunciando minha vergonha. Sério, eu queria parar com essa chatice de corar.

      - Chegamos – logo ele estava abrindo a porta para mim

      - Eu... amei esse lugar!

      O parque era perfeito, cheio de flores chamativas e com uma grande arvore que deixava a sombra mais fresquinha do mundo.

     - Vamos nos sentar aqui – disse ele me puxando pra debaixo da arvore

     Me sentei e fiquei olhando para o céu tentando formular alguma frase, mas nada vinha na mente.

     A história de meu pai estava me deixando em frangalhos, eu não sabia o que fazer ou falar, só que estava sozinha e precisava voltar a morar com mamãe.

     - Você fica linda a luz do sol – as cantadas malucas de Ollie ajudavam muito na idéia de sumir do mapa

     - Obrigada – e corava de novo

Droga, o que eu estava fazendo mentindo para ele, pra mim? Até onde isso ia ir? O que eu estava me tornando?

     - Claire, até que enfim te encontrei minha filha – gritou meu pai

Eu não sabia se saía correndo ou se encarava esse desgraçado que se denominava meu pai.

     - Eu segui vocês pelo GPS do carro – ele estava aliviado, mas eu sabia em que monstro ele podia se tornar

     - Não quero conversar com você – me levantei e saí na direção contraria que ele estava

     - Minha filha, eu sinto muito...

Eu não queria ouvir. Eu não queria sequer olhar para aquela droga de cara.

     - Claire, ouça seu pai – ordenou Ollie

Ele... ordenou? Que papo é esse?

     - Como é? – perguntei

     - Ele é seu pai...

     - Ele me machucou, ele ofendeu a mim e a minha mãe, eu devia o odiar – eu cuspia as palavras não me importando com as pessoas do parque

     - Volte para casa – sussurrou meu pai

     - Isso é uma ordem? Porque pelo o que sei sou maior de idade e...

     - É um pedido desesperado.

     Voltei meus olhos para aquele que tinha sua cabeça baixa e que parecia falar com sua rainha ao invés de sua filha.

     - Eu não tenho bons motivos pra voltar.

     - Sou sua família, só volte para sua casa!

     - Você machucou sua família, e é sua casa!

Ele não tinha mais argumentos, só chegou mais próximo de mim.

     - Eu aceito seu namoro com Oliver e dou um quarto melhor para ele!

     Pisquei varias vezes tentando esquecer desse comentário infeliz.

     - Além de não o estar namorando, eu não quero que me compre. Não vou voltar pra casa por um quarto melhor para ele, quem pensa que ele é?

     - Eu não quis dizer isso...

     - Pai, não vou voltar até você se desculpar com o coração – dei as costas de novo e cai de cara no chão logo que tropecei em meu próprio pé

     Fui socorrida por um Ollie preocupado e um pai com cara de cachorro sem dono.

     - Eu só quero você em nossa casa de novo. Eu nunca estive tão próximo de você antes,me perdoe por ter lhe falado aquelas coisas sobre você e sua mãe foi um enorme erro, eu prometo não repeti-lo nunca mais, só venha pra casa meu amor...

     Me levantei e limpei toda a sujeira que tinha acumulado.

     - Eu vou, mas com uma condição...

     - Qualquer uma.

Respirei fundo e disse de uma vez só:

     - Que você ensine pra sua mulher o que é respeitar o ser humano.