Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 9
Capítulo 8 Afinal o morto está vivo


Notas iniciais do capítulo

Darius acabou salvando o dia e os nossos piratas decidiram seguir a rota que Jack quer. Mas será que vai dar problema?



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Capítulo 8: Afinal o morto está vivo

 

Nem um dia se passou, e o Black Pearl já navegava debaixo de um céu tenebroso. O vento bastante fraco, indicava não se tratar de uma tempestade. Barbossa esfregava a barba, olhando cerrado e pensativo o horizonte.

 

- Há qualquer coisa errada no meio disto. – Barbossa disse.

 

Jack não se pronunciou olhando as águas. Imediatamente fez uma careta, apontando. As águas tinham-se tornado bastante turvas, ganhando uma tonalidade esverdeada.

 

- Eu disse que era melhor termos dado meia volta. – Barbossa disse.

 

- Nada que já não tenhamos visto. O pântano da Tia Dalma é ainda mais soturno. – Jack disse, descendo as escadas e colocando-se ao lado de Lara.

 

Lara olhava absorta as águas escuras, como embalada em mil pensamentos.

 

- Passa-se algo, my love? – Jack arqueou uma sobrancelha e colocou uma madeixa desta atrás do cabelo.

 

- Nada. Só estou com um mau pressentimento, Jack. Não era melhor voltarmos para trás? – Lara perguntou.

 

- Com certeza será mais uma tempestade se formando. Ou então poderemos navegar nesta escuridão até sairmos da rota do Cabo. – Jack encolheu os ombros e sorriu.

 

- Já reparas-te que o Will nunca mais apareceu? A Alicia anda com um aperto no coração…

 

- Lara… - Jack agarrou a cintura desta. - … sinceramente e não querendo mandar nenhuma piada, ela está preocupada com o quê? Ele não pode morrer! O mínimo que lhe poderá acontecer é nascer-lhe tentáculos.

 

- Não brinques. – Lara rolou os olhos. – Sabes que se algo nos atacar, a ajuda do Holandês é fundamental.

 

- Eu já cá andava por estes mares, antes de o Holandês existir, love! – Jack colocou um dedo no ar. – Quer dizer, antes de o Will se tornar no seu capitão. E lembra-te que antes disso, o Black Pearl safou-se sempre.

 

- Pois, menos do Kraken! – Lara exclamou, fazendo Jack torcer o nariz.

 

- Por anda a pequena? – Jack perguntou, mirando o navio.

 

- Dormindo a sesta. – Lara disse, olhando de novo a água.

 

- Por falar em dormir… - Jack suspendeu a frase. - … o que é feito daqueles pesadelos?

 

- Desapareceram. – Lara respondeu. – Quer dizer, eu acordo com a sensação de que os tive, mas não me recordo.

 

- Estranho… - Jack fez ar distante, mas o chamado de Gibbs devolveu-o à realidade.

 

- Capitão, é melhor ver isto! – Gibbs exclamou, enquanto um amontoado de piratas se concentrava, olhando a água abaixo da proa do navio.

 


Alicia acendeu uma vela, tentando andar sem ter de tactear as paredes do porão. Era tão complicado arranjar uma garrafa de rum sem dar nas vistas. Ao contrário de Lara, Alicia tinha-se habituado à bebida, embora não bebe-se até cair dura no chão como Jack. Ou melhor, como o Jack de há cinco anos atrás. O balançar do navio não a incomodava. Também não havia maneira de enjoar fosse pelo que fosse. Abriu a porta da despensa das bebidas e retirou uma das garrafas.

 

Deu um gole enquanto caminhava pelo corredor estreito, mas ao chegar às escadas e apagar a vela, o navio deu um solavanco, fazendo Alicia desequilibrar-se e quase se esparramar no chão. Valeu a rápida intervenção de Darius que ao descer as escadas para guardar o balde e a vassoura úteis para a limpeza do convés, agarrou Alicia pela cintura.

 

- É melhor se segurar! – Darius sorriu simpático.

 

- Obrigado, mas eu já estou recomposta. – Alicia afastou Darius. – Até parece que uma simples ondulação me atira ao chão.

 

- Não. Mas faz parte da boa educação, socorrer uma dama, mesmo que esta seja uma pirata. – Darius disse, arrumando o material a um canto.

 

- Você é muito safado! Conheço esse discurso machista. Não conseguiu nada com a Lara e agora salta para a minha espinha. – Alicia semicerrou os olhos. – Mas isto aqui tem dono!

 

Darius ficou surpreso mas depois riu divertido e rolou os olhos.

 

- Tão iguais e tão diferentes. O vosso feitio continua o mesmo. – Darius disse em voz baixa, mas o suficiente para Alicia ouvir.

 

- O que disse? – Alicia aproximou-se sorrateiramente deste.

 

- Eu? Nada. – Darius engoliu em seco e abanou a cabeça.

 

- Eu ouvi muito bem. Você disse que eu e a Lara continuávamos iguais. – Alicia disse num tom desconfiado. – Como sabe? Você nunca se cruzou no nosso caminho antes!

 

- Eu só disse que vocês as duas são diferentes e iguais no feitio. Lara é mais doce e você mais aguerrida. No entanto ambas são extremamente fiéis a quem amam. – Darius explicou.

 

- Sei… - Alicia continuou desconfiada. - … algo me diz, senhor Darius, que a sua história não está bem contada.

 

Alicia virou costas e subiu as escadas, porém mal olhou para o chão do convés uma sensação de vómito apoderou-se de si.

 

- Tira-a daqui. – Jack ordenou e Lara correu para Alicia socorrendo-a.

 

- Alicia, é melhor irmos para dentro. – Lara puxou esta para a cabine.

 

- DESDE QUANDO É QUE SE TRAZEM MORTOS PARA O NAVIO? – Alicia berrou. Prostrado no chão do convés, um corpo deitado de costas jazia sem vida.

 

- Apanhámo-lo a boiar na água. Ao que tudo indica poderá ter ocorrido um naufrágio perto. – Barbossa explicou.

 

- E era preciso trazê-lo para cá? – Alicia perguntou tremendo como uma vara verde.

 

- É verdade, Jack. – Lara fez uma expressão de "por favor".

 

- Love, o melhor é recolherem-se lá dentro. O corpo não parece ter mais de um dia na água, mas mulheres são sempre sensíveis. – Jack disse e Lara pode ver que este estava sendo sincero e cauteloso.

 

- Grace foi para dentro. Além de proteger Mary, também ela não se sentiu nada bem. – Barbossa disse e Lara levou uma Alicia verde para dentro.

 

- Melhor virarmos o sujeito de frente. Afinal ainda deve ser reconhecível. – Jack disse, ordenando a Pintel e Raguetti para que virassem o morto.

 

A contragosto o fizeram, mas a imagem seguinte deixou a tripulação completamente gelada. Não havia rosto. No lugar dos olhos, apenas duas linhas que davam impressão de nunca terem sido abertos. O mesmo se passava com a boca. Não havia nariz nem sequer vestígio de fossas nasais. O cabelo era bastante escasso, mas de costas nada fazia prever o cenário seguinte.

 

- Isso não é uma pessoa. É um monstro! – Gibbs benzeu-se.

 

- A mim parece-me que ele foi mais atingido por uma maldição. – Darius opinou, e pela primeira vez Jack não disse nada desagradável, arregalando os olhos.

 

- Deitem o sujeito borda fora e daremos meia-volta. – Jack disse rumando para o leme do navio.

 

- Agora que estamos a mais de meio caminho, quer voltar para trás? – Darius perguntou.

 

- Sempre é melhor do que atravessarmos algo que não conhecemos. – Jack disse. – Não vou arriscar o meu navio, a minha tripulação e… a minha família. – Jack olhou duro.

 

- Disse isso durante toda a viagem. – Barbossa constatou. – Mas agora o céu escuro está por todo o lado. Não há uma única fresta de claridade. Já nem se sabe se é noite ou dia. E como disse o Senhor Darius, estamos mais perto do Cabo do que voltar para trás.

 

Jack mostrou os dentes em desagrado mas Barbossa tinha razão. Olhou o horizonte atrás de si. Era como se estivessem presos numa noite constante. Lançaram o corpo de novo a água e seguiram viagem em velocidade lenta, já que o vento fraco não permitia avançar muito mais.

 

 

 

- Não se vêm as estrelas. – Alicia disse olhando o céu.

 

- Não me lembro de nada disto quando passamos por cá na altura do Vértice. - Lara disse esfregando a testa. As duas mulheres estavam sentadas nas escadas que davam acesso ao timão. Mary tinha sido convencida a muito custo a ficar no quarto, tendo a companhia de Grace. A tripulação estava em alerta. Alguns dos piratas diziam sentir algo no ar. Como se a sombra da morte ali pairasse.

 

- Alicia, o que mais desejas na vida? – Jack perguntou, fazendo as duas mulheres virarem as cabeças.

 

- Que raio de pergunta, Jack! – Alicia exclamou. Todos sabiam o que ela mais queria.

 

- O que estás a tramar Jack? – Lara perguntou.

 

- Digamos que a bússola aponta para o que mais desejamos. Ora neste momento seguimos a rota do mapa e do desejo da Mary, que é encontrar este tesouro. Mas como ela é uma criança, os desejos variam de vez em quando. – Jack explicou. – Preciso de alguém que deseje encontrar esse tesouro.

 

- Porque não pedes ao Barbossa? – Lara perguntou.

 

- Porque como ele já foi um morto-vivo e acabou por morrer mas não de vez porque ainda aí anda, a bússola não funciona com ele. – Jack disse. - Também não funciona comigo nem contigo, porque por azar só aponta na mesma direcção. É por isso que lhe peço a si, senhora Turner.

 

- Eu não quero esse tesouro para nada. – Alicia ficou amuada.

 

- Também não é do tesouro que estou falando. Temos de sair daqui o mais rapidamente possível. O seu mais que tudo ainda não apareceu, o que indica que algo o impediu de aqui estar. – Jack esboçou um sorriso e Alicia compreendeu. – O seu herdeiro só vem de um sítio. Esse sítio será o passaporte para a nossa liberdade, savvy?

 

Alicia sorriu e pegou na bússola. Esta rodou uma vez e apontou levemente para o lado esquerdo.

 

- Barbossa, vira levemente para bombordo! – Jack berrou.

 

- Eu não entendi nada, Jack! – Lara exclamou.

 

- É simples. O maior desejo dela é ter um filho do Will. Sendo que o Will ainda não apareceu, palpita-me que algo o impede de cá vir. Por isso a bússola vai apontar para o Will. O garante da nossa liberdade!

 

- Ok, percebi. Agora que história é aquela de ser um azar enorme a bússola não mostrar mais nada a não ser o caminho do teu coração até mim? Já te cansaste? – Lara fez cara de brava.

 

- Love, só podes estar a gozar! – Jack sorriu de canto, mas no mesmo instante o barco balançou violentamente, fazendo um barulho horrendo. Era como se tivesse batido em algo.

 

- Que foi isto? – Alicia saltou sobressaltada e olhou para a água.

 

- O navio continua a navegar. Algo foi contra nós. – Gibbs explicou.

 

- AI! – Alicia berrou e tanto Jack como Lara desembainharam as espadas. – Algo agarrou o meu cabelo.

 

Alicia recuou assustada. Alguma coisa tinha agarrado o seu cabelo, o que a fez gritar e assustar toda a tripulação.

 

- Não há ninguém à vista. – Lara disse olhando para as águas turvas.

 

- Capitão Jack… - o sussurro de Raguetti foi ouvido, mas ninguém se virou. – Capitão Barbossa… - Raguetti voltou a chamar.

 

- Que é seu chato… - Barbossa virou-se bufando e quase ficou sem cabeça. Valeu os reflexos de pirata que perduram quase para sempre.

 

Sem que nada o fizesse prever, o convés do navio foi invadido por homens que subiam agilmente pelo casco. Não havia navio visível por perto.

 

- Eles só podiam ter vindo da água! – Jack berrou, dando um tiro num dos invasores.

 

- Eles vêm é do inferno! – Alicia gritou e chamou a atenção dos restantes para a aparência macabra dos atacantes. Eram iguais ao corpo que tinham tirado da água, no entanto, as ranhuras que tinham no lugar dos olhos e da boca tinham dado lugar a buracos negros. Autênticos demónios que com a força das mãos, lutavam com a tripulação. Os tiros afastavam-nos, mas parecia que não os matava. Alguns tinham perdido braços e pernas, devido aos golpes certeiros dos piratas, mas nada os fazia recuar.

 

- Eles são às centenas! – Lara exclamou, vendo que mais subiam pelo casco.

 

- Descarreguem os canhões contra esses escaganinfobéticos! – Barbossa berrou, enquanto alguns membros da tripulação desciam o convés para carregar os canhões.

 

- Não tinhas a certeza que o sujeito estava morto? – Lara perguntou a Jack, enquanto este dava um tiro num dos invasores, fazendo voar na direcção de um barril de pólvora.

 

- Afinal parece que o morto estava vivo. Não podia adivinhar! – Jack exclamou.

 

- Oh, depois de tudo agora só nos faltava uma tripulação de mortos-vivos! – Alicia exclamou. – Cuidado, aquele vai em direcção à cabine!

 

Jack e Lara olharam em pânico para dois mortos-vivos que caminhavam em direcção ao local onde estavam refugiadas Mary e Grace. Lara tentou ir atrás, mas era tarde demais, um já tinha entrado.

 

- Jack… - Lara desesperou-se mas arregalou os olhos com a cena seguinte.

 

- VENHAM SEUS TÍSICOS DE MEIA TIGELA, POR MIM NINGUÉM PASSA! – Grace saiu armada de sertã e acabou por dar na cabeça do morto-vivo. Todos ficaram parados a olhar a cabeça rebolar pelo tombadilho e o corpo ir contra a parede na falta de cérebro.

 

- Eles não morrem nem que lhe arranquemos a cabeça! – Darius exclamou, tirando um do caminho.

 

- ALTO! – Barbossa berrou e todos pararam, até Jack. – Algo os está a afugentar.

 

De facto, os zombies começaram a atirar-se borda fora como se algo os estivesse chamando ou pura e simplesmente se afastassem com medo.

 

- Foram-se embora assim? Sem mais nem menos? – Alicia perguntou, agarrando a cabeça solitária e atirando borda fora.

 

Um sopro de vento mais forte fez as velas mexerem, descendo a temperatura.

 

- O vento voltou. É melhor seguirmos viagem, antes que os desgraçados voltem. – Barbossa disse.

 

- Eu acho que o tempo vai piorar. É melhor não deixar a pequena sair do quarto. – Darius disse para Lara.

 

- Obrigado pela preocupação. – Lara sorriu gentilmente, ao que Darius retribuiu.

 

- Devo dizer que luta muito bem. – Jack sorriu irónico e Darius fez de conta que Jack estava a ter um elogio sincero.

 

- Nada comparado com o capitão. – Darius retirou-se e olhou Lara profundamente, deixando esta corada sem saber porquê.

 

- Eu vou ver como está a Mary. – Lara disse, saindo de fininho.

 

- Bem que o seu maridinho podia aparecer agora, para mandar estes zombies para o Inferno! – Jack exclamou. – Afinal ele é perito nisso!

 


- Mamã? – a pergunta de Mary, acordou Lara. Tinha adormecido enquanto olhava a filha dormir. Esfregou a cara. Mais uma vez tinha a sensação que tivera um pesadelo, mas não se recordava de nada. Por outro lado, a presença de Darius no navio estava a pô-la doida. Não o queria ali, mas ao mesmo tempo sentia um elo que a deixava histérica só de pensar que poderia ir embora. – Já posso ir lá para fora? A tempestade já passou?

 

- Mary… - Lara tinha mentido, dizendo que Mary deveria lá ficar porque o céu escuro indicava uma tempestade. - … o tempo ainda está bastante mau. É melhor continuares aqui.

 

- Mas eu quero ir ter com o pai! – Mary exclamou, fazendo exactamente a cara de cachorro arrependido igual a Jack.

 

- Eu chamo-o aqui. – Lara disse, levantando-se.

 

- Que barulho de espadas foi aquele à bocado? – Mary perguntou.

 

- Hã… estavam a treinar para um eventual combate, se acontecer! – Lara sorriu, mas sabia que não tinha convencido a filha.

 

Saiu para fora e o seu sangue gelou. Toda a tripulação estava no chão amarrada e amordaçada. No entanto em vez de cordas, eram umas correntes em forma de luz esverdeada que os amarrava.

 

- Jack… - Lara correu até ao marido. Este e Barbossa eram os únicos que não estavam amordaçados. - … o que aconteceu?

 

- Vai para dentro antes que… - Jack alertou mas fitou algo atrás de Lara e esta apercebeu-se. Levantou-se num ápice. À sua frente estava uma figura no mínimo surreal. Parecia-se bastante com um espectro. Podia-se ver através de si e emitia uma estranha luz esverdeada. Coroando os cabelos esvoaçantes estava uma coroa e uma barba curtinha contrastava com o rosto altivo. Arrastava uma grande capa, dando a entender que devia ser soberano de qualquer coisa estranha aos olhos do comum mortal.

 

- Ora, ora! Pensei que só houvesse apenas duas mulheres a bordo deste navio. Parece que me enganei. – O espectro falou num tom estranhamente amigável.

 

- Quem é você? – Lara perguntou tentando se manter calma e dando-se conta que estava rodeada dos mesmos zombies.

 

- Directa ao assunto. – O espectro riu-se. – Creio que foram já visitados pela minha tripulação. No entanto ainda não me apresentei. Sou Calai rei do submundo. Todos os náufragos que aqui morrem ficam a meu cargo. São meus guardiões e só poucos passaram a fronteira.

 

- Já aqui passei e nunca o vi. – Jack disse, levando uma cotovelada de Barbossa.

 

- Digamos que nem sempre estou disposto a aceitar novas almas. De 50 em 50 anos, o meu reino precisa de sangue novo. Sangue de alguém que se sacrifique em prol de outrem. E a última vez que alguém se sacrificou foi exactamente há 50 anos.

 

- Espere aí! Informação a mais. – Lara fez uma pausa. – Não deveria ser o capitão do Holandês Voador a recolher essas almas?

 

- Ele não entra no meu reino. Aqui todos os que morrem são avisados do perigo destas águas. E mesmo assim aventuram-se. Recebem o castigo merecido. – Calai apontou para a sua tripulação de mortos-vivos. – Suponho que o seu ar inteligente a faz capitã deste navio?

 

- Não. Os capitães são o Jack e o Barbossa. – Lara disse e fez um gesto com a cabeça apontando para os dois.

 

- Oh. Não parecem. – Calai coçou a barba e mandou que os soltassem. Jack e Barbossa olhavam-no como se o quisessem cortar aos bocados.

 

- Já nos atacou. Já nos prendeu. Será que poderá dizer o que quer? – Jack disse.

 

- Claro. Uma alma que se sacrifique por outrem! – Calai exclamou. – Já não são os primeiros que apanho.

 

- Você acha mesmo que alguém daqui vai se sacrificar? – Lara perguntou, rindo-se da ingenuidade de Calai.

 

- Não sei. Depende de cada um. Têm duas opções. Ou alguém dá a alma em troca, ou então toda a tripulação morre! – Calai exclamou sorrindo.

 

- Nós somos piratas. Ninguém aqui gosta o suficiente um dos outros para se sacrificar. – Barbossa disse.

 

- Talvez. Mas estarão dispostos a sacrificar a vida de uma criança? – Calai perguntou e tanto Jack como Lara sentiram o sangue gelar, quando viram Mary debatendo-se com um dos mortos-vivos que a segurava.

 

- Largue-a seu rei sem eira nem beira! – Jack ameaçou mas reparou que lhe tinham tirado as armas.

 

- Porquê? Pensei que fosse uma refém vossa. Afinal são piratas! – Calai riu ironicamente.

 

- Mamã! – Mary gritou e conseguiu morder o braço de um dos zombies, correndo para Lara.

 

- Afinal sempre tem uma mãe a bordo. – Calai disse. – Parece que estaria disposta a sacrificar a vida por ela.

 

- Até a minha própria alma! – Lara exclamou.

 

- Deixe-a fora disto. Levará a alma do pai da miúda. – Darius conseguiu retirar a mordaça e fez toda tripulação olhar para si.

 

- Levará? – Jack arregalou os olhos e olhou para Lara. – Mas é claro que levará, estou dispo…

 

- Eu sacrifico-me pela minha filha. – Darius disse, deixando Jack com a boca aberta e Lara prestes a desmaiar.

 

- Não és meu… - Mary ia falar, mas Lara tapou-lhe a boca.

 

- Darius não. – Lara pediu.

 

- Ela precisa da mãe. – Darius disse e Calai mandou-o soltar.

 

- Sendo assim, você virá connosco. – Calai disse.

 

- Não. – Jack disse. Estava sério demais. Lara sabia que este ia fazer algo para evitar aquilo. Nunca engoliria Darius ter dito ser o pai de Mary. Mas não podia deixá-lo arruinar o plano. Preferia ver Darius se sacrificar do que ficar sem o amor da sua vida.

 

- Não… capitão Jack. – Lara disse. – Não temos opção. Darius sabe o que faz.

 

- Por isso mesmo. Se me permite, ó rei das profundezas húmidas. Este casal é bastante complicado. Só dão problemas e até tiveram uma pirralha para me chatear. No entanto, nós precisamos do Darius. Andamos atrás de um tesouro e só ele sabe o caminho para lá.

 

- Sendo assim ficamos com a mãe. – Calai disse.

 

- Tenho outra ideia. Porque é que não ficam com a alma do coitado e conservam a vida dele? – Jack perguntou.

 

- É uma alternativa. Mas ele tornar-se-ia um deles em menos de três dias. – Calai apontou para os seus servos. – Não têm muito cérebro. Não vos iria ser útil.

 

- Mesmo assim eu arrisco. – Jack disse. – Ao menos pode-se despedir da sua… mulher e … filha… em condições. – Jack carregou nas palavras mulher e filha.

 

- Por favor Darius, aceita. – Lara disse.

 

- Sendo assim. – Calai tocou o coração de Darius e este caiu no chão contorcendo-se de dores. Um fio branco saiu do corpo deste e Calai emitiu um sorriso. – Podem ir. Mas terão imensas dificuldades em sair deste reino.

 

Calai desapareceu no ar, emitindo uma gargalhada sinistra e a sua tripulação saltou para o mar negro. Lara correu para Darius que se contorcia de dores, enquanto toda a tripulação se soltava das correntes que se desfaziam como pó.

 

- Estás bem? – Lara ajudou este a levantar-se.

 

- Nada que não passe. – Darius emitiu um esgar de dor.

 

- Não precisavas fazer isso. – Lara disse. – Estou eternamente grata por tudo.

 

- Não podia deixar uma família ser destruída. – Darius sorriu levemente.

 

- Realmente surpreendeu-me. – Jack aproximou-se com um sorriso estranho. – Agradeço imenso ter feito aquilo que eu iria fazer. – Sorriu abertamente mas sem ninguém o prever deu um murro, deitando Darius ao chão. – Mas que seja a última vez que passa por marido da Lara e pai da Mary!

 

Jack saiu furioso e Lara olhou-o irritada. – Desculpe o Jack. Ele está furioso, mas nada que não passe. – Lara ajudou Darius a sentar-se. – Você ficou sem alma e vai se tornar um deles.

 

- Duvido. – Darius sorriu. – Não me posso tornar num deles.

 

- Porquê? – Lara não compreendeu.

 


- Porque a minha alma já se foi há muito tempo. – Darius afirmou.

 

Continua…

 


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Notas finais do capítulo

Mas que grande aflição que a tripulação passou. Darius ficando cada vez mais misterioso...

Obrigada pelas reviews JaneR e CamilaVargas!

Espero que gostem!!! Saudações Piratas!!!

JODIVISE



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