Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 52
Capítulo 51: Destruição


Notas iniciais do capítulo

Jack, Darius e Lara caíram nas mãos de Circe, e a vida de Mary Rose está por um fio. Conseguirá a deusa libertar Sekhmet e com isso provocar a destruição de tudo à sua volta?



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Capítulo 51: Destruição

Pelo chão do templo, os autênticos cacos em que se transformara o Olho de Tigre, ainda reluziam aos olhos tresloucados de Circe, antes que esta se virasse àquele que sim, havia tido a proeza de atirar uma bala certeira na chave que abriria o túmulo de Sekhmet, condenando a deusa leoa, à eternidade de uma prisão, mas à deusa grega de cabelos de fogo, a um castigo que saberia, chegaria bem célere. – Você… - entre dentes, desafinando a própria voz, Circe gritara. – PAGARÁ NOS INFERNOS DE HADES POR ISSO, PIRATA! Ahh!

– Não! Você que pagará, sua cabra. – com as costas da mão, Lara supreendera a ruiva, marcando-lhe a face com um estalo violento, mal se vira livre do feitiço que a prendia. – JACK, A MARY!

O ainda atordoado capitão do Black Pearl, tentara correr para a jaula, mas no segundo seguinte, o corpo de Circe se transformara num tornado de pó que lhe atirara para longe e fizera a jaula de Mary Rose descer vertiginosamente até ao fosso. – Ninguém… sairá daqui vivo. – as palavras da divindade ecoaram, enquanto um barulho imenso, provindo do interior do templo, se fizera ouvido.

Rápido, Barbossa atirara-se à jaula onde a menina em pânico seguia, fazendo-a balançar e encravar na entrada do fosso. – Algum de vocês… poderia… ARGH! – a idade que lhe pressionava os músculos, atestava-lhe que já não estaria tão apto para aquelas andanças, agarrado às grades em ferro, tentando conter aquela caixa pesada de cair ao fosso. – TIRAR A MIÚDA DAÍ?

– Mary, meu amor! – atendendo a tal, Lara agachara-se junto à filha, tocando-lhe as mãos que cerradas às grades jaziam.

– Mãe, me tira daqui… mãe… AAH! – sentindo a jaula voltar a mover-se face à impossibilidade de Barbossa a segurar mais, a menina gritara, sendo jogada ao chão, deslizando para uma das pontas daquele cubículo e mirando em pânico os leões que abaixo de si lhe rosnavam esfomeados.

Lara tentara em vão segurar a jaula a ajudar o mais velho, mas fora apenas a intervenção, divina talvez, de um terceiro elemento que lhes conseguira ajudar naquilo, enquanto Circe se entretinha a sabotar os planos de Jack e Darius de se achegarem. – O que… - parva, Lara vira bem a grande pantera negra que se atirara à jaula, fazendo Barbossa puxar novamente da arma. – Não! Barbossa, olhe! – dono de uma força sobrenatural, aquele animal cerrara a dentição afiada nas grades, puxando-a de encontro à superfície, ainda que metade desta já seguisse enviesada para o fosso, deixando a menina a poucos metros dos animais esfomeados, gritando em pavor.

– O que lhe adianta, Circe? – tentando distraí-la, Darius lhe dissera, fazendo a deusa parar bem na sua frente, enquanto se erguia do chão. – Está desgraçada. Quando as divindades maiores do Olimpo souberem do que tentou fazer… será para sempre castigada, tal como Sekhmet.

– Tsc tsc… meu lindo e vigoroso atlante! – num tom jocoso, Circe exclamara. – Ninguém precisará sabê-lo… e mesmo que eu nunca mais saia desse buraco, pelo menos vocês me farão companhia. – agarrando o atlante pelo pescoço, Circe o prendera contra a parede. – A miúda irritante e a antiga princesa morrerão. O velho pirata, pelo mesmo caminho vai. Não preciso dele. Agora você e Jack Sparrow… - mirando o pirata ao chão, a deusa sorrira. – Me serão muito úteis!

Darius tentara largar-se dela, mas quando a ruiva se afastara, foram outras duas mãos que lhe agarraram os braços, prensando-o contra a parede. Desta, vários braços putrefactos, de cor escura e envoltos em faixas sujas, saíam, rompendo a pedra, perante o terror dos outros piratas. – Mary, afasta-te! – dando espaço para que Hector Barbossa dispara-se contra a fechadura da jaula, Lara abrira-a depois, esticando o braço para alcançar o de sua filha. – Vem, minha linda… minha… Oh! – quando os seus dedos alcançaram os de sua amada cria, Lara a puxara para si, recebendo em seu corpo, o pequeno e assustado de Mary Rose, ao mesmo tempo em que a fera desconhecida que os ajudara, largava a jaula, fazendo-a cair no fosso e esmagando um dos leões que não fugira a tempo. – Mamãe 'tá aqui, mais ninguém te fará mal.

Chorando em seu abraço, Mary soluçara. – Mãe… a Ba… - apontando ao grande felino de pelagem escura que se afastara para junto das escadas, a menina dissera. – A Ba quer que a sigamos.

– Quem é Ba? – Lara questionara, colocando-se de pé e logo alcançando a sua própria arma.

– Isso é lá com o Jack… e a tal Ranya. – Barbossa falara, antes de apontar a pistola a Calipso, notando as paredes que aos poucos eram perfuradas por corpos de múmias que haviam voltado a uma espécie de vida miserável de gemidos e passos em frente, graças à deusa grega. – Acabou o espectáculo, oh deusa! Manda os teus insetos novamente para dentro dos caixões, ou eu juro que…

– Jura o quê, velho caquético? – vendo-se alvo das armas de Barbossa e Lara, Circe sorrira a notar a menina ao colo da pirata. – A herdeira Sparrow conseguiu sair da jaula… 'tadinha. 'Tão pequena e já vai assistir à morte dos seus progenitores… - num único gesto, ela fizera o aglomerado de múmias concentrar-se à volta dos três, obrigando Barbossa e Lara a gastarem as balas nestes, sem sucesso. - Sabem qual é a pior morte? Aquela que é provocada por um morto vivo… sobretudo estes. Sabem… a alma de um egípcio é sugada de um corpo seco. Eles são ávidos para conseguirem terem uma novamente!

– Pois eu digo e falo… - apanhando a deusa de surpresa, Jack lhe saltara às costas, derrubando-a ao chão e logo apertando-lhe o pescoço. – A única coisa que eles vão sugar… são as suas teias de aranha! – e ficara hirto, mirando os cantos. – Frase estranha… mas desculpa lá, senhorita. Não bato em mulher mas estou com muita vontade de vê-la morta!

Em meio a urros, com Jack Sparrow em cima de si, apertando-lhe o pescoço, Circe levara uma mão ao peito deste, antes de semicerrar os olhos. – Adivinhe… argh… Sparrow… deuses… não morrem! – e num único gesto que culminara com uma gargalhada sua, Circe tirara Jack de cima de si, empurrando-o com violência e fazendo-o deslizar pelo chão até ao fosso.

– NÃO, JACK! – desespero fora aquilo que tomara Lara Stevens, agora tão somente Lara Sparrow, vendo o pirata desaparecer quando ao fosso caíra, ouvindo o rugido dos felinos, ignorando aqueles que de braços estendidos gemiam a chegar até si. – SUA… SUA…

– Sua, o quê? – sorrindo, Circe caminhara até ao fosso, vendo aquele que seguia pendurado, apenas seguro por uma mão à beirada daquele buraco. – Me diga, princesa. Como é saber que pela segunda vez, vai ficar sem o amor da sua vida? Qual a… - as palavras da deusa foram quebradas quando um som de lâmina a perfurar carne se fizera ouvir, levando-a a estreitar os olhos. - … a sensação de… hum… - e logo depois, os orbes claros de Circe desceram até ao próprio estômago, mirando o gume do punhal em ouro, onde filetes de seu próprio sangue escorriam.

– Isso… - bem perto do ouvido desta, enlaçando-lhe o pescoço, Darius falara, enterrando mais o punhal, rodando-o nas entranhas da deusa. – É pouco por todo o mal que fez, Circe. Mas será o suficiente para que nunca mais saias dos confins dos infernos de Hades.

Com rapidez, o atlante tirara o punhal, fazendo a divindade virar-se a si lentamente, cobrindo com as mãos, a ferida que agora vertia sangue abundantemente, manchando-lhe de rubro as vestes claras. – Você… não me pode… matar… - e num último sorriso, Circe exasperara. – Sem que você morra também, Darius Alexander Étel… - e mirando o teto daquele tempo, ela gritara.

Gritara alto o bastante para que todos levassem as mãos nos ouvidos, menos Darius. Gritara alto o bastante para que as paredes do templo oculto se rachassem, abrindo fissuras e libertando o pó de um desmoronamento anunciado. Para o atlante, não havia nada mais que pudesse ver ali. Nem o Sparrow pendurado, numa morte iminente às patas e dentadas de grandes felinos, nem Barbossa, Lara e Mary Rose, que se viam manietados pelas múmias descontroladas que os cercavam. Os olhos azuis de Darius, apenas encaravam aquela cujo corpo começava a irradiar uma luz alaranjada, a partir do ponto em que a ferira, abrindo fissuras por todo o tronco, braços e rosto, consumido por aquela luz de fogo. – Não interessa… - com o sobrolho erguido, o belo homem balbuciara. – Não interessa que morra, se for a única maneira de vingar meu povo. Vingar tudo o que me fez e a Mayara. – rouco, ele gritara para a deusa em sofrimento, que levava as mãos ao rosto ardente, sentindo-se derreter na própria pele. – Não interessa se for a única forma do meu filho viver num mundo livre da sua influência, Circe!

Sacando da espada, Barbossa cortara cabeças e membros das múmias que lhe sufocavam, puxando-lhe roupas e chapéu, dando espaço para que Lara conseguisse escapar. – SEUS SIFILITICOS DE MERDA! Venham a mim. VENHAM! Que eu vos mando de volta para o médico que vos enfaixou!

Saindo daquela multidão, Mary fora a primeira a desenvencilhar-se, puxando a mãe por um braço. Ambas foram diretas ao fosso, agachando-se e percebendo o pirata mais procurado dos sete mares, ainda pendurado. – Jack. Me dá a mão, por favor.

– Mary, minha pirata favorita! – sorrindo, ainda que aflito, Jack vira a filha. – Vai embora com ela, Lara. Tira-a daqui.

– Não sem você. Me dá a mão, Jack! – Lara insistira.

– Primeiro… me diz algo. – mirando-a debaixo, os orbes negros e delineados a eyeliner do pirata, focaram os castanhos de Lara, de forma profunda. – Alguma vez você pensou em… em desistir de tudo isso? Em desistir de ser pirata, em desistir de mim, em… - vendo-a abanar a cabeça tentando resgatá-lo, Jack alteara a voz. – Responde Lara!

De Jack para Mary Rose e de novo para Jack, Lara respirara fundo, estreitando os olhos para o marido. – Uma vez pirata, para sempre pirata. Eu não sou aquela princesa, Jack. Eu sou Lara Stevens, uma garota do futuro que se tornou mulher no passado. Com você e com nossa menina.

Fora a resposta que Sparrow esperara todo aquele tempo, desde que as primeiras dúvidas se plantaram em si. Não, não se deixaria morrer caso a resposta fosse diferente. Apenas precisava de saber se ela ainda continuaria a ser feliz ao seu lado. Impulsionando-se, Jack alcançara-lhe a mão, mas antes, sentira um puxão brusco que não viera de cima, mas sim debaixo, percebendo os dentes de um dos tigres se cravarem no solado de suas botas. – AH! O TARECO QUER-ME COMER!

Lara sentira a força descomunal daquele felino puxar o corpo de Jack para baixo, tentando com todas as suas forças, puxar o pirata para cima. – BARBOSSA! DARIUS! AJUDEM… - num berro ela chamara os homens, mas fora a sua pequena filha que se agarrara ao cinto de suas calças, tentando inocentemente ajudá-la. Quando achara que perderia aquela batalha, Lara sentira também, algo puxá-la, com mais força, dando com os olhos felinos e alaranjados da grande pantera, puxando-lhe o mesmo cinto. Aos poucos, o corpo de seu amado conseguira chegar mais à borda do fosso, fazendo Jack cravar os dedos na pedra.

– O gato… o gato… quer a minha bota! – a força da pantera o conseguira puxar para cima, mas nem por isso o tigre o largara, com as patas dianteiras cravadas à parede do fosso, tentando subir consigo. Largando Lara, a pantera se debruçara ao buraco, perante o ar de terror de Jack, antes de num rugido profundo afungentar os leões, acertando com uma pata ao focinho do tigre que se recolhera entre rugidos baixos e ameaçadores. – Vim parar num ninho de gatos lambões cheios de dentes!

– Jack… Oh Jack! – puxando-o para si, Lara o abraçara, sentindo o rosto segurando por este e logo sendo beijada.

– Pai! – agarrando-se ao progenitor, a pequena pirata o fizera fechar os olhos, beijando-lhe o topo da cabeça, por entre os fios tão iguais aos de Lara. – É a deusa Ba! Ela quer que a sigamos. Ela é um gato muito grande! Comeu um boi!

Seria até motivo para sorrirem, mas o casal de piratas preocupara-se mais com a forma como do teto a poeira caíra e em como as paredes rugiam. Barbossa logo se juntara a estes, mas não conseguira dar vazão a todas as múmias que apareciam, parecendo provindas do próprio inferno para acabar com eles. – Podiam parar com essas cenas familiares de três à coroa e mexer o rabo para sair daqui?

Enquanto ardia na morte lenta que o atlante lhe havia provocado, Circe continuava a gritar, contorcendo-se de desespero e dor a ter cada pequena parte de si desfazendo-se tal e qual o rachar duma estátua ressequida em cujas fraturas brotava um fogo que lhe consumia. – Você... Não ficará... Impune... POR ISSO! – bravia, ela vira Darius afastar-se de si, pronto para juntar-se aos demais, fazendo-o tropeçar a agarrar-lhe o tornozelo com ambas as mãos ardentes. – Não vai a canto algum, Étel!

– Não...! – tamanha força imposta por ela levara o homem milenar de belas feições ao chão, queimando-lhe a pele da perna e fazendo-o gemer de dor na rouquidão da própria voz. – A... Ahn...! – como se rastejasse sobre o corpo de Darius, Circe o arrastara em sua direção, acabando por lhe fechar uma das mãos ao pescoço, baixando o rosto em brasas, que queimava o dele igualmente, até uma de suas orelhas a soar rastejante.

– Você... Vem comigo, para a eternidade! – ela sorrira rasgado à sua percepção, arranjando forças por puxá-lo consigo, num salto sobrehumano, em direto para o fosso.

Sparrow, Lara e Barbossa assistiram a tudo sem muito poderem fazer. As paredes e o restante do teto do templo ruíram, deixando uma nuvem espessa de poeira e ruídos rastejantes ecoaram por todo o ambiente. Lara, de pronto, pusera a filha bem aconchegada ccontra o próprio peito, carregando-a num braço. Jack apontara a espada para aquele nevoeiro provocado e Barbossa mantinha-se bem atento a qualquer outro evento que se fizesse ali. – Ela pegou o Dai! – Mary chorara, mergulhada ao peito de sua mãe.

–... Deixemos o homem... Ele e a enferrujada se entendem muito bem!

– NÃO, JACK! – sua esposa bradara, censurando-o, mas antes que algo a mais fosse dito por si, a poeira baixara e, junto com esta a nitidez do que fora parar ao chão viera. Haviam figuras muito desgraçadas a poucos metros deles. Primeiramente, pareciam-lhes múmias tais como aquelas que Barbossa havia levado ao pó, estendidas sem vida ao chão. Depois, a primeira delas ensaiara se mover, emitindo um som gutural agonizante para todos aqueles ali presentes. –... Elas estão... Vivas...

– Eu não tenho medo de quem está vivo e anda com ambos os pés, porque teria de lençóis velhos e gementes? – o mais velho presente dera um passo à frente, pronto para o que quer que viesse.

As criaturas diferenciam-se das anteriores por não possuírem corpos enrolados numa mumificação digna da sua época, eram mortos-vivos, e não somente. Não andavam de facto, apenas se arrastavam, e alguns ousavam até assustar aos vivos próximos, mas para Hector Barbossa não havia nada materializado que não pudesse ser atravessado por sua espada. – Se formos ficar aqui e matar todos eles... ARGH! – Sparrow sentara um dos pés à cara dum dos zumbis, escancarando-lhe e desfazendo-lhe as mandibulas. –... Já não haverá saída quando decidirmos ver a luz do dia! –mencionando a saída que era, gradualmente, fechada por escombros, o pirata mais moço gritara. – AH, EU NÃO TENHO JEITO PARA MARIDO DE CLEÓPATRA!

Amedrontadas com o que viam, Lara e Mary só podiam recuar cada vez mais para próximo do fosso. Fora então que a progenitora da pequena que chorava em seus braços, pela perda do amigo atlante e pela situação em que via seu pai combater, mirara o sumidouro por onde vira Étel ser puxado, poupando a filha de qualquer visão dantesca, não vendo nada além de um ponto luminoso lá embaixo. Os leões não rugiam, Darius não gritava. Havia algo de errado ali. – HÁ ALGUÉM AÍ? – a morena gritara a fim de obter resposta. – DARIUS, PRECISAMOS DE VOCÊ! – ela chorara. – DARIUS?! POR MAYARA... Resista!

Lara ficara com o coração na mão, mas decidira encarar os olhos doces de sua filha mais uma vez. – Mamã, eu fico bem... – e mencionara os mortos-vivos que Jack e Barbossa eliminavam. –... Vai salvar o Dai. Salva o Dai, Mamã!

Beijando a criança uma última vez, a Sra. Sparrow se voltara ao fosso, planejando descê-lo com cuidado pelas correntes ainda atadas à gaiola que despencara mais abaixo. A pirata desembainhara a pistola que tinha ao cós do cinturão, cuidadosamente descendo pelas argolas de ferro conectadas uma a uma. A meio daquele caminho frio e silencioso, porem, a jovem estreitara os olhos para a escuridão, acostumando-se com esta a reconhecer, sobre as grades destroçadas da gaiola, o corpo do homem pelo qual chamara. Ela sustivera a respiração, rindo-se mesmo sem querer. – EU O ENCONTREI!

Lara retornara à superfície muito rapidamente, dando com Jack à beirada, preocupado e ansioso por se ver fora dali. – Aonde você foi, mulher?Eu achei que... Eu achei...

– EU ACHEI O DARIUS! – ela falara mais uma vez. – Temos de puxar a gaiola, Jack. Não me olha assim. Pense naquele bebé... Aquele bebé precisa de um pai!

O capitão não mais hesitara, mirando da pequena Mary para o angustiado Barbossa a limpar o caminho para eles. Pensara em si próprio, imaginara-se no lugar daquele homem que esperava por sua ajuda. Se fosse Darius Étel, gostaria de ser salvo, gostaria de ver e contemplar o rostinho de sua cria ao menos uma última vez, guardá-la na lembrança, como ao menos a última coisa que vira, e não a figura em chamas duma deusa tresloucada. – VAMOS LOGO COM ISSO! – ele exclamara a abanar a cabeça, firmando as mãos de dedos compridos e tatuados, anelados com cachucos, puxando as correntes presas por uma roldana rudimentar à parte destroçada do teto. – Como quem rouba rum! Como quem...

– Como quem salva uma vida, meu homem! Tu sabes o que é isso. És um herói, Jack Sparow! – aquela que lhe ajudava a puxar as correntes sorrira-lhe, sendo corrigida logo em seguida:

– Capitão Jack Sparrow, minha princesa americana do século XXI. É Capitão... Jack Sparrow!

Os destroços da gaiola vieram para a luz, mas quanto mais força a dupla fazia, mais do teto ruía. Lara deixara Sparrow por breves segundos a fim de correr ao parapeito do sumidouro, puxando o corpo desacordado de Darius que ali jazia. Cuidadosa, ainda que muita força não tivesse, ela o arrastara para longe dali, levando-o ao solo, temerosa de lhe ter deslocado qualquer osso com a indelicadeza esforçada. – DARIUS?! – a chamar o atlante, Lara desesperava-se, notando as feridas profundas que havia aos braços e costas daquele homem, mirando deste para Jack tão próximo que havia acabado de largar a jaula, deixando-a novamente despencar fosso abaixo. – Ele não responde, não...

– Não pode ter morrido... Não depois de eu ter suado e estourado as mãos! – tentado acordar o de cabelos claros com o bico duma das botas que calçava, Sparrow investira numa careta, analisando o outro de cima. – Credo em cruz, está desmaiado ou morreu de vez?

Ao de longe, a voz de Hector Barbossa lhes chegara, fazendo Lara mirar sobre um dos ombros e ver o idoso com Mary num dos braços, cuidando de sua filha e impedindo-a de ver o estrangeiro morto. – VOCÊS VÃO FICAR AÍ? SEUS TOLOS, O HOMEM MORREU! – o espanhol ralhara, rodeado pelos corpos putrefatos agonizantes, em sua maioria sem os membros principais à locomoção, incapazes de atacar quem quer que fosse. – ANDEM COM ISSO!

– Ele está vivo, Jack! Está vivo! – Lara comemorara a notar os sinais vitais de Darius. – Entre a vida e a morte, mas ainda vivo!

O casal erguera o atlante do chão, o homem que provocara discordia em seu relacionamento e que, por vezes, roubara o protagonismo ao capitão do Pearl, magoando-lhe o ego. Estavam juntos naquilo, salvando uma vida, escapando da morte a trazer com eles um dos feridos daquela batalha. Barbossa ia à frente, livrando a eles e à pequena Mary de qualquer mal. Jack e Lara, mais atrás, lutavam, cada um com um dos braços esfolados de Darius sobre os ombros, esforçando-se por manter o tipo milenar e insubstituível bem vivo.

Subindo as escadas, quando já pensavam adentrar pelo corredor por onde haviam vindo, uma grande parte do teto despencara, depositando grandes pedras a tapar a única saída que tinham. – POR AQUI! – Mary apontara ao grande felino de pelagem negra que lhes aparecera, guiando-os por um outro caminho, numa das laterais daquela grande câmara.

Um último olhar, Jack dera ao templo, percebendo a grande cabeça da deusa leoa se rachar, caindo inteira ao chão e para sempre subterrando qualquer tesouro que por ali houvesse. – Era uma vez… - num muxoxo, ele ainda intentara dizer, mas tempo algum tivera, completando a frase quando ao corredor alternativo já iam, sempre no encalço da pantera. - … o dia em que quase consegui o maior tesouro de todos os tempos.

Sentiam as vibrações e os ruídos de desespero que a própria terra dava, colapsando aquele edifício subterrâneo, sepultando para sempre qualquer vestígio de Circe ou dos seus servos mortos-vivos. Nenhum dos quatro olhara para trás, muito menos Darius que arrastado com dificuldade era por Jack e Lara. – Deixe isso pros homens, Lara! – quando deram conta, estavam novamente numa encruzilhada de caminhos, aproveitando Barbossa para tomar um dos braços do atlante desacordado e deixando Lara pegar em Mary ao colo.

– Pela esquerda. – seguindo o dedo apontado da filha, Lara vira a grande pantera parada no túnel por onde uma luz insidia. Não quisera ver os hieróglifos às paredes, não quisera sequer questionar quais as intenções daquela outra deusa de forma animal. Estavam no caminho certo, em seus braços, o corpo morno de sua filha dava-lhe a total certeza que não lhes faltava nada e atrás de si, seguiam o amor de sua vida, o capitão tão razinza mas que sempre voltava atrás e o homem que pusera a vida de todos de pernas para o ar, mas que nem por isso merecia ser abandonado à própria sorte. Afinal, Darius os salvara a todos.

– Como ele sabia que aquele golpe de punhal a mataria? – numa última corrida, Jack perguntara, alcançando o calor do deserto egípcio, só parando quando, esbaforido, puseram-se fora do alcance do desmoronamento daquele templo oculto. A saída bloqueara-se totalmente, sendo lentamente engolida pelas areias do deserto, assim como uma parte do próprio templo de Ptah. Estavam do outro lado por onde antes haviam entrado.

– Não creio que fosse o golpe, mas sim o próprio punhal, Jack. – Barbossa acrescentara, pousando o corpo do atlante ao chão.

– Mamãe… onde está o tio Will? A tia 'Licia? – inocente, Mary perguntara, enquanto a progenitora trocava um olhar com Jack, tão angustiada como si.

No entanto, a responder às preces de todos, um grito feminino viera da parte exterior do templo, fazendo-os voltarem-se aos três piratas que se aproximavam. – MEU… MEU OSSO! – num berro de dor, Elizabeth Swann fechara os olhos, sendo transportada em ombros por Will Turner e James Norrington. Estavam vivos, aparentemente inteiros, ainda que a perna direita da jovem mulher de cabelos loiros, ostentasse uma fratura exposta.

– Quanto mais rezo para os emplastros desaparecerem… mais eles aparecem… - Jack deitara a língua de fora, recebendo finalmente Mary nos braços como devia ser. – Pensei que tinham virado comida de cobra.

– A sua extrema simpatia me comove imenso, Sr. Sparrow. – num tom cansado, Norrington o censurara. – Mas tenho de agradecer… uma vez mais, a você William Turner. Devo-lhe a vida.

– Não creio que tivesse sido o motivo porque Circe desistiu de vos matar. – ajudando Elizabeth a sentar-se numa coluna caída, o capitão do Holandês Voador explicara. – Algo dentro do templo a chamou. – e logo recebera um abraço da menina que tinha como uma sobrinha, agachando-se a beijá-la. – Que bom que conseguiram resgatar a Mary. Circe morreu?

– Torradinha. – Jack explicara, tirando uma das botas e pondo-se a analisar os furos que os dentes do tigre haviam feito. – Depois de nos fazer a vida negra… o grego aí resolveu a situação. Pena que não vá durar muito…

– Jack… - a censura-lo de novo, Lara agachara-se junto de Darius, medindo-lhe a pulsação e afastando os cabelos molhados do rosto que um dia, sua vida passada amara. – Darius, está-me ouvindo? Derrotou Circe. Ela está morta. E Mary Rose sã e salva. Todos nós… estamos vivos. Por favor, acorde.

Durante alguns segundos, ela não obtivera nenhuma resposta de Darius, percebendo-o depois, quando Will lhe passara um cantil com água e lhe despejara um pouco ao rosto, o atlante engolir saliva e entreabrir as pálpebras. Seus olhos tão azuis rolaram pelo ambiente, cegando-se com o sol, mas logo focando a expressão de Lara. – Princesa… hum… enfim… salva…

– Ih… 'tá achando que voltou à Atlântida. – Jack deitara a língua de fora.

– Vamos levá-lo para Alexandria, Darius. Para o Pearl e…

– Não… - procurando a mão da pirata, Darius soara rouco, sentindo dores por todo o corpo. – Eu não posso… ah… não posso voltar… não… conseguirei voltar.

Agachando-se até este, Will mirara-lhe as feridas de queimaduras, trocando um olhar preocupado com Lara. – Podemos curá-lo, Darius.

– Não. – num sorriso, o atlante abanara a cabeça. – A minha jornada… a jornada que vocês ajudaram a completar, acaba aqui. Era o jeito… o único jeito de derrotar Circe. – tremendo-se de dores, Étel gemera, fazendo os olhos de Lara encherem-se de lágrimas. – Meu corpo… e minha alma, eram reféns dela. Mas hoje… não mais. Hoje… meu corpo morrerá com ela mas minha alma se libertará.

– Não diga isso… - Lara tentara calá-lo, agarrando na mão ferida que lhe subira ao rosto, mas ele queria falar.

– Princesa Mayara foi o meu primeiro e único amor durante muitos e muitos anos… em todos eles… eu quis reencontrá-la, mas quando eu a vi… quando percebi que era a sua nova vida, eu entendi que… - Darius abrira os olhos inflamados. – Não era só ela que eu havia amado…

– Olga McLean. – a pirata sorrira. – Ela espera por si em Alexandria. Com o vosso filho. Darius, essa era a maior bênção que lhe podiam ter dado. Deus, ou os deuses em que acredita, perdoaram qualquer erro que tivesse cometido. E é por eles que precisa lutar, é por eles que precisa sobreviver!

Indicador e médio do atlante tocaram o canto dos lábios de Lara, sorrindo-lhe uma última vez. – Quero que Olga me lembre como eu era. Como eu fui quando nos conhecemos. Quando nos amamos. Não… eu peço-vos… - e seu olhar cansado mirara cada um dos presentes. – Não me levem para lá. Não a façam sofrer… mais do que ela já sofreu.

Um outro gemido de dor ele dera, calando-se em seguida a perder os sentidos. – Darius! DARIUS, você não vai morrer! – gritando-lhe ao rosto, Lara levara depois as mãos aos cabelos, procurando por Sparrow. – Jack…

– Love… - meio comovido com o discurso alheio, Jack respirara fundo. – Infelizmente… quem fica para trás fica… e não será só ele que deu a vida aqui hoje.

– Onde está o Teague? – desconfiado, Will perguntara, a erguer o sobrolho.

– Teague? – Barbossa repetira. – Por alma de que ranhoso, esse homem faz aqui? Não há maneira de ele morrer, essa ratazana!

– Ele já morreu, Hector. – Jack falara de forma vaga, afastando-se depois. – Ele já morreu…

Continua…


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Notas finais do capítulo

Olá leitores e leitoras! Depois de outro atraso monumental, eis que consegui desencalhar de novo a Olhos Felinos. Talvez o Verão me faça melhor, ou pelo menos estar à beira mar me dê a inspiração necessária ;) Este é o PENÚLTIMO capítulo da Olhos Felinos e sem falta, irei postar o último ainda este mês.

Quero agradecer a todos que leram e a todos que comentaram e favoritaram a Olhos Felinos. Sem vocês, não teria tanto prazer e força em concluí-la. Quero agradecer o apoio incondicional que a Olg'Austen me tem dado. Obrigada amiga, por sempre leres e acompanhares a Olhos Felinos. Por comentares e por aconselhares. Sabes bem do quanto estou grata :) E sabes como sempre, que o capítulo é dedicado a ti!

Espero que gostem!

Saudações Piratas! :D
JODIVISE



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