Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 43
Capítulo 42 Um bando de leoas


Notas iniciais do capítulo

Lara percebe que Darius conhece a tal mulher que lhes atrasou mais uma vez a vida. Que mais segredos esconde o último atlante à face da terra? Mas mais do que um novo segredo de Darius, o que esconde o Olho-de-tigre, vai fazer Lara perceber que entrou no maior pesadelo da sua vida.



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Capítulo 42: Um bando de leoas

- Tudo... bem. – Lara deixou-se cair no caixote em madeira. – O que mais você esconde? É um serial killer? Um deus disfarçado? Um elfo? – Lara só conseguia rir.

- Não era você que dizia que eu devia tentar ser feliz? – Darius perguntou sem olhar Lara.

- Sim e... acredite, você merece! Mas... – Lara levou uma mão ao peito. – Sua amada não ficou muito contente.

- Mayara? – Darius levantou uma sobrancelha e encostou-se à parede, levando a mão à cara.

- No que é que essa lady mal encarada lhe salvou a vida? – Lara olhou o atlante.

- Quando eu fugi da Circe eu vim ter à Europa. – Darius começou. – Deambulei durante mais de cinco anos por vários países. Voltei à minha amada Grécia. E nada era como dantes.

- Eu percebo. – Lara sorriu.

- Então eu voltei a Londres. Estabeleci-me lá e esperei.

- Esperou?

- Pelo momento certo de partir e acabar o que devia. Matar Circe. – Darius olhou para Lara. – Mas eu precisava de dinheiro. Dinheiro para pagar a viagem ao novo mundo.

- Porque não se alistou numa tripulação?

- Porque os ingleses são desconfiados. Eles não queriam um estrangeiro no meio. – Darius suspirou. – Então eu comecei a trabalhar no porto de Londres, como carregador. Ganhava pouco mas dava para sobreviver. Devo muito ao Jeremy. O único amigo que fiz durante esse tempo. Ele pertencera à tripulação do Roggeven.

- Mas você estava em Tortuga, Darius. Em algum momento conseguiu juntar o suficiente.

- Sim. Ao princípio era apenas uma ajuda. Um cocheiro queria auxílio para levar as malas de uma lady qualquer. – Darius sorriu ao lembrar do passado.

"- Aqui estão. – Darius disse depois de colocá-las no chão enlameado. – Onde é o albergue?

- Aquele prédio em tijolo. – o cocheiro apontou. – Já pode sair Lady McLean.

O cocheiro abriu a porta e Darius viu sair um sapato cor bege com um grande laço castanho claro. Depois uma mão alva e delicada apoiou-se na mão do cocheiro. O grande vestido verde-escuro saiu para tropeçar no degrau do coche. As ruas de Londres eram um viveiro de coisas desagradáveis e valeu à madame os bons reflexos de Darius." ***

- Espere aí, essa tal lady era a... – Lara juntou os pontos.

- Sim. Lady Olga McLean. – Darius disse. – Ao princípio ela me pareceu extremamente mal educada para uma dama. Mas depois percebi que era apenas um mecanismo de defesa.

- E você... – Lara engoliu em seco. A pergunta queimava em si. – Apaixonou-se à primeira vista?

- Não. Isso só aconteceu com a Mayara. – Darius explicou. – Mas era apenas um episódio esporádico. No entanto o destino conspirava e juntou as nossas necessidades. Eu precisava de dinheiro, a lady de alguém para cuidar da mansão dos seus pais algures na Escócia.

"- Darius, acho que a oportunidade que esperavas chegou. A Lady tem uma proposta para ti.

- Ai é? – Darius ficou surpreso mas sorriu. – E que proposta seria essa, Lady McLean?" ***

- E você foi trabalhar para o meio do nada? – Lara arregalou os olhos.

- Escócia é lindíssima, Lara.

- Eu não quis dizer isso, mas... em Londres você teria muito mais chances.

- Talvez. Na verdade, até hoje eu não sei porque aceitei aquela oferta. Olga pareceu ficar tão alegre quanto eu.

- Parece que aonde quer que chegue, essa lady faz sempre um espalhafato. – Lara revirou os olhos.

- Tente compreender uma coisa, Lara. Eu nunca quis trair a Mayara. Longe de mim. Eu a amava. Ainda hoje a amo. – Darius disse em tom de súplica.

- Darius... não é a mim que deve dizer isso. Além do mais, eu compreendo você. Mais de 3000 anos preso, imortal, jovem para sempre. Já foi um milagre ter resistido a Circe.

- Mas o que conta é que fui eu que causei um desgosto em Lady McLean. – Darius disse. – E se ela me vir...

- Ela gostava de si, tanto quanto você gostava?

Darius não respondeu. Antes, as suas lembranças do que acontecera há mais de três anos, vieram ao de cima.

"- Sabe que nunca poderemos ficar juntos. – Darius disse com tristeza na voz.

- Então me diga o que faço com o que eu sinto por você? – Olga perguntou ficando a centímetros de Darius. – A não ser que você não sinta o mesmo.

- Sinto. My lady sabe muito bem disso. – Darius deslizou a mão pelo pescoço desta, mas controlou-se. – Se não o sentisse… eu nunca… tinha deixado chegar a este ponto.

- Ao ponto de eu estar perdidamente apaixonada por ti,Darius? – Olga disse, fechando os olhos e esperando pelo inevitável. – Nunca mais me chame de my lady. Só de Olga, por favor." ***

- Estava. E isso foi o pior. – Darius abanou a cabeça. – Ela era rica. De uma família conservadora. Com um noivado no horizonte. E eu quase arruinei tudo.

- Quase?

- Eu não sei o que se passou com ela depois de me ir embora. – Darius fechou os olhos. – A não ser que lhe provoquei uma dor enorme.

"Olhou novamente para a Olga que dormitava serenamente. Como o amor podia ser traiçoeiro. Inevitavelmente lembrou-se de como se sentira quando deixara Mayara para trás. Tinha tido um pressentimento ruim, mas sabia que voltaria. Agora tudo era diferente. Darius não voltaria. E sabia que Olga sofreria o bastante para nunca o perdoar." ***

- Ela não parece muito afectada. – Lara deu de ombros. – Pelo menos a mim, pareceu-me. Mas... você já experimentou um amor impossível. E este provou o contrário. Mayara era uma princesa e você um simples soldado.

- Só não havia um único pormenor. – Darius olhou Lara. – Eu não era imortal. Eu não seria jovem para sempre vendo os outros envelhecer e morrer. Eu não aguentaria que isso acontecesse com a Olga. Além disso a família dela não pensaria duas vezes em colocá-la na rua. Graças ao Peter Collins.

- Quem era esse?

- O quase noivo dela. Ela não quis casar com ele por minha causa. Mas depois de tudo...

- Eu acho que ela casou. Quer dizer... ela está com uma criança. Filho dela.

- Sério? – a voz de Darius decaiu uma oitava.

- Porque é que ela o salvou, Darius?

- Porque ela foi a única coisa que me fez sentir vivo e com esperança, depois de tudo. – Darius, cerrou os olhos, levando as mãos ao cabelo. – Por favor, Lara. Não lhe conte que eu aqui estou.

- Eu não vou contar se não quiser, mas... vai ser um pouco difícil esconder-se. –Lara colocou novamente a mão no ombro do atlante.

- Eu cá me desenrasco. – Darius sorriu. – Só não quero que ela sofra novamente.

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Depois da conversa, Lara retornou ao tombadilho, deixando Darius sozinho no porão. Era bom mesmo que a tal lady não o visse. Evitaria que esta esperneasse e fizesse um escândalo. Mas não era só esse pormenor que preocupava Lara. Dentro de si, um turbilhão de emoções lhe fazia uma tremenda dor de cabeça.

"Estaria com ciúmes de Darius?" Não, claro que não. É certo que a história por detrás da sua vida passada a fazia estar atraída por Darius, mas depois do desaparecimento de Jack e Mary, isso quase não existia. Agora, esse mal-estar voltava. A sua alma parecia ter-se partido em dois. Uma parte, ficava feliz por Darius ter encontrado alguém depois de tanto sofrimento. Outra, se revoltava contra tal facto. Onde estava o amor que este tanto dizia sentir por Mayara?

- Lara! – Alicia a interrompera dos seus pensamentos. – Eu preciso de falar contigo. Aliás, melhor fazer uma reunião extraordinária.

- Hã? Ah… amanhã vê-se isso. Por hoje já passamos mil e uma confusões. Preciso descansar e…

- É sério! – Alicia juntou as mãos desesperadas. – Eu ia dizer-te mal cheguei ao Pearl, mas depois de toda aquela confusão… é sobre o que esconde o Olho-de-tigre.

Lara ficou surpreendida. – Muito bem, se é assim tão urgente… - esta subiu ao timão. – Capitão Teague, vá ter comigo à cabine. Cotton, mantém a rota estável e sobretudo, estejam atentos a navios no horizonte.

- Vigilância, vigilância! – o grito estridente do papagaio de Cotton ecoou, fazendo o pobre marujo agarrar no bico da ave.

- Mas então o que foi que descobriste? – Lara perguntou, voltando ao interior do navio.

- Espera que os outros cheguem. – Alicia aconselhou.

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Algum tempo depois…

- Quer dizer… - Will engoliu em seco. – Que tu descobriste quem era esse deus, que a Lara acha estar relacionado com o Olho-de-tigre?

- Sim. – Alicia sorriu. – Confesso que nunca fui muito ligada a mitologias e essas coisas. Mas quando se olha para o mapa… - esta apontou para a figura da leoa mesmo na localização de Mênfis. - … percebemos que o Olho-de-tigre esconde mais do que se pensa.

- Exacto… algum deus ou deusa egípcio pode estar relacionado com ele. – Lara acrescentou. – Os deuses egípcios assumem muitas vezes a forma de animais. E eu lembro de haver um relacionado com um felino.

- Exactamente! – Alicia sorriu tão abertamente que os presentes ficaram ainda mais confusos. – Quando eu ia a passar numa das ruas de Sevilha, uma cigana quis ler-me a mão. Ela adivinhou que eu estava grávida…

- Com o perdão da palavra, mas… já se nota que está de esperanças, senhora Alicia. – Norrington revirou os olhos.

- Está a chamar-me gorda? – Alicia bufou. – Muito bem, passando. A cigana falou-me do meu signo do zodíaco e foi aí que eu tive a luz que me iluminou. Eu adorava essas coisas da astrologia e segundo o horóscopo egípcio, a deusa que me influencia é a deusa leoa! Ela chamava-se Seca qualquer coisa…

- Sekhmet. – Lara balbuciou e ficou branca como a cal.

- Sente-se bem? – Teague perguntou.

- Não. – Lara levou as mãos à cara e desatou num choro.

- Oh céus é assim tão má? – Elizabeth arregalou os olhos.

- Bem, eu não percebo de deuses, mas essa palavra é bem conhecida. – Teague explicou. – Quando os mafiosos juram por alguém, vão sempre buscar as personagens mais malvadas da história. E na questão de deuses, temos uma panóplia deles. Uma vez conheci um homem, com origens no Norte de África. Um mercenário… ele sempre dizia… por Sekhmet… e nunca vinha boa coisa.

- Então temos uma deusa que pode ser Satanás encarnado? – Norrington revirou os olhos. – Tenho pena do senhor Sparrow e do senhor Barbossa, mas mais pena ainda porque com eles… Ai!

- Aprenda a ficar calado, ratazana de peruca! – Alicia mandou-lhe um safanão na cabeça.

- Não seria questão de perguntar ao Darius? – Will coçou a cabeça. – Afinal ele é mais bem entendido que nós. E já que a Calypso anda demasiado ocupada…

- O Darius, ele… - Lara limpou a cara depois do choque. – Ele não está muito bem. Qualquer gripe.

- Gripe? – Alicia riu sarcástica. – Ele é imortal.

- Mas quem é essa deusa? – Elizabeth puxou novamente o assunto.

- Sekhmet é a deusa leoa da mitologia egípcia. Ela é…

- A deusa da guerra e das doenças. – Darius completou Lara, numa voz esbaforida. – Desculpem o atraso.

- Mas você andou a correr a maratona? – Alicia perguntou, ao reparar que Darius parecia ter corrido até ali.

- Não. Eu apenas estava no porão e lá é quente. – Darius sorriu sem jeito. – Mas porque falam em Sekhmet?

- Porque achamos que ela está por detrás do Olho-de-tigre.

- Isso é mau. – Darius sentou-se a um canto da sala. – Sekhmet é das personagens mais malévolas do Antigo Egipto. Ela representa o símbolo da punição de Rá.

- Rá é o deus-sol. – Lara esclareceu.

- Sim. Conta a lenda que Rá enviou Sekhmet para destruir todos os humanos que conspiravam contra a sua figura. – Darius fez uma pausa, tentando-se concentrar. – Mas ela executou a tarefa com tamanha crueldade, que Rá teve de embebedá-la com vinho, pensando ela que seria sangue, antes que toda a Humanidade fosse aniquilada.

- Céus, isso é terrível. – Elizabeth arregalou os olhos. – Quer dizer que vamos para um sítio onde essa deusa poderá estar?

- Calma. Ela também é a patrona dos homens de medicina. Porque ela própria traz a cura para os seus males. No entanto… eu não vejo o porquê de Sekhmet estar relacionada com o Olho-de-tigre. – Darius abanou a cabeça. – Que eu saiba, em Mênfis adorava-se o deus Ptah.

- Óptimo. – Lara riu de tal maneira que todos pensaram que ela endoidecera. – Ptah é o marido da Sekhmet.

- Adorado em Mênfis… - Darius empalideceu. – E a festa, o ritual que eu presenciei quando prenderam Circe… foi em Mênfis. No templo de Ptah. Eles levaram-na para uma entrada subterrânea.

- Se eles eram marido e mulher e este tinha um templo em Mênfis… - Teague levantou-se. – Sekhmet só poderá ter um lá também.

- Não. O único que lá existe é o de Ptah. – Darius tornou a dizer.

- Claro. – Lara sorriu ainda mais. – O templo de Ptah pode ser só a entrada…

- Se o de Sekhmet estiver por baixo. – Teague completou. – Como era mesmo essa entrada subterrânea, senhor Darius?

- Esperem aí! – Norrington colocou os dedos no ar. – Quer dizer que o tesouro é guardado por outra deusa doida?

- Não. – a voz que encheu a sala, fez os presentes se voltarem assustados. – Olá meus queridos.

- Calypso, há quanto tempo! – Alicia exclamou.

- Parece que decifraram o que o Olho-de-tigre representa!

- Nem por isso. Apenas sabemos que estará ligado a Sekhmet e que o seu templo escondido poderá ser o local do tesouro.

- Tesouro…tesouro… - Calypso uniu as mãos e começou a andar às voltas, com ar pensativo. – Mais do que o tesouro que se esconde, o Olho-de-tigre é a chave para abrir um mal há muito encerrado.

- Esse meu filho. – Teague colocou a mão na cara.

- Já te esqueceste que tu, Teague Sparrow, também fizeste imensas borradas na tua vida? – Calypso olhou-o. – Continuando, Sekhmet foi há muito encerrada para que não voltasse a cometer o genocídio que quase exterminou a raça humana. O Olho, sela a sua prisão. E Circe, como castigo foi a escolhida para vigiar a dita chave, num acordo entre deuses gregos e deuses egípcios.

- Temos de impedir o Jack e o Barbossa de o abrirem. – Will disse.

- Isto se eles o tiverem. – Norrington ripostou.

- Se eles o tiverem… irão atrás. – Lara confirmou. – Conheço Jack suficientemente bem para não perder essa oportunidade.

- Bem… é claro que as coisas não são assim tão fáceis. É preciso algo para alimentar Sekhmet e libertá-la do seu cativeiro. E é lógico, que Circe quererá fazer isso, para se redimir de ter falhado na sua tarefa.

- Que tipo de alimento? – Alicia perguntou.

Calypso olhou os presentes, dando a entender a hesitação de responder. – Sangue… humano. De uma criança.

- O QUÊ? – Lara levantou-se violentamente.

- Eu avisei para protegerem a Mary, mas vocês são todos um bando de incompetentes. – Calypso encolheu os ombros.

- Isso é de doidos. – Darius levou a mão à cara.

- Mary corre perigo de vida. – a voz de Calypso tornou-se mais dura. – Mas nada lhe poderá acontecer enquanto Circe não tiver o Olho.

- Mas nós ainda temos o Mediterrâneo todo para atravessar. – Lara desesperou-se.

- Alcançaremos o estreito de Gibraltar à noite. – Norrington disse.

- Mas ainda teremos de parar para descarregar a lady e o seu filho. – Teague acrescentou.

- Jack e Barbossa ainda estão a meio do caminho.

- Como sabe? – Lara arqueou o sobrolho.

- Tenho informadores com quem me dou muito bem. – Calypso sorriu e pegou algo do chão. Ninguém reparara de onde surgira aquele gato negro de olhos penetrantes. – A deusa Bastet tem acompanhado os nossos amigos.

- Deusa? Um gato? – Alicia riu, mas tremeu quando a gata bufou.

- Ela não te faz mal. Está até contente. O seu departamento é a fertilidade. – Calypso sorriu dengosa, acariciando o pelo da gata. – Espero que não arranjem mais problemas e sigam de vez o vosso caminho.

- Que culpa temos da incompetência daquele zarolho e careca que nos trouxeram uma escocesa? – Elizabeth botou a língua de fora.

- Escocesa ou não, a coitada nem sabe onde se meteu. – Calypso caminhou até Darius. – Os imortais nunca devem criar laços com os mais frágeis.

- Eu não sou um deus. – Darius disse com o semblante sério.

- Não querido, não és. Mas isso não te impede de fazeres os mesmos estragos que um deus faz. – Calypso sorriu mais uma vez até se esfumar no ar.

- O que ela quis dizer com aquilo? – Alicia ficou curiosa.

- Nada. – Lara quebrou o momento. – Todos ao trabalho. Não podemos perder mais uma hora que seja.

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Dias depois…

- Miséria de vida! – a escocesa abanava o leque e tentava se abstrair dos comentários cínicos de alguns marinheiros, enquanto olhava o horizonte da amurada do navio. – Bando de indigentes.

- Melhor se acalmar. – Lara passou por si, olhando-a de lado. – Nenhum deles lhe fará mal, mas são… homens.

- Homens? – Lady McLean arregalou os olhos negros. – Um conjunto de esfomeados que se virem um par de saias ficam logo de olhos esbugalhados!

- Também é normal. – Lara apoiou os cotovelos no parapeito. – Mas torno a repetir que ninguém lhe fará mal, enquanto aqui estiver.

- Como sabe?

- Porque eu sou a capitã do navio.

- Pensei que fosse aquele homem extravagante. – a escocesa apontou para Teague.

- Teague é meu sogro. E sim, nesses termos, ele é o homem mais experiente aqui. Mas já que os verdadeiros capitães não se encontram a bordo… o comando passa para mim que sou mulher de um deles.

- Mulher de pirata. – a ruiva desdenhou. – Deve ter tido uma vida miserável para escolher tal ramo.

- Escolhi o meu destino de livre vontade. – Lara olhou-a duramente. – Já o seu…

- O meu? Eu não pedi para me trazerem para aqui. Vocês são todos um bando de doidos! – Lady McLean colocou os braços no ar. – Tenho me alimentado mal, estou enfunada num quarto obscuro, água para me lavar nem vê-la.

- Eu tenho disponibilizado todas as regalias, inclusive banhos!

- Chama aquela bacia ridícula, um lugar para tomar banho?

- Porquê? Por acaso tomava banhos de ouro lá na Escócia? – Lara endireitou-se, quando confrontada com Olga.

- De ouro não… mas de porcelana do melhor que havia.

- Óptimo. Problema é que porcelana não paga boa educação. – Lara não percebeu de onde tamanha raiva viera. Mas a escocesa já não olhava para si. Tinha ficado branca como a cal e fixava um ponto no meio do tombadilho. – Algum problema?

- Eu… - Olga deveria estar maluca. – Pensei ter visto algo, mas… foi só impressão minha.

Lara ficou um tempo calada, até se acalmar e conversar como devia. Afinal, Olga não tinha culpa nenhuma da trapalhada da sua vida. E menos ainda de ter caído de pára-quedas ali.

- Onde está seu filho?

- Com aquela senhora simpática… Grace eu acho.

- Sim. A Grace é óptima. – Lara sorriu.

- Faz-me lembrar a Margareth. – o olhar de Olga se esvaziou. – A empregada da minha família.

- Olga… posso chamá-la assim? – Lara perguntou ao que a outra acenou afirmativamente. – Se é escocesa, o que estava fazendo em Sevilha?

- Eu pretendo viajar para o Novo Mundo.

- Sozinha? Com o seu filho? Oh me desculpe. Com certeza deveria estar acompanhada pelo seu marido.

- É claro! – a ruiva exclamou rapidamente. – Meu marido deve andar deveras preocupado.

- Ora aqui está o pequerrucho! – Grace trazia o pequeno Ian ao colo, enquanto Alicia o apaparicava.

- Desculpe. Eu sei que me deve achar uma selvagem, mas eu me apaixonei pelo seu filho. – Alicia sorriu babada.

- Ela está grávida. Por isso reage assim. – Lara explicou.

- Oh… parabéns. – Olga não soube mais o que dizer, pegando no filho ao colo.

- Ele é lindo mesmo. – Lara passou a mão pelo cabelo castanho dourado do pequeno.

- Soube que vai atrás da sua filha.

- É. Mas é uma história muito complicada. Provavelmente não a compreenderia.

- Para onde rumam?

- Egipto.

- Passarão pela Grécia? – os olhos de Olga se arregalaram mais uma vez.

- Sim, mas porque é que…

- Por favor, eu prefiro ficar lá. Soube que pretendem fazer uma paragem na Sicília para me deixarem desembarcar, mas eu não conheço lá nada. – Lady McLean forjou um desespero. – Tenho um amigo italiano sim, mas ele vive em Florença. E se me deixarem na Grécia, bem, isso vai de encontro aos meus planos.

- Que planos? – Alicia estranhou.

- Assuntos pessoais. – Olga falou.

- Eu vou ver o que posso fazer. Tenho de consultar a minha tripulação. – Lara afastou-se. "Assuntos pessoais uma ova", pensou. Olga McLean ia com certeza atrás de Darius. E Lara já desconfiava até o porquê. Se bem que isso era uma hipótese completamente surreal para si. E muito mais o seria para Darius.

- Parece absorta em pensamentos. - Norrington interrompeu Lara.

- Hã? Ah, James. O que acha de pararmos na Grécia ao invés da Sicília?

- Mas não vamos deixar Lady McLean lá?

- Sim, mas ela prefere a Grécia. Não me pergunte porquê.

- Bem, se o tempo continuar favorável, seria até melhor. Seguiria-mos viagem até estarmos bastante próximos do nosso destino. - James coçou a barba que deixara de fazer desde que se juntara ao Black Pearl. - Mas, será que ela aguenta?

- Foi ela própria que quis. - Lara respondeu sarcasticamente. Só pensava em como Darius iria ficar desesperado.

- Compreenda, ela é um ser demasiado delicado para estar aqui. Ainda para mais com uma criança tão pequena. - James advertiu.

- Bem. Obrigada pela opinião. Eu irei consultar Teague, Gibbs e Will e logo se verá.

- Depois diga algo, capitã. - James acenou com a cabeça. - Eu vou lá dentro consultar o mapa.

James entrou dentro da cabine dos capitães e sentiu certa nostalgia. Lembrava-se dos seus tempos como Comodoro. Tempos felizes esses em que fazia o que gostava, apenas assombrados por um amor não correspondido. Como a sua vida teria sido perfeita se Elizabeth também o amasse.

- Ser delicado? - Elizabeth acordou-o dos pensamentos.

- Como? Elizabeth, seguiu-me até aqui?

- Sim. Eu escutei a conversa com a Lara. - Elizabeth contornou a mesa. - A escocesa quer ficar aqui mais um tempo.

- Ela prefere desembarcar na Grécia. Como nos fica a caminho...

- Grécia, Grécia. - Lizzie fez uma careta. - Nem nossa convidada é e já se julga no direito de querer ir para onde lhe apetece?

- Elizabeth, Lady McLean não é refém ou prisioneira. Na verdade ela só atrapalha os planos. - James explicou. - E acho até que deveria desembarcar na Sicília.

- Claro, quanto mais cedo ela sair daqui melhor.

- Mas não escondo que gostarei de ter a companhia de alguém civilizado, por mais tempo, se me for possível.

- Está a dizer que eu sou uma selvagem? - Elizabeth abriu a boca e andou até James.

- Longe de mim... - James não completou a frase quando Elizabeth lhe apontou o dedo na frente do nariz.

- Eu sou muito mais dama do que essa tal lady alguma vez será! Fui criada na corte de Londres, enquanto ela deveria apenas ter visto bois pastando no fim de mundo que é a Escócia!

- Elizabeth... - James olhou a loira com ar divertido. - Está com ciúmes?

- Ciúmes? - Elizabeth empalideceu. - Ora... eu haveria ter ciúmes de quê?

A loira não respondeu quando a mão pesada de James pousou no seu rosto. O que lhe parecia correcto? Sair dali delicadamente. O que fez? Não saiu do sítio. Os olhos cinzas de James, raiados por um azul e verde que só agora ela notava, a estavam fazer sentir-se estranha. Eram reconfortantes e ao mesmo tempo...

- Eu... precisam de mim. - Elizabeth saiu em disparada, quando James se atreveu a um maior contacto, puxando-a para si. Ela ainda não estava preparada para amar de novo. Ele, não conseguia mais esperar...

- Desde quando as mulheres deste navio se tornaram autênticas leoas? - este perguntou, falando sozinho.

Continua…


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Notas finais do capítulo

*** Excertos retirados da minha fic "A love never forgotten", publicada no Need for Fic.

Oi Leitores do meu coração! Aqui vai novo capítulo. E a história do Darius explicada. Eu sei que a maioria de vocês não tem acesso ao Need for Fic, mas a todos os brasileiros e portugueses que não estão lá: cadastrem-se! Ok mas eu vou parar de ser chata e dizer... é essa fic tá chegando ao fim. =( E com ela a saga que começou lá com A Força dos Desejos. Ok, ainda terá pelo menos dez capítulos antes desse fim. Dependerá do rumo.

Obrigada a quem mandou review! =)

Espero que gostem!!!
Saudações Piratas!!! :D
JODIVISE