Olhos Felinos escrita por Jodivise
Notas iniciais do capítulo
Tendo como rota o Egipto, o Black Pearl avança através do Oceano Atlântico, estando agora sob o comando do Capitão Teague. Entretanto, alguém faz uma visita, prometendo ajudar os nossos piratas, enquanto Lara descobre algo no mapa de Sao Feng.
Capítulo 39: Atravessando o Atlântico
Dias depois…
Sob as águas escuras do Atlântico, o Black Pearl avançava com as velas negras insufladas sobre o vento que os fustigava desde o dia anterior. Desde que o Capitão Teague tinha assumido o timão do navio, que este parecia ter recuperado a sorte. Teague sabia de cor as rotas que povoavam o imenso oceano. Lara suspirava de alívio por a viagem ter tomado novo fôlego. A presença do pai de Jack tirara-lhe um peso dos ombros. A tripulação estava na máxima força, mesmo tendo perdido alguns homens na ilha de Fernando de Noronha. Mas o comando de um pirata experiente, deixara-os mais confiantes.
O único que parecia ter amuado era James Norrington. Discordava da rota que Teague havia escolhido. Achava que iriam encontrar navios de guerra e colocarem-se em perigo. A resposta de Teague? "Se eles aparecerem, nós os esperaremos". Mas com o passar dos dias, o ex-Comodoro habitou-se à nova liderança, mantendo o seu mau humor disfarçado. Até porque nem tudo era aborrecido para si.
Desde o episódio na ilha brasileira, que James e Elizabeth se estranhavam. Embora soubesse que esta não o beijara de paixão, o inglês não deixava de se sentir completamente alheio em certos momentos de descanso. Da primeira vez, fora ele que a beijara. Na verdade, era a única coisa de que se lembrava nitidamente, antes de fechar os olhos face à dor da lâmina que o havia perfurado. Agora, os papéis revertiam-se. Se antes ele lhe salvara a vida, era Elizabeth que lhe salvara agora.
- Então? – Alicia abordou Elizabeth enquanto esta olhava uma garrafa de rum, parecendo não saber como a utilizaria.
- Então o quê? – Elizabeth viu Alicia sentar-se ao seu lado, nas escadas de acesso ao convés superior da proa.
- Eu só recuperei os sentidos quando já me encontrava a bordo do Pearl. Mas… o Pintel e o Raguetti fizeram o favor de me dizer tudo o que se passara. – Alicia explicou e Elizabeth pode notar o tom curioso na voz desta.
- Não acredites em tudo. Eles estavam do lado daquelas víboras. – Elizabeth finalmente percebeu para que é que servia uma garrafa e bebeu um trago.
- Pois, mas anda a correr por aí que… houve dois marinheiros que só quando foram beijados pelas damas dos seus corações, voltaram a si. – Alicia sorriu abertamente.
- O quê? – Elizabeth encarou esta e abanou a cabeça indignada. – Eu não tive escolha. Se não beijasse o James ele cortava-me o pescoço!
- Podias ter lutado com ele.
- Isso já eu estava a fazer. Mas ele é um bom espadachim para tua informação. – Elizabeth esclareceu.
- Eu sei. E também sei que foi ideia da Lara. – Alicia disse. – Depois de… eu acho que o Jack vai assassinar alguém depois de o encontrarmos!
- Ela fez isso também para salvar a vida.
- Óptimo. Porque eu coloco a mão no fogo pelo amor da Lara e do Jack. Mas não me digas que não sentiste algo. O coitado do James anda todo entalado. Não sabe o que há-de fazer! – Alicia sorriu. – Ele ama-te de verdade.
- Eu… amo… o… Thomas! – Elizabeth falou pausadamente, levantando-se. – E não te armes em casamenteira, Alicia… Turner.
- Tudo bem. – Alicia suspirou e viu Elizabeth dobrar-se sobre a amurada, dando a entender querer ficar sozinha. – Mas o Thomas está morto. – acrescentou entre dentes.
- Porque a estás a chatear? – a pergunta vinda acima de si, fez Alicia olhar para quem estava no cimo da escadaria.
- Não estou a chateá-la, Lara. – Alicia cruzou os braços. – Apenas a quero ver feliz. Thomas já morreu faz semanas e…
- E? – Lara desceu até à amiga. – Podiam passar anos que ela nunca o esqueceria se o amasse de verdade.
- Mas a vida continua.
- E vai continuar. Mas como a Elizabeth quiser. – Lara disse. – Somos piratas. A morte persegue-nos. Mais vale vivermos sozinhos, do que criar laços que depois nos são tirados.
- Credo, tanta azia! – Alicia exclamou. – Eu sei que vivemos a vida ao limite. Mas mais vale vivermos o pouco tempo que temos com quem amamos não é?
- Desculpa. – Lara disse, olhando o vazio. – Talvez seja hora de eu parar com os lamentos. Ele diz que eles estão vivos. – desviou os olhos para Teague.
- Ele conhece o filho. Aquilo ali é a família sobrevivência. – Alicia sorriu. – Mas já existe mais alguma pista?
- Qual? O mapa nada aponta. Só podemos esperar até chegar a Alexandria. – Lara suspirou.
- E depois? Ficaremos eternamente em Alexandria? Porque eu não faço a mínima ideia onde fica Mênfis. – Alicia arregalou os olhos.
- Mas eu sei. – Lara desceu as escadas e caminhou entre a tripulação atarefada, chegando finalmente ao seu alvo. – Vai connosco até ao Egipto?
O progenitor de Jack Sparrow mirou a morena. – É isso que quer?
- Depende. A única coisa que desejo é chegar lá o mais rápido possível. – Lara encarou a face tão marcada de um pirata lendário.
- Jovem, eu ainda não ganhei asas. O navio muito menos. – Teague abriu os braços. – O máximo que posso fazer é colocá-lo na máxima força, quando… o tempo o permitir.
- É. – Lara suspirou. A falta que um avião fazia…
- Mas me diga. Esse tesouro que o Jackie tanto anseia… ele é… palpável? – Teague perguntou.
- Como assim?
- Existem vários tesouros à face da terra. Os que os piratas mais querem incluem tudo o que brilhe. Ouro, prata, pedras preciosas… - Teague explicou. – Depois existem aqueles tesouros que sempre fazem estragos.
- Quais? – Lara ergueu o sobrolho, enquanto acompanhava o velho capitão pelo navio.
- Mulheres. – Teague disse, fazendo a morena rolar os olhos. – E claro, existem aqueles… - Teague rodou sobre os próprios pés encarando a nora. - ... que simplesmente devem ficar nas trevas, longe da vista dos mais gananciosos.
- O Jack e o Barbossa, eles sempre acharam que fosse um tesouro cheio de ouro ou um artefacto raro. – Lara disse. – Na verdade o sobrenatural nessa história já encontramos. Circe apanhou-nos na Ilha de Páscoa.
- E ela voltou a visitá-los?
- Não. A maioria crê que ela foi atrás deles. – Lara engoliu em seco perante a perspectiva de Circe matar os restantes num ápice se assim o desejasse.
- Melhor dar mais uma espreita nesse mapa. Há sempre algo que está oculto. – Teague sorriu deixando Lara especada no tombadilho.
- Ele fala em enigmas. – Darius aproximou-se de Lara.
- Como se eu já não estivesse habituada. – Lara suspirou. – Então sempre me pode explicar melhor o que foram aqueles monstros que nos atacaram?
- Porquê eu? – Darius sorriu.
- Porque você é o ancião do navio. – Lara piscou o olho.
- Ora bem, eu já tinha dito um pouco lá na ilha. – Darius começou. – Mas segundo o que sei, elas são uma espécie de mulheres encantadas.
- Como as mouras e sereias?
- Mais ou menos. Elas só aparecem numa certa altura do ano, nas noites de lua cheia.
- E nós fomos logo parar nessa maldita altura do ano. – Lara passou a mão pela cara.
- É. Por isso eu levei a sério os avisos de Mr. Norrington. – Darius disse. – Elas começam por aliciar um membro da tripulação.
- Norrington não me pareceu muito apaixonado.
- Nem estava. Digamos que elas lhe aparecem em forma de mulher. Acenando na água, qual sereia encantada. A única diferença? Quem as vê não se lembra delas. Mas inconscientemente ruma em direcção a elas.
- Por isso ele queria desembarcar em Fernando de Noronha! – Lara exclamou. – Como fui tão estúpida?
- Não foi estúpida Lara. Mas deveria ter levado o pobre homem a sério. – Darius riu.
- Mas então como vocês foram todos parar à ilha? E porque não me raptaram?
- Creio que foi por estar a dormir e longe da vista delas. Sinceramente eu não me lembro de mais nada. Sei que me preparava para descer um escaler para irmos a terra e de repente… tudo ficou negro. – Darius explicou. – Depois só me lembro de voltar a mim quando… você sabe.
- Own, quanto a isso. – Lara pigarreou. – Eu não tive escolha. Ou morríamos os dois ou morria eu.
- Fique descansada. Eu não levei a sério. – Darius esboçou o seu já característico sorriso. – Mas obrigado por não desistir de mim.
Lara apenas sorriu, tomando o caminho para a cabine dos capitães. Mas uma última dúvida, fez com que girasse os pés ao encontro do antigo atlante.
- Darius, não leve a mal a pergunta, mas… - Lara engoliu em seco quando este pousou os intensos olhos da cor do mar em si. – A Mayara era exactamente como eu?
- Como assim? – Darius encarou-a confuso.
- Fisicamente. Eu sei que sou a reencarnação dela e tal, mas ela era exactamente como eu? Na cor de olhos, no cabelo… essas coisas? – Lara sorriu sem graça.
- Está farta de saber a resposta. – Darius disse. – Mas se faz tanta questão, sim é como se eu estivesse vendo Mayara na minha frente.
- Ah… tudo bem. – Lara sorriu. – Sabe é que o Teague achou que da maneira que vocês estavam babando pelas beldades que não passavam apenas de horrorosas serpentes, elas tinham assumido na vossa mente, a forma das mulheres que amavam.
- Se é por isso, fique descansada. Eu idealizei a Mayara de certeza. – Darius desfez o mal entendido.
- Claro. – Lara deu a entender que não estava constrangida. – Só pensei isso porque se todas elas tinham a mesma cor de cabelo que as vossas amadas… a sua era ruiva.
- O…quê? – Darius gaguejou, olhando Lara como se de um ser extraterrestre se tratasse.
- Ou se calhar sou eu que estou daltónica. – Lara riu e virou costas, enfiando-se o mais rápido na sua cabine. – Se ele teve outra, qual o mal? A Mayara está morta.
Afastando os pensamentos que a assolaram, a amada de Jack Sparrow sentou-se na poltrona tantas vezes disputada por ele e por Barbossa. Como doía a saudade de Jack, da sua bebé e até das brigas épicas com Barbossa. O Black Pearl era parte da alma daqueles dois. E Jack Sparrow e Hector Barbossa eram a alma daquele navio. Ele não teria significado sem eles.
Rodou os anéis do mapa de Sao Feng até estes apontarem para o Egipto. Nada. Apenas o contorno do território banhado pelos mares Mediterrâneo e Vermelho.
- Raios, porque o Jack ficou com a bússola? – Lara perguntou, colocando os dedos nas têmporas. Que falta lhe faria a bússola que outrora possuiu. Que a levou para o seu verdadeiro lugar, junto a Jack Sparrow. Por momentos apenas se recostou na poltrona, fechando os olhos, na esperança que tudo não passasse de um pesadelo.
Flashback
- Jack e se alguém desconfia? – Lara perguntou receosa.
- Alguém quem, love? – Jack sorriu divertido, enquanto conduzia Lara até uma gruta por entre as rochas. – Sou o capitão do navio. Esta baía abriga-nos de inimigos e não estamos fazendo nada demais.
- Mas a Mary, ela pode precisar de nós. – a Lara preocupava-lhe o facto de a sua pequena filha não ter sequer um ano de idade.
- Ela tem a madrinha doida que a adora. E a Grace, que me coloca com a pulga atrás da orelha. – Jack parou a meio do caminho.
- Porquê? – Lara abriu a boca, tentando-se equilibrar nas rochas donde espreitavam caranguejos tímidos.
- Porque ela não tem filhos. Como sabe cuidar tão bem de uma criança?
- Ora, porque ela criou-me a mim. Lá porque uma mulher não tem filhos não quer dizer que não tenha instinto maternal.
- É… talvez ela e o zombie adoptem um mini-zombie! – Jack exclamou. – Credo, o puto só iria comer maçãs.
- Jack! – Lara exclamou quando finalmente os seus pés tocaram a areia da pequena praia que se formava dentro da gruta marítima. O som da pequena ondulação que lhe lambia as botas e cheiro a maresia, davam-lhe a impressão de ter entrado num santuário. – Tão bonito.
- É, não é? – Jack perguntou. – Um lugar especial.
- Trouxe mais alguém aqui, Capitão Sparrow? – Lara ergueu o sobrolho.
- Não. Alguém é que me trouxe aqui. – Jack disse, deixando Lara confusa. – A minha mãe.
- Own. Nossa, sendo assim este lugar é mais do que especial para ti. – Lara pousou as mãos nos ombros de Jack. – Se quiseres ficar sozinho, eu…
- Ela dizia que foi aqui neste mesmo local que se tornara a mulher mais feliz do mundo. – Jack explicou e Lara entendeu perfeitamente o significado da frase. – E disse-me que deveria trazer aqui alguém tão especial como eu era para ela. Como Teague foi para ela…
- Jack, ele é seu pai. – Lara avisou.
- Nunca se comportou como tal. – Jack resmungou. – Até ela morrer, só me lembro de o ver de tempos a tempos. E ele nunca me falava da pirataria.
- Normal. Os pais querem o melhor para os filhos. – Lara sentou-se numa pedra alisada pela erosão do mar.
- Ele sabia que o melhor para mim era a pirataria, love. – Jack sorriu. – Seja como for ele amava Kuanna e idem. E acabaram por fazer o filho mais bonito à face da terra! – Jack sorriu apontando para si.
- Convencido. – Lara semircerrou os olhos. – Mas a sua a mãe deveria ser linda mesmo.
- E a minha filha vai ser a mulher mais bonita do mundo… - Jack aproximou-se de Lara agachando-se até fixar os seus imensos olhos escuros nos da morena. – Está-lhe no sangue.
- Como é que eu acabei me apaixonando por um reles pirata? – Lara passou os braços ao redor do pescoço de Jack.
- Não me importo de te mostrar mais uma vez. – Jack sorriu abertamente, tomando os lábios de Lara num impulso caindo ambos na areia molhada da gruta, enquanto Jack descia as mãos pelo corpo de Lara.
- É SURDA? – o berro fez Lara acordar das lembranças passadas, quase saltando da cadeira. À sua frente, Calipso olhava para si com os olhos arregalados.
- Céus, podia ter-me chamado delicadamente. – Lara levou uma mão ao peito.
- Eu chamei. Três vezes. Mas o que se fazer quando alguém anda perdida em pensamentos picantes com o nosso amado Jack Sparrow! – Calipso sorriu, deixando Lara vermelha.
- Você também espia os pensamentos dos outros? – Lara sentiu uma raiva súbita.
- Sou uma deusa. – Calipso apontou para si própria.
- Porque apareceu só agora? Estamos completamente à nora. O navio não anda mais rápido, as tempestades perseguem-nos, monstros atacam-nos e no meio disso tudo, a minha tripulação começa a questionar se esta busca valerá a pena! – Lara exclamou em tom de desabafo.
- Primeiro… - Calipso sentou-se e olhou os cantos da sala. – Eu não tenho que dar satisfação a ninguém. Apareço quando quero e não sou vossa mãe para vos apoiar em tudo. – Calipso parecia um poço de calma na sua voz arrastada, tão característica do corpo que lhe dava forma.
- Mas… o Egipto é longe. E nós estamos a meio do Atlântico!
- Segundo… - Calipso censurou Lara com o olhar. – Aquela tripulação de desgraçados vai para onde você quiser. Basta dar a entender que algo em grande os espera e além do mais, loucos já eles são, ou não estivessem a bordo do Pearl. – Calipso sorriu dengosa.
- Algo em grande? – Lara repetiu as palavras da deusa. – O tesouro ao qual o Olho-de-Tigre está ligado não é propriamente ouro pois não?
- Eu não posso revelar aquilo que os deuses tão bem esconderam.
- Vocês colocaram a Circe guardando o Olho-de-Tigre. A chave para um tesouro ainda maior. – Lara levantou-se da cadeira, andando em círculos. – E esse tesouro está no Egipto, terra onde o Darius disse que viu a Circe pela primeira vez. O que é, Calipso? O que realmente esconde o Olho-de-Tigre?
- Um mal que não deve nem pode ser libertado. – Calipso abanou a cabeça. – E se por acaso isso acontecer, a Mary corre perigo de vida. Aliás, todos nós corremos perigo.
- Raios, você não pode dar asas a este navio? Até uma chalupa anda mais rápido. – Lara passou as mãos pela cara.
- Eu vou dar uma pequena ajuda. Ventos favoráveis. Correntes que vos levarão directamente às Colunas de Hércules. – Calipso sorriu. – Não posso fazer mais. Vocês já têm o melhor capitão que poderiam ter.
- É. – Lara sorriu fracamente. – Poderia conceder-me apenas um pedido?
- Qual?
- Liberte o Will do seu fardo.
- Não posso. – Calipso levantou-se. – Will terá de cumprir a sua missão pelo menos durante dez anos seguidos.
- Eu sei, mas só durante esta etapa. Você o libertou quando o mandou até nós. – Lara pediu.
- Eu já o liberei do seu fardo. Ele acompanha-vos neste difícil viagem.
- Mas nunca está presente quando se precisa. Na maioria das vezes ele só emerge de noite. – Lara disse. – E eu acho que a Alicia estaria mais protegida com ele ao lado.
- Não me cabe a mim decidir isso. A não ser… - Calipso ficou com os olhos vítreos. – Espero que aproveitem bem as dádivas que vos dou. E se acalmar o seu coração… Jack e Mary estão bem. Por enquanto.
Lara ficou estática, processando a informação. Não deu sequer com a figura de Calipso desaparecendo na frente dos seus olhos. Mesmo duvidando, sentiu o peso da culpa aliviar-se com as palavras de Calipso. Instintivamente os seus olhos pousaram novamente no mapa de Sao Feng, mas algo captou a sua atenção nele. Algo que não estava ali momentos antes. Um símbolo que cobria todo o território egípcio.
- Mas que… - Lara sentou-se rapidamente analisando a figura. Um grande felino arreganhava os dentes de forma ameaçadora. Ao lado, uma cruz. Única diferença? A haste superior tinha sido substituída por uma alça oval.
- Lara, o Teague quer convocar uma reunião com a… - Alicia entrou, assustando-se com a figura da amiga absorta sobre o mapa.
- Chega aqui. – Lara disse. Dentro de si, um formigueiro começava a formar-se. Até que enfim algo concreto surgia. – Olha o mapa.
Alicia debruçou-se sobre as figuras. – Isso não é uma cruz egípcia? – perguntou apontando para o símbolo.
- Exactamente! A Ankh. Símbolo da vida. – Lara sorriu. Como adorava a história da antiga civilização egípcia…
- Mas o que quer dizer?
- Eu não sei. Talvez aparecesse porque esteja relacionada com o que procuramos. – Lara passou a mão pelo cabelo.
- E para variar apareceu um tigre. – Alicia rolou os olhos.
- Isto não é um tigre. Não possui as riscas na pele. – Lara disse. – Parece mais um leão.
- Sem juba?
- Uma leoa. – Lara sussurrou e algo surgiu na sua mente. – MAS É CLARO! SÓ PODE SER!
- Claro? Ser? Estás a falar do quê Lara Sparrow? – Alicia estava completamente confusa e mais o ficou quando a amiga a agarrou pelos ombros.
- Eu acho. Não posso ter a certeza. Eu estudei isso há muito tempo. Mas eu sei que está guardado algures na minha mente. Há um deus relacionado com a figura de uma leoa. Eu não me lembro o nome, mas sei que existe! – Lara exclamou.
- E essa deusa com forma de leoa… de certeza que ela terá algo a ver com o Olho-de-Tigre? – Alicia ergueu o sobrolho.
- Se não tiver, porque apareceu justamente agora? A Calipso esteve aqui. E só quando ela foi embora é que isto surgiu.
- Será ajuda dela? – foi a vez da mais nova sorrir.
- Não sei. – Lara deixou-se cair novamente na poltrona. – Ela disse que nos ia facilitar o caminho até às Colunas de Hércules, fique isso onde ficar.
- És burra? – Alicia escandalizou-se. – As Colunas de Hércules são o nome dado aos promontórios no estreito de Gibraltar!
- Ah pois, faz sentido. – Lara coçou a cabeça. – Mas algo me diz que esta deusa ou deus, não sei bem, está metido nisto. Eu só preciso de me lembrar de quem é ao certo.
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Muitos dias depois…
Tal como Calipso prometera, a travessia do Atlântico tornou-se menos pesarosa para todos. O vento favorável empurrava o Black Pearl para Norte e com o tempo, Lara deixou de se desesperar nas paragens que faziam em busca de mantimentos. Assim fora numa das ilhas de Cabo Verde e assim o era quando fundearam perto de uma das ilhas desertas da Madeira, com o crepúsculo pintando o céu de laranja.
- Oh Will! – Alicia abraçou este, quando o capitão do Holandês subiu a bordo de Pearl. – Não sabes o quanto sonhei com este momento.
- Alicia… não é para sempre. – Will levantou o sobrolho.
- Eu sei, mas… - Alicia encaminhou-o para longe da restante tripulação. – Nunca pensei que a Calipso fizesse isso.
- É. Nem eu. Mas quando ela fez a proposta e o meu pai aceitou, eu não tive sequer tempo de responder. – Will explicou, rodeando a cintura de Alicia e puxando-a para si.
- Bootstrap já se habituou àquele navio. E tu sabes que ele fez isso porque te ama. – Alicia disse.
- Eu sei. Mas não deixo de me sentir culpado pelo seu destino. Assim, ele nunca há-de ser livre.
- Ele o fez porque quis. E não me digas que preferes estar a bordo daquele navio húmido do que aqui, comigo e com o nosso filho! – o semblante de Alicia ficou sério.
- Claro que não! Tu és tudo para mim. A razão para eu suportar o meu fardo. – Will arregalou os olhos. – E eu sei que neste momento sou mais útil aqui do que lá.
- Até porque assim, os mortos poderão retomar outra vez a sua caminhada para o Além. – Elizabeth chegou-se para os dois. – Espero não interromper nada.
- Pelo contrário. – Will sorriu deixando Alicia mal-humorada. – Além do mais, quanto mais próximo do Egipto ficarmos, menos o Holandês será preciso.
- Não se fie, Mr. Turner. As águas a partir daqui serão as mais vigiadas. O mar Mediterrâneo é um emaranhado de rotas.
- Eu sei, Mr. Norrington. – Will carregou bem no sobrenome do outro. – Mas também sei que o Pearl é suficientemente rápido e forte para o atravessar em segurança.
- Piratas nunca estão em segurança. – Norrington acrescentou.
- Sério? – Alicia arregalou os olhos. – Então o que está a fazer aqui? No meio de tantos piratas!
- Alicia… - Will sussurrou, tentando acalmar a mulher.
- Eu sei, Will. Mas ele irrita-me. – Alicia bufou.
- Não será melhor passarmos o estreito de dia? Vá que alguma coisa aparece. Eu não quero ser mais supreendida de noite. – Lara avisou, enquanto Teague olhava o mapa de Sao Feng. Os olhos fixos nas imagens sobre o país dos faraós.
- Não há nada de perigoso em Gibraltar, Lara. – o mais velho disse.
- Mas será o ponto mais vigiado. O melhor seria mesmo passarmos de noite. O navio camufla bem, principalmente com as luzes apagadas. – Darius opinou.
- Ele tem razão! – Lara apontou o dedo na direcção de Darius.
Teague levantou os olhos para o mais moço. Por breves momentos, Lara pensou que este se tinha petrificado. – Já passou por lá?
- Tantas que perdi a conta. – Darius sorriu.
- Óptimo, porque eu também. – Teague disse. – E não gosto que se façam mais inteligentes que eu.
- Tudo…bem… - Lara arregalou os olhos. – Mas a verdade é que de noite…
- Como o Jackie deixou um tubarão daqueles entrar no navio? – Teague apontou para Darius, sem que este ouvisse.
- Foi o Jack que o trouxe para bordo. – Lara respondeu sarcasticamente.
- Não gosto dele.
Lara rolou os olhos. Como Jack poderia ter alguma mágoa por Teague? Eles eram iguais em tudo. Nos gestos, na maneira de falar, nas piadas secas e até na maneira de pensar.
- O seu sogro não gosta de mim. – Darius observou. – O que não me afecta nada. Já estava habituado às patadas do seu marido.
- Também o Jack tinha razão, né? – Lara perguntou, semicerrando os olhos.
- Isso passou.
- Eu sei. – Lara tentou mudar de assunto. – Há quanto tempo não passa aqui?
- A última vez foi há mais de dois anos. – Darius olhou o horizonte, o crepúsculo reflectido nos seus olhos.
- Quando partiu para as Caraíbas.
- Não. Eu passei aqui a caminho de Inglaterra. De lá é que parti para as Américas. – Darius explicou.
- O que deixou por lá? – Lara aproximou-se do atlante.
- Como assim?
- Falou do seu passado, de como escapou da Circe. Mas quando lhe pergunto sobre o que fez durante os dez anos que andou por aí, você se recolhe. – Lara constatou.
- Não aconteceu nada de especial.
- Está vendo? Disse isso ao mesmo tempo que uma sombra de tristeza lhe passou nos olhos. – Lara disse. – Eu sei ler as pessoas. E tenho a certeza que esconde algo, Darius.
- Eu já lhe contei tudo, Lara. – os olhos claros de Darius captaram os de Lara. – Não tenho o que esconder. E não precisa de se preocupar. O meu destino está traçado. E eu não posso fugir dele.
- Há sempre esperança enquanto se acreditar nela, Darius. – Lara sorriu, antes de se recolher na sua cabine.
Continua…
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Oi Leitores!!! Aqui vai novo capítulo! A viagem dos nossos piratas parece estar cada vez mais próxima do seu destino!Espero que gostem!!!
Quero agradecer as reviews que recebi. Obrigada a vocês por acompanharem esta fic e obrigada à Halle_Keehl pela recomendação linda que fez! *.*
Mil beijos pra vocês!
Saudações Piratas!!!:D
JODIVISE