Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 37
Capítulo 36 Fernando de Noronha


Notas iniciais do capítulo

Depois da paragem nas ilhas Malvinas,o Black Pearl segue viagem rumo ao Egipto. Lara vem ficando cada vez mais deprimida, enquanto a sua tripulação começa a dar problemas. Mas numa certa noite... um perigo aproxima-se.



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Capítulo 36: Fernando de Noronha

Os dias passaram lentos, enquanto o navio de velas negras navegava sobre as águas do Atlântico Sul. Por mais que Lara quisesse que este ganhasse asas, nada podia fazer para o Black Pearl andar mais rápido. Os deuses pareciam ter abandonado a sua causa e sempre que o mar se revoltava, era como se o sangue da morena fervilhasse de raiva.

Cada vento forte, cada maré adversa era como um gigantesco obstáculo na busca pela sua filha e pelo homem que amava. Depois de dias a fio sobre condições desumanas, o sol apareceu tímido quando alcançaram a costa brasileira. O facto era simples. Quanto mais para Norte progredissem, sairiam do Inverno do Hemisfério Sul para o sol radiante de Verão, depois da linha do Equador.

Mas nem o bom tempo acalmava a impaciência de Lara. Qualquer piada, animação ou sorriso que assolassem a tripulação, era logo sanado pelo seu olhar imperioso, sem o brilho de outrora. Assim, a atmosfera dentro do navio pirata era como um eterno enterro, e nem no tempo em que este passara amaldiçoado, se assistira a tamanha onda de tristeza.

- Não há nada que faça a Lara se animar, pois não? – Alicia suspirou dentro da cabine do Holandês, enquanto Will olhava um mapa.

- Coloca-te no lugar dela. Não está a ser fácil. Os dias passam e os três continuam perdidos sabe-se lá onde. – Will disse, sem tirar os olhos do mapa.

- Tenho a certeza que eles estão bem. Jack tem sempre um jeito de se safar dos problemas. Barbossa também. E a minha afilhada saiu ao pai. – Alicia sorriu. – Eles estão bem.

- Espero que tenhas razão. – uma ruga de preocupação assolou o belo rosto do capitão assombrado.

- Algum problema? – Alicia levantou-se e caminhou até Will, apoiando os braços no ombro deste.

- A partir de agora acho que a viagem não será tão sossegada.

- Porquê? O tempo melhorou bastante. – Alicia arregalou os olhos. – É verdade que uma tempestade pode aparecer de um momento para o outro, mas não me parece que haja nada aqui.

- Entraremos em águas portuguesas. Norrington está preocupado com isso.

- Norrington está sempre preocupado com detalhes destes. – Alicia rolou os olhos. – Se todos os navios que se cruzarem connosco tiverem o mesmo destino daquele galeão furado, será um feito! E melhor se tiverem tesouros. Já viste este anel? – Alicia mostrou um cachucho em ouro com uma grande safira no meio. – Lindo não? A quem terá pertencido?

Will sorriu para esta, depositando-lhe um beijo na testa. – Talvez seja só uma preocupação boba da minha parte.

- Tu vês coisas que os outros não vêm, Will. E já passei por tanta coisa na vida que não me admiraria se nos aparecesse algo na frente.

No Pearl…

Ao mesmo tempo que passava cera no parapeito do navio, Darius desviou os olhos para aquela que o mirava atentamente.

- Algum problema, capitã Lara? – Darius perguntou, vendo que esta, encostada ao parapeito, o fixava.

- Não. – a voz da morena soou distante. – E não me chame de capitã, por favor. Não me sinto bem com tamanho cargo nas costas.

- Mas esse é o seu cargo. Quer queira, quer não. – Darius voltou a passar o pincel largo pela madeira negra.

- O capitão deste navio é o Jack. E o Barbossa. Eu só estou… ocupando um vazio. – Lara desviou os olhos para o horizonte.

- Logo, eles estarão de volta.

- E o que significa logo? Demoramos uma semana e dois dias a alcançar a costa brasileira. – Lara bufou. – Pelo andar chegaremos a Cabo Verde no próximo ano.

- Tenha fé. – Darius sorriu. – Acho que nada irá travar o grande Capitão Jack Sparrow.

Lara esboçou um sorriso fraco e tornou a mirar o horizonte limpo de qualquer nuvem. Não via Jack há um mês. Mas para si pareciam anos. Sentia falta da voz quente deste no seu ouvido. De percorrer os dedos na pele morena e tatuada do seu pirata. Dos beijos que a faziam delirar. E a juntar a isso, falta da sua filha. Mary era a sua razão de viver. A razão porque não tinha medo de nada, nem de piratas, nem de monstros. Apenas medo de perder os que mais amava.

- Lara…? – o chamamento de Darius devolveu-a à realidade.

- Desculpe. Por um momento viajei. – Lara levou a mão à testa, puxando os cabelos para trás. – E você?

- Eu o quê? – Darius levantou o sobrolho.

- Você tem andado pensativo nos últimos dias. – Lara cruzou os braços e olhou-o nos olhos. – Diria até distante. Pensando na Mayara?

- É… - Darius sorriu fraco. – Não posso evitar que os pensamentos voem longe.

- Pois… - Lara cerrou os olhos e afastou-se. Algo na resposta não batia certo. Será que Mayara não era o centro dos pensamentos do grego? De repente, um calor assolou-a. O mais certo, era infelizmente ela própria ser o objecto dos pensamentos de Darius. E embora isso a incomoda-se, não podia fazer nada. Afinal, Lara era a reencarnação da antiga princesa atlante. E era por isso que não poderia recriminar Darius.

- Gibbs! – Lara exclamou, chamando o fiel escudeiro do seu marido.

- Aye capitã. Algum problema?

- A quantas milhas estamos de terra?

- As suficientes para navegarmos em mar alto e evitarmos as rotas de comércio. – Gibbs respondeu. – Nunca gostei do Norrington, mas sou o primeiro a reconhecer que graças ao seu antigo cargo, este conhece muito bem as rotas das Companhias.

- É, James saiu melhor que a encomenda. – Lara assentiu e olhou o antigo Comodoro no leme.

Este dirigia o Pearl com perícia. Um cenário impensável. O ex-oficial do governador de Port Royal, assumindo o timão do navio que perseguira durante tanto tempo e que lhe custara a carreira. Se porventura Jack o visse, teria um ataque do coração. Mas Lara não se importava. Precisava de um pirata para a ajudar a manter a tripulação em ordem e Gibbs encaixava-se na perfeição. Mas para ajudar a manter o Pearl na rota, só Norrington o conseguiria.

Mas nem só da capitã, James era alvo de atenção. Recolhida atrás de si, mas sem se fazer anunciar, Elizabeth mirava o seu "quase" noivo de outrora. Nunca tivera tempo nem vontade de reparar na figura deste. Mas agora, algo de estranho a tomava por dentro. Não esquecera Thomas nem por um segundo. Amava-o com a mesma intensidade como quando o conhecera. Mas ultimamente, notara o quanto a presença de James ao seu lado lhe fazia bem.

- Noto-a bastante atenta a todos os assuntos da tripulação ultimamente. – James supreendeu a loira, acordando-a dos seus devaneios. – É bom tê-la de volta.

- Não tenho mais nada que me distraia. – foi a resposta.

- Elizabeth, não minta para você própria. O poder do mar sempre a fascinou. – James sorriu sincero. – No fundo sempre soube que você não era um delicado cisne preso num lago caseiro mas sim uma ave rara querendo a liberdade que o mundo negava.

- O meu pai sempre dizia isso. – Elizabeth constatou. – Pena que tenha partido com a ideia errada.

- O Governador amava-a muito, Elizabeth. E ele sabe que você se tornou uma grande mulher… esteja onde estiver.

- Mas não tão feliz como gostaria. – Lizzie lembrou a última vez que vira o seu pai, num mundo quase surreal, seguindo talvez para um lugar melhor. Esse pensamento levou-a directamente para o fardo de Will. Não devia ser nada fácil. Mas ao menos este tinha Alicia.

Elizabeth estancou uma lágrima furtiva que ameaçava rolar pelo seu belo rosto. Estava rodeada de tanta gente e sentia-se tão sozinha. Como se ela própria fosse um derrelicto ambulante esperando o sal do mar o corroer.

- Elizabeth? – Norrington deixara o timão com Cotton e esgueirara-se para junto da loira.

- Porque não voltou com aquele navio que nos atacou? Já tinha a sua memória de volta, poderia regressar à sua vida.

- A minha antiga vida morreu pela espada de Bootstrap a bordo do Holandês. – James fixara as águas.

- Poderia construir uma nova. Voltar para a corte, ter um outro cargo… casar talvez. – Lizzie ficou à espera da resposta que não veio. – James? – o antigo comodoro continuava a olhar as águas com uma expressão lívida. – James, o que é que se passa?

- Eu… vi algo na água. – Norrington parecia confuso. Mas antes que Elizabeth se debruçasse este agarrou-a por um braço. – Tenho de falar com a capitã.

- Mas James… - Lizzie olhou novamente para o mar calmo e seguiu Norrington escada abaixo.

- Capitã Lara! – Norrington exclamou mal alcançou a morena.

- Algum problema, Mr. Norrington? – Lara perguntou, semicerrando os olhos por causa do sol.

- O James acha que viu… - Elizabeth foi cortada pelo ex-comodoro.

- Há alguma coisa nos seguindo. – declarou prontamente.

- E que tipo de coisa seria essa? – Lara arregalou os olhos.

- Não sei. Mas tenho a certeza que nos segue. – James afirmou com convicção.

Lara olhou Elizabeth que se encontrava igualmente confusa. Era mau ter algum problema que os atrasasse. Era muito mau ter algo que os seguia. Mas era péssimo ter algo os seguindo e não saber o que era.

- Não há nada no mapa que mostre que nos aproximamos de uma área de perigo. – Lara rodou os anéis.

- Mas eu tenho a certeza que vi alguma coisa! – Norrington exclamou.

- Mas ainda não disseste o que era. – Elizabeth cruzou os braços, impaciente.

- Eu… não me lembro. – Norrington abanou a cabeça. – Eu estava conversando com Elizabeth e de repente olhei para as águas. Eu sei que vi algo que me deixou atordoado. Só que no segundo seguinte eu já não me lembrava do que era.

Lara olhou para Gibbs e para Lizzie, suspirando em seguida. – Mr. Norrington, por acaso não será um lapso de memória? Talvez não esteja completamente recuperado…

- Eu estou no meu perfeito juízo! – Norrington exclamou horrorizado.

- Eu percebo, mas…

- O James não está doido, Lara. – Lizzie interveio. – Talvez ele tenha visto mesmo qualquer coisa.

- Está bem. – Lara passou a mão pela cabeça. – Aproveitemos o bom tempo que nos tem acompanhado. Quero chegar o mais longe possível antes da próxima paragem. Mr. Gibbs, como estão os mantimentos?

- Comida para algumas semanas. Já a água poderá não durar mais de uma semana.

- Mais essa. – Lara levantou-se da cadeira antes ocupada pelos capitães do Pearl. – Prosseguiremos viagem até onde nos for possível. Eu não quero demorar um ano para chegar a esse maldito Egipto!

- E quanto ao que eu vi? – James perguntou.

- Reforçaremos a vigilância, sobretudo de noite. – Lara falou. – E Mr. Gibbs, nada de comentar com a tripulação. Tudo o que menos quero é uma onda de pânico.

- Melhor voltarmos lá para fora. – Elizabeth abeirou-se de James, depois de Lara e Gibbs saírem.

- Eu não estou louco, Elizabeth. Por favor acredita em mim! – James implorou.

- Eu acredito. – Lizzie sorriu fracamente antes de sair.

James fechou os olhos. Não era um sonho. Tinha certeza. Mas se sabia que vira algo, porque não se lembrava do que era? Passou os dedos pelo mapa de Sao Feng, detendo-se algures na costa brasileira. – Eu não alucinei e vou provar isso!

Horas depois…

O céu estrelado contrastava com o negrume que cobria as águas atlânticas. A tripulação estava atenta. Navegavam em alto mar, longe da costa brasileira. Não tanto pela sugestão de James, mas sim porque estavam agora em águas territoriais portuguesas.

Junto ao parapeito da popa, Lara vislumbrava o horizonte, olhando de vez em quando para as pequenas ondas que batiam no casco. Mas mais do que a atenção em algum navio de guerra ou algo sobrenatural, os pensamentos de Lara voavam longe. Não podia nem queria evitar que a sua mente não estivesse com a sua filha ou com Jack.

Tudo o que desejava era saber se estes estavam bem. Se estavam vivos. Era tão injusto. Porque é que a sua filha de apenas cinco anos fora arrastada para isso? Era lógico. Jack era um pirata. Lara tornara-se uma. Viviam num navio que era perseguido por todas as armadas. Era mais do que previsível que Mary acabasse numa alhada daquelas. "Onde estão esses deuses quando mais se precisa deles?"

- Nem sempre podemos ter aquilo que queremos. – A frase fez Lara sorrir sem vontade.

- Sempre adivinhando os pensamentos das pessoas, Darius?

- Não. Mas vai dizer que não estava a pensar na sua filha e no Jack? – Darius apoiou os cotovelos no parapeito, de costas para o mar.

- E em que mais eu deveria pensar? – Lara virou o rosto na direcção de Darius.

- Naquilo que o Mr. Norrington diz que viu. – Darius imitou o gesto, fixando os seus olhos claros nos escuros da morena.

- Ele contou? – Lara bufou indignada.

- Porque não acredita nele?

- Não se trata de acreditar, Darius. É que ele não tem a certeza se viu mesmo alguma coisa!

- Não. Ele tem a certeza que viu alguma coisa. Só não se lembra do quê.

- Aí está! – Lara exclamou, colocando-se ao nível de Darius. – Ele sofreu de amnésia. O mais certo foi ter tido qualquer lapso.

- Lara… - Darius sorriu. – Você já viu muita coisa estranha na sua vida. Não devia desconfiar assim dele.

- Não é desconfiança. – Lara olhou o céu estrelado. – É que eu não quero que mais nada atrapalhe esta viagem. Sabe, no meu mundo eu demoraria apenas um par de horas a chegar ao Egipto. Aqui eu vou demorar meses! Já passou um mês. Sabe Deus onde aqueles três estarão agora.

- Talvez em Alexandria esperando o Pearl? – Darius tentou amenizar o ambiente, mas não conseguiu.

- E se eles não estiverem lá? E se vamos na pista errada? – Lara desesperou-se e Darius chegou-se mais para si. Sempre encontrara um lugar seguro nos olhos escuros de Jack. Mas fosse porque estava sob a influência da sua vida passada, ou simplesmente porque eram reconfortantes, Lara teve de desviar o olhar daquele par de olhos azulados que a miravam.

- O que o seu coração diz? – Darius perguntou e o silêncio de Lara deu-lhe a resposta que já esperava. – O nosso coração sempre será o nosso melhor guia. Se ele lhe grita para irmos nesta direcção, então é porque vai no rumo certo.

- E se não for… - Lara não concluiu a frase quando os dedos do atlante pousaram nos seus lábios.

- Será. – Darius sorriu e depositou um beijo nos cabelos ondulados de Lara retirando-se em seguida.

"Droga, quando estas sensações esquisitas ao lado dele acabarão?", Lara pensou.

Uma semana depois…

Depois de um pequeno incidente com um navio de guerra português, o qual foi afundado com a ajuda do Holandês, o Black Pearl continuou rumando para Norte, acompanhado por um vento favorável. Mas embora a tripulação estivesse satisfeita, algo de estranho pairava no ar. Norrington continuava a afirmar que algo os seguia. Rapidamente a notícia espalhara-se pelos piratas. Mas mesmo assim, a maioria achava que o ex-comodoro estava louco.

Só havia duas pessoas que o apoiavam. Darius como sempre e Will, que afirmava que poderia haver algo de errado na rota que tomavam. Mas mesmo assim Lara não queria saber. Precisava poupar tempo e isso era coisa que não tinha. O mar continuava calmo, tirando o vento por vezes forte que se sentia. Se algo estivesse escondido naquelas águas, não seria caso para já ter aparecido?

Alicia abeirou-se de Lara quando esta perscrutava o horizonte com o binóculo.

- Passa-se alguma coisa? – Lara perguntou ao notar o ar distante da amiga.

- Nada que não passe. – Alicia suspirou. – Sabes do que mais tenho saudades no nosso mundo?

Lara fixou melhor Alicia. Era muito raro esta ter saudades do que quer que fosse do século XXI.

- Não sou adivinha.

- De ir ao cinema! – Alicia exclamou.

- Literalmente tu vives dentro de um filme. – Lara respondeu secamente.

- Não sejas do contra. – Alicia cruzou os braços. – E sabes quem me fez ter saudade disso? O Darius! – a reacção de Lara deixou Alicia insatisfeita, vendo a capitã do Pearl absorta nas cartas de navegação à frente do seu nariz. – Ele faz-me lembrar muito aquele actor. Não sei o nome. Aquele do filme Moulin Rouge.

Lara levantou os olhos para Alicia. – O Ewan McGregor?

- Sim! Esse mesmo.

- Ele é escocês. – Lara falou pausadamente perante o absurdo que Alicia dissera.

- E…?

- E? Alicia não sabes tirar parecenças? – Lara perguntou. – O Darius é moreno. Esse McGregor era loiro como o sol.

- Nunca percebi se ele era loiro ou ruivo. – Alicia fez ar pensativo olhando uma das velas negras. – Ah mas que o Darius é parecido no sorriso e nos olhos, ai isso é!

- E depois?

- Então, se calhar o Darius é o antepassado dele!

Lara parou o que estava fazendo e olhou a amiga. – O Darius é grego. Ou atlante. Ah sei lá! A única coisa que tenho a certeza é que ele não é escocês.

- Mas poderá um dia chegar lá. Depois de tudo isto passar.

- Passar? Eu nem sei se sairemos vivos daqui! – Lara exclamou. – E o Darius está mais preocupado em se vingar e perceber o que aconteceu com a Mayara. Além do mais ele é imortal e jovem para sempre. Não me parece correcto que ele tivesse descendência com tetranetos mais velhos que ele.

- O Will também é imortal e vai ter descendência. – Alicia passou a mão pelo ventre. – É… o Darius não teve sorte na vida. Primeiro é raptado por uma deusa louca. Quando se liberta sabe que a noiva já nem pó é. E quando encontra novamente o amor… dá-se conta que a reencarnação da sua amada é casada e mãe de família.

Lara censurou Alicia com o olhar. Por muita pena que tivesse de Darius, estava longe de ser a causa para a sua desgraça. Amava Jack e só isso é que importava.

- Mas que ele é parecido, ai isso é! – Alicia exclamou.

Lara olhou Darius e para sua miséria este dirigiu-se a si.

- Mr. Norrington decidiu que é melhor fazer uma escala em Fernando de Noronha, antes de nos dirigirmos para Nordeste. – Darius comunicou.

- Óptimo. – Lara respondeu carrancuda. – Mais uma paragem para nos atrapalhar.

- Talvez seja até bom. Precisamos de mantimentos, principalmente água. – Darius desviou os olhos para Alicia. – Passa-se alguma coisa, senhora Alicia?

- Por acaso você já foi à Escócia? – Alicia perguntou e viu Darius mudar de cor.

- Não. – foi a resposta.

- Mas você disse que gostava da Escócia. Que tinha sido uma das suas paragens aquando fugiu de Circe! – Lara exclamou e arqueou o sobrolho.

- Eu… sim. Estive na Escócia. – Darius sorriu. – Mas foi por pouco tempo. – Antes de mais perguntas o atlante apressou-se a descer o tombadilho.

- Bem que o Jack dizia que ele era estranho. – Alicia semicerrou os olhos.

- É… o Jack vê aquilo que os outros não vêm. – Lara disse, sentindo um estranho aperto no peito.

- Estás bem? – Alicia agarrou a amiga quando a viu levar a mão ao peito.

- Eu… há algo de ruim perseguindo o Jack e a Mary. – Lara engoliu em seco. Novamente a mesma sensação, como se fogo a consumisse por dentro.

- Ai, será que aquela deusa doida lhes fez algo? – Alicia desesperou-se.

- Nós não podemos demorar. – Lara abanou a cabeça e abeirou-se de Norrington. – Porque vamos parar em Fernando de Noronha?

- Porque estamos com as reservas de água no mínimo. – James disse, sem tirar os olhos do horizonte.

Lara olhou para Gibbs e Grace. – É verdade?

- É. Estamos sem alimentos frescos, Larinha. E já não chove há dias. – Grace respondeu.

- Lara, porque desconfias do James? – Elizabeth inquiriu.

- Eu não desconfio. Apenas queria saber se era mesmo necessário parar.

- Capitã Sparrow… - Norrington fez uma pausa. – O Black Pearl leva-nos onde quiser, só que para isso ele precisa de uma tripulação em condições.

Lara calou-se. Precisava de tudo menos de um motim a bordo do navio. Limitou-se a dar ordens para o navio seguir e recolheu-se na cabine. Por lá ficou até a noite cair. Levantou-se da cama e compôs o cabelo desalinhado, depois de um momento de descanso.

- Lua cheia. – disse ao olhar através da janela. No mesmo instante, algo chamou a sua atenção. Não fora um barulho estranho. Passos de alguém desconhecido. Nada disso. Fora o silêncio. Não se ouvia viva alma e isso era estranho. Normalmente, mesmo de noite, sempre se ouvia alguns membros falando, principalmente no porão.

Lara não esperou mais. Pegou a espada e a pistola e saiu disparada. Ao chegar ao tombadilho viu que apenas o luar o iluminava. As candeias estavam apagadas. O ambiente era de um silêncio ensurdecedor.

- Mas que raio… - Lara olhou para o timão. Estava vazio. Uma leve brisa fez as velas sacudirem, assustando Lara. – Mr. Norrington? – chamou mas não obteve resposta. Seguiram-se Gibbs, Cotton, Elizabeth, todos os membros da tripulação.

Nada. Apenas o silêncio. Lara tentou manter-se calma. Só podia ser uma brincadeira. Correu até ao porão, mas não achou ninguém. – GRACE, ALICIA! – berrou ao entrar nas restantes cabines, mas sem sucesso. – O que está a acontecer?

Lara levou as mãos aos cabelos castanhos. Só podia ser um pesadelo. Estava sozinha no meio do mar, abandonada por tudo e todos. Nem sequer Darius ali se encontrava.

Um bater de asas chamou a sua atenção. – Papagaio do Mr. Cotton?

- Rabo-de-peixe! – este exclamou pousando num dos mastros.

- Como? – Lara ficou olhando a ave azul e amarela até um guincho estridente lhe roubar a atenção. – Jack? – não, não era Jack Sparrow, mas sim o macaco de Barbossa. – O que é que se passou, Jack? – perguntou, correndo ao encontro do primata que aos saltos no parapeito apontava para qualquer coisa.

Os olhos da morena seguiram a direcção e a ficha caiu. Ao longe, uma imponente ilha erguia-se. Só podia tratar-se de Fernando de Noronha. Mas então porque é que a tripulação tinha desaparecido? Se era para desembarcar lá, deviam tê-la informado primeiro e sempre ficava gente no navio.

- Eles não levaram botes. – Lara disse para si ao constatar que todos os pequenos barcos se encontravam a bordo. Antes que mais alguma coisa lhe surgisse no pensamento, viu o Holandês emergir das águas iluminadas pelo satélite natural.

- Onde estão todos? – Will perguntou, mal colocou os pés no navio pirata.

- Contava que me respondesses a isso. – Lara cruzou os braços. – Recolhi-me um pouco e quando acordei já era noite. E quando sai…. ninguém a bordo.

- Nem as mulheres? – Will ficou apreensivo.

- Apenas o papagaio do Cotton e o macaco do Barbossa. – Lara explicou. – Eu acho que a pista está ali.

- Na ilha Fernando de Noronha? – foi a vez de Bootstrap soar.

- O que é engraçado porque a ilha não tem nada de especial além de lindas baías. – Lara bufou, escondendo o nervosismo.

- Como sabes? – Will arqueou o sobrolho.

- Ora, eu venho do futuro. Nada de tesouros nem seres mitológicos lá.

- Nem tudo está ao alcance do olho humano. – o velho Turner respondeu. – Melhor darmos uma espreita na ilha.

- Não posso ir a terra. – Will disse.

- Ok, o Bootstrap vem comigo. – Lara tratou de preparar um bote. – Já agora, o papagaio referiu qualquer coisa como… rabo-de-peixe.

Will e Bootstrap olharam um para o outro. – Ele disse isso?

- Algum problema? – Lara ficou estática olhando os dois homens.

- Melhor vocês irem rapidamente. Eu irei ficar aqui esperando.

- Do que valeu a Calipso livrar-te do fardo, se não podes ir a terra? – Lara abanou a cabeça.

- Toma conta da Alicia.

- Nem devias perguntar isso, Will. – Lara olhou o capitão assombrado uma última vez, sendo ajudada por Bootstrap a descer para o pequeno bote.

- Porque vocês ficaram apreensivos quando eu falei em rabo-de-peixe? – Lara interrogou o mais velho dos Turner, enquanto este remava em direcção à baía.

Bootstrap levantou os olhos cansados. – Existe uma lenda que perturba estas águas.

- Lenda? – a morena engoliu em seco enquanto segurava a tocha acesa na mão.

- Em noites de lua cheia, em determinada época do ano, seres que habitam as águas junto à ilha, de seu nome Fernando de Noronha, aparecem junto dos marinheiros mais desprevenidos.

- E que seres serão esses?

- Não me pergunte porque eu nunca vi nenhum. – Bootstrap encolheu os ombros. – Apenas sei que quem cair nas suas garras estará a um passo da morte.

- E porque não falaram dessa lenda?

- Porque a Lara não iria ouvir. Mr. Norrington passou uma semana avisando-a e não quis saber. - Bootstrap viu Lara ferrar o lábio inferior com raiva.

A morena sentiu todo o sangue abandonar o seu corpo. Que seres seriam esses que fizeram uma tripulação inteira desertar? Permaneceu em silêncio até chegarem a uma das baías da ilha.

- Seja o que Deus quiser. – Lara disse, passando uma tocha a Bootstrap. Mesmo de noite, a lua iluminava todo o espaço à volta e Lara pode notar o quanto aquela praia era bela. Havia um ponto, onde a floresta subia, culminando num rochedo a pique, cenário esse que chamou a atenção de Lara.

- O Morro do Pico. – o mais velho explicou. – Melhor nos despacharmos. Não sabemos o que nos espera.

Depressa os dois piratas desapareceram pela densa floresta, deixando para trás os dois navios que nas águas calmas, disfarçavam o perigo que os vigiava.

Continua…


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Notas finais do capítulo

Oi Leitoras e Leitores! Milhões de perdões pelo grande atraso na actualização da fic, mas aqui vai a explicação. Eu estou no meu último ano de faculdade, tenho imensos trabalhos e exames e aliado a isso muita falta de tempo. É claro que eu nunca iria abandonar esta fic. Vai contra tudo aquilo em que acredito. Mas não tive oportunidade de actualizá-la mais cedo. Por isso aqui ficam as minhas sinceras desculpas a quem esperou por um novo capítulo. E aqui vai ele. Eu prometi que iria entrar uma personagem conhecida, mas como vêm o capítulo ficou enorme e essa personagem só entrará no próximo. Até lá, eu deixo a sugestão: o que será que atacou a tripulação do Black Pearl? Estão vivos? Estão mortos? Será que a Lara vai conseguir resolver o mistério?

Obrigada a todas as reviews! =)

Espero que gostem!

Saudações Piratas!!! :D

JODIVISE