Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 33
Capítulo 32 Negras Sombras


Notas iniciais do capítulo

Jack, Barbossa e Mary continuam perdidos no meio do deserto. Mas algo no horizonte se aproxima e os nossos capitães não sabem se será uma ajuda ou pelo contrário, uma ameaça.



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Capítulo 32: Negras sombras

Barbossa olhou de lado para Jack enquanto este dava pequenos abanões na bússola.

- Avariou de vez, Jack? – Barbossa perguntou rindo.

- É claro que não! Imagina se eu iria possuir objectos avariados. – Jack fez uma careta. – Apenas acho estranho caminharmos um dia inteiro na direcção que esta aponta e não termos achado nada! Nem uma casa, nem um estábulo ou até outro oásis.

- Mas tu és muito burro. – Barbossa disse. – Estamos no meio do deserto. Querias que aparecesse um palácio de um momento para o outro?

- Até que não seria má ideia. Um banquete enorme mesmo à nossa frente, com uma fonte de rum no meio. – Jack sonhou acordado. – Ai! Será que esse gato não pode parar quieto?

- O Bolina só quer uma festa. – Mary disse, puxando o gato para si. Jack fez um esgar ao olhar para o gato que o fitava com uns olhos brilhantes e pedintes.

- Gatos no deserto. – Jack disse com ar desconsolado. – Já não bastava um camelo.

O dromedário gemeu desagradado e abanou-se o suficiente para fazer Jack se estampar na areia.

- Ele não gostou de ti. – Mary botou a língua de fora, olhando de cima.

- Ora, ele é um animal! Desde quando é que ele percebe o que eu digo ou não? – Jack perguntou, levantando-se e esbracejando.

- Ora Jack. Parece que chamas-te camelo a um dromedário. – Barbossa disse e o animal gemeu de novo.

- Camelo a um dromedário. – Jack resmungou enquanto subia de novo para o dorso do animal.

- Qual é a diferença entre um camelo e um dromedário? – Mary perguntou.

- Ora um camelo é um camelo. Um dromedário é um dromedário. – Jack falou e o animal seguiu caminho.

- Um dromedário possui apenas uma bossa. O camelo tem duas. – Barbossa disse.

- E para que serve isso? – Mary perguntou.

- Para armazenar água. São ambos animais do deserto e por isso tem de ter uma resistência ao calor e frio. – Barbossa explicou e Mary soltou um "Ah" de compreensão.

- Credo, onde foste buscar tanta informação? – Jack arqueou a sobrancelha.

- Porque se somos homens que buscam tesouros, temos de conhecer todo o tipo de terrenos e não limitarmo-nos a enfrascarmo-nos de rum. – Barbossa estreitou os olhos.

- Vida sem graça. – Jack resmungou. – Rum é tudo.

- Eu não gosto de rum. – Mary disse.

- Tu és muito pequena para isso. – Jack disse.

- A mãe diz que rum a mais desfaz o cérebro das pessoas. – Mary disse com naturalidade. – Diz que também que foi por isso que a Tia Licia ficou mais maluca do que já era.

- Ela sempre foi maluca. – Jack resmungou. – Para casar com o Will.

Andaram por mais um tempo sob o sol tórrido até os dromedários pararem como se pressentissem algo.

- O que foi desta vez? – Jack perguntou semicerrando os olhos.

- Alguma coisa se aproxima. – Barbossa pegou no seu óculo inseparável e perscrutou o horizonte infinito.

- Alguma coisa se aproxima ou somos nós que nos aproximamos de algo? – Jack perguntou receoso.

- O que é aquilo? – Mary apontou o dedo em frente e Jack colocou uma mão sobre os olhos tentando diminuir a claridade.

- A tua filha tem olhos de águia. – Barbossa comentou e passou o óculo a Jack.

A algumas centenas de metros, por entre as dunas de areia, um fio negro rasgava o dourado. Negras sombras moviam-se lentamente descendo e subindo conforme o terreno.

- Povo nómada. – Barbossa disse.

- Bonito. Onde nos vamos esconder no meio disto? – Jack perguntou desconsolado. –É só areia.

- Talvez não sejam tão maus assim. Iremos ao seu encontro. Pode ser que eles saibam o que existe concretamente na direcção que a tua bússola aponta. – Barbossa disse e o seu dromedário rumou em direcção à caravana das sombras.

- Não gosto disto. – Jack engoliu em seco.

À medida que se aproximavam, puderam notar que a caravana era constituída por cerca de cinquenta indivíduos. Viajavam em cima de dromedários e não puderam distinguir quem era homem ou mulher porque envergavam túnicas de um azul índigo e não negras como ao longe pareciam. Na cabeça, usavam um turbante da mesma cor que lhes deixava apenas os olhos à vista. Quando estavam apenas a poucos metros de distância, alguns desembainharam espadas que Jack reparou serem de dois gumes. Instintivamente colocou a mão sobre a sua espada, mas Barbossa fez sinal para que ficasse quieto.

Quando ficaram frente a frente, piratas e nómadas pararam ficando alguns segundos em silêncio, até que um dos viajantes colocou uma mão no ar e falou numa língua desconhecida.

- Estamos feitos. – Jack engoliu em seco.

- Bons ventos os trazem! – Barbossa colocou uma mão no ar em saudação e Jack olhou para si desconfiado. Barbossa era muito bom diplomata, mas o facto de estarem sozinhos no meio daqueles homens esquisitos fez com que um receio enorme se apodera-se de si.

O nómada que tinha falado olhou Barbossa durante um tempo. Depois, os seus olhos vítreos saltaram para Jack e Mary. Falou em tom de ordem para um dos homens e este fez um gesto para os que seguiam mais atrás. Imediatamente, um outro indivíduo coberto dos pés à cabeça aproximou-se, montando um dromedário. Os nómadas trocaram algumas palavras e o primeiro voltou a falar algo na língua desconhecida.

- O meu chefe saúda-vos e pergunta o que fazem dois homens com trajes tão esquisitos e uma criança no meio do deserto. – O homem que se tinha aproximado falava um inglês cuidado.

- O meu nome é Hector Barbossa e este aqui é Jack Sparrow e sua filha Mary. – Barbossa apontou para os outros dois e pela primeira vez na vida tinha ocultado deliberadamente o capitão do nome. – Perdemo-nos no meio deste deserto. Encontramos um oásis, onde conseguimos saciar a sede, no entanto encontramo-nos esfomeados.

O homem escutou-os atentamente e falou na sua língua com o chefe. Depois virou-se para eles, a expressão indecifrável por baixo daquele véu.

- Sois homens de azar. Perder-se no meio do grande deserto é morte certa. Para onde se dirigem? – O homem perguntou.

- Rumamos em direcção a Nordeste. – Jack disse. – O nosso grande desejo é encontrar uma povoação.

O homem olhou-os e voltou a falar com o chefe. Houve um silêncio em que Jack e Barbossa se olharam cautelosos, até que o chefe falou na sua língua, sendo traduzido pelo outro nómada.

- Rumamos na mesma direcção. – O nómada disse. – Parece que de homens de azar passaram a homens de sorte. Iremos acampar esta noite e o meu chefe convida-vos a fazerem parte.

- Agradecemos imenso o convite. – Barbossa fez um leve aceno de cabeça.

- O meu nome é Adib e esta é a minha tribo. Somos nómadas tuaregues, povo do deserto. O meu chefe é Munir Hasan. Dirigimo-nos às cidades do Egipto para fazer algum comércio.

- Para ali é o Egipto? – Jack perguntou abrindo a boca.

- Efectivamente. – Adib assentiu com a cabeça. – Parece que estão mesmo perdidos. Façam-nos companhia.

Munir falou algo a Adib e este fez sinal com a cabeça.

- Espero que compreendam. – Adib disse. – O meu chefe notou que estão armados. Ele pediu para que entreguem as vossas armas.

- Mas nós precisamos delas! – Jack exclamou.

- E serão devolvidas assim que quiserem partir. – Adib disse. – Mas têm de compreender que aqui, os desconhecidos são vocês.

Jack e Barbossa entregaram contrariados as suas pistolas e espadas. Depois os tuaregues retomaram caminho, com os piratas seguindo no meio da caravana.

- Não gosto disto. – Jack voltou a repetir fazendo Barbossa rolar os olhos. – Tiraram-nos as armas.

- Jack esperavas o quê? – Barbossa perguntou. – Faríamos o mesmo se alguém aparecesse no navio.

- Mas eles são estranhos. E se nos tiraram as defesas para nos matarem? Ou pior, para nos comerem! Como os Pelegostos. – Jack fez um esgar lembrando-se da tribo canibal que enfrentara.

- Papá, porque é que eles estão cobertos até aos pés? – Mary perguntou.

- Porque é o nosso costume. – Adib explicou e retirou o véu que lhe cobria a cara. Era extremamente moreno e os seus olhos escuros emitiam um brilho intenso. – Em termos práticos protege-nos do sol e das tempestades de areia que acontecem aqui no deserto.

- E porque são azuis? – Mary tornou a perguntar.

- Porque acreditamos que nos protege dos maus espíritos. – Adib sorriu. – Vocês vêm de onde?

- De todo o lado. – Jack disse. – A nossa casa é o mar.

- Homens do mar em pleno deserto? – Adib ficou surpreso. – Inacreditável.

- Onde é a vossa casa? – Mary perguntou.

- Aqui. A nossa casa é o deserto. – Adib explicou.

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O dia deu lugar à noite e a caravana montou acampamento no meio das dunas. O céu estava estrelado. A Lua em quarto crescente proporcionava uma luz natural, mas esta foi imediatamente substituída pelas fogueiras que se acenderam. Os tuaregues montaram tendas de pele de cabra, dormindo na areia.

- Contra o frio. – Adib distribuiu três canecas contendo um líquido o qual Jack torceu o nariz. – Chá de menta.

- Como é que fala tão bem o inglês, senhor Adib? – Barbossa perguntou.

- Somos um povo nómada mas fazemos algumas trocas comerciais. Desde pequeno que eu tenho facilidade em aprender língua. Com o tempo acabei sendo o tradutor da tribo. – Adib explicou.

- Vocês são árabes, certo? – Jack perguntou.

- Não, embora as pessoas confundam. Somos Berberes. No entanto, o nosso povo adaptou-se a não ter um sítio fixo para se instalar.

- Senhor Abdul ou Abdel…

- Adib.

- Isso… - Jack emendou. – Você falou que para Nordeste fica o Egipto. Sabe se por acaso existe algum templo ou coisa parecida por lá? – Jack perguntou e Barbossa deu-lhe uma cotovelada.

- Existem imensos templos espalhados por todo o Egipto. – Adib explicou. – A maioria está ruínas. Há centenas e centenas de anos que o povo deixou de acreditar que vários deuses regiam o mundo.

- Qual a cidade mais próxima? – Barbossa perguntou.

- As cidades ainda estão distantes. Nesta direcção encontraram uma pequena aldeia a dois dias de viagem. – Adib apontou. – Nós não entraremos dentro dela, mas passamos próximo. Se quiserem é só nos seguirem.

- Agradecemos imenso. De certeza que não nos safávamos só com uma bússola! – Jack exclamou, bebendo o chá.

- Bússola? – Adib interrogou. – Os homens do deserto guiam-se só pelas estrelas. E acertam sempre no caminho.

Jack engoliu a resposta e olhou para Mary. Esta última era apaparicada pelas mulheres da tribo. Embora de dia, usassem o mesmo véu para se protegerem, à noite tiravam-no, revelando o rosto. Eram todas extremamente bonitas, mesmo as mais velhas.

- Há muitos anos que a nossa tribo é afectada por uma maldição. – Adib disse, olhando para a filha de Jack. – A falta de crianças.

- Pelos vistos mulheres não faltam. – Jack riu sozinho face à piada.

- De facto mais de metade da tribo é casada, mas o mais novo de cá sou eu. – Adib explicou. – Há 20 anos que não nascem crianças.

Jack abriu a boca até ao chão e Barbossa engasgou-se com o chá.

- É por isso que elas estão contentes. Nunca estiveram tão perto de uma criança como a sua filha. – Adib disse.

- É mesmo. – Jack continuava de olhos arregalados.

- Como é que estarão os outros? – Barbossa perguntou coçando a barba, quando Adib se retirou.

- Espero que vivos e de boa saúde. – Jack disse.

- Pelo menos temos a certeza que os que ficaram no Pearl sobreviveram, espero. – Barbossa arregalou os olhos.

- Sobreviveram? – Jack virou-se lentamente para Barbossa.

- Quando fomos "sugados" para este fim de mundo, os restantes ficaram lá, certo? Senão estariam aqui. – Barbossa disse. – Aquela deusa era demasiado forte.

- De certeza que a Calipso ou o sexy man do Olimpo apareceram para salva-los. – Jack disse, sentindo um pânico crescente.

- Espero bem que sim. E espero que eles andem à nossa procura. – Barbossa preparou-se para dormir.

Jack praguejou baixinho quando o mais velho adormeceu. Decidiu caminhar um pouco, não perdendo a tribo de vista. Ainda desconfiava da simpatia daquele estranho povo para com eles. É certo que a única coisa que lhes fizeram foi retirar-lhes as armas. Depois deram-lhes de beber e o jantar à base de tâmaras secas, um pouco de carne e hortaliça soube divinalmente. Até o próprio chá de menta que ao princípio Jack desconfiou, era reconfortante. No entanto, não deixava de estar inquieto. Não era tanto pela tribo de eunucos, como já a apelidara, mas pelo facto de Adib dizer que se encontravam no Egipto.

Já tinha notado que o Olho-de-Tigre que Mary transportava tinha-os feito viajar até ali. Tinha a leve suspeita que o tesouro estaria algures ali, mas faltava o mapa de Sao Feng para o confirmar. Para além disso, a bússola mostrava o que mais desejava e isso era algo que podia variar. Se estivesse morrendo de fome e sede é claro que esta apontaria para o local mais próximo, onde houvesse alimento e água. A bússola poderia mostrar como sair dali, mas havia um senão. Jack estava dividido entre achar esse tesouro e encontrar os outros, principalmente Lara. Tinha conseguido a chave que abriria esse tesouro gigantesco mas acabara por perder Lara.

Os seus olhos estreitaram-se. Sabia que Lara poderia estar perdida de duas maneiras e nem uma nem outra acalmavam o seu coração. Uma recordação negra passou pela sua cabeça.

"- O que é que se passou, Lara Stevens? – Jack agarrou-a pelos braços.

- Eu beijei-o. – Lara começou a chorar e agarrou-se a Jack mas este estava rígido que nem uma pedra."

Jack suspirou fundo olhando as estrelas. A confissão tinha-o atingido como um tiro no peito, mas com a confusão que se passou a seguir, não tinha tido tempo para pensar nisso. Mas agora que tudo lhe passava na cabeça outra vez, sentiu-se um completo idiota. Nunca se tinha juntado a ninguém. Nunca tinha amado ninguém como Lara. É certo que durante a sua vida tinha tido inúmeras paixões e conquistas, mas nada era comparável ao que sentia por Lara.

Agora Jack sabia. Talvez nunca tenha amado porque tinha medo. O medo de ser feliz e de alguém lhe ceifar essa felicidade. Com o seu pai tinha acontecido o mesmo. Teague Sparrow era um pirata fenomenal e um homem completamente apaixonado por uma indígena que apareceu na sua vida. A sua mãe, tida por muitos como uma das mulheres mais belas que pisaram um navio pirata, era alguém que o próprio idolatrava. Quando esta morreu, o seu pai nunca mais fora o mesmo. Teague Sparrow continuava o mesmo pirata mas sem qualquer brilho nos olhos.

Jack temeu sempre que o mesmo lhe acontecesse. Por isso, convenceu-se que nunca iria amara uma mulher. O destino pregou-lhe a partida e além de uma mulher, Jack tinha agora uma filha. Tudo óptimo durante cinco anos em que Lara aprendeu a ser uma pirata de talento. Mas tudo começou a desmoronar depois daquela passagem por Tortuga.

- Maldito grego. – Jack resmungou entre dentes. Uma luz passou pela sua cabeça. Antes de tudo acontecer, Darius caíra num precipício. – Mas como é que ele apareceu vivo e de boa saúde ao lado de Circe?

Jack coçou a cabeça. Algo ainda mais negro rasgou a sua mente. Se Darius conhecia Circe então é porque os dois estavam metidos nisso.

- Não pode ser. – Jack levantou-se e andou em círculos. – Além de querer a minha mulher aquele crápula ainda é um vilão!

Deixou-se cair derrotado no chão. Não sabia se Lara estava viva. Mas a única maneira era seguir esse tesouro.

- Se o Olho-de-Tigre existe é porque esse tesouro existe. – Jack colocou um dedo no ar. – Eu tenho de achar esse tesouro onde quer que ele esteja.

Jack levantou-se e caminhou a passo apressado até ao acampamento.

- Acorda seu zombie. – Jack abanou Barbossa, fazendo este resmungar.

- Que é seu chato? – Barbossa perguntou lamentando-se pela ausência da pistola.

- Nós temos de achar esse tesouro. – Jack disse.

- Obrigadinho. Quando surgir uma pista avisa. – Barbossa voltou a fechar os olhos.

- Eu acho que sei onde está essa pista. – Jack disse. – O Olho-de-Tigre. Lembras-te que ele abriu por instantes lá no oásis, certo?

- E depois?

- Depois que eu tenho a leve suspeita que ele abrirá perto de água. E algo me diz que ele contem a pista para esse tesouro, ou não fosse a própria chave. – Jack sorriu triunfante.

- Pois então génio, teremos de esperar até chegar a algum sítio com água, ou vais virar um cantil por cima do Olho? – Barbossa perguntou, resmungou e tornou a fechar os olhos.

- Zombie. – Jack botou a língua de fora e rastejou para o pé de Mary que dormia sossegada.

Fixou o tecto da tenda até o sono aparecer. Ouviu um ronronar e olhou para o lado.

- Qual é o problema, monte de pêlo? – Jack fez uma careta quando viu que o gato de Mary, deitado aos pés deste, tinha os olhos fixos em si e abanava a cauda suavemente. – Nem ouses aproximar-te de mim. O meu nariz não gosta de gatos.

Jack virou costas e tentou adormecer. Uma aragem fresca soprou no seu ouvido e Jack virou-se barriga para o ar. Sorriu ao notar que alguém acariciava os seus cabelos ao de leve.

Jack… - o sussurrou soou no seu ouvido, fazendo-o acordar. Mirou o ambiente. Todo o acampamento dormia à excepção de dois tuaregues que faziam a vigia. Barbossa dormia parecendo um terramoto e Mary descansava abraçada ao gato. Jack olhou atentamente o animal que repousava de olhos fechados.

- Estranho. – Jack disse em voz baixa. Sentiu uma presença. Uma voz feminina soando no seu ouvido. Suspirou desconsolado. Talvez estivesse ficando louco. Mais do que já era.

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O sol ainda pintava timidamente o céu escuro quando a tribo levantou acampamento. As mulheres da tribo vestiram Mary com uma túnica e Adib ofereceu dois turbantes a Jack e Barbossa.

- Eu não vou usar isto! – Jack olhou o estranho lenço. – Além do mais se colocar isto não posso usar o meu chapéu.

- Vocês é que sabem. – Adib disse. – Mas acreditem, vão se sentir mais aliviados com o turbante. Não é só areia e calor que existe neste deserto.

Barbossa e Jack olharam um para o outro e depois para Adib. Apressaram-se a retirar o chapéu e Adib riu-se. As mulheres aproximaram-se e ajudaram os capitães a colocarem correctamente o véu.

-As vossas mulheres parecem bastante felizes, para além do problema que mencionou. – Jack observou, enquanto caminhavam pelo deserto quente.

- O estatuto da mulher tuaregue é diferente das restantes no mundo muçulmano. – Adib explicou. – Elas não são obrigadas a usar véu e gozam de grande autonomia. Além do mais, podem requerer o divórcio.

- Oh. – Jack arregalou os olhos e viu que uma das mulheres lhe piscou o olho. Sorriu e engoliu em seco.

- O chefe gostou bastante das vossas histórias ontem à noite durante o jantar. – Adib disse.

- De certeza que ficou com a impressão de que éramos algum tipo de piratas. – Jack olhou de lado. Tanto ele como Barbossa tinham passado a ideia de que eram marinheiros que tinham atracado em Alexandria e se perderam no meio do deserto.

- Ouviram as nossas histórias? – Adib perguntou. Os capitães acenaram afirmativamente. – Se tivessem ouvido algo sobre os povos tuaregues o mais certo era pensarem que estavam perante assassinos. Cada povo, cada homem tem a sua história e por isso mesmo acabam sendo rotulados com palavras menos gentis.

- Bem verdade. – Barbossa analisou as palavras de Adib.

- Se por ventura forem piratas… - Adib lançou a deixa. - … só espero que me recebam a mim ou ao meu povo da mesma forma que foram recebidos.

- Terá a minha palavra! – Jack exclamou. – Isto se alguma vez estiver em alto mar.

- A tua palavra? – Barbossa sussurrou para Jack. – Sei…

- Diz onde é que a tua palavra vale mais que a minha? – Jack confrontou Barbossa sorrindo.

A caminhada até à aldeia mais próxima durou mais dois dias e duas noites. Nessas mesmas noite, Jack não conseguiu dormir. Continuava com a impressão que alguém o espiava e lhe sussurrava ao ouvido. Chegou a chamar por Lara e sentiu que alguém lhe beijara os lábios, mas quando acordava e olhava em volta, só o silêncio e o crepitar da fogueira se faziam ouvir.

- Isto é de loucos! – Jack exclamou para si, enterrando a cara nas próprias mãos.

Na manhã do segundo dia, avistaram duas palmeiras. Atrás destas, um aglomerado de pequenas casas da cor da terra, mostravam claramente presença humana.

- É aqui. – Adib apontou quando a caravana parou. – São gente humilde mas hospitaleira. Nós iremos abastecer e seguir viagem.

- Nós ficaremos por aqui. É preciso pensar qual o caminho a tomar. – Barbossa disse.

Desceram do dromedários e levaram os animais até um pequeno lago à entrada da aldeia. Adib surgiu acompanhado do chefe e de mais duas mulheres.

- O chefe agradece-vos a vossa companhia. – Adib disse. Depois, dois tuaregues aproximaram-se e entregaram as armas a Jack e Barbossa.

- Nós é que agradecemos a hospitalidade. Foi bom para nós encontrarmos gente boa que nos iluminasse o caminho. – Jack disse.

Munir Hasan falou algo em berber abrindo os braços. Depois um homem passou-lhe algo para as mãos.

- Um presente. – Adib explicou. – Os véus protegem-vos das intempéries do deserto, mas existem inimigos piores. Façam um bom uso delas.

Jack e Barbossa olharam maravilhados as espadas de dois gumes que lhe ofereceram. Depois as duas mulheres aproximaram-se e entregaram cantis com chá e alguma comida. Uma dela agachou-se e sorriu para Mary, colocando-lhe algo à volta do pescoço.

- Feito de âmbar. Serve para afastar os maus espíritos e dar alegria a quem o possui. – Adib explicou.

Quando a caravana partiu, os três ficaram vendo a fileira de negras sombras desaparecer no meio daquele mar de areia. Depois fitaram a aldeia.

- Parece que já chegamos a algum sítio. – Jack disse.

- Nem tudo o que parece é. – Barbossa olhou a povoação desconfiado.

Continua…


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Notas finais do capítulo

Olá Leitoras e Leitoras. Após um paragem na fic, por razões pessoais, eis que regressa ao activo Olhos Felinos!

Obrigada pelas reviews Camila, resende e Sweet Luna!

Espero que gostem!!! Saudações Piratas!!! :D

JODIVISE



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