Capítulo 22: Maelstrom

Lara empalideceu ao mesmo tempo que via o redemoinho aumentar de tamanho. Era mau demais para ser verdade. Nunca pensou que algo tão "natural" lhe metesse tanto medo.

- Temos de nos afastar. – Lara gritou para Barbossa. – Ele vai acabar por nos sugar!

- Para qualquer lado que for, um Maelstrom daquele tamanho vai nos puxar para o seu centro. – Barbossa disse, assumindo o leme do Pearl.

- E você diz isso com essa cara? – Lara arregalou os olhos ao ver a serenidade de Barbossa.

- Love, estamos a menos de um quilómetro dele. O melhor é tentar passar pelo meio e rezar para que ele desapareça antes disso. – Jack disse envolvendo a sua cintura, mas Lara desenvencilhou-se deste. – Entretanto aconselho que a Mary vá para dentro. E a Alicia também. Poderá ser enjoativo andar às voltas e dado que ela está grávida…

- MAS VOCÊS ESTÃO LOUCOS? QUEREM UM SUICÍDIO EM MASSA E NÃO ME AVISARAM? – Lara colocou as mãos na cabeça.

- Hector… - Grace virou-se para ele. - … tens a certeza disso?

- Absoluta. – Barbossa acenou. – Esta tripulação já passou por um. E ainda estamos aqui.

- Eu não acredito. – Lara bufou e desceu as escadas. Ao passar por Alicia pegou na filha e pediu para que a amiga a seguisse até à cabina.

- Onde está o Will? – Lara perguntou e Alicia ficou com cara de palerma.

- Como assim, onde está o Will? – Alicia perguntou abanando a cabeça. – Sabes muito bem que ele está ausente por causa de… porque perguntas?

- Porque lhe iria pedir para bombardear o Pearl e principalmente esses malucos do Jack e do Barbossa. – Lara bufou. – Eles querem passar por um Maelstrom!

- O quê? – Alicia arregalou os olhos. – Não me apercebi de nada.

- Ora tu não te apercebes de nada há uma semana. – Lara colocou Mary no chão e começou a andar em círculos dentro da cabina. – Eles vão nos matar.

- Lara, eles combateram dentro de um. – Alicia disse. - Só acho estranho é formar-se um no meio do Pacífico e depois de um tempo fantástico.

- O Jack disse que o mapa mostrava o Maelstrom. – Lara parou subitamente. – Aconteça o que acontecer não saias daqui. E cuida da Mary.

Lara saiu para o exterior e imediatamente ficou encharcada devido à chuva. Tinham entrado dentro da tempestade. Olhou para o timão e viu que Barbossa sorria, irritando-a profundamente. "Malditos Piratas", pensou.

- Jack. – Lara caminhou até ao capitão. – Dá-me o mapa.

- O que é que vais fazer com ele? – Jack perguntou, abraçando o objecto.

- Pisá-lo com os meus próprios pés, pegar-lhe fogo e atirá-lo ao mar. – Lara disse e viu Jack ficar horrorizado. – É claro que não vou fazer isso, seu… seu… - Lara bufou. – AI QUE NEM SEQUER INSULTAR-TE CONSIGO!

- Isso darling, é devido à minha magnífica aparência e poder de persuasão. – Jack sorriu safado e Lara arrancou-lhe o mapa das mãos.

- Não há hipótese de passarmos ao lado? – Lara guiou o percurso com o dedo. – Demoraria mais tempo mas seria mais seguro.

- Lara, eu não sei se reparaste mas… - Jack chamou a atenção ao mesmo tempo que o Pearl começava a ranger com o mar revolto. - … não há volta a dar.

- Mas Jack… - Lara engoliu em seco e puxou a sua melhor cara de pânico. - … nós vamos morrer!

- Sinceramente… acho que não. – Jack abriu a bússola. – Ela aponta mesmo para o centro do Maelstrom. Ora se para chegar a essa ilha maldita teremos que passar aquilo, é porque o caminho está certo.

Lara sacudiu o cabelo molhado e viu o navio inclinar à medida que entrava no redemoinho.

- Agarrem-se às amarras para não caírem. – Gibbs aconselhou. – Têm a certeza disto? – Perguntou olhando para os capitães.

- Absoluta. – Jack sorriu enigmático.

- ANDEM LÁ SUAS BESTAS! SOLTEM AS VELAS, DEIXAI QUE ESTE ESTAFERMO PROVE A RESISTÊNCIA DO MEU NAVIO! – Barbossa berrou.

- MEU NAVIO! – Jack berrou, entrando dentro da cabina.

- O seu marido é louco! São todos loucos. – Norrington observou.

- Oh obrigada por me avisar disso em momento tão "oportuno"! – Lara exclamou sarcástica. – Grace, bem que podias ter dado a volta ao Barbossa.

- Eu? Larinha, ele é doido… - Grace disse. - … mas eu confio nele a cem por cento em questões náuticas!

Lara abanou a cabeça e procurou Jack com o olhar. Este tinha desaparecido e Lara teve vontade de esganar aquele bando de piratas insolentes.

- Eu acho que devia confiar mais no seu marido. – Darius disse e Lara encontrou o olhar deste. – Afinal a sua fama percorre todo o mundo.

- Nem todas as histórias são verdade. – Lara disse, tentando parecer calma.

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Alicia olhou pela janela da cabina. Sentiu um arrepio ao verificar que o navio fazia círculos em volta do redemoinho evitando ser sugado e ao mesmo tempo tentando sair dele. As mobílias tinham deslizado para estibordo e Alicia considerava seriamente a ideia de o navio poder virar com o peso. Olhou Mary a um canto da sala.

- Não fiques com medo minha princesa. – Alicia disse aninhando-se ao lado desta e abraçando-a. – Num piscar de olhos estaremos a salvo.

- Eu sei. – Mary disse numa naturalidade que fez Alicia franzir o sobrolho. – O meu pai vai salvar-nos.

- Nossa, tu adoras mesmo o Jack não é? – Alicia sorriu e afagou o cabelo desta. – Espero que o Will seja um pai assim tão fixe.

Alicia estremeceu quando a porta se abriu. Jack entrou com um sorriso no rosto.

- Preparada para entrar em acção? – perguntou, deixando Alicia sem perceber.

- Você está doido? – Alicia perguntou. – Quer dizer, você já é doido.

- Não querida cunhadinha emprestada. – Jack agachou-se e sorriu abertamente para Mary. – Eu nunca me arriscaria no meio disto se não soubesse como ultrapassá-lo.

- Oh, então porque é que ainda estamos aqui no meio? – Alicia perguntou semicerrando os olhos. – Eu sei que você tem uma na manga, embora não faça a mínima ideia do que será.

- Mas vai saber. Você nos salvará. – Jack disse e Alicia pode notar a quem saía a naturalidade de Mary.

- Ok, você endoideceu… ainda mais! – Alicia exclamou, levantando-se a custo.

- Não. Apenas sei quando utilizar certas armas e neste caso, você é a minha arma. – Jack sorriu triunfante, deixando Alicia ainda mais confusa. – A Lara contou-me sobre a visitinha da irmã atlante.

- E…?

- Segundo Serena, você teria um papel importantíssimo, certo?

- Sim, mas a proteger os miúdos! – Alicia exclamou. – E aqui estou eu com a Mary e… bem o meu futuro filho.

- Sim, mas ela legou-lhe algo para tornar essa tarefa muito mais fácil. – Jack arregalou os olhos e Alicia céptica ao princípio, começou a juntar as peças.

"A partir de agora tu terás os mesmos poderes que eu tinha", um flash passou pela mente de Alicia, fazendo Jack sorrir ainda mais.

- Mas… eu não sei como usar esses poderes! – Alicia exclamou em total pânico. – Aliás, acho que foi uma partida da Serena. Não me sinto mais forte ou diferente.

- Normalmente deuses e princesas esquisitas não costumam brincar. – Jack disse. – E se ela disse para tu os usares…

- Sim, mas o que adiantaria? Como é que eu vou dominar um Maelstrom? – Alicia apontou para a janela e de repente, outra lembrança mais antiga assolou a sua mente: "Elas as duas eram especiais. Tinham poderes. Serena tinha o poder de controlar o tempo e os fenómenos atmosféricos". – Oh Deus…

- Parece que não fui só eu a prestar atenção à histórinha contada pelo Hermes. – Jack sorriu de canto.

- Mas eu não posso parar o tempo, senão ficamos aqui presos. – Alicia explicou.

- É verdade, mas se você conseguir controlar um fenómeno atmosférico, talvez nos safemos. – Jack viu que o Pearl rangia cada vez mais e pegou na filha ao colo. – Está na hora.

Alicia saiu para fora. O seu sangue pareceu gelar quando viu o imenso buraco negro no meio. Olhou o ambiente e incrivelmente teve vontade de rir. Barbossa lá no alto praguejava e ria que nem um louco. Norrington estava com uma cara parecida com alguém que iria desmaiar a qualquer momento. Elizabeth e Thomas encontravam-se agarrados e Alicia não conseguiu distinguir se ambos estavam divertidos ou aterrorizados. Já Lara parecia o diabo. O seu olhar fulminava todos e se não fosse Grace a segurá-la, Alicia tinha a certeza que esta mataria alguém. Notou a proximidade de Darius e viu no meio daquela confusão a preocupação que este mostrava com Lara e isso deixou-a ainda mais intrigada. "Talvez não fosse tão mau assim", as palavras de Will ecoaram na sua cabeça e deu consigo a sorrir.

Olhou Jack que se encontrava com Mary ao colo e aproximou-se do parapeito. As águas negras salpicavam o seu rosto devido à fúria da tempestade e da velocidade do Pearl. Respirou fundo. A verdade é que não fazia a mínima ideia do que teria de fazer. Quando em Salania conseguiu parar o tempo e assim derrotar a guarda de Éris, simplesmente não fizera nada especial. Apenas um arrepio gelado e de repente tudo estava parado.

- O que é que aquela maluca vai fazer? – Lara perguntou em desespero quando viu Alicia se debruçar no parapeito do navio.

Fechou os olhos e tentou se concentrar. Não soube dizer se o tempo parara de novo, mas deixara de ouvir a vozes da tripulação, o barulho das águas e os trovões. Abriu os olhos e fitou o céu escuro. Novamente não soube dizer como das suas mãos brotou algo brilhante que depressa se misturou com as águas, criando um caminho luminoso para fora do Maelstrom. Como por magia, o navio começou a ser arrastado por essa corrente subindo até ficar fora do redemoinho.

- Icem todas as velas. Temos de atingir a força máxima para conseguir sair daqui! – Jack exclamou, enquanto Barbossa dava exactamente a mesma ordem.

- Eu disse que o meu pai sabia a solução. – a voz de Mary fez Alicia sorrir, mas desabar no chão. Todo o seu corpo tremia como se tivesse em hipotermia.

- Deus do céu, a menina está bem? – Grace correu até Alicia, assim como Elizabeth.

- Estou. Foi só um momento de fraqueza. – Alicia colocou-se em pé e viu que o redemoinho tinha desaparecido. As nuvens começavam a ficar mais claras, indicando que a tempestade dava sinais de amansar.

- Tu salvaste-nos! – Thomas passou o braço pelos ombros de Alicia. – Foi incrível. Parecias uma autêntica heroína.

- Ah eu não fiz nada de mais. Só respirei fundo e… - Alicia foi interrompida por Lara.

- Os teus olhos ficaram brancos e foste envolvida por uma luz imensa. – Lara explicou. – Podes explicar o que foi isso?

- A sério? – Alicia abriu a boca até ao chão. – Uau deveria parecer uma daquelas feiticeiras com poderes… não me olhes com essa cara!

Lara batia o pé e Alicia revirou os olhos. E a última sabia porquê. Lara sempre fora super-protectora. Na escola, quando Alicia se metia em encrenca, era ela que a protegia. E aqui não era diferente. No fundo, embora diferentes, sabia que a relação delas era tal e qual de irmãs.

- Lara, podes abandonar a tua posição de senhora mandona que eu sei que estás aliviada por estarmos bem! – Alicia exclamou. – E sim, a Serena concedeu-me os poderes dela até chegarmos a essa ilha.

- Mas pode ser perigoso! – Lara exclamou e viu que ali no meio ela era uma incompreendida. Nem sequer Grace a compreendia. Será que não viam que podiam ter morrido?

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Um dia depois…

Lara encontrava-se sentada na cama olhando o vazio. Quando Jack entrou, sentiu-se uma idiota.

- Ainda se sentindo uma Joana D'Arc injustiçada? – Jack perguntou com um leve tom divertido na voz.

- Não brinques. – Lara disse, sentindo o braço de Jack envolvendo-a. – Acho que vou acabar abandonada numa ilha de tanto me preocupar com vocês.

- É assim tão evidente? – Jack franziu o sobrolho e continuou o jogo. – É verdade love. Todos aqui estão pensando se amotinar contra você e jogá-la na ilha deserta mais próxima.

- Você não perde o jeito cafageste pois não? – Lara perguntou, olhando Jack na profundidade dos seus olhos.

- Desculpa, darling. Mas eu acho que essa tua preocupação é demais. Eu sei que as mulheres quando são mães ficam emotivas e existem certos dias em que não há como aguentá-las… - Jack começou com os seus tiques esquisitos e fez Lara sorrir, embora o escondesse.

- Estás dizendo que já não me aguentas? – Lara semicerrou os olhos.

- Claro. – Jack disse, com uma naturalidade. – Já não aguento viver sem ti, já não aguento ficar sem o seu corpo colado ao meu e principalmente já não aguento de tanto te amar!

Lara sorriu pela primeira vez desde a tempestade e beijou Jack.

- Eu também te amo. – Disse, enquanto enlaçava as pernas à volta da cintura de Jack.

Enquanto se beijavam, Lara tratou de tirar a camisa de Jack. Sentia uma urgência quase inexplicável de ser amada, de sentir o corpo de Jack roçando o seu. E quando os seus corpos nus se uniram, foi como se tivesse tirado um peso das costas e deixasse todos os problemas de lado, adormecendo tranquila nos braços deste.

Não soube dizer quanto tempo tinha-se passado até dar conta que Jack não se encontrava mais ao seu lado. Levantou-se a custo e viu que era noite serrada e navegavam sobre águas calmas. Levou as mãos à cabeça. Será que Jack não podia passar uma noite inteira ao seu lado? Às vezes desejava que Jack fosse apenas o imediato do navio e não segundo capitão. Vestiu apenas umas calças e camisa larga e entrou dentro do quarto de Mary.

A filha dormia tranquilamente. Alicia não estava. Encontrava-se no navio ao lado, curtindo o seu marido imortal e a recente gravidez. Lara deu consigo sorrindo enquanto cobria Mary e lhe acariciava os cabelos. Preocupara-se tanto com a amiga que não dera por ela desta ter-se tornado forte, determinada e corajosa.

Saiu para a noite desagradável e viu a silhueta fantasmagórica de Holandês. No seu íntimo sentiu um pouco de inveja. Will estava sempre disponível. Mesmo com um fardo daqueles, não largava Alicia por nada. Também era demais às vezes, mas ao menos estava ali.

Olhou para o timão. Nem Jack, nem Barbossa. As luzes da cabina estavam acesas. Deu um passo na porta mas estancou. Por uma noite não queria pensar nesse tesouro.

O convés estava quase vazio. Alguns piratas de vigia e o resto estava dormindo, ou jogando às cartas encharcando-se de rum. Sentou-se nas escadas e observou alguém que estava do lado contrário: James Norrington. Nunca viu aquele homem sorrir abertamente e no entanto, sempre que ele olhava para Elizabeth era como se o rosto deste se iluminasse. Lara sentiu pena de Norrington. A vida tinha-lhe sido ingrata e ao mesmo tempo clemente.

Talvez um dia, aquele homem incompreendido encontra-se a felicidade por fim. Lara sentiu frio e esfregou os braços. Ao mesmo tempo algo a aconchegou e viu que um cobertor lhe tapava os ombros.

- Está uma noite fria para andar cá fora. – A voz de Darius soou no seu ouvido e Lara sentiu o seu estômago se retrair sem explicação.

- Eu não morro pelo frio. – Lara disse e desviou os olhos deste. Algo aconteceu porque Lara sentia vontade de sair dali e ao mesmo tempo ficar. Era como se tivesse se dividido em duas.

- A senhora Alicia foi muito corajosa. – Darius disse.

- Deus, chame-a de Alicia. – Lara disse. – Nem eu nem ela temos idade para ser chamadas assim.

- Mas são ambas casadas. – Darius observou e Lara virou-se para este apercebendo-se que estavam próximos demais. E mais uma vez sentiu algo esquisito.

- Sim e não. – Lara disse e viu Darius franzir o sobrolho. – Eu e o Jack somos casados apenas pela "lei da pirataria". É um casamento simbólico. Não é válido para mais nada. O mesmo com a Alicia e o Will. Por isso aos olhos da justiça e da igreja somos algo como… amancebados.

- Eu não acho. – Darius disse e captou a atenção de Lara. – Quando há amor não importa que haja um papel ou não, porque ele não passa disso. O amor é o maior elo de ligação que existe.

- Você… - Lara engoliu em seco sem saber como dizer aquilo sem dar duplo sentido. - … é bastante romântico.

Darius sorriu e Lara teve vontade de se jogar no mar. Quando deu por si estava suando e não tremendo de frio. "Na próxima eu levo o Jack à estica", pensou e vendo a iminência de entrar dentro da cabina dos capitães.

- Já o fui mais. – Darius disse e Lara notou que uma sombra de tristeza passara nos olhos deste.

- Desculpe. Eu tenho um jeito horrendo de sempre tocar em assuntos desagradáveis. – Lara levou as mãos ao rosto. Apoiou os cotovelos nos calcanhares. – É engraçado como o céu fica estrelado em noites frias.

- Eu costumava ficar olhando o céu durante toda a noite quando vivia na Grécia. – Darius. – Era como se cada estrela tivesse a sua história para contar.

- A sério? – Lara relaxou um pouco. – Há alguma história de que se lembre?

- Algumas.

- Conte-me a sua preferida. – Lara pediu e Darius olhou para si.

- Havia uma sobre aquela estrela. – Darius apontou uma estrela brilhante e Lara fixou-a. – Era sobre uma princesa.

- Uma princesa? – Lara olhou interrogativa para Darius e notou como o espaço entre eles ia ficando curto.

- Sim. Segundo a lenda, a princesa vivia num palácio e era bastante solitária. Passava os dias a ler e a amaldiçoar-se por vida tão monótona. Um dia, ela trocou de roupa com a criada de confiança e saiu para o mundo exterior. Andou todo o dia, olhando as ruas, a actividade das pessoas que ela apenas via de tempos a tempos. Mas acabou por anoitecer e ela acabou por se perder nas ruas. A certa altura, a princesa acabou num beco sem saída rodeada de homens com segundas intenções.

- Ela conseguiu se salvar? – Lara perguntou.

- Sim. Felizmente o rei deu pela sua falta e colocou toda a guarda real atrás da filha. Ela acabou sendo salva por um dos soldados que a levou em segurança para o palácio. – Darius fez uma pausa. – Isto foi só o começo da história.

- Pois você contou a história para a pessoa errada. Comigo, se começou tem de acabar! – Lara exclamou sorrindo.

- Muito bem. A princesa apaixonou-se por esse guarda, mas este não era digno dela. – Darius disse.

- Porquê? Ele tinha um passado negro? – Lara arqueou a sobrancelha e Darius sorriu.

- Não. Mas ele era apenas um soldado e ela uma princesa.

- Isso não era motivo. Se eles se amavam tinham todo o direito de ficarem juntos.

- E por momentos conseguiram. O rei era um homem bom e consentiu o casamento. Mas a princesa morreu antes. – Darius ficou sério e Lara lembrou-se de Mayara. Se esta tinha ficado noiva e o noivo tinha morrido como era tese sua e de Alicia, deveria ter ficado arrasada.

- Ela morreu de quê? – Lara perguntou.

- Segundo a lenda, ela foi assassinada aquando da ausência do noivo. Dizia-se que uma mulher gostava deste e a tinha morto.

- Nossa, que fim triste.

- Sim e não. – Darius disse, deixando Lara confusa. – Ela morreu mas os antigos diziam que se tinha transformado numa estrela. Está a ver o espaço que existe entre ela e as outras estrelas? Diz-se que ela se tornou solitária de novo e que espera o amor da sua vida se juntar a ela.

- E no entanto continua sozinha. – Lara observou. – Ainda não sei porque é que as lendas sobre princesas são sempre trágicas. Acho que já não ouvia uma assim, desde que era criança.

- Agora sempre pode contá-la à sua filha. – Darius disse e Lara sentiu de novo necessidade de se trancar no quarto.

- É melhor eu ir. Amanhã é um novo dia e se houver mais algum perigo à espreita é melhor descansar também. – Lara aconselhou. Entregou o cobertor a Darius e sem querer a sua mão roçou na sua. De novo, uma espécie de ansiedade tomou conta de si e a passos largos avançou para o quarto.

- O que é que se passa comigo? – Perguntou para si própria, enquanto se apoiava nos pés da cama. Olhou de relance para o espelho e o que viu fez com que abafasse um grito.

Continua…