Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 9
Consternação


Notas iniciais do capítulo

E a mudança começa....



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EDWARD

Eu voltei pra casa com o dia já claro, apenas para trocar de roupa. Subi pela lateral da casa, direto para meu quarto.

Eu tinha tomado uma decisão definitiva durante a minha corrida noturna.

A raiva que eu sentia naquele momento me fortaleceu. Eu colocaria Bella contra a parede, e ela ia me dar uma explicação.

Tinha medo do que iria ouvir, mas sufoquei o sentimento com a determinação que me dominava agora.

Eu definiria aquela situação, fosse para o bem ou para o mal. E eu teria um último momento com ela se fosse para nos separarmos.

Uma coisa estava determinada em minha mente. Eu não rastejaria mais. Nem um segundo mais. Se ela decidisse me deixar, eu acataria sua vontade sem pestanejar. Só precisaria de uma explicação. Só isso me bastava.

Olhei o relógio em minha estante. Quase oito. Bella já estaria acordada. Desci para a garagem.

Respirei fundo antes de entrar no carro.

Alice se sentou no banco do carona.

- Alice, eu preciso sair agora...  – falei trincando os dentes.

- Se você tomar a atitude que decidiu tomar... As coisas vão piorar. – Seu tom era de súplica.

- Como isso pode piorar ainda mais, Alice? – perguntei exasperado.

- Edward, esse não é o melhor caminho a seguir...

- Eu estou cansado de seguir o melhor caminho! Estou cansado de permitir que Bella domine todos os meus sentidos, me tenha nas mãos... Eu posso ser um cavalheiro, mas antes sou um vampiro! E meu instinto de preservação está gritando agora. Estou cansado de sentir essa dor, Alice...

Ela me olhava espantada.

Aquele não era meu jeito habitual de agir. Mas algo dentro de mim se quebrou quando senti o odor acre daquele cachorro em Bella. Alguma coisa se perdeu e me fez virar o monstro que eu era em minha essência.

- Edward... Você não está me ouvindo?

- Alice eu já me decidi, nada vai mudar...

- Eu estou falando com você em minha mente... – Falou alarmada. – Essa é a segunda vez que você não me ouve...

- Eu... Eu... – Fiquei confuso.

Olhei diretamente em seus olhos. Eu não ouvia nada.

Me concentrei um pouco mais.

Nada.

Sacudi a cabeça.

O som de sua voz mental foi voltando lentamente, ainda bem distante, mas eu não conseguia distinguir sobre o que ela pensava.

Voltei meu rosto para o pára-brisa – Isso não é importante agora... – Murmurei mais para mim mesmo.

- Você está bem? – Alice perguntou confusa.

- Estou. Por favor, saia.

- Edward, por favor...

Soltei um suspiro longo e pesado e acelerei o carro.

 Alice pulou para fora com uma cara desolada.

Ignorei e segui para a estrada.

 

 

Bella me esperava na porta. Havia ligado para ela no caminho.

Quando cheguei em sua frente, puxei-a pela cintura num movimento rápido, sabendo que ela não teria como escapar, e colei nossos lábios com toda a força, alcançando o limiar de sua resistência.

Ela não se afastou e correspondeu ao beijo, mas eu senti que algo estava diferente.

Quando a soltei ela estava corada e arfante.

Sorri.

- Oi. – Disse no tom mais casual possível, como se nada houvesse acontecido.

- O-oi... – Respondeu constrangida.

Entrelacei nossos dedos e puxei-a até o carro.

 

Ela ficou calada o caminho todo até minha casa, enquanto eu ignorava a forte tensão que se instalou entre nós.

Fingi que o desespero e o medo que me consumiam não existiam.

Este último momento com ela era só meu e eu não deixaria escapar. Depois ela iria me explicar tudo que eu queria saber (e também o que eu não queria), e me diria o que tanto a deixava tensa. Não queria pensar nisso no momento. Queria apenas tê-la em meus braços mais uma vez.

Bella alongou-se nos cumprimentos e diálogos com meus familiares. Imaginei que queria retardar o momento de nossa conversa.

Jasper a olhava concentrado. Tentei ler sua mente para saber o que ele estava absorvendo, mas a voz estava distante e indistinta, assim como a de Alice mais cedo.

Me preocuparia com isso depois.

Em um dado momento, me desculpei com Esme e Carlisle, que conversavam entretidos com Bella, e a puxei para meu quarto.

Fechei a porta assim que entramos, girando-a de frente para mim. Ela esboçou uma reação, abriu a boca para falar alguma coisa, mas eu a impedi. Com toda a delicadeza possível naquele momento de desespero, colei meus lábios aos dela num ímpeto e a segurei com força em meus braços, conduzindo-a à nossa cama.

Minha determinação se esvaiu por completo. Eu não iria conseguir pressioná-la ou mesmo questionar suas atitudes. Eu a amava mais que qualquer coisa, mais que a mim mesmo. Por mais que tentasse eu sempre faria exatamente o que ela quisesse, ainda que isso pudesse me matar.

Ignorei minha covardia. Depois me lamentaria por ela.

Bella não resistiu, mas não correspondeu como eu estava habituado.

Ignorei isso também.

Eu precisava dela.

Naquele momento, tudo que eu queria era sentir seu corpo no meu, seu calor, seu perfume... Só queria fazê-la minha mais uma vez... Talvez pela última vez.

Se ela fizesse menção de me rejeitar, eu pararia, mas ela apenas me deixou conduzir a coisa toda, até o fim, envolvendo-se apenas depois de algum tempo de carícias e beijos desesperados da minha parte.

O ato foi carnal e possessivo como nunca havia sido antes, desprovido dos sentimentos ternos que envolviam nosso relacionamento físico. Controlei a agressividade desenfreada, que era crescente em mim, durante todo o tempo, para não machucá-la. Me peguei sentindo uma necessidade louca de provar que ela me pertencia, e a mais ninguém. Senti o temor por sua perda me consumir, enquanto lia o desejo e o desassossego se fundirem em seus olhos.

Quando ela se deitou em meu peito, arquejante e ruborizada, tudo que eu senti no lugar da satisfação física, foi um mal-estar absurdo, que me fez levantar e prostrar-me contra a janela de vidro depois de deitá-la na cama suavemente.

Sentia como se tivesse violentado seu corpo, como se tivesse violado sua alma.

Me senti um monstro. O monstro sujo que eu era em minha essência.

Senti sua mão em meu ombro. Não me virei para encará-la. Estava perdido em mim mesmo.

- Edward... – Sua voz era de uma doçura irresistível.

Não virei mesmo assim. Comecei a sentir raiva. Uma raiva muda de mim mesmo, do amor que sentia por ela, da dependência que esse amor me causava, da prisão em que me colocara.

Bella se espremeu entre mim e o vidro, me olhando de frente. Os olhos indecifráveis.

- Nós precisamos conversar.

- Eu não quero conversar. – Me surpreendi com a rudeza de minha voz.

Sustentei seu olhar.

- Mas eu... – Começou com um tom confuso.

- Eu preciso de um tempo para digerir isso, Bella. – A interrompi.

Ela ficou muda me olhando. Tentando entender do que eu falava, imaginei.

- Eu preciso compreender o porquê de você estar me evitando... – Expliquei – O porquê de tudo entre nós ter mudado tanto e tão de repente... E o motivo por eu estar perdendo você... – Minha voz quebrou no final.

Ela olhou para os pés.

- É justamente sobre isso que quero falar...

Ela pausou.

Eu sabia que ela procurava as melhores palavras para me esclarecer justamente o que eu tentava entender.

- Edward, eu... Me perdoe. – Falou com um fio de voz.

- Pelo que, Bella? – Incitei áspero, mas não queria realmente ouvir a resposta.

- Eu sei que estou te magoando... E, acredite, eu odeio fazer isso.

Então porque está fazendo? Eu queria gritar.

- Mas preciso te explicar o que está acontecendo... – Ela continuou.

Me segurei e vesti a melhor máscara de indiferença.

- Bella, eu sei o que está acontecendo... – Falei seguro e vi a reação que minhas palavras causaram nela.

Bella arregalou inconscientemente os olhos em surpresa.

- Sei que estamos caminhando para o fim... – Falei, tentando suprimir a agonia em minha voz – E tenha certeza de que não impedirei você de fazer o que deseja...

Olhei para longe dela. Não queria uma confirmação para o que eu acabara de dizer.

- Eu só peço o motivo, e eu quero a verdade... – Continuei – Por mais dolorosa que ela seja... – Minha voz saia sem vida, sem emoção, seca. – E nós precisamos acertar como ficarão as coisas em relação ao meu filho. Espero poder ao menos conviver com ele.

- Edward, olhe para mim... – Pediu num tom irresistível, colocando as mãos delicadas em meu queixo, tentando puxá-lo para baixo.

Me concentrei nos veios do vidro em minha frente para não sucumbir.

- Eu estou te ouvindo.

- Edward... Por favor, olhe para mim. – Repetiu o pedido imprimindo um pouco mais de força em meu rosto, o que não fez a menor diferença.

Me virei de costas para ela e caminhei até a cama.

Puxei a calça que estava jogada no chão e vesti. Sentei na borda e cobri o rosto com as mãos.

Eu não podia mais suportar aquele olhar. Não podia mais permitir que ela visse em mim o tormento que me tomava. Eu não queria que ela se apiedasse de meus sentimentos, e não me permitiria mais ceder ao seu fascínio.

Senti sua mão tocar as minhas.

Seu toque tinha o poder de descongelar meu coração.

Mas fui firme, e me mantive na posição em que estava.

- Edward, eu não tenho nenhuma intenção de afastar essa criança de você... Eu nunca faria isso. – Respirou fundo – Eu preciso mesmo conversar com você, mas queria fazer isso olhando em seus olhos, quero que veja que estou sendo honesta com nós dois, que...

Enquanto ela falava fui tomado por uma cólera feroz. Eu estava sofrendo e, consequentemente, cedendo aos meus piores instintos.

Sentindo o desespero me consumir ainda mais fortemente, Levantei-me bruscamente puxando-a junto comigo pelos cotovelos, interrompendo-a. Uma atitude totalmente impensada. A segurei a centímetros de meu rosto, me controlando para não machucá-la.

- Será que você não vê? – Sibilei – A dor que está me causando é insuportável. Isso está me transformando, me alterando... Me fazendo ceder aos meus piores instintos.

Ela me olhava assustada.

Pude ver em seus olhos o reflexo da expressão agressiva em meu rosto e o terror que consumia seus sentidos em resposta a ele.

Não gostava que ela me olhasse assim, com medo de meus atos. Com medo de mim.

O monstro rugiu, ansiando a vingança e adorando a reação que causava na presa, mas o olhar aterrorizado da frágil criatura a minha frente me lembrou que era Bella em minhas mãos. Controlei-o facilmente e recuei.

Soltei-a constrangido, e ela esfregou os braços. Eu a machuquei fisicamente.

- Me perdoe... – Sussurrei horrorizado com minha própria reação – Eu não queria lhe machucar. Eu me excedi, me desculpe.

- Não me machucou. – Falou seca – Ao contrário do que você pensa, eu sei o que estou causando em você... – Pausou, me fitando com intensidade – Sei que está sofrendo. Eu também estou. Só quero resolver isso. – Sua voz era suave no final.

- Então resolva Bella... – Falei desistindo – Fale o que tem para falar.

Esperei.

Bella se vestiu e sentou no sofá, tensa.

Gastou alguns minutos apenas olhando em meus olhos. Não consegui interpretar seu olhar nem imaginar o que ela procurava no meu, mas sabia que ela conseguia enxergar a consternação em mim.

Aquele era o momento, então, quando o amor seria perdido. Suspirei profundamente, me acalmando, me preparando para o que ouviria em seguida.

- Acho que agora não é mesmo o melhor momento... – Ela disse, e seu tom me pareceu abatido.

Eu estava ciente, por tudo que conhecia de Bella, que ela não me diria mais nada. Ela ponderaria um pouco mais antes de voltar a tocar no assunto.

Mas eu sabia que isso não demoraria a acontecer. O fato de ela adiar, não significava que havia mudado de idéia.

Não trocamos mais palavras.

Apenas percebemos que o momento a dois tinha perdido o sentido.

Quando descemos logo depois, Bella pediu para Alice levá-la para casa, queria conversar com ela.

Eu apenas aceitei sua decisão e corri para a floresta assim que as duas sumiram pela estrada no Porshe.

Corri por alguns minutos até chegar ao penhasco.

Caminhei até a borda e sentei nas rochas, observando o mar abaixo.

Perde-la seria o inferno, a verdadeira danação eterna.

Tentei me imaginar sem ela mais uma vez... A agonia era indefinível.

Podemos conversar? Uma voz desagradavelmente conhecida penetrou minha mente.

Então meu dom voltou a funcionar? Isso estava ficando muito estranho... Eu estava com dificuldades para ouvir Alice ou Jasper... Mas ele não teve problemas em se comunicar comigo.

Respirei fundo e olhei para o outro lado do penhasco, onde a fronteira do tratado limitava as terras quileutes.

 

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por não me matarem ou me abandonarem!
A confiança de vocês será muito bem gratificada!!!!
Novas emoções no sábado!
Beijos



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