EDWARD

Subindo as escadas para meu quarto, a cena era reproduzida em minha mente repetidas vezes, me torturando.

Eu parei o carro em frente à residência Swan, depois de uma longa jornada de quinze minutos, que me pareceu mil anos. Nenhuma palavra. Apenas o som errante de seu coração descompassado e sua respiração entrecortada pelo suave pranto que ela derramava por todo o caminho até chegarmos ali.

– Bella, eu...

Ela saiu do carro sem olhar pra trás, batendo a porta com toda a força que possuía em seu frágil ser. Andou o curto espaço entre o carro e sua casa pisando duro, e entrou sem nunca se voltar para me olhar.

Estava atordoado, confuso. Eu havia sido o pior de todos os homens. Como eu pude tocar nesse assunto de forma tão imprudente? Desde que eu sabia que a magoaria, poderia ter sido mais cauteloso, medir melhor as palavras. Mas de alguma forma incompreensível eu agi como um adolescente imaturo e... Humano e me deixei levar por um impulso.

Sentei na beira da nossa cama, em transe.

– Edward! – Era a voz de Alice.

Pisquei os olhos com força e foquei a pequena figura a minha frente.

– Ah, oi Alice. – Falei.

– O que houve? Estou falando com você há vários minutos, você não me ouviu?

– Não... Não vi que você estava aí.

– Eu não estava aqui, estava lá embaixo, mas vi você subir andando as escadas... E sua expressão está tão estranha... Não sabia se era algo que os outros não deveriam saber, apesar de todos terem notado. Então eu apenas conversei com você como sempre fazemos... Pensei enquanto subia e esperei na porta pela sua resposta. Mas você está aí parecendo catatônico... O que está acontecendo? Posso ajudar? - Sua voz era suave.

Ela se sentou ao meu lado.

– Edward... Aconteceu alguma coisa entre você e Bella? – Havia algo mais em sua voz que apenas curiosidade ou preocupação. Não consegui identificar.

– Eu fiz a pergunta... Mas eu fui extremamente indelicado e ela... Ela agiu como nunca agiu antes. Depois simplesmente me ignorou. E todas essas semanas de distanciamento... Ela está estranha comigo, Alice, como se ela não estivesse realmente ali, como se ela não me quisesse mais. – A dor era tangível, quase palpável em minha voz. Não precisei ler a mente dela para perceber a compaixão lhe tomar os sentidos.

– Edward... Bella ama você, ela largou tudo que tinha conquistado durante sua ausência, perdoou você... Isso é mais do que prova desse amor. Mas, agora eu fiquei curiosa... Você falou que fez “a pergunta”... Que pergunta?

– Eu perguntei a ela se o bebê era meu...

– Edward! – Ela se levantou – Como você pôde? Ela deve estar muitíssimo magoada.

– Eu sei... Eu agi por impulso – Ela me olhou em dúvida – Sim, impulso. Me sinto um humano adolescente... Mas eu tinha que saber Alice. Carlisle precisa ter certeza da natureza dessa criança para poder cuidar da Bella e garantir que a gravidez seja a mais tranqüila possível! – Tomei fôlego como se precisasse muito de ar – E a atitude dela todo esse tempo... Eu imaginei que era a resposta. Que ela estava com medo de me dizer que o bebê é do... Jacob. – Quase rosnei ao pronunciar o nome.

– Como você é tolo, Edward! – Sua voz contida denunciava a censura – Eu não falei nada porque achei que você, como namorado dela, saberia, teria certeza. Eu duvidei sim, claro, quem não duvidaria se não soubesse das lendas? Mas, você é o mais culto de nós e, além disso, seu amor por ela... Ela tinha certeza absoluta quando conversamos. Tanta certeza que eu voltei atrás e acreditei em sua convicção no mesmo momento. Bella nunca mentiria, não faz parte da natureza dela!

– Eu sei Alice! Mas eu também não sabia das lendas... Pelo menos não da parte em que “Uma humana engravida de um vampiro”! – Falei exasperado. – Mas então... Você sabia... Ela lhe disse. O filho é realmente meu.

Naquele momento não consegui ficar feliz com a confirmação, apesar de buscar isso em meu âmago. A dor era por demais profunda para ser atenuada. Dor pelas atitudes de Bella. Dor por tê-la magoado.

Ela me encarou com um misto de raiva e pena, compreensão e dúvida.

Mas algo estava errado. Eu não “ouvia” Alice como sempre ouvi. Me lembrei de sua atitude nos últimos dias.

Quando me concentrei em sua mente, percebi que ela me escondia alguma coisa, e ela estava ficando muito boa nisso. Tudo que eu conseguia ver era um nevoeiro escuro e constante.

– Porque você tem me impedido de entrar? Existe algo que você sabe e não quer me mostrar? - Perguntei estreitando os olhos.

Por um breve segundo uma luz fraca iluminou seus pensamentos, devido a minha pergunta. Tudo que vi foi a mim mesmo sentado nos degraus da entrada da casa. Mas estava de costas para o ângulo de onde ela me observava, então não foi muito elucidativo.

– Não... Não é nada. Só não quero que você veja o vestido de Bella, é surpresa. – Mas sua voz era indecisa e eu soube que ela mentia.

– Alice o que foi isso que eu vi? - Perguntei, forçando-a a pensar novamente na visão.

Ela se concentrou, mas eu consegui ver mais um detalhe.

Me levantei e a segurei pelos ombros quando ela se virou para correr do meu quarto.

Alice estremeceu e me abraçou.

– Me desculpe Edward! Eu achei que escondendo isso de você, talvez... Talvez acontecesse de outra maneira... – Sua voz estava embargada, como se ela chorasse. – Eu não quero...

– O que você está me escondendo Alice? Tem haver comigo e Bella! Tem haver com nosso casamento, não é? - Perguntei afastando-a para lhe olhar nos olhos.

E lá estava o nevoeiro outra vez.

Alice mordia os lábios com força, se concentrando, se desvencilhou das minhas mãos e correu porta afora.

Eu não tive reação, porque eu não queria acreditar naquele pequeno, mas esclarecedor detalhe da visão que eu havia conseguido focalizar no último segundo.

Em minhas mãos eu girava um pequenino objeto brilhante. Apesar da distância e do ângulo da visão de Alice, eu reconheceria aquele objeto em qualquer lugar, há qualquer distância.

O anel de minha mãe.

O anel com que eu pedira Bella em casamento.