Fúria dos Deuses escrita por Neline


Capítulo 31
Já mencionei que odeio despedidas?


Notas iniciais do capítulo

Enjoy :*



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Eu estava com Anaklusmos nas mãos, encarando as paredes do meu chalé. Sei que não vou voltar aqui tão cedo. Já tinha arrumado uma mochila com alguns suprimentos básicos: duas mudas de roupas limpas, uma búsula, um mapa, algumas balas feitas de bronze celestial, um punhal, uma garrafa de néctar, um pouco de ambrosia e um kit básico de primeiros socorros. Não esperava passar pela segurança de nenhum aeroporto, mesmo que não acreditasse que voar fosse ser perigoso para mim agora. Fechei os olhos e vi o rosto de Chuck. Pela primeira vez, me arrependi de não ter tirado nenhuma foto com ele quando tive a oportunidade. Ia ser uma boa lembrança. Suspirei, e escutei a porta do meu chalé abrir.

– Atrapalhei uma linha de pensamento? - Me virei, não reconhecendo a voz de primeira. Então sorri. Era Taylor, a conselheira chefe do chalé de Ares. Eu sei o que a maioria das pessoas esperam de uma filha de Ares, mas Taylor certamente não correspondia à 80% dessas expectativas. Ela era uma garota baixinha, bem magricela, com olhos cor de mel e cabelos castanhos que iam até a cintura. Seu rosto era arredondado, as bochechas eram cobertas por sardas, e eu nunca vi ela se metendo em uma briga com outros campistas. Sempre foi quieta, tímida, com os óculos puxados até a metade do nariz. Mas tudo isso mudava quando ela pegava uma espada. Ai sim, Taylor parecia filha do Deus da Guerra.

– Na verdade, sim. - Suspirei, sabendo que eu não deveria falar aquilo, mas tendo o pressentimento que seria a última vez que eu poderia falar algo como isso em voz alta. - Estava pensando que me arrependo de não ter tirado uma foto com Chuck quando eu podia.

– Entendo. É realmente uma pena que as coisas tenham tomado esse rumo.

– Concordo. Mas não acho que você veio aqui para me ouvir reclamar do passado e do futuro. - Ela riu, assentindo, e se sentou ao meu lado.

– Quíron me disse que acha melhor que você vá para a linha de defesa do Olimpo.

– Eu sei. - Respondi. - Nós já havíamos falado sobre isso. Estou até com a bagagem pronta. - Apontei para a mochila, sorrindo.

– Eu queria desejar boa sorte.

– Obrigado. Mas não vou precisar. Acho que já tive muita sorte em estar viva até hoje, o que vier daqui pra frente é lucro. Só... estou preocupada com o acampamento. Chuck disse que aqui era seguro, mas Cronos não ia dar essa folga. Acha que vão ficar bem?

– Blair... Eu sou filha de Ares. Meu chalé domina todas as artes de batalha existentes. Todos os campistas são treinados desde pequenos e o Acampamento tem os melhores equipamentos de defesa e armas para o ataque. Acho que a gente sobrevive por aqui sim. - Assenti, abaixando a cabeça. Então ela fez algo que desmontou todas as barreiras que eu havia criado para não me apegar a esse lugar. Ela me abraçou. E quando eu retribuí o abraço, percebi que mesmo sem ter passado muito tempo no acampamento ou convivido com os outros semideuses, eles haviam se tornado minha segunda família. Nós duas nos separando, parecendo sem graça.

– Então... é melhor eu ir. Odiaria chegar atrasada para a carnificina. - Saímos do chalé, Eu fiz um aceno rápido para Taylor, indo na direção do chalé de Afrodite.



Como eu imaginava, encontrei Nate desbruçado sobre a cama, jogando algumas camisetas em uma mochila. Bati na porta aberta, e ele se virou para mim, com uma face coberta de susto. Ao me ver, no entanto, bufou.

– Precisa me dar um susto desses, garota?

– Não tenho culpa se a Cinderela estava distraída demais para me ver chegar. - Ele deu de ombros, voltando a se ocupar com a mochila. - Nate, eu sei o que você está fazendo. Para. Você não vai comigo.

– Não te pedi pra ir. Nem pro Quíron. Nem pra ninguém. Eu vou, ponto. - Suspirei, entrando no chalé e me sentando na cama, da mesma maneira que Taylor havia feito a pouco tempo. Peguei o rosto de Nate entre as mãos e fiz ele me encarar.

– Preste atenção. Você é um atirador maravilhoso. O acampamento não tem ninguém com a mesma habilidade que você com armas modernas. Já no Olimpo, tenho certeza de que eles tem. Você precisa ficar aqui e proteger o pessoal. Por mim.

– E você? - Ele disse, passando um dedo pela minha bochecha. - Os campistas tem uns aos outros, mas você vai sozinha. E eu... você se tornou uma irmã pra mim. Se você se machucar... eu não vou me perdoar por ter ficado.

– Ei, garoto dos olhos azuís fúteis. Lembra quando nós nos conhecemos? Você não gostava nada de mim. E depois, seu melhor amigo tentou me matar, Zeus tentou me matar, Cronos tentou me matar... E ainda estou aqui! Qual é, me dê algum crédito, maninho. - O empurrei com meu ombro, e o abracei. Eu estava fazendo muito isso hoje, sabe. Ser meiga. Acho que devem ser os hormônios por causa de todo esse estresse.



Andei de cabeça erguida em direção a Casa Grande. Minha garganta estava fechada e meus olhos queimavam. Eu tava me fazendo de forte e decidida, mas estava apavorada. Qual é, sou de carne e osso. Perdi minha vida normal, minha casa, meus amigos, meu amor... E além de tudo isso, estou indo lutar pela minha vida. Uma luta que tem grandes chances de já estar perdida. Abri a porta, e encontrei Quíron sobre os cascos, virado para a porta, como se estivesse me esperando. Eu não podia dizer adeus para ele. Queria poupar as lágrimas para o caminho até Nova York.

– Menina. - Mas assim que ele falou, eu me senti uma criança. Corri até ele, e o abracei.

– Quíron...

– Eu sei. Mas você é Blair Waldorf Jackson. Não chore. Se tem uma pessoa que já driblou as Parcas algumas vezes, essa pessoa é você. - Desenterrei minha cabeça do abraço dele, sabendo que eu não tinha mais o privilégio de ser uma menina. Agora eu era uma mulher, uma mulher forte e poderosa, que precisava manter a cabeça erguida. Eu não podia decepcionar Quíron, então, enxuguei as lágrimas e respirei fundo algumas vezes, até os soluços cessarem. O centauro passava a mão na minha cabeça, o que me passava aquela sensação gostosa de lar e conforto da qual eu iria sentir muita falta, mas ignorei esse fato para não voltar a chorar.

– Desculpe. - Murmurei, e ele sorriu.

– Você é jovem demais para tanto sofrimento.

– Eu aguento. - Ele concordou com a cabeça, e trotou até a mesa.

– Querida, essa encomenda veio direto do Olimpo. Estava esperando você passar por aqui para te entregar, mas por sorte você veio rápido. - Franzi o cenho, pegando o pequeno pacote.

– Isso chegou há quanto tempo?

– Há alguns minutos. - Sentei-me no sofá, tomando o pacote entre as mão. Era uma caixa chata, do tamanho de uma folha dobrada ao meio, rosa. Tinha textura de seda e exalava o perfume do Chanel. Eu sabia que era algo de Afrodite, e não quis abrir. Chega. Ela já havia ferrado minha vida o suficiente. Mas alguma coisa nesse pensamento fez meu coração se apertar, então, sem saber exatamente porque e um tanto contráriada, retirei a tampa. O que encontrei foi um livrinho que cabia na palma da minha mão, e uma carta escrita com tinta dourada em uma caligrafia inpecável. Agarrei a carta primeiro.


"Olá Blair! Não nos falamos há algum tempo, eu sei. Tem alguma ideia do quanto é difícil cuidar de todos os meus afazeres de deusa e ainda arrumar tempo para cuidar das minhas unhas? É um pesadelo! Mas, vez ou outra, enquanto penteio meus cabelos, eu tiro um tempinho especial para você, fofinha. Eu sei que pensa que tudo que eu fiz apenas dificultou as coisas, mas acredite, nenhum cupido meu atira a flecha na pessoa errada. Eu sei o que faço. Cada caminho que se cruza, cada troca de olhares, cada romance... tudo tem um motivo. Então, se mantenha firme. Ah! Eu escutei o que você falou para a filhinha de Ares. E você pode não ter tirado nenhuma foto com o Chuck, mas isso não quer dizer que elas não existam. E as páginas vazias não vão ficar vazias para sempre. Eu escrevo minhas histórias de amor com muito cuidado e apenas três pessoas podem mudar o rumo das coisas: você, Chuck e as Parcas.

Espero que isso te de algum ânimo.

Com amor (sempre), Afrodite."


Sem entender nada, peguei o livrinho. Ele tinha uma capa de seda, preta, com um C&B em dourado. Ao o abrir, ele foi, simplesmente, crescendo na minha mão, até chegar ao tamanho de um daqueles álbuns de fotografias grandes, que levam anos para serem preenchidos. E lá haviam fotos minha e do Chuck. Do dia em que nos conhecemos, trocando os cadernos. Na aula. No meu quarto, depois de ele ter pulado a janela. No abrigo, fugindo de Medusa. No acampamento. Na boate, nosso primeiro beijo. Nós entrando no quarto, quando dormimos juntos. Na floresta, quando ele voltou. Nosso encontro de ontem a noite... Todos os momentos ali, registrados com perfeição. E a cvontade de chorar foi substituído por um sorriso. Eu e Chuck, nós haviamos sido reais. E aquilo já era mais do que eu poderia pedir.

– Obrigado, Afrodite. - Murmurei, fechando o álbum e o colocando cuidadosamente na mochila. Encarei Quíron, me levantando. - Estou pronta para ir. Onde meu carro está esperando?

– Está com pressa?

– Sim. Se alguém chutar o traseiro de Cronos antes de mim, eu vou ficar furiosa. - Completei, saindo da Casa Grande.



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Notas finais do capítulo

Tudo bem, eu demorei pra caramba, mas isso nem é mais novidade. Juro que vou tentar ser uma escritora melhor e mais boazinha e postar com frequência, sério. Acho que nesse feriadão eu coloco todas as minhas fics em dia, que tal?!
Enfim, gostaram? A partir do próximo capitulo, esperem muita ação, suspense, reviravoltas, e é claro, romance!
Mereço meus reviews por ter, finalmente, postado?
XOXO. Neli :*