A ansiedade era tanta pra esse treino de vôlei, que a semana passou tão rápida, que o sábado logo chegou. Rodrigo então, me ligou depois do almoço, avisando-me sobre o vôlei. Dei um pulo do computador, pegando meu celular da cômoda quando começou a tocar.

— Pode falar!

— Tudo bem?

— Tudo sim, amor. - respondi voltando para a cadeira onde eu estava— E aí?

— Ah, tudo normal. Só a enorme saudade que eu já tô sentindo de você! - percebi ele sorrir.

— Seu bobo, eu também. Que horas você passa aqui pra me buscar?

— Hmm, umas 14h45. Pode ser?

— Uhuum.

— Não esquece... tênis, shorts e camiseta, beleza?

— Eu sei, eu sei. Vê se não se atrasa também.

— Tudo bem. - riu - Eu te amo!

— Eu também, gato. Até logo... beijo.

— Beijos.

E desliguei.

...

O treino tava marcado pra começar 15h30, e ficamos na lerdando de bicicleta até chegar no ginásio municipal daqui de Ilhabela, que fica no bairro Itaguaçú.

Lá, percebi que tinhas umas garotas com cara de nojentinhas - não sei o que eu tenho que minha primeira impressão foi essa! - e assim que viram Rodrigo e eu de mãos dadas, abriram o maior bocão, cochichando entre elas. Nem entendi direito isso, mas comecei a olhar a minha volta e percebi que também tinha uns 4 gatinhos - mas nenhum comparado ao meu lindo Rodrigo. E uns 3 feinhos meio "esquisitos".

O professor, chamado Félix, fez questão de me apresentar pro pessoal, fiquei com a maior cara de pata abobada com isso! Mas depois disso, até que foi normal. Fiquei na minha e o Rodrigo fez par comigo quando o professor pediu para fazerem duplas, para o aquecimento. Achei meio puxadinho para uma novata, mas o professor não poderia desequilibrar o treino por minha causa, tentei fazer tudo certinho e dei o melhor de mim, já que eu sabia de algumas coisinhas, por já ter treinado há tempos atrás!

Na hora do jogo, fiquei no time adversário de Rodrigo. Mas tudo bem, talvez poderia ser bom não ser do time dele! Pior foi que me as meninas do meu time, colocaram-me de levantadora, e como a 2ª bola sempre é do levantador, me sacrifiquei pra conseguir pegar cada bola. Até nos bloqueios era uma merda, porque como eu só tenho 1,60m de altura, a rede parecia ser o dobro do meu tamanho e eu nunca conseguia alcançar. Mas também eu era ótima no saque - sem querer me gabar, mas toda vez que eu sacava, era ponto pro meu time!

Tinha até horas que do nada, eu deixava a bola passar por cima da minha cabeça ou não fazia uma manchete ou toque com sucesso, que aquelas vadiazinhas que achei com cara de nojentas, logo faziam caretas ou quase me xingavam. Era isso que me deixava puta da vida. Também tinha vezes que Rodrigo percebia o jeitinho delas e as mandavam calar a boca.

Claro, eu não queria arranjar encrenca logo no 1º dia de treino e fiquei na minha. Mas o que eu menos esperava foi, quando vi Rodrigo conversando com duas das meninas que não foram muito com a minha cara. E eu claro, não fui com a cara delas. Estavam conversando no fundo da quadra, enquanto eu voltava do banheiro.

Puta que Pariu! Será que não me dão descanso mesmo?

Óbvio que cheguei neles com carinha de inocente e apoiei minha mão sobre o ombro de Rodrigo, né?!

— Oi. - sorri, sínica - Então Rodrigo, não vai me falar quem são elas?

— Claro Déborah. Bom... - pausou - Essa é a Luana... - olhou para a garota à esquerda dele. Ainda por cima MUITO bonita. De olhos azuis, franjão negro de lado e dos lábios bem carnudos por conta do gloss - E essa é a Jayne. - olhou para a loira à direita, de olhos castanhos e pele bronzeada. E até que era bonita.

— E vocês... falavam sobre o quê? - intrometi-me, erguendo uma das sobrancelhas. Elas se entre-olharam e voltaram a olhar para Rodrigo que pareceu nem acreditar que fiz aquela pergunta. Mas fiz!

— Não era nada Déborah. Bom, era sobre o campeonato que vai ter no fim do mês.

— Mesmo Rodrigo? - o encarei, séria.

— Bom, depois a gente se fala melhor Rodrigo. - falou a loira, que era a tal de Jayne. E percebi muito bem a sua expressão ao falar a palavra "melhor" para Rodrigo. Esperei que elas se distanciassem, e lancei um olhar bem fuzilador para Rodrigo.

— O quê que tá pegando?

— Ué? Nada.

— Rodrigo... - meus lábios começaram a latejar, não sei porque.

— Déborah. Não era nada. Ficou com ciúmes, é?

— E se eu tiver? Você é o meu namorado e não custa nada você me falar... e precisava vim pro fundo da quadra com elas?

— Tá, tá... a gente combinava sobre quem ficaria de reserva, no saque, bloqueio... quem levantava...

— Nãó é o professor quem tem que resolver isso com todo mundo?

— Déborah... - ele olhou ao nosso redor - Olha, acho melhor a gente já ir embora, senão vão perceber o clima aqui.

— Que clima? Só tô conversando com você, meu querido.

— Tudo bem... quer saber de mais alguma coisa, Déborah? - ele me perguntou de um jeito estúpido, que me doeu. E bufei. Quando eu já ía saindo de perto dele, o mesmo segurou meu braço firme e puxou-me contra seu corpo - Vai ficar com raiva de mim agora, só por quê eu tava conversando com aquelas garotas? Estamos namorando, e do mesmo jeito eu tenho as minhas amigas e você tem os seus amigos.

— 1º: eu não tô com raiva de você e 2º: Eu não conheço essas meninas, entendeu? - menti na 1ª frase. Eu precisava mentir.

— Eu te conheço Débby. Sei quando você fica chateada...

— Me solta, por favor?

— Me beija, então?

— Aqui não.

— Déborah... vai começar a me torturar, vai?

Mesmo não querendo beijá-lo, não consegui controlar-me e enlacei meus braços em seu pescoço quando ele puxou-me pela cintura percebendo que eu iria beijá-lo.

Rodrigo me deixou chateada mesmo. Sei que por um motivo bobo. Tem que ser bobo. Também sei que ele escondia, ou esconde, alguma coisa de mim e se segurava pra não me contar. Só não entendo, por quê? Deve ser alguma coisa haver com aquelas duas vagabundas, com certeza. Por isso ele inventou aquele papinho de campeonato.

Mas ele é tão irresistível. É difícil ficar magoada por muito tempo quando se está perdidamente apaixonada. Mas não vou sossegar até descobrir qual era a verdadeira causa daquela conversa entre eles, nem que isso me machuque.

(...)