— Eu vou repetir... - disse a diretora Tânia num tom calmo e suave. - Vocês acham que a biblioteca da nossa escola foi feita para aquele tipo de coisa?

— Não... - respondemos cabisbaixos.

— Então espero que isso não aconteça novamente, e se vocês pararem mais uma vez aqui na minha sala, vão levar suspensão e só entrarão de novo em sala de aula com a presença dos pais, entendido? Os considero uns dos melhores alunos do Maria Gemma e não quero ser obrigada a chamar os pais de vocês por causa daquela sem-vergonhice toda que vocês fizeram... - pausou. - Daqui pra frente vou ficar de olho em vocês...

— Tudo bem, mas acho que não fizemos nada de mal... - retruquei.

— Nada de mal? Vocês acham que seus pais achariam normal se os filhos deles saíssem de suas casas pra vim estudar e ficam naquela pegação toda na hora do intervalo?

— Nos desculpe dona Tânia. Não vamos fazer isso de novo, garanto! - falou Rodrigo, sendo educado.

— Hmmm... vou pedir pra dona Tereza acompanhá-los até a sala de aula. Podem se retirar e esperá-la no pátio, vão.

Saímos rapidinho da diretoria e enquanto íamos para o pátio, belisquei Rodrigo cochichando.

— Por quê você aceitou tudo numa boa? Ela quer punir a gente demais, você não acha?

— Ela tá fazendo o papel dela de diretora. Melhor aceitar, do que piorar a nossa situação. Já cansei de levar advertência e não quero que você comece a se dar mal também.

— Ai, mas...

— Déborah... - interrompeu-me.

— Tudo bem, vai...

Me conformei. Apesar do Rodrigo estar certo e a dona Tânia também. Ela é bem exigente e uma excelente diretora. Quer que na escola haja alunos disciplinados e de bom caráter. Pelo menos que queiram ter futuro! É uma mulher de uns 39, 40 anos, educada, carismática e organizada. Total diferente da dona Tereza que é a inspetora da escola. Uma senhora de quase 65 anos, e super mal humorada. Nos acha uns pirralhos mal educados e encrenqueiros. Às vezes penso que, apesar dela ser tão chata daquele jeito, merece tirar umas férias, quem sabe viajar pro... Alasca, pro norte da Rússia ou pro sul do Chile só pra esfriar a cabeça e parar de pensar tanto nos problemas da escola.

Chegando na sala de aula, a professora de Inglês abriu a porta para nós e a velha da Tereza nos empurrou para dentro da sala.

— Desculpa professora Marina, mas esses dois aprontaram e receberam umas palavrinhas da dona Tânia. Desculpa por atrapalhar a aula... - a velha falou, rouca.

— Não tem problema dona Tereza, agora eles vão se comportar muito bem. Good Morning!

Rodrigo e eu fomos para nossas carteiras e Rafa - que se senta na fileira ao meu lado - virou o olhar para mim segurando os risos.

— O que vocês aprontaram, hein? - cochichou.

— A diretora nos pegou no maior amasso na biblioteca!

— Você é louca!

— Eu queria ver se ele tem boa pegada mesmo!

— Rafaella e Déborah! Copiando a lição, chega de papo furado, please! - a professora chamou nossa atenção.

Rafa virou-se novamente para copiar a lição e eu fiz o mesmo. Às vezes, até que dei umas olhadinhas no Rodrigo que retribuía com sorrisos lindos de morrer e até meio... maliciosos!

Na hora da saída fomos embora juntos e enquanto andávamos de mãos dadas, todos nos fitavam, principalmente as meninas que cochichavam - e pareciam morrer de inveja. Mas não sou dessas meninas que ficam com alguns garotos para fazê-los de troféu. Isso é ser baixa demais.

...

O dia seguinte, terça-feira, foi um tédio total, porque quase ninguém foi pra escola por motivo da chuva. O dia amanheceu um horror.

Até mesmo Rodrigo e minhas amigas faltaram, e me avisaram em cima da hora, senão eu também teria faltado. E o Bruno Benatti, não tirava os olhos de mim, parecia que em todo lugar que eu ía ele me perseguia. Cara, dava vontade de grudar no pescoço dele. Será que ele não se toca que tô namorando com Rodrigo e não quero nada com ele? Ou melhor, na verdade eu nunca quis nada com ele.

Pelo menos com o treino do Jiu-Jitsu pude me distrair um pouco. Lógico, lutei com uma garota - a Raíssa -, que queria se achar a tal mandando em todo mundo e... ganhei. Perdendo, quem sabe ela teve o que merece! Ainda bem que o Rodrigo apareceu lá me dando a maior força para vencer a luta. E no fim do treino, fui até o banco em que ele estava sentado e o beijei.

— Vendo você lutando daquele jeito, dá até medo de te provocar! Você acabou com ela.

— Que bobagem... - pausei. - E por quê o senhor me deixou sozinha lá na escola hoje, hein?

— Não deu pra eu ir, te avisei em cima da hora ainda por cima porque meus pais foram viajar... a trabalho como sempre.

— E pra onde eles foram dessa vez?

— Pro Espírito Santo...

— E você... - segurei em seu queixo. - vai ficar sozinho até quando?

— Voltam na quinta mesmo, mas eu não vou ficar sozinho. Você vai ficar comigo!

— Como assim?

— Dorme em casa comigo, que nem nos fins de semana antes?

— Isso foi no ano passado e com a sua tia com a gente!

— Mas vem dormir em casa, Débby. - ele me segurou na cintura e beijou minha testa. - Vai me deixar sozinho mesmo? Não quer dormir comigo, agarradinhos, juntinhos...

— Hmmmm, tudo bem. - pausei. - Bem que a gente poderia terminar o que começamos ontem, né?

— Você anda abusadinha demais, hein? Nunca imaginei esse teu lado!

— Quem vai fazer papel de abusador é você, meu bem! E você sabe como gosto disso!

— Débby, você tá pensando em fazer outra coisa, é?

— Relaxa, é só dormir. Endoidou? - pausei pra pensar um pouco no que ele disse - Vamos indo então? Pode deixar que dessa vez, eu peço pra minha mãe. Não se preocupe em encarar a dona Denise, beleza?!

— Beleza...

(...)