Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 6
vida 1: capítulo 2




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O barzinho era exatamente como Dean lembrava, embora Sam jurasse que nunca estiveram ali antes. Excitante, escuro, animado e esfumaçado. O tipo de lugar onde costumava se sentir à vontade. Bebidas e mulheres baratas. Um longo balcão de bar, diversas mesas espalhadas, alvos para jogo de dardos, duas mesas de sinuca, uma jukebox próxima à entrada, um pequeno palco no fundo e uma movimentada escada para um suspeito segundo andar.

Desta vez sua atenção foi atraída para o pequeno palco. Começou a se imaginar naquele palco vestido de Diana Ross cantando I Will Survive. E, à medida que a cena de desenrolava em sua mente, começava a cantarolar e a se remexer. Até levar uma cotovelada de Sam, para que deixasse de dar bandeira.

– Foco, Dean. Garotas.

Déjà vu. As pessoas no bar eram as mesmas, as coisas aconteciam da mesma maneira. Só ele estava diferente. Só ele podia alterar aquele roteiro. O Trickster provavelmente estava naquele bar. Ele não ia perder o espetáculo. Precisava descobrir com que aparência. Sabia que devia estar empenhado em desmascarar o FDP, mas, por algum motivo, aquilo parecia não ter importância. O maldito estava fazendo alguma coisa com ele.

Quanto mais ele se esforçava para lembrar de como as coisas deveriam ser, mais a lembrança do Trickster e de que aquilo tudo era uma realidade alterada lhe escapava. Aquela estava se tornando cada vez mais a sua única realidade. Aquela vida era cada vez mais a sua única vida.

Ao olhar em volta, não se lembrava mais do Trickster. Não lembrava de já ter vivido aqueles momentos. Não lembrava mais de ter tido outra vida. Sua atenção estava mais uma vez voltada apenas para o jogo de sedução. Mais uma vez tudo o que queria era arrumar uma companhia para a noite.

A maioria dos freqüentadores do bar era homem e poucas mulheres o animaram. Limitou a três candidatas o grande prêmio da noite: ele mesmo. Nisto, Dean não mudara nada. Ele se achava.

A primeira era claramente uma profissional, madura, mas ainda atraente. Era sempre mais fácil com as profissionais. Sem tantos subterfúgios. Era só pagar um extra e elas não se importavam com a forma como estivesse vestido.

A segunda estava sozinha e parecia carente. Razoavelmente bonita. Num bar cheio de homens, podia ser sinal que era depressiva, possessiva, chata ou tudo isso junto. Esse tipo de mulher costumava reagir de forma histérica, como se o fato dele não ser convencional roubasse algo que ela acha que merecia ter. Ia chamá-lo de viado e expulsá-lo do quarto. Com ela teria que dar uma maneirada. Pelo menos da primeira vez.

A terceira, que parecia fazer a linha garota má de família quase boa, estava acompanhada do namorado, que parecia ser do time de football da faculdade local. O namorado era bonitão e estava entretido conversando com outros dois fortões, que, pelas jaquetas, jogavam no mesmo time, o Hunks Football Team. Aparentemente os outros dois estavam sozinhos. Em caso de briga seriam três contra um, ou talvez três contra dois, se Sam achasse que precisava de ajuda. Sabia que os três não tinham a menor chance contra ele, mas a noite estava começando. Era ainda era muito cedo comprar briga. A última coisa que queria era acabar preso.

Mesmo assim voltou a fazer contato visual com a bad girl. Pensando bem, ela merecia que ele entrasse numa briga por ela, sim. Olhou como se pudesse ver por baixo das roupas da garota e gostou do que viu. É, decididamente ela merecia. Como seria a calcinha que ela estava usando?

Viu que o olhar que lançou a fez ficar vermelha. Viu que ela olhou para o namorado e os amigos com medo deles terem percebido o quanto aquele olhar mexera com ela.

Mas antes de mais nada precisava descolar alguma grana num jogo de sinuca. Estava a quase nenhum e ali não aceitariam o cartão de crédito clonado que tinha na carteira. Se optasse por uma noite sem riscos com a profissa, ia precisar de grana. Algumas se aproveitavam da situação e cobravam dobrado.

A jukebox começou a tocar Lucky Star da Madonna e isso pareceu um sinal para Dean se por em movimento.

Dean perdeu o primeiro jogo e ganhou apertado o segundo, como sempre fazia para aumentar as apostas para o terceiro e decisivo jogo. Já tinha analisado o jogo do adversário e o da outra dupla. Ninguém especialmente bom. Mas também não eram de arriscar muito, os valores em jogo eram baixos. Se fosse mesmo com a profissional, ia precisar chorar um desconto.

Dean estava entretido jogando e nem percebeu a aproximação de Ashley.

– Ooooi.

Dean quase perdeu a concentração num momento decisivo. Era agora que ele fazia a caçapa e fechava a fatura embolsando US$ 85. Concentração. Tacada certeira. Bola preta na cesta.

– Agora sim. Ooi. Acho que foi você quem me deu sorte.

– Tenho certeza disto.

– Seus amiguinhos logo vão sentir sua falta.

– Duvido.

– Eu terminei aqui. O que acha de respirar um pouco de ar fresco?

– Acho ótimo.

– Saímos pela frente?

– Você sai na frente. Te encontro lá fora em cinco minutos.

Falou rapidamente com Sam, pedindo que lhe desse três horas. Voltaria para pegá-lo.


As coisas entre Dean e Ashley começaram a esquentar no momento em que entraram no Impala. Naquele momento, um ainda não sabia o nome do outro. Nem se importavam com isso.

Depois de despistarem Kyle e os amigos, seguiram tranqüilamente até o Blue Mountains Motel, onde Dean e Sam estavam registrados.

Quinze minutos depois, Dean abre a porta do quarto 212 do motel. Ele e Ashley caem agarrados na cama, antes mesmo da porta bater.

Nas preliminares, ambos ainda vestidos, luzes acesas, Dean parecia o Dean de sempre e agia como o Dean de sempre. Ash não era simplesmente bonita. Era MUITO gostosa. Era atirada. Agia e reagia em sintonia com os movimentos de Dean. Estavam a caminho da segunda etapa, quando as roupas começam a ser retiradas. Para a grande maioria, o destino imediato das roupas é o que menos importa. Para uma minoria que inclui Dean, a posse das roupas do outro se mistura com o prazer e vestir essas peças é parte importante deste prazer. É a cereja do bolo.

Ashley surpreende Dean quanto inverte as posições e puxa sua cueca para baixo. Mas surpresa mesmo quem tem é Ashley quando se depara com a calcinha que ele está usando por baixo da cueca.

– Que diabo..?

– Ash, eu posso explicar. Eu estou usando por zoação. Uma brincadeira. Volta aqui, Ashley.

Ashley se veste apressada, sem querer escutar nenhum argumento, nenhum pedido para recomeçarem de forma diferente, sem querer escutar nada que saísse de sua boca. Ainda meio decomposta, sai do quarto e desce as escadas correndo, disposta a enfrentar a noite e o que fosse preciso para ficar longe daquele pervertido.

Dean a alcança e implora para que entre no Impala. A deixaria em segurança em casa. À vista da interestadual hostil e quase vazia Ashley aceita a carona, mas o trajeto transcorre num silêncio constrangedor.

Quando Ashley sai do Impala e entra em casa, a única coisa que ela tem certeza é que gostaria de riscar aquele dia da sua vida. Só naquele momento se deu conta do risco que correu. Onde estava com a cabeça quando decidiu sair com um estranho. Tivera sorte, apesar de tudo. Dean podia ser um pervertido, mas não forçara a barra e a trouxera em segurança como prometera. Estava tudo errado na sua vida. Precisava rever seus relacionamentos. Dean fora um erro gigantesco, mas também já perdera tempo demais com Kyle Hayden.

Dean acompanha Ashley sair do carro, batendo a porta do Impala com força, e entrar no pequeno prédio em frente. Mais que frustrado, estava triste. Deveria ter ficado na segurança do sexo pago, dos serviços acertados. Vivia o pior dos mundos. Não era compreendido nem por homens, nem por homens gays, nem por mulheres. Era minoria mesmo entre as minorias. Chris, que era gay, não enfrentava tanta hostilidade. As pessoas sabiam o que esperar dele e ele sabia o que esperar das pessoas. Já ele, Dean, pegava as pessoas de surpresa. E quase sempre a surpresa era acompanhada de reações exageradas. Às vezes, violentas.

Antes que voltasse a ligar o carro, Dean escuta a sirene do carro de polícia se aproximando. E de um carro estacionado meia quadra adiante, vê saírem Kyle Hayden, Owen Foley e Mark Levine.

La Grande era uma cidade de 12500 habitantes. A presença da Eastern Oregon University explicava a vida noturna agitada, mas no fundo La Grande era como qualquer cidade pequena. Desconfiada de estranhos.


Dean não chegou a se surpreender quando soube que o delegado da cidade era o pai de Kyle Hayden e que o policial da viatura que o abordou era irmão de Mark Levine.


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Notas finais do capítulo

O autor não se responsabiliza por opiniões e preconceitos de seus personagens.