Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 147
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 16




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SANTA MONICA

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Sam hesitou por um momento antes de abrir a porta do apartamento de Necker. Constatou que o local estava exatamente como o deixara antes de seguir para Sioux Falls. Escutou as mensagens deixadas para Necker em sua secretaria eletrônica. A maioria era sobre novas propostas de trabalho. Ligações do agente, do contador, da agência de modelos e de alguns amigos estranhando seu desaparecimento e pedindo que fizesse contato assim que voltasse. Nenhuma de Chad Murray.

Sam hesitou uma segunda vez, mas acabou ligando o computador pessoal do Necker, lendo seus e-mails e vendo seus contatos e seguidores em redes sociais. Não precisou nem mesmo usar suas habilidades de hacker. O computador não estava protegido por senha. Não descobriu nada que chamasse a atenção. Necker parecia ser exatamente aquilo que ele não era. Um carinha normal. Nenhuma daquelas pessoas com quem ele se correspondia parecia imaginar que Necker não era humano.

Estava concentrado nos registros de sites acessados recentemente quando escutou um assovio prolongado e assustador, parecido com o dos ventos que precedem uma tempestade, e sentiu que uma súbita rajada de vento invadira o apartamento. Será que esquecera de fechar alguma das janelas antes de viajar? Uma forte corrente de ar vinha da fenda entre o assoalho e a porta fechada do quarto do Necker.

– Necker??

O homem deitado na cama tinha sua exata aparência e, ao lado dele, de pé, estava um segundo homem, que ele, Sam, não conhecia. Alto, alourado, rosto com traços fortes e um meio sorriso de canto de boca, que lhe dava um ar sarcástico. Expressivos olhos azuis.

– Você deve ser o Samuel. Depois de dez dias olhando para a sua cara, quase posso dizer que o conheço.

– Quem é você? Como entrou aqui com o Necker sem que eu percebesse?

– Pela janela, é claro.

– Estamos no nono andar do prédio.

– Não sabe reconhecer uma piada quando escuta uma?

– Não foi piada. Posso apostar que você realmente entrou com ele pela janela. O barulho de vento um minuto atrás. Era você. Assim como foi você quem sumiu com o corpo do Necker de Rodeo Drive. E agora o trouxe de volta. Ele está .. ?

– Qualquer outra pessoa buscaria uma explicação racional para justificar o inexplicável. Mas você não é uma pessoa como as outras. Você viu coisas que a maioria sequer imagina que existam. Você é Samuel Winchester, caçador de demônios. Irmão de Adam Winchester, o homem levado para o Inferno.

– Como sabe quem eu sou? Como sabe do meu irmão? O que é você? Um demônio?

– Não, não sou um demônio. Mas, chega de perguntas. Necker salvou sua vida. Isso faz com que você esteja em débito com ele. Que tal retribuir cuidando dele um pouco. Ele ainda precisa de cuidados e eu tenho minha própria vida para tocar.

Dizendo isso, o homem desvanece. Como um fantasma. Mas Sam podia apostar que ele era alguma outra coisa, um tipo de criatura que nunca encontrara antes.

Sam se aproxima cuidadoso do seu gêmeo adormecido. Era como olhar para si próprio. Necker estava muito abatido e tinha um ar de menino indefeso. Era assim que ele próprio parecia aos outros? Um menino grande indefeso?

Os cabelos de Necker ainda estavam úmidos. Seu corpo exalava cheiro de mar. Seu peito ainda mostrava as marcas da perfuração, mas a carne já havia se fechado completamente. Podia apostar que seus órgãos internos já estavam totalmente regenerados. Seu corpo estava se reconstituindo de dentro para fora. Em poucos dias, não existiria nem mesmo uma cicatriz.

Necker sobrevivera, mas, dez dias depois, ainda não estava totalmente recuperado. A reação de dor que teve quando Sam tocou o ponto onde teve o corpo atravessado pelo mastro e o abatimento visível em seu rosto – em MEU rosto, pensou Sam – eram provas de que o processo de recuperação fora doloroso. Vê-lo naquele estado fazia com que Sam se sentisse culpado, como se fosse ele o responsável por aqueles ferimentos. E ele sabia que era.

Necker estava completamente nu. Sam pegou um lençol limpo e o cobriu. Depois, fechou a janela e as cortinas, escurecendo o ambiente para que descansasse. Saiu do quarto, tomando cuidado para não fazer barulho.

– Bobby, é o Sam. Tenho novidades.

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IDAION ANTRON

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Os quatro anjos são surpreendidos quando um homem sai da caverna Idaion e vai ao encontro deles. O homem era um velho conhecido de todos eles. O receptáculo humano preferido do arcanjo Gabriel. Mas, não era Gabriel quem comandava o corpo naquele momento. E as energias que emanavam daquele corpo não deixavam margens a dúvidas sobre quem é que o controlava. O poder arcano contido naquela forma humana ultrapassava em muito o poder isolado de qualquer um deles. Era um adversário perigoso, capaz de enfrentar toda uma legião de anjos.

Matthew Logan era um humano especial, no nível dos irmãos Winchester. Havia muito poucos humanos cujo corpo era capaz de conter as energias de um arcanjo ou de uma deusa-demônio com o nível de poder de Kälï. Castiel lamentava intimamente serem obrigados a destruir um espécime tão especial, mas tinham suas ordens. Balthazar devia resgatar Adam Winchester do Inferno exatamente seis meses depois de sua morte e manter-se próximo a ele, influenciando suas ações e convencendo-o a aceitar ser o hospedeiro do arcanjo Miguel.

Finalmente, o Grande Plano seria posto em marcha. Deveria ser um momento de júbilo e de união das hostes celestiais, mas Gabriel, justo ele, aliara-se a Kälï para sabotar o Grande Plano. Era impensável que algum anjo se opusesse ao projeto do Pai. O mundo seria purificado e renasceria melhorado depois do Apocalipse. Livre de demônios como Kälï. Se bem que não precisariam esperar pelo Apocalipse para libertar o mundo da deusa-demônio. Iriam destruí-la aqui e agora.

Anna desembainha sua espada e caminha decidida na direção de Kälï, que sorri e faz algo que, à primeira vista, parece não fazer sentido. Kälï interrompe a caminhada e começa a despir a jaqueta e a camisa que Logan estava vestindo, exibindo o peito masculino nu. Então, seu corpo começa a se transformar. A pele ganha um tom intenso de azul. A cabeça única passa a exibir quatro faces, dando-lhe visão de 360 graus. O tronco cresce no sentido vertical para acomodar cinco pares de braços, voltados para direções compatíveis com às dos rostos. Surgem armas em cada uma de suas recém-criadas mãos. O par de braços inferior exibia escudos redondos, enquanto os demais exibiam cada um uma diferente arma: lança, espada longa, punhal, tridente, foice, chicote e arco e fechas.

Embora fosse uma visão intimidante, nunca seria assustadora o suficiente para intimidar anjos. Anjos tinham natureza guerreira e os que executavam missões encarnados constituíam a elite celestial. Eles jamais fugiriam de uma luta, mesmo que inferiorizados.

Tudo acontece rápido demais. O ataque coordenado dos quatro anjos e a reação devastadora de Kälï.

A espada na quarta mão de Kälï se inflama e ela, num golpe certeiro, decepa a cabeça de Uriel, ao mesmo tempo em que a lança manejada pela sua sétima mão atravessa o abdômen de Anna e uma flecha disparada pelo par de braços superior atravessa no braço direito de Castiel, fazendo-o largar sua espada. O chicote brandido pela quinta mão da deusa captura a espada de Uriel antes que ela atingisse o solo.

Quem chega mais próximo do alvo é Balthazar, mas mesmo sua feroz investida é rechaçada com facilidade pela deusa. A espada do anjo não atravessa o escudo e ele é rechaçado e mantido a distância pelo tridente manipulado pelo sexto braço de Kälï.

As armas de Kälï eram místicas e afetavam seres de natureza espiritual da mesma forma como afetariam seres materiais. Ao ter a cabeça decepada, tanto Uriel, o anjo, quanto o Robert Wisdom, seu receptáculo humano, estavam definitivamente mortos. Suas essências seguiriam separadas e dariam mais um passo na direção de sua própria evolução cósmica. Uriel sabia que Robert Wisdom seguiria para o Paraíso, destino de todo humano morto a serviço do Céu, mas ele não conhecia o destino final de sua própria essência.

Da mesma forma que aos humanos, também aos anjos era vedado saber o que os esperava do outro lado da cortina. Mas ele não tinha medo. Sabia que não ficaria desamparado. Tinha a consciência do dever cumprido e confiava na promessa do Pai. Uriel encontrou a paz na explosão de luz que o arrebatou.

Anna estava caída e sangrava luz. Sabia que, ao abandonar o corpo, selaria o destino de seu receptáculo, a humana Julie McNiven, mas não tinha escolha. Se permanecesse no plano material, ambas morreriam. O anjo deixa o corpo, pesaroso pelo receptáculo e por falhar com os companheiros.

Castiel estava ferido, mas não estava incapacitado. Apanha com a mão esquerda a espada caída e a usa para cortar a ponta da flecha cravada em seu braço. Em seguida, arranca a haste pelo lado que a flecha entrara e se concentra em cicatrizar o ferimento. Sem sucesso. O ferimento não era fatal, mas não desapareceria como aconteceria se a flecha fosse comum. Não importava. Era um guerreiro e só deixaria o campo de batalha morto.

Enquanto isso, Balthazar se esforçava para atrair toda a atenção de Kälï, de forma a dar cobertura aos companheiros feridos. Anna tinha partido, mas Castiel dá sinal a Balthazar que estava pronto para retomar o ataque. Ambos abrem suas asas, que, apesar de invisíveis a olhos humanos, eram perfeitamente visíveis para a deusa encarnada. Isso exigiria de Kälï uma nova estratégia.

Kälï sabia que precisava de uma vantagem adicional para neutralizar a capacidade de vôo dos anjos e a potência devastadora de seus gritos ultrassônicos. Precisava de um campo de batalha que a favorecesse. Os dois anjos se vêem transportados para uma outra realidade, onde o senso de direção dado pela força da gravidade perdia o sentido. Lá não existia ‘para cima’ ou ‘para baixo’. As duas direções se equivaliam. Uma realidade onde o ar era extremamente rarefeito, um quase vácuo onde a transmissão de sons era abafada.

Ao alçarem vôo, os anjos constatam que seu senso de equilíbrio foi afetado e que é praticamente impossível mudar de direção num ambiente em que suas asas não encontram resistência do ar. A inércia de seu impulso inicial os está levando para cada vez mais longe da deusa-demônio. Antes de um novo ataque, teriam que aprender a controlar o vôo num ambiente sem gravidade e sem ar.

Kälï sorri ao ver que os anjos ainda iam demorar muito para voltar ao ponto de partida. E mais ainda até descobrirem um meio de voltar para o plano terrestre. Mas, ela não ia ficar ali esperando. Kälï retorna à Terra, deixando Castiel e Balthazar presos naquela realidade intermediária.

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HADES

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Ao atravessar o portal para o Hades, a forma sombria da alma de Nathalie Helms reverte para a aparência de seu corpo humano, que permanecia a salvo, como que dormindo, em sua mansão na Louisiana.

Ela já estivera no Hades mais de uma vez e conhecia as armadilhas da dimensão dos mortos. Sabia que Cérbero dormia de olhos abertos e trouxera a moeda para atravessar o Estige. Ao chegar ao Aqueronte, sussurrou para as vítimas de Μηδεια que seu nome era Nathalie Helms e para as vítimas de Nathalie Helms que era na verdade Μηδεια, desorientando os espectros.

A feiticeira não via o momento de reencontrar seu primeiro e único verdadeiro amor e fazê-lo pagar por cada minuto de solidão e abandono que vivera. Ainda não sabia o faria a Iάσων, mas sabia o que faria com seus desagradáveis companheiros. Os amarraria na roda de Ixion e os deixaria queimar por toda a eternidade.


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Notas finais do capítulo

03.04.2012
Muitos podem ter esquecido, mas um outro Matthew Logan era padrasto do Benjamin Braeden da realidade #4 e aceitou tornar-se receptáculo do Gabriel que este chegou àquela realidade. Na realidade #5, ele é receptáculo do Gabriel há muito muito tempo.