Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 100
Vida 6 capítulo 19




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81878/chapter/100

A movimentação de Jan Ackles no prédio onde Sandra McCoy morava, entrada e saída, fora gravada pelas três câmeras de segurança que monitoravam ininterruptamente todo o saguão e a portaria do prédio. As imagens não davam margem a dúvidas. Jan Ackles, ator de um seriado que fazia sucesso no mundo inteiro, foragido a quase duas semanas da polícia de Vancouver, aparecera em Los Angeles e matara friamente a ex-noiva de seu ex-companheiro de elenco Jay Padalecki, também assassinado por ele. As imagens chocantes estavam em todos os canais de TV e se multiplicavam em sites e blogs.

.

Dean seguiu Aglaope escada abaixo, diminuindo progressivamente a distância entre eles. Mas não rápido o suficiente para impedi-la de alcançar o saguão e estar perigosamente próxima de chegar à rua. Tudo o que Dean não queria é ter que persegui-la nas ruas, onde atrairia a atenção de todos e arriscava encontrar alguém idiota o bastante para tentar detê-lo. Neste momento, ele não usava mais o disfarce chamativo com que entrara no prédio.

A sereia estava prestes a cruzar a porta giratória quando é agarrada pelos cabelos por Dean, que a puxa em sua direção, a segura firme contra seu corpo e corta-lhe a garganta, num corte rápido e profundo. A sereia leva a mão direita ao pescoço tentando gritar, mas o som rouco que emite vem junto com uma golfada de sangue. Sangue em abundância jorra não só do talho no pescoço mas também de sua boca. Dean recua. Ela cai de joelhos e tomba de costas, de olhos abertos e expressão surpresa, o rosto pálido emoldurado pelos longos cabelos negros.

O vestido branco e o mármore branco do piso contrastam fortemente com o negro dos cabelos e o vermelho vivo da poça de sangue que só faz crescer. Pena que a gravação da câmara de segurança do prédio fosse em preto e branco. Ou não. O preto & branco e os chuviscos davam veracidade e aumentavam o impacto da cena. Os críticos diriam que a cena tinha um toque de Alfred Hitchcock, caso ele tivesse algum dia existido nesta realidade.

O monstro mitológico responsável por milhares de mortes jazia no chão frio do saguão iluminado, mais linda e angelical que nunca, numa imagem de fortíssima carga emocional. Se tivesse sido ensaiada, a cena não sairia tão perfeita. Os olhos frios de Dean, fixos na mulher caída, e o sorriso de canto de boca que ostenta são claramente visíveis na gravação. Psiquiatras convidados a comentar são unânimes em afirmar que se trata de um caso claro de psicopatia. O ator famoso matara sem demonstrar nenhuma emoção. Quem assistia à cena não tinha dúvidas sobre quem merecia ser chamado de monstro.

Dean se vira e lança um olhar severo para o porteiro, que se encolhe contra a parede. Dean limpa o sangue da adaga na calça de maneira displicente e a ergue até bem próximo ao rosto, numa ameaça explícita ao homem apavorado. Chama o elevador, sem perder o homem de vista, e volta ao apartamento da vítima. Também essa cena foi gravada e amplamente divulgada e debatida. Muitos a entendiam como uma declaração de que estava disposto a matar quem quer que se pusesse no seu caminho.

.

Chad Murray, também ator, foi encontrado caído no apartamento de Sandra McCoy e tinha sido levado, ainda desacordado, a um hospital para ser examinado. Seu rosto exibia inúmeros hematomas. No hospital, se descobriria que apresentava hematomas no corpo inteiro. Ele havia sido severamente espancado. Havia também suspeita de traumatismo craniano.

Murray, que quinze dias antes fora torturado e quase degolado por Ackles, fora aparentemente seqüestrado ainda em Vancouver e teria sido obrigado a ajudar Ackles a atravessar a fronteira e a entrar no apartamento de Sandra McCoy. As imagens das câmaras mostravam claramente que, desde o momento que entraram no prédio, Ackles se posicionara a curta distância atrás de Murray e seu gestual indicava que empunhava uma arma escondida sob a jaqueta.

.

O porteiro correra para fora do prédio e chamara a polícia pelo celular. Todo um prédio estava sendo feito de refém de um acusado de assassinato duplo. A SWAT foi chamada para eliminar a ameaça usando qualquer meio necessário. A mídia, alertada, convergiu em massa para o local. Helicópteros de duas das principais redes de TV chegaram ao local antes mesmo da SWAT.

A SWAT não demorou para cercar o prédio e o assassino buscou refúgio no topo do edifício, depois de usar meios engenhosos para criar barreiras e armadilhas que atrasaram o acesso dos policiais ao último andar por quase duas horas. A polícia não sabe ainda a origem do armamento pesado que o assassino portava, já que as imagens mostram que ele não entrou com volumes onde as armas pudessem estar acondicionadas e seria impossível escondê-las sob a roupa.

.

As redes de TV interromperam a programação normal para mostrar ao vivo a ação que se desenrolava no centro de Los Angeles. O zoom poderoso das câmaras operadas dos helicópteros revelava em close o rosto conhecido do intérprete do matador de monstros ficcional Dean Winchester. Os famosos olhos verdes mostravam determinação e sua atitude lembrava em tudo sua atuação no seriado. Mas, no mundo real, aquilo tinha tudo para terminar de forma trágica. Dificilmente o ator repetiria, na vida real, as reviravoltas que proporcionavam as fugas impossíveis do personagem. O que tornava tudo muito mais excitante.

Não houve fã do seriado que não tenha parado o que quer que estivesse fazendo para acompanhar momento a momento a cobertura das redes. As TV’s alternavam a ação ao vivo com retrospectivas do caso e as biografias de Jan Ackles, Jay Padalecki, Dani Harris, Sandra McCoy e até de Chad Murray. Naquele momento, mesmo quem era do team Jay torcia inconscientemente para Jan, como estavam acostumados a torcer para Dean no seriado.

Muitos achavam que Jan Ackles surtara e passara a acreditar ser realmente Dean Winchester. E, vendo-o na TV, era mesmo difícil diferenciar a realidade da ficção. Em Vancouver, todos no estúdio comprimiam-se em frente a uma TV de 42” instalada às pressas no galpão principal, próximo ao cenário que representava o quarto de motel. Naquele momento, o relógio digital da mesa de cabeceira do quarto cenográfico marcava 20:37.

.

Em Vancouver, Dani Harris se desesperava em frente à tela da pequena TV do seu quarto de hotel. Dean ligara logo após cruzarem sem problemas a fronteira e também quando estavam a poucas quadras do prédio de Sandra McCoy. Nas duas vezes, se despedira com um ‘Te amo!’. O que pudera dar tão errado naquele apartamento? Será que fora enganada pelo talento do ator e não percebera que ele sempre fora um psicopata perigoso? Ele, intencionalmente ou não, transformara-a em cúmplice do assassinato de Jay Padalecki e Sandra McCoy. No entanto, naquele momento, sua única preocupação era que Jansen saísse com vida daquilo tudo.

Uma coisa Dani Harris tinha certeza. Estava grávida. Não precisava que um teste de farmácia confirmasse o que seu corpo lhe dizia. E ela queria muito aquela criança, fosse o pai um psicopata ou não. Se fosse menino, e tinha certeza que seria, planejava batizar o garoto de Benjamin, o nome do personagem do seriado que supostamente seria filho de Dean Winchester. Era a forma que encontrara de reconhecer a paternidade de Dean, mesmo que biologicamente fosse filho de Jansen Ackles. É claro que o sobrenome do garoto nunca poderia ser Winchester e, com tudo que estava acontecendo, tampouco podia ser Ackles. Não queria que o garoto fosse apontado como filho de um psicopata assassino. Dani Harris era um pseudônimo. O garoto receberia o verdadeiro sobrenome dela, Braeden. Na certidão de nascimento, estaria apenas o nome dela, Elizabeth Braeden. O que reforçaria a semelhança. No seriado, o sobrenome do menino era Brandon.

.

Os helicópteros estavam bem posicionados no momento em que a SWAT explodiu a porta do terraço. A explosão surpreendeu os telespectadores, mas não a Jansen. Ele manteve a posição em frente à porta fumegante, sem recuar um passo e sem fazer qualquer gesto de proteção. A câmera captou claramente o sorriso de canto de boca e a mudança de postura corporal de Jan Ackles. Uma postura de batalha. Ele projeta os braços para frente e dispara na direção da tropa de elite da polícia de Los Angeles. Rajadas cospem dezenas de balas por segundo e deixam claro que ele não tinha intenção de sair dali vivo.

Em Vancouver, no estúdio, o relógio digital da mesa de cabeceira do quarto cenográfico marcava 21:00.

A SWAT teve paciência de aguardar as balas do pente acabarem e entrou atirando antes que Jansen tivesse tempo de recarregar. Era exatamente 21:03. O corpo de Jansen estremeceu ao receber dezenas de disparos simultâneos. A cena ao vivo foi cortada e repórteres e comentaristas ocuparam a tela. Em todo país, em todos os lugares onde a ação era mostrada ao vivo, as pessoas olhavam a cena de queixo caído, sem acreditar no que acabaram de ver. Jan Ackles estava morto.

.

Em Dallas, Donna e Roger Ackles se abraçam, chorando silenciosamente. Não reconheciam Jansen naquele homem frio que a TV mostrava. Jansen era um bom garoto. Sempre lembrariam dele como um bom garoto. Mackenzie, com a mesma expressão aturdida com que acompanhou o desenrolar dos acontecimentos pela TV, abraça e é abraçada pelos pais. Não sabia o pensar. Mas sabia o que precisava fazer. Seguir para Los Angeles. Não importava o que Jansen tivesse feito, ele ainda era seu irmão.

.

Paramentado com um membro da SWAT, o Trickster se aproxima do corpo caído, se agacha e fecha as pálpebras do homem morto. O ruído dos rotores dos helicópteros e o burburinho dos homens ao redor não permitem que se escute suas palavras.

– Parabéns, Jan. Sua última representação foi memorável, o sonho de qualquer ator. Mas seus dias de representação chegaram ao fim. Daqui pra frente é pra valer, é a vida real.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

02.06.2011
CAPÍTULO 100 (e ainda tem mais). Obrigado por ter chegado até aqui.
Danneel Harris é realmente um pseudônimo. O verdadeiro nome da atriz é Elta Danneel Graul. Nesta realidade, no entanto, seu nome é Elizabeth Braeden e ela se parece fisicamente com a atriz Cindy Sampson. A personagem do seriado desta realidade se chama Lisa Brandon.
PS.: Eu nunca disse que a Dannielle da realidade 6 é ruiva.