Utopia escrita por dastysama


Capítulo 9
Capítulo 9 - O Som do Coração


Notas iniciais do capítulo

Geeeente cadê vocês? Sério, não é por causa da falta de reviews, mas parece que pouca gente ta lendo .-. Mesmo assim vou continuar postando, vai que mais tarde alguém encontra essa fanfic meramente e decide ler.



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A prisão não passava de muralhas ao longe, pedras caídas no chão, tão mortas no mato que crescia abundantemente. Estava tão escuro que tudo parecia sombrio e funesto, como se estivessem em uma espécie de cemitério abandonado, onde os únicos mortos, quem sabe, não passavam de espíritos esquecidos.

Bill estava levando uma lanterna enquanto Biene estava com a outra. Ela pulava toda feliz pelo mato, tentando abrir caminho para ver melhor as muralhas, sem medo nenhum de encontrar algo terrível. O vento estava tão frio e forte, que se podia ouvir barulhos fantasmagóricos ao longe, como assobios penetrantes que deixariam qualquer um morto de medo.

– Você vai querer entrar lá dentro? – perguntou Bill quando eles avançaram o bastante para perceberem o quão grande as muralhas eram.

– Não, pode ser perigoso – disse Biene apontando a lanterna para as janelas com barras da prisão, talvez tentando localizar alguma sombra suspeita – O lugar está muito velho, pode ter risco de desmoronamento. Além de que não é necessário entrar para ouvir alguma coisa.

– Então vamos esperar ou algo do tipo? – perguntou Bill pensando que poderia estar fazendo qualquer outra coisa, menos ficar observando muralhas velhas e sem-graças, esperando que saísse algum cantar dela.

– Mais ou menos – disse ela indo para baixo de uma das colinas, em direção a várias árvores – Venha, vou te mostrar algo, pelo menos para mim é incrível.

Biene continuou a descer a colina e sumiu entre as árvores enquanto Bill tentava localizá-la. Depois de um tempo perscrutando pela escuridão, entre vários galhos, ele localizou Biene sentada em uma espécie de pequena clareira. Ela sorriu para ele e apontou para algo e ele olhou. Ao longe havia o tal rio que Bill já tinha visto antes, ele era imenso agora visto de tão perto e a Lua se refletia nele dando a sensação que estavam perto de um mar.

– É lindo! – disse Bill também se sentando ao lado de Biene e olhando aquela maravilha que estava apenas a alguns quilômetros de distância – Não sabia que era tão bonito quando vi da primeira vez.

– Sim, ele é! Meu sonho sempre foi poder nadar nele, mas como faz muito frio, acho que nunca vou poder fazer isso. Pelo menos, algum dia eu posso tentar navegar nele com algum barco. Um cara daqui está construindo um de madeira para mim, em breve vai estar pronto e vou poder ficar navegando sempre que eu quiser.

– Mas as outras pessoas não aproveitam esse lago?

– Quem seria o louco? – perguntou Biene enrolando mais o cachecol em volta do pescoço por causa dos ventos frios – Só eu mesma. Ninguém vai querer nadar nele ou navegar, é muito frio para isso. Além de que pesca não é algo necessário já que o lucro da cidade vem de outros tipos de produções.

– Então por que você quer fazer isso? – perguntou Bill tentando entendê-la, era algo mais complicado do que ele imaginara, era como tudo que ela fizesse não tivesse um por que.

– Precisa de um por quê? Acho que é pelo simples fato de que ninguém fez isso ou por que ninguém faz. Não quero seguir os outros, quero aproveitar a vida a minha maneira, então se quero navegar em um barco de madeira nesse lago, eu o farei. Não tenho medo de morrer, Bill, tenho medo de não viver.

Era estranho eles estarem conversando sobre esse tipo de coisa, eram coisas pessoais, que geralmente as pessoas não contavam. Não era como um amor secreto ou algum defeito indiscreto, era apenas pensamentos que as pessoas tem e não precisam ser ditos por que ninguém iria entender. Mas Bill entendia, por mais que fosse complicado, ele sabia o que ela queria dizer.

Sem saber o que fazer, ele tirou um maço de cigarros do bolso e decidiu que fumar naquele momento seria um alívio, mais do que já era. Ele deu uma olhada no vento para que a fumaça não fosse para Biene, então começou a acender o cigarro. Colocou-o na boca e começou a tragar a fumaça para dentro dos seus pulmões, sentindo um prazer a alívio percorrer sua garganta.

– Ah, por favor, não me diga que você fuma! – disse ela olhando brava para Bill, então se aproximando dele com o braço esticado tentando arrancar o cigarro da mão dele, mas ele conseguiu desviar rapidamente.

– A fumaça te incomoda? – perguntou ele colocando o cigarro o mais longe das mãos cruéis de Biene.

– Não estou fazendo isso por mim, estou fazendo por você – disse ela avançando mais e arrancando o cigarro da mão dele e jogando ao longe – Não estrague sua vida, por favor.

Ela se sentou novamente no seu lugar, olhando tentadoramente para o bolso de Bill onde havia mais cigarros para ser pegos e serem jogados fora. Mas ele tratou de cobrir aquilo com seu casaco, para que ela não eliminasse mais nenhum.

– Isso não é bom, fumar é ruim, mesmo que o faça se sentir bem. É um hábito que todas as pessoas deveriam evitar ter.

– É meio difícil – disse Bill ainda tentado a pegar outro cigarro – Isso te acalma, mas é algo horrível, então não vou ficar falando todas as sensações que ele trás, afinal não quero que você tenha esse hábito.

– Então não fume e me dê um modelo a seguir, quando você fala isso do cigarro e o ama da mesma forma, não tem muito significado. São pensamentos e ações opostas e quero ambos na mesma direção.

– Pare de ser filósofa – ele disse fazendo um sorriso brotar no rosto – Você me deixa acanhado com todos esses pensamentos superiores. Além disso, não estamos aqui para ficar conversando, não estávamos em uma busca sobrenatural?

– É verdade! – disse ela se virando para ele e sorrindo ao se lembrar do verdadeiro objetivo – Até agora ela não cantou nada, quem sabe não precisa de estímulos? Quem sabe não podemos cantar para ela?

– Que música?

– Não sei, você que é o músico aqui, deve saber alguma.

– Bem, tem uma nova que venho tentando há um tempo, mas não sei se está bom o suficiente – disse ele se lembrando da letra que havia escrito há algumas semanas.

– Então cante, se eu aprender, te ajudo – disse Biene com os olhos azuis brilhando e sorrindo em apoio.

Bill sorriu em troca, passou a língua pelos seus lábios e preparou sua voz, recordando-se da melodia que Tom havia inventado. “So automatisch, du bist wie ‘ne maschine. Dein Herz schlägt nicht mehr für mich. So automatisch, berühren mich, deine hände, spur alles, nur nicht dich…”. Enquanto ele continuava a cantar, Biene tentava gravar a letra, mas ficou tão maravilhada com o jeito que ele cantava e com o que a música dizia, que se tentasse cantar, tinha medo de que estragasse todo o significado daquilo.

– Acho que ela não gostou muito da música – ele disse percebendo que nada acontecera novamente, que não havia ninguém cantando junto.

– Ela gostou sim – disse Biene com as bochechas mais rosadas do que nunca, olhando de forma maravilhada – Ela só não cantou junto, por que tinha medo de parecer desafinada demais ou não cantar tão bem.

– Bem, ela devia ter tentado, pelo menos eu saberia se ela tinha gostado ou não.

– Claro que ela gostou, ela só decidiu que o melhor a fazer era apenas ouvir. O silêncio dela trás muito mais significados do que suas palavras. Ela cantou por tanto tempo que quando alguém aparece cantando dessa forma, resta apenas escutar.

Bill ficou sem-graça ao ouvir o que ela dissera, sentiu seu rosto queimar quando a olhou nos olhos. Ela desviou o olhar e voltou a se concentrar no rio, como se ele prendesse todo o seu interesse. Outras rajadas de ventos cortantes passaram por eles, fazendo-os tremer de frio, então ambos decidiram que ficar ali por mais tempo só traria uma pneumonia.

Subiram a colina novamente e se encontraram com os restos daquela prisão que escondia mistérios indecifráveis. Ambos olharam para as ruínas esperando que elas assoprassem a eles algum segredo, mas ela continuou em silêncio absoluto, mesmo depois que eles se afastaram em direção ao carro.

– Espero que os outros estejam bem – disse Bill olhando para o relógio do carro e notando que era quase duas horas da manhã – Não vai ser nada legal encontrar todos eles bêbados e nus.

– Acho que eles vão estar em um tédio total, isso sim – disse Biene rindo – Viver aqui é só emocionante para quem sabe apreciar de verdade coisas pequenas. Como vocês estão acostumados com coisas grandiosas, não vão perceber isso logo de cara.

– Bem, acho que tenho todo o tempo do mundo para me acostumar! Não estou a fim de ir embora daqui tão cedo ainda – ele disse ligando a ignição, fazendo o carro partir para longe daquele lugar abandonado.

No caminho de volta para casa, com o silêncio transformando o carro em um túmulo, Biene começou a cantarolar a melodia da música que Bill cantara, preenchendo o local com aquele som suave como ondas se quebrando no na areia de uma praia. Por mais que ela não soubesse a letra, só de sentir o som passar por sua garganta, já era algo que acalmava.

– Pelo visto, ela está cantando – disse Bill olhando para Biene significativamente – Então não foi em vão, ela gostou da música.

– Ela já tinha dito isso antes – ela disse fazendo suas bochechas tomarem uma coloração rosada – Era a sua vez de ter ouvido.

Ele apenas concordou com a cabeça, mordendo seus lábios para não sorrir demais. Quem sabe a lenda da garota que cantava na prisão, na verdade não fosse verdadeira? Talvez ela estivesse agora entre eles, os fazendo querer cantar e quem sabe preenchendo aquele vazio que havia. Sim, havia algo mais.


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