Utopia escrita por dastysama


Capítulo 38
Capítulo 38 - A Promessa


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, tentei postar domingo passado, mas o servidor do Nyah não estava funcionando ):



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Fumaça e faísca se espalharam por toda a superfície da água. Bill não conseguia ver nada do que estava acontecendo lá, só que o barco ficara em chamas, sem nenhum sinal de Biene. O desespero tomou conta dele, ele não fazia ideia se Biene estava a salvo na água, ou se ainda estava no barco em chamas.

Correu o mais rápido possível para o píer, arrancou suas botas e o casaco. Devia estar quase zero grau, mas ele nem pensou nisso quando seu corpo atingiu a água e sentiu como se milhares de agulhas pinicassem e queimasse sua pele. Bill ficou imerso, tentando se acostuma com aquela temperatura torturante, enquanto nadava o mais rápido possível para perto do barco.

– Biene! – ele gritou, enchendo os pulmões com ar gelado, mas não obteve nenhuma resposta.

Com todas as forças que tinha e aguentando aquelas águas geladas, Bill se aproximou cada vez mais do barco em chamas. Mesmo aspirando a fumaça, conseguiu chegar até lá e deu uma olhada dentro do que restava, mas não havia sinal de Biene ali. Olhou para todos os lados, procurando sinal de algo flutuando, mas era como se ela tivesse desaparecido.

Então só havia um lugar onde ela poderia estar: submersa. Afastou-se do barco para conseguir ar e finalmente mergulhou, mantendo seus olhos abertos para que enxergasse algo. Seu coração parecia afundar junto com ele, principalmente quando sentia que o tempo estava acabando e não havia sinal dela em nenhum lugar.

“Por favor, Will” Bill pensou quando voltava à superfície para conseguir mais ar “Se você realmente está me ajudando, não deixe Biene morrer novamente”. Quando novamente atravessou toda aquela imensidão azul, Bill avistou algo, mas não era Biene, era Johanna. Seus cabelos negros se espalhavam pela água, seus olhos estavam fechados e seu vestido balançava conforme o movimento da correnteza.

Bill nadou em sua direção, o mais rápido possível. Quando a alcançou, agarrou o seu braço, a puxando para si. O tempo parecia ter se congelado, a água deixava tudo mais lento, era como se a realidade se transformasse em sonhos novamente, principalmente quando os olhos de Johanna se abriram. O braço branco dela tocou no rosto de Bill e tudo pareceu sumir, a dor da águas congelantes, os olhos que ardiam, o coração que estava sob pressão.

 

Ele estava margem do lago, não estava realmente calor, devia estar dezessete graus, mas isso já era o suficiente para fazer as pessoas saírem de casa. Em um país europeu, aquilo podia ser chamado de calor. Will devia ter cerca de oito anos, estava do lado de sua mãe, que segurava uma sombrinha. Seu vestido rosa se estendia pela toalha que colocara no chão. Will estava deitado nela, olhando para o lago, as pessoas passavam o tempo todo e cumprimentavam a Senhora Baumgärtner.

Seu pai estava no píer junto com outros homens, pescando alguns peixes e se gabando um para os outros quem pegara o maior ou o mais raro. Heinrich estava no lago, jogando água e lama nos seus amigos mais fracos, um verdadeiro brutamontezinho. Pelo menos ele estava infernizando outros e não Will como sempre fazia, mas ele não tentaria, sua mãe estava com ele.

– Heidi – disse o Senhor Baumgärtner, se aproximando da mulher – Deixe William brincar, ele está muito mal acostumado. Veja Heinrich, está se divertindo com seus amigos.

Will olhou sério para o seu pai, como se ele estivesse sendo sarcástico ao classificar o que faziam como diversão. Claro que Heinrich estava se divertindo, mas não quer dizer que seus amigos estavam.

– Semana passada ele havia pegado um resfriado, lembra? Não podemos arriscar que ele piore. É melhor que fique tomando sol.

Heidi sorriu para o marido e Will pode respirar tranquilamente. O Senhor Baumgärtner podia retrucar com qualquer outra pessoa, mas não com sua esposa, não que ela fosse difícil de lidar, é que ela apenas tinha tanta segurança em sua voz que ninguém conseguiria questioná-la. Pena que daqui alguns anos a morte questionaria sua vida, com confiança ou não.

– Que tal irmos andar de barco? – ela perguntou a Will, com um sorriso – Seu pai tem um pouco de razão, precisa se movimentar mais, não pode só ficar só deitado.

Perto do lago havia uma casa de madeira, onde morava um velho que tinha barcos para serem alugados. A família Baumgärtner tinha um só para eles, já que Heidi sempre gostara de navegar todos os fins de semanas ensolarados. O velho os cumprimentou e foi até o píer ao lado de sua casa, ajudar os dois a se instalarem no barco.

– Será um prazer remar para a senhora e seu filho – disse o velho tirando o seu chapéu para Heidi.

– Espere um momento – ela disse ao ver uma pessoa conhecida se aproximando – Leonie! Venha andar de barco também!

Will virou-se para ver de quem se tratava. Uma mulher de cabelos pretos e olhos acinzentados se aproximou, carregando uma garotinha em seus braços com características similares a dela. Ah, ela devia ser Leonie Schmidt. Ele já havia ouvido seu pai falar dela, como o marido era seu parceiro na contabilidade, mas havia morrido há pouco tempo. A mulher estava sozinha agora, tentando sustentar os filhos através da herança que lhe sobrara.

– Que bom vê-la Heidi! – ela disse sorrindo e entrando no barco, mantendo sua filha ao seu lado – Olá, Will.

– Will, essa é a Leonie, lembra? – Heidi disse dando sinal ao velho para ele remar – Ela sempre vem tomar chá comigo. E essa é a filha dela, Johanna. Você não a conhece, ela ficava a maior parte do tempo com sua governanta.

– Tive que mandá-la embora, infelizmente. Agora não podemos gastar muito – Leonie disse tristemente.

Estava claro no rosto dela que havia passado por maus bocados. Ela parecia mais pálida que o normal, e seus olhos carregavam tristeza e cansaço. Will deixou de prestar atenção nela e fixou seu olhar na garotinha de três anos, a tal Johanna. Ela também o olhava com interesse, enquanto segurava uma boneca de pano em suas mãos.

– Ela não fala? – Will perguntou.

– Ela é tímida – Leonie sorriu em resposta, ela tirou Johanna do seu colo e a colocou no banco do barco, ao lado de Will – Diga olá a ele, Johanna.

Mas ela não disse, apenas abaixou seus enormes olhos acinzentados e deixou sua boneca cair no fundo do barco. Will a pegou, devolvendo para ela, como sua mãe sempre ensinara. O que Heinrich tinha de má educação, Will recebera a boa em dobro.

– Não se preocupe, sua boneca não se molhou – Will disse – Ainda bem que sou eu que estou nesse barco, se fosse Heinrich, ele teria jogado ela longe.

– Obrigada – ela disse quase em um sussurro, pegando a boneca – Não quero que ela vá embora como papai.

– Ela não vai – Will disse, pensando no que seria sua vida se sua mãe morresse. Na cabeça da garotinha, talvez ela não entendesse direito o que era a morte, mas Will já vira javalis morrerem na sua frente quando ia caçar com seu pai. Aquilo talvez não fosse um ótimo exemplo, mas já era alguma coisa – E seu pai está bem. Mamãe sempre me conta que quando alguém querido vai embora, ele vira uma estrela no céu. Sempre que você olhar para as estrelas, saberá que seu pai vai olhar por você.

– Meu pai sempre falou que ia me proteger – ela disse mudando sua expressão triste para um enorme sorriso.

– Eu também vou – Will disse sorrindo – Cavalheiros sempre protegem as damas.

– Você promete?

– Eu prometo.


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