Utopia escrita por dastysama


Capítulo 31
Capítulo 31 - A Boneca Quebrada




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Bill estava novamente em seu quarto, deitado em sua cama, ainda extremamente cansado. Deixara Biene na cozinha, que preferia mil vezes ficar com os livros empoeirados do que voltar para casa e descansar. Pelo visto, tudo parecia ter acabado já que não sonhara nada na noite passada. Talvez, William só queria que achassem os objetos esquecidos da família ou algo do tipo ou apenas queria que descobrissem algo que com certeza Biene iria descobrir. Agora ele poderia dormir em paz.

 

A porta se abriu em um estrondo, ela fora forçada por brutamontes, todos eram lacaios. Da porta semi-destruída surgiu alguém que Will nem Johanna nunca imaginariam: Meredith Gottwald. A expressão dela estava impassível enquanto olhava para os dois que se encontravam na cama, a única coisa que denunciava seus sentimentos eram os olhos azuis em brasa.

– Já está tendo sua despedida de solteiro, William? – ela disse com uma voz áspera, nada parecida com a de anjo que há pouco tempo usara – Justo na festa do aniversário de Aach?

Will podia sentir Johanna ofegante ao seu lado, com as mãos tremendo enquanto seguravam as cobertas, tentando se cobrir. Ele sabia que ela tinha medo de ter mais desgraça do que já teve, de ser julgada por todos como sempre foi. Não iria deixar nada acontecer com ela, não podia permitir isso.

– Vivi minha vida inteira sabendo que meu pai traía minha mãe – Meredith prosseguiu, sentando em uma cadeira próxima a cama, olhando de forma nada pacífica tanto para Will quanto para Johanna – Eu sempre a via deprimida, amando um canalha, acreditando que era recíproco, perdoando quando ele “errava” e logo depois descobrindo que ele nunca mudara nada. Se casamento é transformar uma mulher em uma pessoa amarga, tomarei certas medidas para que o mesmo não ocorra comigo.

– Eu não vou me casar com você, Meredith – Will disse a desafiando – Procure outro bom partido, eu não sou o que você procura.

– E ouvir a cidade inteira comentar sobre como fui rejeitada por você? William, isso é pouco comparado ao que vai acontecer com você se me recusar. Farei sua família inteira cair em desgraça, começando aqui e agora.

Ela fez um sinal para os três enormes homens, dois deles foram até a cama e arrancaram William dali, o último pegou Johanna e a levou em direção a Meredith. William tentou se libertar, chutando e esmurrando os gigantes de pedra, que nem ao menos sentiam os impactos das pancadas. Johanna apenas tratou de ficar naquele estado catatônico, prestes a desmaiar.

– Quem é você, mocinha? – Meredith perguntou, segurando o rosto de Johanna, enfiando suas unhas na carne tenra de seu rosto – Qual o seu sobrenome?

Johanna não disse nada, estava incapacitada de dizer alguma coisa, apenas tinha seus olhos presos aos de Meredith, em uma expressão de puro terror e desespero.

– Eu fiz uma pergunta – ela prosseguiu – E quero uma resposta.

Quando Meredith percebeu que Johanna não iria dizer nada, ela soltou seu rosto, mas sua mão macilenta atingiu em cheio o rosto da garota, deixando o rosto alvo de Johanna em um rubor dolorido. O coração de William disparou ao ver aquela cena, novamente lutou contra aqueles brutamontes com tanta fúria, quase conseguindo escapar das garras deles.

– Solte-a agora! Desgraçada, não encoste um dedo nela ou eu mato você – ele gritou entre os dentes.

– Não grite, William. Ou você quer que todas as pessoas da festa vejam como um Baumgärtner é um traidor? Quer que meu pai saiba que recusou casar comigo ou prefere que seu pai saiba?

– Deixe-a fora disso, ela não tem nada a ver com essa história.

– Não tenho tanta certeza. William, você acha realmente que eu não o vi com ela, se trancando nesse quarto? Que eu não ouvi o que disse a ela? Que iriam fugir para longe? – Meredith virou seu rosto para olhar novamente para Johanna – Agora me diga, qual o seu nome?

– Schmidt, Johanna Schmidt – ela disse fechando os olhos para conter as lágrimas, mas elas escorreram pelo seu rosto, tão quentes como o vergão que se formara em sua maçã do rosto.

– Ah, a prostituta! Você iria fugir com uma prostituta, William? – Meredith começou a gargalhar – Pensei que fosse alguma mulher de família, talvez não tão rica, mas uma pessoa íntegra. Prostitutas não se casam, elas são apenas diversão, são criaturas sujas.

Novamente a mão de Meredith acertou em cheio o rosto de Johanna, a jogando no chão. Meredith a puxou pelos cabelos e a jogou contra o assoalho várias vezes, enquanto William empurrava um dos brutamontes contra o criado-mudo e corria em direção a Meredith, cego pelo ódio. Quando ia agarrar o braço magro dela, outro brutamonte o segurou.

– Sua puta, sua suja! – Meredith exclamava, acertando Johanna – Volte para o lugar de onde você veio, vá para seu cabaré imundo, sua porca!

– Eu vou te matar! – William gritava com todas as forças – Eu vou estourar seus miolos sua desgraçada, solte-a agora!

– O que está acontecendo aqui? – um vulto surgiu pela porta, era nada menos e nada mais que o Senhor Baumgärtner, olhando pasmado para toda aquela confusão.

– Desculpe pela confusão, Senhor – Meredith disse com a voz doce novamente – Mas creio que peguei seu filho no flagra, pronto para fugir com uma prostituta. Acho que eu mesma devo cuidar desse assunto, não acha? Sem que papai não saiba de nada, não queremos mais confusão do que já tem, não é mesmo?

O rosto do Senhor Baumgärtner ficou lívido, olhando para William que estava sendo segurado por dois homens enormes e corpulentos e depois olhou para a jovem estirada no chão, com sangue escorrendo de seus lábios e narinas. Meredith sorriu satisfeita, ao ver que o pobre velho não faria nada para pará-la.

– Só estou tirando um rato do meu caminho e do seu também, William. Ainda vai me agradecer por salvar sua vida e não desgraçá-la como pretendia fazer. Nós vamos nos casar e ter uma família de verdade, unindo os Gottwald e os Baumgärtner. Ela é apenas uma prostituta, que futuro traria para você?

– Eu imploro, a deixe ir, não a machuque – William disse quase aos prantos – Não toque nela, ela não tem culpa de nada.

– Viu? Até ficou mais educado – ela sorriu novamente de forma angelical, mas por trás daquele rosto macilento, Will só era capaz de ver algo diabólico – Hans, leve ela, pelos fundos da casa, afinal não queremos estragar toda a festa. Quanto a vocês dois, não soltem ele até eu mandar.

O tal de Hans pegou Johanna em seu colo, ela estava totalmente desacordada, com sangue banhando seu rosto e o vestido. Ela parecia uma boneca de porcelana, tão pequena e quebrada nos braços daquele gorila ambulante. Will sentiu seu coração afundar no peito quando a viu sumir pela porta. Ele queria poder nocautear aqueles dois homens, queria esmagar o pescoço daquela mulher, queria arrancar Johanna daquele monstro, queria consertá-la, queria vê-la sorrindo novamente.

– William – Meredith o chamou pela terceira vez, ele estava tão perdido em seus pensamentos, em sua dor, que nem ouvira uma palavra do que ela dizia – Se você a procurar novamente, eu acabo com vocês dois. Não pense em fazer bobagem, estarei de olho em você. Podem soltá-lo.

Os dois brutamontes o soltaram, ele caiu no chão, se sentindo tão fraco como nunca se sentira em sua vida. Ele sempre fora William Baumgärtner, ele que colocava medo nas pessoas, ele que as machucava, nunca o contrário. Algo dentro dele havia se partido, todo o sentido havia sumido, seu mundo havia caído de tal forma que isso o impossibilitava de levantar. Meredith olhou uma última vez para ele e sumiu pela porta com seus dois brutamontes atrás como imensos pastores alemães.

As únicas pessoas que estavam no quarto era ele e seu próprio pai, o olhando de um jeito indecifrável. William se levantou, juntando toda a força que tinha para se manter em pé.

– Pai, por favor – Will disse se encaminhando até seu pai – Não permita que façam nada com ela. Não a deixem machucá-la, eu a quero segura...

William não conseguiu nem terminar a frase, a mão de seu pai atingira seu rosto, o fazendo vacilar novamente. O rosto do Senhor Baumgärtner estava vermelho, seus olhos negros brilhavam de raiva, desonra e vergonha.

– Tome juízo e pare de desonrar essa família, não mereço um filho que me faça passar por essa vergonha. Esqueça aquela meretriz, ou irá se tornar lixo igual a ela.

Ele saiu do quarto, deixando seu filho parado, tentando similar o que havia acabado de acontecer. Há alguns minutos estava nos braços da mulher que amava tanto, agora estava machucado por dentro e por fora. Mas ele não deixaria desse jeito, nunca.


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