Café com Aroma de Mulher escrita por Alina Black


Capítulo 4
Prelúdio-Acusação




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Hospital San Juan de Dios, Costa Rica:  14 dias antes do retorno de Elizabeth Black

A ruiva saiu apressada do parque aquático, o coração ainda batendo forte após o terrível incidente com o velho encarregado. Seu corpo tremia, não só pela violência que quase sofreu, mas também pela incerteza do estado do homem ferido por sua própria defesa. O sangue na caneta em sua mão lembrava-a do momento em que teve que agir para se proteger. Ela não queria matar ninguém, mas naquele momento de desespero, foi a única opção que viu.

A veterinária entrou em sua caminhonete, as mãos ainda trêmulas no volante. Lágrimas inundaram seus olhos assim que começou a dirigir, o peso da situação se tornando quase insuportável. Nessie não sabia se o homem sobreviveria ou se ela seria acusada de alguma coisa, mesmo agindo em legítima defesa.

No trajeto para casa, cada curva, cada semáforo, era como se ela revivesse o momento de terror no vestiário feminino. A sensação de impotência misturada com o instinto de sobrevivência a deixava ainda mais frágil.

Foi então que seu celular tocou, interrompendo seus pensamentos tumultuados. Era sua avó Renée, mesmo abalada com a situação que estava passando abriu a bolsa sem tirar os olhos da estrada e sua mão esquerda ainda trêmula pegou o aparelho celular atendendo a chamada.

— Oi vovó, sei que estou atrasada, mas eu tive um imprevisto no trabalho.

— Nessie querida – A aflição na voz de sua avó a deixou ainda mais nervosa – Sua mãe passou mal, eu liguei para você, mas não atendeu minhas ligações.

Nessie suspirou sentindo-se culpada, havia passado horas debaixo d’água em uma tentativa de esquecer o mundo e acabará esquecendo de sua mãe – Me desculpe vovó, eu celular estava na bolsa, onde minha mãe está?

— Alec achou melhor leva-la para o hospital, a trouxemos para o San Juan, ainda não sabemos como ela está.

— Eu estou a caminho.

Nessie jogou o aparelho celular na bolsa e controlou as lagrimas, aquele sim era o golpe final, pegou a próxima curva e retornou para a estrada que dava acesso ao hospital, durante os minutos que dirigia se perguntava porque tudo estava dando errado em sua vida, seu trabalho, a saúde de sua mãe e agora sabia que corria o risco de perder sua liberdade, mesmo agindo em legitima defesa, ninguém acreditaria nela.

Quando chegou ao hospital sentia uma mistura de pressa e apreensão. A fachada branca e imponente do prédio hospitalar parecia ainda mais intimidadora naquele momento de angústia. Ela estacionou sua caminhonete rapidamente e correu em direção à entrada principal.

Ao adentrar o hospital, o ar condicionado fresco contrastava com a agitação que ela sentia dentro de si. O corredor principal era amplo, com luzes brilhantes e um fluxo constante de pessoas indo e vindo. Nessie seguiu as placas que indicavam a recepção, seu coração batendo forte enquanto as preocupações sobre sua mãe dominavam seus pensamentos.

Chegou a recepção e avistou seus avós Renée e Charlie, os pais de Bella, sentados em uma das cadeiras próximas ao balcão. Renée estava com os olhos vermelhos, segurando a mão de Charlie com firmeza. Nessie se aproximou rapidamente, sentindo um nó na garganta ao ver a expressão de preocupação nos rostos deles.

— O que o médico disse? Como está a mamãe? Foram as primeiras perguntas feitas por ela ao se aproximar dos avós.

Renee olhou para Nessie com os olhos marejados, incapaz de conter as lágrimas e abraçou a neta- Querida, ainda não sabemos ao certo. Os médicos estão fazendo exames, mas estão preocupados com o estado dela.

Nessie suspirou afastando seu corpo do corpo de sua avó- Eu não posso acreditar que isso está acontecendo. Precisamos ter esperança.

Charlie assentiu, sua expressão refletindo a mesma mistura de dor e esperança que todos compartilhavam naquele momento tenso. Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, o médico Alec se aproximou deles, sua expressão séria indicando que havia más notícias a serem compartilhadas.

— Oi Nessie – Disse o rapaz alto e loiro ao aproximar-se de ambos. O rapaz cuidará de Isabella desde o início da descoberta do câncer e isso havia o aproximado da família, principalmente de Nessie por quem guardava sentimentos que iam além da amizade.

— Como está minha mãe Alec?

— Precisamos conversar sobre Isabella. Seus exames mostraram um agravamento significativo em seu estado de saúde. Infelizmente, seu estado é irreversível e ela tem pouco tempo de vida.

As palavras de Alec caíram como um peso sobre todos ali presentes. Nessie sentiu o chão se abrir sob seus pés, a realidade dolorosa da situação se impondo de maneira avassaladora. Renée soltou um soluço, e Charlie apertou ainda mais a mão de sua esposa, buscando algum conforto naquele momento de desespero.

Nessie olhou para o médico balançando a cabeça de forma negativa e com os olhos marejados, não podia aceitar perder sua mãe daquela forma tão precoce- O que podemos fazer, Alec? Tem que ter alguma chance, algum tratamento alternativo.

— Nessie – Ele pousou as mãos carinhosamente nos ombros de Nessie – Dê a ela momentos felizes, é tudo que pode fazer- Alec balançou a cabeça em um gesto de pesar, suas palavras cortantes eram como facas afiadas- Sinto muito, mas não há mais nada que possamos fazer. O melhor que podemos oferecer agora é conforto e apoio para vocês e para Isabella.

Nessie engoliu em seco, a dor e a impotência se misturando em seu peito. Ela se virou para Renee e Charlie, buscando forças para enfrentar o momento mais difícil de suas vidas. Fechou os olhos e apenas se entregou a dor e as lagrimas, sua mãe era tudo para ela e agora ela sentia que finalmente não sobraria nada.

A noite no hospital foi longa. Por algumas horas Nessie não conseguiu conseguir desviar seus pensamentos da situação crítica de sua mãe. A cadeira desconfortável da recepção se tornou seu refúgio temporário de seu cansaço se misturando com a ansiedade e a tristeza que a consumiam.

O amanhecer trouxe consigo uma leve sensação de paz, mas também a cruel realidade do que estava por vir. Nessie adormeceu com a cabeça apoiada em suas mãos, os olhos fechados em uma tentativa vã de descanso.

Foi despertada bruscamente pelo toque suave no seu ombro. Ao abrir os olhos, viu seus avós Renée e Charlie, com expressões preocupadas e sérias.

— Querida, acorde- Disse sua avó em um tom angustiante de voz.

Nessie piscou algumas vezes, tentando assimilar a transição do sono para a realidade. O coração acelerou, teria ocorrido algo com sua mãe durante as horas que se entregou ao cansaço? Porém a angustia fora tomada por outro motivo ao notar também a presença de dois policiais parados ao lado de Renée e Charlie.

— Desculpe incomodá-la, senhorita Swan, mas precisamos levá-la para prestar esclarecimentos na delegacia. – Disse um dos policiais.

Nessie sentiu um nó se formar em sua garganta. As palavras dos policiais soaram como um golpe, uma confusão se instalando em sua mente cansada- O que está acontecendo? Por que estou sendo levada para a delegacia?

— Há uma acusação grave contra você, senhorita. O senhor Tyler, o encarregado do parque aquático, está acusando-a de tentativa de homicídio, precisamos que nos acompanhe – A policial mulher falou em um tom calmo.

As palavras dos policiais ecoaram na recepção do hospital, a incredulidade se misturando com o choque em seu rosto.

— Querida o que está acontecendo? É verdade o que eles dizem? Perguntou Charlie em choque sem saber como reagir diante daquela situação, sua filha única estava condenada à morte e agora sua neta sendo acusada de um crime.

— Isso não é verdade! Eu... eu apenas me defendi.

— Calma, querida – Disse Renée – Nós acreditamos em você, vamos resolver isso da melhor forma possível. Temos que acompanhar você até a delegacia e procurar um advogado.

— A mamãe não pode ficar sozinha aqui. – Disse Nessie em um tom de angustia.

— Sua avó ficará com ela e cuidará para que ela não saiba de nada do que está acontecendo, eu irei com você-  Disse Charlie colocando uma mão reconfortante no ombro de Nessie.

Apesar de toda a tristeza e sentimento de injustiça e impunidade ela acompanhou os policiais para fora do hospital, o peso da acusação pairava sobre ela como uma sombra ameaçadora. Nessie não podia acreditar que a luta pela vida de sua mãe estava sendo interrompida por uma batalha legal que ela mal compreendia.

Mas as vezes o destino é escrito em linhas tortas.


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