Rita olhava seu reflexo no espelho e ficou contente com o resultado, estava usando um tubinho preto de alças com detalhes em cetim, uma leve maquiagem e uma presilha prendia uma mecha de seus cabelos castanhos avermelhados que caiam em compridas ondas brilhantes. Na hora marcada uma batida na porta do quarto do hotel onde estavam hospedados a fez dar uma última olhada no espelho.

— Quem é? – Pergunta ela, mas ela já sabia que era Joe.

— Sou eu, Joe. Está pronta?

— Sim, um momento. – Joe se preparou para esperar, já que todas as mulheres geralmente atrasavam, seja na terra ou em outro planeta, mas nem deu tempo, pois a porta se abriu revelando uma Rita diferente. Ela estava linda deixando Joe de boca aberta e Rita percebeu satisfeita o olhar de admiração e um brilho a mais naqueles olhos negros que a olhavam com intensidade.

— Você está muito bonita. – Disse Joe com a voz um pouco rouca. 

— Você também ficou muito bem com esse traje – Disse ela o admirando em  um smoking preto, mas sem a gravata e levemente aberto o que o deixava muito atraente. Joe não gostava de usar aquele tipo de roupa, mas estava se sentindo bem daquela forma e viu o olhar de aprovação de Rita e um brilho nunca visto antes em seus belos olhos azuis turquesa. 

— Vamos? – disse ele oferecendo o braço que ela enlaçou, o contato dos braços queimava os dois enquanto caminhavam. Joe apertou o botão do elevador e olhou para ela com um leve sorriso. – Está perfeito. – disse ele

— Sim – ela concordou retribuindo o sorriso. – Perfeito. 

Os dois mais o professor Tobishima estavam em Tóquio para uma série de reuniões. Rita estava passando todas as informações para o Conselho de Segurança formado por militares e cientistas sobre os gailarianos e o Pirata do Espaço. O dia fora cansativo e a noite um jantar seria servido no salão do hotel para encerrar as atividades. Além do professor Tobishima, o chefe Yoshida, alguns oficiais acompanhados de suas esposas, jovens oficiais e Mariko, a sobrinha do chefe Yoshida, estavam presentes. A alegria de Rita por um momento ficou abalada ao ver a moça, ela sabia do interesse dela por Joe e pensou “o que ela faz aqui?”. A moça sorriu ao vê-los.

— Ah! Aí estão vocês. – Disse o  professor ao vê-los entrar no salão. – Vocês estão ótimos. Rita bela como sempre.

— Realmente você está deslumbrante – Disse Kito, um jovem capitão de um esquadrão de defesa, visivelmente admirado com Rita, ele já havia participado em operações que envolviam o Pirata do Espaço.  Joe sentiu vontade de socá-lo.

— É bom vê-los em um momento como esse. – Disse o chefe Yoshida – Lembra de minha sobrinha Mariko? 

— Claro. Como vai Mariko? – Disse Joe para ela

— Muito bem, Joe. Obrigada - Voltando-se para a gailariana. – Como vai Rita?

— Bem. Obrigada – Respondeu educadamente.

O jantar transcorreu tranquilamente. Rita foi apresentada a alguns membros do esquadrão do capitão Kito que ainda não conhecia. Ela foi simpática e conversou com todos, mas não deixou de notar que Mariko não perdia uma oportunidade para estar ao lado de Joe. 

— Foi um belo jantar. – Disse o professor – Foi um dia cansativo para um velho como eu. Mas se os jovens quiserem podem esticar a noite.

— Poderíamos ir a uma casa noturna, o que acham? – sugeriu Kito.

— Mas é claro. Rita tem que conhecer nossa vida noturna. – Disse Mariko. Ela tentou ganhar a atenção de Joe durante o jantar, mas havia muitas pessoas em volta e ele. – Concorda Rita?

— Eu não sei. – Ela olha para Joe pedindo uma resposta.

— Acho que vai ser bom. Não vamos ter uma oportunidade assim tão cedo. – Respondeu olhando para Rita que lhe sorri.

— Ótimo. Sugiro levar casaco a noite está muito fria. – Disse Mariko. 

Outros dois oficiais se juntaram a eles. Kito levaria Joe, Rita e Mariko em seu carro e os dois outros oficiais iriam em outro carro. Rita e Joe sentaram atrás e Mariko, a contra gosto, se acomodou ao lado de Kito na frente. A noite a cidade se transformava, muita luz, muitos painéis iluminados e as ruas estavam lotadas de pessoas. O caos do dia se transformou em uma cidade toda iluminada e convidativa.

Chegaram a uma casa noturna e foram recebidos pelo manobrista que abriu a porta para as damas e outro levou o carro, deixaram seus casacos na recepção e pediram uma mesa. O ambiente estava mais barulhento que Rita estava acostumada, o local meio escuro com muitas luzes piscando, no centro havia uma pista onde jovens dançavam acompanhado a música do DJ, eles foram encaminhados a uma mesa no mezanino com uma visão de todo o local. Apesar do barulho e das luzes que irritavam um pouco os olhos de Rita, ela gostou do local.

— Então é assim que vocês se divertem? – Falou próximo ao ouvido de Joe para ser ouvida só que a proximidade fez correr um frio pela espinha de ambos.

— Está gostando? – perguntou Joe também em seu ouvido.

— Sim. 

Antes de se sentarem, Mariko conseguiu fazer com que Rita sentasse do outro lado da mesa enquanto ela se sentava ao lado de Joe. Um dos rapazes de nome Saito sentou ao lado de Rita e se sentiu feliz de ter ficado ao lado dela não só por ser “a gailariana”, mas também porque era a garota mais bonita que já vira. Logo todos começaram a conversar animadamente e Saito chamou Rita para dançar, a princípio ela recusou dizendo que não sabia dançar aquele tipo de música, mas Mariko a incentivou dizendo que era fácil e seria uma oportunidade única. Finalmente ela cedeu e foi conduzida pelo jovem militar até a pista sob os olhares ciumentos de Joe. Ele não conseguia tirar os olhos de Rita que logo se soltou começando a acompanhar a dança dos demais e viu que Saito conversava com ela que lhe retribuía com um sorriso. Mas também tinha que dar atenção a Mariko ao seu lado, já que Kito e o outro oficial também foram dançar.

— Você não quer dançar – perguntou a Mariko

— Oh não. Eu não sei dançar.

— Parece que Rita também não sabia, mas ela está bem solta, você não acha? – Joe sorveu sua bebida e olhou novamente para a pista onde Rita estava. Saito disse-lhe algo próximo a seu ouvido que a fez sorrir mais ainda. - Ela parece estar se divertindo. 

— É verdade.

— Você não precisa se preocupar, ela está bem acompanhada.

— E eu também. – Disse ele dando um sorriso meio sedutor para Mariko que retribuiu com os olhos brilhando. Mas Joe estava irritado por Rita estar flertando com outro e ele o fez por ciúme.

— Então vamos aproveitar a noite. Imagino que na ilha não tem muito que fazer.

— Realmente é um lugar muito pacato. Mas não a deixaria por lugar nenhum. – Joe falava com sinceridade, ele cresceu naquela ilha e não conseguia imaginar um dia deixá-la.

— Nem todos têm a oportunidade de morar em um lugar tão tranquilo longe da agitação da cidade grande. Você parece feliz em morar lá.

— Sim. Muito. - Joe começou a falar da ilha e alguns acontecimentos de sua infância.

Rita estava gostando de dançar com Saito, ele era divertido e a fazia rir. Kito e o outro oficial se juntou aos dois, mas apesar de estar se esforçando para acompanhar o ritmo da dança, seu olhar vez por outra se dirigia a mesa onde Joe estava com Mariko, ela percebeu satisfeita que ele não tirava os olhos dela, mas de repente ele parou de observá-la e passou a conversar animadamente com Mariko. Ela perdeu a vontade de dançar e alegando cansaço pediu para retornar à mesa. Ao chegarem, Joe parecia não ter percebido que ela tinha retornado, pois estava totalmente absorto na conversa com Mariko. Ela continuou conversando com Saito e os outros que haviam retornado. Percebendo que Joe a ignorava completamente pediu licença para ir ao banheiro, era mais uma desculpa para sair dali. 

Ao chegar ao banheiro, ficou olhando no espelho e analisando sua figura, ela não era vaidosa e avaliou-se. Sim, ela era bonita e tinha percebido como os rapazes a olhavam, até mesmo Kito e Saito não escondiam que a admirava. Mas Joe, parecia bastante interessado em Mariko. Ao sair do banheiro a música alta e frenética, as luzes que ofuscavam seus olhos sensíveis junto a bebida que tomou começaram a sufoca-la. Não queria voltar para a mesa e ser ignorada por Joe, pegou a direção da saída precisava respirar um pouco de ar puro, parecia que as coisas começaram a rodar a sua volta e procurou a saída, tinha que sair dali. Ao passar pela recepção um jovem se dirigiu a ela, mas não prestou atenção ao que ele dizia parecia que ouviu a palavra “casaco”. Ela saiu e o ar puro a fez se sentir melhor, precisava caminhar um pouco. A calçada estava cheia de pessoas que iam e viam. A noite estava fria e todos estavam bem agasalhados, as pessoas que passavam por ela se perguntavam se ela não sentia frio somente com aquele vestido preto de alça. Caminhava, mas não enxergava para onde ia, não percebeu que ao passar por um rapaz que caminhava em sua direção a observava e parou assim que seus caminhos se cruzaram, Rita passou por ele que parou enquanto ela prosseguiu sem notá-lo. Ela parou para atravessar a rua como os outros, alguns rapazes começaram a segui-la sem que percebesse, atravessou a rua com os outros e o aglomerado de pessoas começou a se dispersar para vários lados e a rua começou a ficar mais deserta. Rita parou e então percebeu que não sabia onde estava, havia dobrado uma ou duas esquinas? Ela olhou em volta precisava voltar.

— Ei boneca! Está procurando por companhia?

Ela vê três rapazes que lhe sorriam maldosamente.

— Não. Estou bem sozinha. – Respondeu tentando não demonstrar medo.

— Uma beleza como você vestida desse jeito numa noite fria como essa deve estar querendo que alguém a aqueça.

Os três começam a se aproximar e o coração de Rita acelerou. O que será que eles queriam, pensou. Se quisessem lhe fazer mal ela sabia que poderia se defender, Joe lhe ensinara defesa pessoal, mas eram três.