Metalwillverso escrita por Metal_Will


Capítulo 1
O Reencontro (Dilema Platônico)


Notas iniciais do capítulo

"Dilema Platônico" foi a primeira história original que publiquei no Nyah!

Resumidamente, conta sobre o primeiro amor de Miguel, um tímido nerd que se apaixonou por Danieli, uma menina de sua escola, por quem começou a desenvolver uma amizade. O problema de Miguel é arriscar declarar sua paixão e levar um fora, ou manter seu sentimento em segredo e sofrer com isso, embora ele não parecesse se importar de admirar Danieli apenas à distância. Por isso o nome: o dilema de abandonar seu amor platônico ou continuar mantendo uma paixão idealizada só para ele.

Essa história foi muito inspirada na minha própria dificuldade de expressar sentimentos e na minha tendência a idealizar minhas paixonites. Por coincidência (ou não), a primeira garota para quem me declarei na vida também se chamava Danieli (e, obviamente, levei um fora).

Neste capítulo especial, Miguel volta a encontrar Dani após finalmente ter se declarado no final de "Dilema Platônico". Como ele vai encarar esse reencontro?



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A adolescência não é fácil. As matéria na escola ficam mais difíceis, você precisa decidir o que fazer da vida depois que sair do colégio e, como se não bastasse, seu corpo passa por várias mudanças estranhas. Você também começa a olhar para certas pessoas com um interesse diferente e, se quiser algo mais, terá que, você sabe....revelar seus sentimentos. Isso nem sempre é fácil para alguém que não costuma se abrir muito, como foi o caso de nosso amigo Miguel.

Seis meses antes, após adiar por muito tempo, Miguel finalmente tomou coragem para se declarar para Danieli, sua colega de classe, uma gentil e meiga garota ruiva por quem o garoto se apaixonou à primeira vista. Após até fazer aulas de teatro e participar de uma peça com ela, Miguel disse o que sentia e, bem, não foi correspondido. Por um lado, foi frustrante, por outro, ele se sentiu aliviado por finalmente ter superado uma paixão que guardava em segredo. Embora seus amigos mais próximos soubessem o que ele sentia, a pessoa que realmente precisava saber disso foi a última a saber. E isso porque Miguel foi pressionado pelo fato de Danieli ter decidido se mudar para Itália para desenvolver sua carreira de atriz. Depois disso, encontramos Miguel vivendo a vida de sempre, conversando principalmente com seu melhor amigo Leandro e sua prima loira de mesma idade, Camila. Essa última, por sinal, estava passando por algumas dificuldades no seu último relacionamento.

—Oi - falou Camila secamente, chegando em casa batendo a porta com uma expressão irritada.

—Oi - disse Miguel, que estava tranquilamente no sofá jogando seu Nintendo DS (um portátil ainda popular em 2010), com o máximo de cuidado ao percebe o mau humor da prima - Aconteceu alguma coisa?

—Nada - disse Camila secamente.

—Então...tá - falou Miguel, voltando para o seu jogo.

—É claro que aconteceu! - gritou Camila na mesma hora, tirando seus sapatos e se jogando no sofá com raiva - Por que você nunca consegue perceber esses climas?

—Tá, mas o que aconteceu?

—Aquele Toni! Como ele foi capaz de fazer isso comigo?

Camila tinha um namorado chamado Toni, alguém que Miguel não gostava muito no começo, mas passou a achar um cara legal quando o conheceu melhor.

—O que ele fez? - perguntou ele.

—Peguei ele ficando com a Ritinha do segundo ano. Ai, que raiva! E o desgraçado ainda falou que não era nada sério. Quem ele pensa que eu sou? - dizia a garota, arrasada - Terminei com ele na mesma hora! Pior vai ser voltar para a escola e olhar na cara dele. Que ódio!

—É...Complicado - disse Miguel, sem saber muito bem o que falar. Quando não se tem experiência com relacionamentos, não dá para dizer muita coisa.

—Você é que tem sorte - disse Camila.

—Eu?

—É. Solteiro não precisa esquentar a cabeça com isso - desabafou a garota - Bem que diz aquele ditado: "solteiro me deito, sem chifres me levanto".

—Ah, não é bem assim - falou ele - Você sabe que eu também gostava de alguém. Pena que não rolou.

—Ah, não - disse Camila - Você ainda não esqueceu a Dani? Miguel! Pelo amor de Deus! Já faz seis meses que ela foi embora. Tá na hora de seguir em frente!

—Eu até quero - reconheceu o garoto - Mas ainda não encontrei ninguém que mexeu tanto comigo que nem ela.

—Ai, você é o último romântico - suspirou Camila - Sabe, se eu não fosse sua prima, até te dava uma chance, sabia?

Miguel ficou vermelho ao ouvir isso.

—O-o quê?! - gaguejou ele, quase derrubando o seu DS. Camila riu.

—Ai, ai. Seu fofo - disse ela, apertando as bochechas - Depois desse dia horrível, pelo menos isso me tirou uma risada.

—Sempre tirando uma com a minha cara, né?

—Você adora isso que eu sei - rebateu Camila - Mas, sério, esquece dela. Tem tanta menina por aí.

—Eu sei, mas...

—Tenta superar, que nem eu vou superar o Toni - disse a garota, se espreguiçando - Bom, vou tomar um banho. Até mais.

—Até.

Miguel deixou seu jogo de lado, suspirou e olhou para cima.

"Tanta menina por aí", pensou ele. "Mas nenhuma igual a Dani"

Ele resolveu subir para o quarto e ligar seu computador. Ao abrir seu navegador, deu de cara com um e-mail enviado por ninguém menos que...a Danieli. Sim, ela mesma. Dani era bem reservada e não era muita ativa em seu Orkut (é, estamos em 2010) ou Facebook. Miguel não tinha muitas notícias dela, mas dessa vez tinha um e-mail enviado direto para ele. O que ela dizia? O garoto abriu imediatamente e começou a ler.

"Oi, Miguel", começava a mensagem. "Puxa, que saudade. Desculpa não mandar tantas notícias, mas minha rotina estava bem puxada por aqui. Eu quero muito falar com você de novo. Vou para o Brasil daqui a umas duas semanas para passar o fim de ano com meus pais. Vamos marcar alguma coisa com o pessoal? Tenho muito para contar.

Beijos,
Dani"

Miguel não podia acreditar. Sua amada estava voltando. Ele sentiu muita alegria, claro. Mas também ficou apreensivo. De qualquer modo, ele respondeu rapidamente com as seguintes palavras:

"Oi, Dani.

Nossa, muito bom ter notícias suas. Que bom que está vindo para cá. Vamos marcar sim, claro.

Abraços,
Miguel"

É, não foi muita coisa, mas para alguém com tanta dificuldade para expressar sentimentos (até mesmo por escrito), estava mais do que bom. Mais tarde, ele contou o que aconteceu para Camila que não parecia tão contente assim com a notícia.

—E o que você espera desse encontro? - perguntou Camila.

—Como assim? O que eu espero? - estranhou Miguel.

—Miguel, você tá aí todo feliz, mas...você ainda tem alguma esperança de ficar com ela? - indagou a prima com um tom sério.

—Não, não é isso. Mas é muito bem ver ela pessoalmente de novo, né? E...

—Tem, tem sim - disse Camila - Dá para ver só de olhar.

—Tá, tá bom. Eu sei que não vai rolar nada! - disse Miguel - Eu sei que ela não me vê do mesmo jeito, mas...ainda assim...só de falar com ela de novo já me deixa feliz. O que tem de errado nisso?

—O que tem de errado? - repetiu Camila - Isso só vai te fazer sofrer mais. Não estou dizendo para você não se encontrar com ela, mas tenha em mente que é só um encontro de amigos.

—Claro - falou ele - Eu não espero mais do que isso.

De qualquer modo, Dani ainda trocou alguns e-mails com Miguel e finalmente chegou o dia em que ela voltou a pisar nas terras tupiniquins. Miguel esperava que Dani marcasse um encontro com a turma toda. Ela pretendia fazer isso, mas, antes, ela marcou um encontro só com o rapaz. Isso mesmo. Ela mandou um e-mail pedindo para se encontrar com ele na Praça da Sonhadora, um local bastante conhecido pela turma. Miguel não podia acreditar no que estava lendo.

"Um encontro...só nós dois?", pensou ele. "Espera. Isso é um sinal? Será que pode ser um sinal de que algo mudou entre a gente? Se eu falar isso para a Camila, ela vai me encher a paciência dizendo para não ter esperança e blá, blá, blá. Nem vou falar para ela. Vou dar uma desculpa e ir lá. Caramba...que demais!"

Miguel foi para o encontro com sua roupa mais nova. Não demorou muito para ver Dani de longe. Ela continuava linda, com os mesmos cabelos ruivos e o sorriso amável de sempre. A garota dá um forte abraço em Miguel e ele não podia conter as batidas do coração. Sem sombra de dúvida, Miguel ainda era perdidamente apaixonado por Dani.

—Nossa, você cresceu um pouco, né? - reparou a garota.

—Você continua a mesma - riu Miguel.

—Ah, mais ou menos - disse ela - E aí? Quais as novas? Eu sei que você largou o teatro, né?

—É. Até gostava das aulas do professor Platão, mas...não, não é para mim - reconheceu ele - Mas estou curtindo a parte de roteiro. Estava pensando em cursar letras.

—Sério? Que demais - falou ela - Eu continuo nessa pira de querer ser atriz. É minha paixão. Não tem jeito.

Os dois passam algum tempo conversando trivialidades, compra sorvete e se sentam em um dos bancos da pracinha.

—Nossa, parece que ontem que estávamos ensaiando por aqui, né? - disse ela, nostalgicamente.

—O tempo passa mesmo - falou Miguel - Nem parece que você já está fora do Brasil há seis meses.

—Pois é - riu ela - E...como anda o seu coração, Miguel?

Miguel ficou vermelho.

—C-Coração? - gaguejou ele.

—É. Tem namorado muito? - perguntou Dani.

—Ah...não, não. Ninguém até agora - falou ele.

—Você...ainda gosta de mim, né? - disse Dani, sem olhar nos olhos dele.

—O quê? Bom, sobre isso, eu...

—Dá para ver no seu jeito - disse a garota - Tenho estudado muito sobre como as pessoas expressam sentimentos, sabe? Não sou mais tão avoada como eu era.

Miguel fica em silêncio por alguns instantes procurando o que dizer.

—É que...não dá para controlar o que eu sinto - disse ele - Eu...ainda gosto de você, sim.

Dani sorri ternamente.

—Eu continuo apreciando seus sentimentos por mim - falou Dani - É por isso que eu preferi marcar esse primeiro encontro só com nós dois.

—Quer dizer que...

—Miguel, eu já devia ter falado, mas... - continuou a garota - ...aconteceram algumas coisas na Itália.

Miguel sente seu coração acelerar. De algum modo, ele sabia o que viria dali.

—É. Tive meu primeiro namorado lá - reconheceu Dani. Miguel sentiu como se uma flecha atingisse o seu peito. E não era uma flecha de cupido.

—Então, você tá namorando?

—Não, não agora - disse ela - Terminamos quando ele percebeu que eu estava dando mais atenção para meus estudos do que para ele.

—Entendo. Você sempre foi bem focada.

—Foi bom para entender como é ter um relacionamento com alguém. Sabe, fui eu que me declarei para ele - falou Dani. Miguel ouviu isso com uma certa expressão de surpresa.

—Que...diferente. Geralmente é o menino que toma a iniciativa, né?

—Sim - concordou a garota - Mas ele tinha uma paixão tão forte por pintura que me deixava encantada. Ele parecia tão mais legal do que eu, sabe? Achei que ele nunca me daria bola, mas aí...aí eu lembrei de você.

—De mim?

—Você lembra? Você disse que me via como alguém inalcançável, como se fosse uma deusa - disse Dani, rindo.

—Ai, acho que exagerei um pouco, né?

—Estou longe disso - falou ela - Eu? Uma deusa? Estava ali toda medrosa, sem coragem de falar com o garoto. Mas lembrei que, apesar dos seus receios, você foi lá e disse o que sentia. Você foi um exemplo para mim, Miguel.

—Então, você se declarou?

—Sim - confirmou Dani - Falei para ele o que sentia e fui correspondida.

—Então a história foi bem diferente da minha.

—Mas podia ter sido a mesma - disse ela - Ele podia ter falado não. Não dá para prever essas coisas. De qualquer forma, sabe por que estou te contando tudo isso?

Miguel continuou atento.

—Porque eu não quero que você sofra de novo, Miguel - disse ela - Fale o que você sente. Mesmo que vá doer, mesmo que a resposta seja não, só fala.

—É que...parece tão difícil - disse ele - É duro recebe um não.

—Mas a vida é cheia de nãos - explicou Dani - Precisamos aguentar, né?

—É. É verdade.

—Você ainda gosta de mim, não é?

—Gosto. Gosto sim. Nunca consegui te esquecer - reconheceu Miguel - Mas...eu sei que você não sente o mesmo. Sei muito bem disso. Só não consigo superar.

Dani colocou sua mão direita no ombro de Miguel.

—É claro que consegue - disse ela - Você só precisa dar mais tempo ao tempo.

—É, quem sabe?

—Bem, pelo menos podemos ter um encontro de amigos - falou ela - Vamos dar uma volta pela cidade? Quero ver o que mudou.

E, mais uma vez, Miguel teve suas esperanças minguadas. Miguel e Dani conversam sobre mais algumas coisas e terminam o encontro no fim da tarde. Ao voltar para casa a pé, o garoto encontra uma pessoa recolhendo um monte de papéis no chão da calçada.

"Aquela menina", pensou o garoto. "Não é a Fabiana, da outra sala de terceiro ano?"

Fabiana era uma garota baixinha, usava óculos e tinha uma postura insegura. Parece que ela havia tropeçado enquanto levava uma sacola de papelaria e agora precisava recolher tudo rapidamente. Miguel resolve parar e ajudar.

—Você tá bem? - perguntou ele - Fabiana, né?

—O-oi. Sim, meu nome é Fabiana - disse ela, timidamente - Você é...da minha escola, não é?

—Sou o Miguel, da sala do lado da sua - disse ele.

—Ah, claro - falou ela, toda desajeitada - Puxa, obrigada pela ajuda. Preciso levar essas coisas para o trabalho do meu pai. Tropecei e caiu tudo. Sou muito desastrada.

Fabiana recolheu tudo rapidamente e foi embora. Ela não era a menina mais bonita do mundo e nem a mais confiante, mas, por algum motivo, Miguel viu uma ternura diferente nela.

"Acho que...amanhã na escola vou falar com ela", pensou ele.

Nada como dar tempo ao tempo.


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Notas finais do capítulo

É, Miguel. Talvez essa seja a pessoa que está destinada a você. Quem sabe?

No próximo capítulo, vamos revisitar "Leitura Indiscreta". Até lá! ;)



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