Um Novo Começo escrita por Avezch


Capítulo 4
O Instituto Xavier / Arma-X Conclusão


Notas iniciais do capítulo

Curiosidade: Os lugares dos X-men normalmente no Pássaro Negro

1 Piloto 2 Copiloto
Ciclope Tempestade

3 Fera 4 Jean Grey

5 Homem de gelo 6 Colossus

7 Lince Negra 8 vago



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Lá de trás do jato, Logan encarava as costas do que lhe parecia uma mistura de gorila e leão. O bicho se virou e respondeu sua má educação com um sorriso e um aceno.

A viagem não tinha sido muito longa, mas ele se pegou cochilando várias vezes. Na última, o pesadelo que tanto o atormentava todas as noites retornou. Nele ele estava preso em um tanque de vidro, seus sentidos adormecidos, os instintos neutralizados, tubos saiam e entravam nele, tudo machucava. O vulto de um homem surgiu das sombras do laboratório, ele usava óculos. E sorria. Um sorriso diabólico.

Despertou como um susto. Ainda estava no jato. Nas cadeiras da frente Jean Grey continuava ali, com seus longos cabelos ruivos. Próximo dele, Bobby Drake contava para os recém chegados como eles haviam despistado um helicóptero de ataque. Ele suspirou, o sono o dominou outra vez e teve de cochilar.

Já estava bem acordado quando o jato pairou sobre uma quadra de tênis que ficava no quintal de trás de uma mansão gigantesca. A quadra sumiu e o jato pôde pousar no hangar subterrâneo. Logan ficava cada vez mais intrigado.

Todos se levantaram e, vendo que ele estava sem jeito, Jean se apressou e apresentou os X-men que ele ainda não conhecia. O bicho azul era Hank McCoy, também conheceu Ororo Monroe e o piloto, vestindo um traje azul e bem justo, Scott Summers. Logan os cumprimentou e eles saíram para um espaçoso hangar.

As paredes, o chão e o teto, que acabava de se fechar, eram metálicos e brilhantes.

— Por aqui Logan – disse Jean.

Eles o levaram para um elevador e, com surpreendente velocidade, subiram até uma grande sala também metálica, também brilhosa. Nela alguém os esperava, um homem careca em uma cadeira de rodas.

— Muito bom finalmente conhecê-lo, Logan. Meu nome é Charles Xavier. Bem-vindo ao Instituto Xavier Para Jovens Superdotados. Sei que provavelmente você tem dezenas de perguntas, mas por que não toma um banho e põe roupas novas? Se está com fome também podemos cuidar disso.

*

Depois de tomar uma ducha nos chuveiros do porão e vestir a camisa branca, as calças jeans e as sandálias que trouxeram para ele, Logan foi levado até o lugar que eles chamavam de “Sala de Guerra”.

Charles estava olhando para os monitores do computador ao lado de Hank e Scott, e quando viu seu convidado chegar a expressão séria em seu rosto se transformou em uma mais simpática e acolhedora.

— Como se sente? Melhor eu espero.

— Ainda desconfiado e cheio de dúvidas.

O professor chegou mais perto dele:

— Bom, uma das minhas responsabilidades é a de proporcionar os meios para que meus alunos encontrem suas próprias respostas.

— Aí é que está. Vocês chamam isso aqui de “instituto” e “escola”, mas o que eu vejo é uma operação bem séria com soldados, jatos e uma “Sala de Guerra”. Como você explica isso?

Charles pensou um pouco e, após um momento de silêncio, disse:

— Por que não me segue, Logan? Vou lhe mostrar a mansão e nós conversamos mais.

Usaram outro elevador para sair do porão. A porta se abriu e Logan ficou surpreso ao perceber que era, na verdade, uma porta secreta atrás de uma estante de livros falsa. Entraram em um escritório e o professor logo informou que era onde ele trabalhava. Na primavera, a vista dos jardins de fundo da mansão era particularmente estonteante.

Passaram por corredores e mais corredores. O segundo andar era um conjunto de dormitórios e quartos particulares e Logan se sentiu como se estivesse num alojamento universitário, os alunos iam e viam, ou estudavam em cima de suas camas. Porém logo viu que era um pouco diferente, pois uma das alunas adolescentes fazia seus amigos rirem ao soltar fogos de artifício das mãos que estalavam no ar ao redor deles.

Foi então que Charles se aproveitou para perguntar:

— A notícia de que você é, na verdade, um mutante, deve ter sido muito para processar, não é?

— Fez sentido depois que eu ruminei a ideia na minha cabeça – respondeu Logan. – Sempre soube que eu era diferente, só é bom ouvir uma palavra que me define e pode acabar logo com ideias erradas. Cadê os outros guris que estavam no jato?

— Ah, Bobby e Peter foram direto para a Sala de Perigo, Scott deve se juntar a eles logo mais. Tempestade tem aula para dar e foi direto para a sala enquanto a senhorita Pryde voltou direto para seu quarto.

Eles pegaram um elevador para o térreo, e, ao saírem, Logan disse:

— É um grupinho interessante.

— O que você deve saber, Logan, é que aquele grupinho é diferente dos demais alunos. Eles têm muito a aprender, principalmente os mais novos, mas eles já, como se pode dizer, se formaram.

No térreo ficavam a biblioteca, a espaçosa sala de lazer com uma grande tevê, uma mesa de pingue-pongue e videogames, a sala de aula onde Ororo ensinava, e, finalmente, a cozinha.

Logan não resistiu e também não pediu permissão, foi direto para a geladeira. Mas acabou fazendo uma careta, não tinha cerveja.

— Não encontrou o que procura – disse Charles, não era uma pergunta.

— Estava bom demais pra ser verdade.

Ele fechou a porta e encarou o professor, então continuou:

— Já vi bastante, alguém aqui é podre de rico. Agora quero explicações.

O professor assentiu e eles voltaram ao seu escritório. Logan se sentou.

— O mundo está cheio de nós – começou Charles. – Mutantes. A descoberta de uma nova espécie de seres humanos é recente, os líderes mundiais ainda estão perdidos, mas a resposta virá logo. Me falam que sou otimista, mas sei bem que muitas dessas respostas serão ameaçadoras e deverão instigar o medo nas pessoas. Toda minha vida me preparei para esse dia, Logan. Esse lugar foi minha solução, uma escola segura para crianças, adolescentes e até adultos, confusos com o que são e assustados com o que podem fazer. Este é o lugar para aqueles que buscam respostas.

— Se está tentando me recrutar, pode parar, professor. Não procuro respostas, só quero que me deixem em paz, quero seguir meu rumo – Logan se ajeitou na cadeira. – Ouça, não me entenda errado, sei que salvaram minha pele e por isso estou agradecido...

Charles interrompeu:

— Você diz que não procura respostas. No entanto, seu nome verdadeiro é desconhecido. Está assombrado por pesadelos que não compreende e memórias que não se recorda. E, finalmente, é perseguido por uma organização que sabe quem você foi e que o quer de volta a qualquer custo.

Logan se levantou bruscamente e as garras saíram das mãos:

— Você entrou na minha mente...

— Acalme-se, não estou nela agora. Para encontrá-lo quando você estava na floresta eu utilizei um aparelho que ampliou meus poderes. Foi assim que guiei Jean. Como ela, sou um telepata, sirvo para decifrar mentes. Deixe-me decifrar a sua, abrir as portas fechadas, ativar as memórias ocultas.

A proposta acalmou Logan. Talvez se esse professor o fizesse se lembrar, os pesadelos cessariam. Ele dormiria uma noite completa. Com um suspiro derrotado ele concordou, as garras desapareceram. Deixou o corpo cair na confortável e chique cadeira e Charles chegou perto.

Ficaram face a face e o professor esticou seu braço esquerdo devagar, respeitando a apreensão e os instintos do seu paciente. Pediu que ficasse calmo, que relaxasse seu corpo e Logan tentou fazer isso o máximo que conseguia. No fim, seu esforço para se acalmar só o deixou mais impaciente e preocupado.

Charles ficou surpreso. Surpreso pela dificuldade que foi entrar na mente de Logan; surpreso pelos círculos e ruas sem saída que eram suas memórias; e surpreso por não descobrir nada na meia-hora que levou para vasculhar aquela mente única. Ambos precisaram de um minuto depois da tentativa.

— E então? – perguntou Logan, encharcado de suor.

— Não posso mentir, todos temos vias para nossas memórias, Logan. Algumas estão temporariamente em construção, outras estão obstruídas por bloqueios como traumas e fobias, mas, eventualmente, um telepata competente abre todas elas, revelando aquilo que está enterrado. Não foi seu caso, ao menos não agora, nesta tentativa.

— Ora, vamos tentar de novo, estou pronto.

— Admiro sua força de vontade, mas nunca é bom forçar demais nosso cérebro. Saia um pouco para caminhar, estique as pernas, a mansão é sua pelo menos hoje. Esfrie a cabeça e quando se sentir melhor e mais calmo, volte.

*

Logan estava desapontado. Seria ele um caso perdido, destinado a sofrer com pedaços de lembranças e pesadelos para o resto da vida? Ao menos ele podia respirar o ar da primavera naquele quintal enorme.

Sentado em um banco de ferro, ele estava cabisbaixo. Queria não pensar em nada, descansar a cabeça como o professor sugeriu, mas dezenas de coisas surgiram. Dentes-de-sabre, Arma-X, Wolverine, X-men... Um turbilhão de nomes estranhos, organizações secretas, mutantes e soldados, seu passado oculto. Era demais, ele dava voltas, quando achou que uma dessas coisas sumiu, ela só estava escondida, outro pensamento vinha à cabeça.

Algumas crianças apareceram, saindo da mansão, a aula deveria ter acabado. Carregavam livros e conversavam entre si, alegres. Viu que um deles parecia um lagarto, verde e coberto de escamas, outro era um porco-espinho ambulante, outro ainda tinha asas como as de uma fada, seus pés não tocavam o chão, não precisavam.

Todos olhavam para ele, alguns tentavam disfarçar, mas ainda assim eram óbvios. Logan não tinha experiência com crianças, raramente encontrava uma. Agora ele estava cercado delas e era o objeto da curiosidade delas. A garota de asas de fada veio até ele, o que o deixou meio encabulado, e falou:

— O senhor é um novo aluno? – perguntou ela, voando em volta dele.

— Não, pareço com um aluno por um acaso?

— Definitivamente não – respondeu ela, sem um pingo de vergonha.

Ele resmungou de forma brincalhona e disse:

— Quantos anos tem?

— Doze e você?

— Hum, boa pergunta.

Nessa hora, Ororo apareceu e afugentou seus alunos, mandou-os para outro lugar, fazer outras coisas. Foi gentil, dava para saber que ela gostava do que fazia. Em seguida chegou perto dele e falou:

— Espero que tenham sido educados.

— Nem um pouco, mas sem problemas, eles acabaram me distraindo um pouco.

Ela pediu permissão e sentou ao seu lado quando ele aceitou. Após uns minutos sem ninguém falar nada, Ororo perguntou:

— Deixa eu adivinhar, professor vasculhou sua mente?

Logan assentiu. Ela continuou:

— Nós não estamos preparados para certas revelações, ainda mais vindas de um desconhecido. Eu sei bem como é, foi o que aconteceu comigo quando conheci o professor.

— Meu caso é diferente. Foi a falta de revelações – Ele se levantou e colocou as mãos nos bolsos.

— Nesse caso, - disse Ororo – eu não posso me relacionar, e talvez possa estar errada mas... Se você não sabe nada de si mesmo, talvez seja uma boa ideia começar a se tornar a pessoa que deseja ser. Pelo que soube, estão te perseguindo para servir os objetivos deles. E um dia você foi esse alguém, hoje você é Logan, outra pessoa com outros interesses. Se está pensando em sair daqui e voltar à estrada, saiba que eu também quis fazer isso um dia. Ter um lar e, além disso, um lar que proporciona um aspecto melhor de quem você é, é a melhor opção.

Ele não sabia como responder aquilo. Nunca imaginou que ganharia uma lição de vida de alguém que acabou de conhecer. Mas algo nela lhe causava aconchego, o deixava confortável, mesmo que ele jamais admitiria isso em voz alta. Questionou-se se era assim que alguém com uma irmã se sentiria.

Acabou falando do nada, encabulado, um minuto depois:

— O professor mencionou algo sobre uma “Sala de Perigo”.

*

Coberto por uma espessa camada de gelo que servia como armadura, Bobby surfava pelo ar. Ele conseguia criar rampas e as usava para deslizar seu corpo congelado, e aquilo nunca ficava tedioso. Concentrando-se, ele mirava nas esferas metálicas que surgiam de trás dos destroços de prédios e casas, antes escondidas esperando para pegá-lo de surpresa, e com seu raio de gelo as destruía antes que elas pudessem atacar com seus lasers. O sorriso estampado no rosto não desaparecia.

Por outro lado, fixo no chão como um tanque de guerra, Peter caminhava confiante, pronto para qualquer coisa. Robôs humanóides o atacaram, alguns com seus lasers, outros corpo a corpo. Nenhum deles sobreviveu aos músculos de aço de Colossus. O último que restava investiu com um salto, mas ele o bloqueou com o braço esquerdo e, com o direito, atravessou seu torso como se fosse feito de papel.

Acima dele, Bobby gritou:

— Ae, cabeça de lata, se não se apressar vou te deixar pra trás. Se quiser eu te ensino uma coisa ou outra de como nós americanos fazemos.

Ele acenou, mas no mesmo instante, e Peter viu aquilo claramente, os robôs apareceram voando, os jatos saindo de seus pés, e imobilizaram Bobby. Ele tentou se desvencilhar e quase conseguiu, mas no fim acabou caindo com um baque.

A voz de Scott Summers pôde ser ouvida acima deles, vinda do centro de controle:

— A falta de atenção no campo de batalha significa a morte, Homem-de-gelo. Se fosse só a sua, tenho certeza que os X-men seguiriam em frente, mas você está brincando com a vida dos seus companheiros de time também.

Num piscar de olhos os destroços que formavam uma cena de guerra desapareceram junto com os robôs e as esferas. Só o que sobrou foi Bobby e Peter, o segundo de pé com os braços cruzados, cheio de si.

Bobby se levantou de um salto e fez com que a armadura de gelo derretesse. Então falou:

— Mais um dia, mais uma vitória do incrível Homem-de-gelo contra Colossus, o espião russo.

— Como vitória? – perguntou Peter. – Você acabou capturado pelos inimigos.

— Mas o número de robôs abatidos foi maior.

Eles caminharam até a saída.

— Números se tornam inválidos quando se é capturado, ou seja, derrotado. Vitória de Colossus, patriota de aço, contra Homem-de-gelo, falastrão americano.

No centro de controle, Scott massageou as têmporas, envergonhado porque tinha um visitante ao seu lado. Ele havia tirado o visor e colocado os óculos de lentes vermelhas, mas ainda vestia seu uniforme.

Logan, no entanto, estava bem mais interessado na própria Sala de Perigo do que na rivalidade infantil dos X-men. Ele se aproximou dos controles, curioso de como tudo aquilo funcionava.

Scott, percebendo o interesse de seu visitante, explicou:

— Desses consoles, eu posso controlar tudo o que se passa na sala. Da intensidade dos inimigos aos obstáculos do ambiente e até das condições climáticas. Não é tão difícil quanto parece, basta saber o que cada botão faz.

— Vocês usam muito esse lugar? – perguntou Logan.

— Temos um calendário semanal que divide o time em duplas e trios. Em datas específicas treinamos juntos, todo mundo. É importante que sempre haja alguém aqui, no centro de controle, por segurança.

A porta atrás deles se abriu e a dupla que até então estava treinando entrou, ainda numa calorosa discussão de quem realmente havia vencido. Eles pararam quando Ciclope os encarou, com as mãos na cintura como se tentasse fazer uma pose imponente.

— Sei bem porque vieram direto para cá – ele começou, - mas se querem ver os resultados do treino, a atitude vai precisar mudar.

Eles reclamaram, mas não adiantou. Foram expulsos do centro de controle sem saber os números e a decisão. Logan assistiu o sermão e simplesmente não acreditou que um jovem mandava e desmandava outros jovens como se fosse um militar de carreira, um comandante experiente ou um pai rigoroso. Teve de perguntar:

— Quantos anos você tem Scott?

— Hum? 25, por que?

— Ah não, por nada. Esquece. Bom, foi divertido, vou voltar e falar com o professor.

Scott estendeu a mão para Logan:

— Se decidir partir, foi um prazer. Mas eu já te digo, não tem lugar melhor que o Instituto para um mutante. As coisas vão ficar tensas no país, é importante ter alguém que possa confiar e que vai te defender, além de um lar seguro.

*

Logan estava preso em pensamentos enquanto andava pelos corredores da mansão. Seus dois lados divididos, um pela ânsia de continuar sua jornada pelo mundo, sem rumo e sem responsabilidades. O segundo lado queria o oposto.

Bateu na porta do escritório do professor e entrou quando recebeu a permissão. No instante em que viu Jean Grey de pé parada ao lado da mesa ele congelou.

— Desculpe Logan, - disse Charles – mas eu gostaria de tentar algo diferente. Sente-se, por favor. Você já conhece a senhorita Grey.

— É sobre as minhas memórias? – perguntou Logan, fechou a porta e sentou-se.

— Sim. Não posso dizer que fiquei satisfeito com meu trabalho mais cedo. Decide pedir ajuda, afinal duas mentes são melhores do que uma. Você permite que Jean entre na sua cabeça?

Demorou, mas Logan concordou. Ele sentiu seu rosto esquentar quando Jean se sentou ao seu lado, ficando bem perto, e esticou o braço até sua cabeça.

— Com licença – disse ela.

As visões voltaram. O laboratório foi o primeiro a aparecer. Era escuro, úmido, as pessoas usavam jalecos e seus rostos estavam cobertos por máscaras. Havia soldados também, eram como estátuas, nunca se moviam, sempre em vigilância. Mas havia algo de diferente, Logan não estava preso num tanque cheio d’água, ele caminhava pelos corredores escuros e alguém o acompanhava. Victor Creed. Mais alto, mais forte, mais veloz, Wolverine sabia muito bem. Sim, Wolverine era como eles o chamavam.

A essa hora amanhã, disse Victor, o pobre coitado vai ter seu cérebro revirado. Antes ele do que eu.

Não nessa ordem, comentou Wolverine, ou foi isso mesmo? Não, ele nunca tinha dito aquilo, estas palavras não faziam sentido.

Então o laboratório sumiu. Transformou-se em uma floresta coberta por neve. Ele tentava achar o caminho no meio de uma nevasca, o corpo nu ensopado com sangue. Porém Victor estava lá, sentado numa cadeira e recostando-se até achar uma posição confortável.

O pobre coitado vai ter seu cérebro revirado, essas palavras saíram da boca de Wolverine, não de Dentes-de-sabre. Espera aí, ele tinha certeza disso? Agora imagens surgiram, nenhuma fazia sentido, suas palavras não faziam sentido, não era a voz dele, os braços e pernas não eram seus. A represa no meio da neve voltou, ele caminhava na margem do rio congelado, Não nessa ordem, dizia Victor.

Logan despertou com um grito, de novo encharcado de suor, ainda no escritório de Charles Xavier com Jean Grey ao seu lado. Ela segurava sua mão, e dela as garras se mostravam, reluzindo contra a luz do sol que entrava pela janela.

Foi aí que percebeu que poderia tê-la ferido, talvez matado, ela e o professor. Devagar, as garras voltaram, as fendas regeneraram-se. Ele tentou se explicar e pedir desculpas ao mesmo tempo, não conseguiu nem um nem outro, as sílabas se atropelaram, ele grunhiu com a dor de cabeça.

— Não se preocupe, Logan. – disse Jean, segurando sua mão. – Você não me machucou, nem eu nem o professor íamos deixar que isso acontecesse. Ele estava com a gente, ele viu o que nós vimos.

— Sim, - disse Charles – vi bem. No entanto, nossa inabilidade de revelar suas memórias me deixa inquieto. Eis o que eu proponho, Logan: venha morar aqui na mansão, permita que eu trabalhe com você para acessar seu passado. Descubra quem você foi.

Ele não tinha mais como recusar. Queria tirar aquelas incoerências do seu ser, desejava saber a verdade. Jean lhe deu um copo d’água e após matar a sede e relaxar por uns minutos, ele quebrou o silêncio:

— Eu aceito a proposta, Charles. Só quero deixar uma coisa bem clara: não me faça ter que estudar.

Ao sair do escritório, com a cabeça melhor encaixada no devido lugar, ele correu atrás de Jean, que tinha avisado que ia dar uma saída. Quando a alcançou, ela perguntou:

— O que foi, Logan? Algo errado?

— Não, é que...

No corredor atrás dela surgiu Scott Summers, já sem uniforme, vestindo uma jaqueta sobre a camisa cinza, calças jeans, sapatos e seus óculos. Ele tocou no ombro de Jean e ela sorriu ao perceber que se tratava dele. Beijaram-se. Scott falou:

— Pronta?

— Claro, só um minuto. O que você queria dizer, Logan?

Sem palavras, com um nó na garganta, Wolverine só conseguiu dizer:

— Nada. Só queria te agradecer de novo.

*


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