Caramelo Agridoce escrita por Shiori


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu? Estou viva? Mais provável do que vocês pensam.

A bem da verdade, esta fanfic foi escrita em 2017, mas, como está a haver uma treta no twitter por conta da falta de conteúdo wlw, lembrei-me que nunca postei esta fic aqui, só no Tumblr. Então, peguei nela, reli, e reescrevi umas partes, pois já não conheço a Jene de 2017 smh

Não esperem por muito né, a ideia original é de 2017...

Fanfic também postada no nyah e no ao3.

Possíveis triggers: acidente de carro e coma. É isso.

Adoro-vos! Boa leitura!



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Erzsébet, ou Börzi como gosta de ser chamada, lembrava-se muito bem do primeiro dia em que chegou ao orfanato. Ela tinha oito anos, vestida com um vestido de saia rodada num rosa pálido, no qual ela se sentia desconfortável de usar. Além disso, ela não queria ir viver naquele lugar tão pouco acolhedor.

 

O seu pai tinha morrido recentemente e ela não tinha familiares conhecidos vivos; nunca conhecera a mãe, mas o seu pai contava-lhe que ela era uma atriz e que Börzi era muito parecida com ela. 

 

De qualquer forma, ela passaria a viver no orfanato da cidade; era um edifício apalaçado, rústico e já com várias décadas de existência, quem sabe até uma centena de anos. Era bizarro, quase um cenário de filme de terror.

 

A dona do orfanato também dava calafrios a quem a visse. Velha, corcunda, rude para as pobres crianças. Ninguém gostava dela.

 

Logo no primeiro dia, Börzi quase levou uma chapada na cara por recusar a comer; não tinha vontade. Como ela teria? Ela tinha acabado de perder a sua única família e foi forçada a vir para um lugar tão estranho. Só não levou porque a enfermeira impediu isso; ah, todos amavam a enfermeira, era o porto seguro daquelas crianças.

 

— Tiveste muita coragem para contrariares a Dona Úrsula.

 

Börzi olhou para a moça, dona de um sorriso que lhe lembrava um gato. A pequena usava um vestido verde-água que flutuava como ondas, e tinha um laço de um verde mais escuro nos seus cabelos loiros. Ela era fofa, até Börzi pensou nisso na sua tristeza frustrada e luto. Pensando no passado, era como se uma pequena fada tivesse vindo ajudá-la naqueles tempos difíceis.

 

— Eu… Não queria comer.

— Mas precisas de comer! – A loira declarou de forma muito confiante e começou a mexer nos bolsos do vestido. Retirou uns rebuçados de caramelo e entregou à morena. – Toma, come!

— Não tenho fome...

— Algo doce irá te animar!

 

Perante tal entusiasmo, Erzsébet não podia recusar mais. Com um sorriso de lado, ela pegou nos caramelos oferecidos. Ela tirou o papel do doce, ouvindo aqueles sons abafados, e comeu-o. Oh, era tão doce, tanto que Börzi sentiu o seu rosto a relaxar e finalmente sorriu, sem se forçar para tal.

 

Aquela menina, que tornar-se-ia na sua melhor amiga e depois na sua esposa, tinha razão. Aquilo lhe bastou para ficar mais animada.

 

Mas… Por que agora não estava a ficar animada? Por que, mesmo comendo os caramelos, ela não conseguia sorrir?

 

— Laura, – chamou Börzi, agarrando na mão dela com força, sem querer largá-la. – Acorda e explica-me porque não está a funcionar...

 

Não houve resposta. À sua frente, deitada na cama, estava Laura, aquela menina loira, agora crescida. Ela dormia já há vários meses. Tudo porque foi atropelada por um carro descontrolado, cujo motorista sofreu um infarto repentino e morreu enquanto dirigia. Por causa disso, Erzsébet não conseguia nem sentir raiva do motorista; foi um acidente infeliz.

 

— Meu amor, – voltou a chamar, sentindo as faces molhadas. – Por favor, acorda...

 

Ela não acordou.

 

A cada dia que passava, Erzsébet sentia-se vazia. Ela tentaria visitar Laura todos os dias, se o trabalho dela permitisse. A cada vez, ela ouvia seus colegas de trabalho e enfermeiras dizendo que a esposa dela iria acordar a qualquer momento.

 

Ela realmente desejava isso. Ela realmente queria isso.

 

Era tão difícil acordar todos os dias e ver um espaço vazio ao lado dela em uma cama tão grande. Decidiram comprar aquela cama porque Laura se mexia muito enquanto dormia e, ainda assim, Erzsébet foi amaldiçoada a acordar sem ela ao seu lado.

 

Foi muito difícil abrir os armários da cozinha e do frigorífico e ver a falta das comidas preferidas de Laura. Erzsébet, no início, ainda comprava esses produtos, porém chorava enquanto os comia. O seu pote de doces estava meio cheio, ou melhor, meio vazio, assim como ela. Ela não pôde comprar mais, pois o sabor doce começou a magoar o seu coração. Mesmo assim, ela esperava encontrar algum caramelo encantado que a fizesse feliz, assim como conheceu Laura.

 

Foi tão difícil ver os seus colegas de trabalho e amigos, todos com sorrisos e palavras solidárias, mas Erzsébet sentiu que ela era a única que realmente sofria. Até a família adotiva de Laura foi paciente, esperando que ela acordasse. Ela sentiu que estava a ser impaciente, pois Laura estava a fazer o possível para permanecer viva. Ela se sentia egoísta, até. Tudo o que ela queria era sua linda esposa, acordada e a rir como sempre.

 

O tempo passou e só havia mais um caramelo no pote. Ela colocou-o no bolso, como sempre, e foi para o hospital.

 

Naquele dia, como sempre, Laura dormia profundamente. Mesmo assim, ela era linda. Erzsébet começou a falar sobre como foi seu dia, sobre como o seu colega de trabalho estragou tudo, mas ela conseguiu sair primeiro sem precisar ajudar, e também começou a descrever vídeos de gatos para Laura. Um gato gordinho estava a fazer uma sesta, outro estava a correr e acabou por saltar para cima duma mesa, outro estava a observar os pássaros…

 

Laura ia sorrir para aqueles gatos. Antes do acidente, elas conversavam sobre arranjar um gato. Talvez Erzsébet devesse adotar um.

 

— Tu querias adotar um gato e chamá-lo de Poirot, não é? – Ela perguntou, enquanto desembrulhava o seu caramelo. Era o último e ela se perguntou se deveria comprar mais. – Bem, vamos arranjar um. Seria fofo se ele tivesse um bigode.

 

Ela comeu, sentindo seu sabor doce a inundar sua boca e seus olhos a ficar molhados.

 

— Oh céus, – ela murmurou, sentindo as lágrimas escorrendo pelo rosto. – Não funcionou de novo, Laura. Eu me pergunto por que não consigo me sentir feliz.

— Porque…

 

Erzsébet, não, Börzi parou de chorar e olhou para Laura, que estava com os olhos entreabertos e a sorrir como um gato.

 

— Eu não coloquei o feitiço da felicidade nesses...

— La… Laurie…!

 

A cadeira caiu quando ela se levantou rápido demais. Esse barulho alto foi percebido pelas enfermeiras próximas do local, que rapidamente vieram verificar o ocorrido. Assim que a viram acordada, alguém foi chamar o médico.

 

— Nossa... devo ter dormido muito… – A voz de Laura estava fraca, e ela não conseguia abrir os olhos totalmente, ainda assim, Börzi sentiu força em seu aperto de mão, como se ela não quisesse soltá-la. – Desculpa-me… Deves ter estado aborrecida.

— Como eu poderia? Tu ainda estavas aqui, eu não…

— Que esposa tão leal…

 

As duas sorriram uma para a outra, pela primeira vez em muito tempo, enquanto o médico chegava.

 

Börzi só precisou esperar mais uma semana para poder dormir ao lado de Laura, numa cama tão grande, mas dessa vez ela foi mais paciente, pois sabia que sentiria seu calor por mais anos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Pls, se encontrarem erros, digam-me.

Fanarts usadas na capa:
https://twitter.com/hatake_hukuro/status/1375417370664177664
https://www.pixiv.net/en/artworks/70708752



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