Um amor inesperado escrita por Tianinha


Capítulo 5
Programa da Sueli Pedrosa




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De manhã, Giane estava saindo de casa quando foi abordada por Sueli Pedrosa. Pelo visto, o escândalo que ela dera no casamento continuava tendo consequências. Agora, a imprensa apareceu no bairro para descobrir mais coisas a respeito do passado de Amora. Sueli Pedrosa disse:

— Ah! A mocinha que esteve no casamento do Vitinho Barata, disposta a contar tudo o que sabia!

Giane não queria saber de dar entrevista. Tinha mais o que fazer.

— Dá licença, tenho que trabalhar.

— Peraí... — insistiu Sueli Pedrosa.

— Sai! — disse Giane, andando em direção à van.

— Mas é só um minutinho! Por favor, pô! — implorou Sueli Pedrosa.

Horas depois, ela e Bento já estavam na floricultura, trabalhando, lidando com as flores, como sempre. Bento disse:

— Queria entender como e por que a Sueli Pedrosa baixou aqui na Casa Verde.

— Isso é coisa daquela perua que esteve aqui outro dia com papinho pra cima de mim. Aquela Lara Keller, sabe? Ela apresentava lá o Luxury antes da Amora. — disse Giane, regando um vaso de flor.

— Você acha que eu assisto esses programas imbecis de TV fechada, Giane? — disse Bento. De fato, ele não se interessava nem um pouco por programas de futilidades, de fofoca a respeito da vida de ricos e famosos.

— Você sabe, Bento. — disse Giane. —  Essa Lara, ela engravidou daquele tal Manolo. Vive saindo aí em capa de revista. E devia estar com muita raiva da Amora, viu? Porque chegou aqui querendo saber dos podres da patricinha.

— O que você falou pra ela? — perguntou Bento.

— Ué, mandei a perua pastar, né? Óbvio. Mas também é só entrar na internet pra descobrir que a Amora morava lá no tio Gilson antes de ser adotada aí pela Bárbara Ellen. — disse Giane, continuando a regar as flores.

— Quer saber? Que se dane a Amora, a Lara Keller e a Sueli Pedrosa. Daqui pra frente vou tocar minha vida ao lado de quem eu gosto e de quem gosta de mim. — disse Bento, indo atrás do balcão.

— Esse é o Bento que eu conheço! — Giane sorriu. — Mas e esse papo aí de tocar a vida ao lado de quem você gosta... Você tá falando de alguém assim... Especial? — perguntou, com ciúmes. Lembrou de tê-lo visto com Charlene.

— Como assim? — perguntou Bento, sem entender nada.

— Ah, não sei, é que... Eu vi você lá e a Charlene no maior clima. Pensei que...

— Pensou besteira... — disse Bento, batendo no balcão. — pra variar!  Eu estava me referindo aos meus amigos, sua tonta. Você, seu pai, o tio Gilson, a tia Salma... E a Charlene também, que é uma amiga que eu gosto, tá?

— Só amiga, né? — perguntou Giane, enciumada.

— Só, Giane! Em vez de ficar tomando conta da minha vida, porque você não vai tomar conta das flores, hein?  — disse Bento, espirrando água na amiga com um borrifador. Giane gritou. — Sua maleta!

— Palhaço! — disse Giane, dando uns tapas no amigo.

Continuaram trabalhando. Até ligaram a televisão no programa da Sueli Pedrosa, pois era um programa especial, que falou a respeito da infância de Amora no lar do tio Gilson. Haviam filmado a vizinhança.

— A gente mandou bem! — disse Giane, rindo, ao ver ela e Bento na TV.

— Desliga isso aí, Giane. — pediu Bento, cuidando dos afazeres.

— Adorei o jeito que você falou daquela filha de... — disse Giane.

— Desliga isso, Giane! Já falei! — explodiu Bento, impaciente.

— Ei, calma! — disse a garota, e cutucou no cabelo dele, brincalhona. Em seguida, desligou a televisão.

À tarde, enquanto estavam no linhão, cuidando das flores, Bento recebeu um telefonema.

— Temos sim, todas elas — disse o moço. — Menos o copo-de-leite, que ainda não é época. Mas a gente pode substituir por açucenas. A senhora pode me passar o endereço? — pegou um caderninho do bolso traseiro e anotou. — Tá legal. Pode deixar, que a gente entrega em tempo.

— E aí? — disse Giane, aproximando-se.

— Oi, Giane! — disse Bento. — Se prepara, que a gente tem uma encomenda enorme pra levar pro Jardim Europa.

— Agora? — resmungou Giane. Estava cansadíssima.

— É, festa de noivado de algum playboy. — disse Bento. — A mulher que organiza está desesperada.

Giane fez a maior cara de desânimo.

— Vambora, garota, vamos agilizar! — Bento apressou-a.

— Bora! Babaca! — gritou Giane, saindo correndo ao lado do amigo.

Em pouco tempo se arrumaram e trataram de levar as flores para a van.

— Oh Bento, e aí? Vai começar a decorar festa de rico? Tá chique, ó! — comentou seu Nestor, um dos vizinhos.

— Eu tô é atrasadíssimo, tio Nestor. — disse Bento. — Oh Giane, a gente vai ter que voar se quiser chegar antes dos convidados, hein?

— Vamo, vamo lá. — disse Giane, colocando os vasos na van.  

— Não, senhor! Nada de correr! — disse tia Salma, preocupada. — Vão devagar que é pra chegar cedo, hein?

— Não pega a Marginal, que a essa hora já tá tudo parado. — aconselhou tio Gilson.

— Pode deixar que eu conheço todas as quebradas, tio Gilson. — disse Bento, enquanto ele e Giane fechavam as portas traseiras da Van. — Pessoal, obrigado a força.

— Valeu, gente! — Giane despediu-se.

— Tchau, gente!  — disse tia Salma.

— Valeu — disse tio Gilson.

— Vamos nessa! — gritou Giane, entrando na van.

Conseguiram chegar em tempo na mansão onde ocorreria o noivado. Carregaram as flores para dentro, com a ajuda dos empregados.

— Bora, Giane. — disse Bento. — Tava tudo parado. — referindo-se ao trânsito.

— Ai! Graças! Vocês chegaram. — disse Verônica ao vê-los. — Lindo! Lindo! Lindo!

— A senhora desculpa o horário, o trânsito não tava fácil. — disse Bento.

— Me ajuda a colocar aqui. — pediu Verônica.

— A gente trouxe aí umas flores soltas, como a senhora pediu, viu? — disse Giane, colocando as flores sobre uma coluna.

— Ah, bota aí! — disse Verônica. — Puxa, muito obrigada, que lindas flores! Acho maravilhosas! Que bom! As soltas, eu vou dispor as duas mesas, me ajuda? — perguntou, dirigindo-se a Bento.

— A gente ajuda. — disse Bento.

Em pouco tempo, espalharam as flores pelas mesas, e por tudo quanto é lugar. Bárbara apareceu e foi cumprimentar Natan e Maurício, que haviam acabado de chegar. Maurício elogiou a decoração e parabenizou a mãe, Verônica, por ter chamado bons profissionais. Perguntou pela noiva, e Bárbara respondeu que ela já estava descendo para receber os convidados.

— Verônica, por favor, dispensa logo esse pessoal, porque eles estão muito malvestidos — pediu Bárbara. Não gostou da presença de Giane e Bento.

— “Esse pessoal”, Bárbara, salvou a festa da sua filha. — disse Verônica.

Aproximou-se de Giane e Bento, que estavam arrumando as flores em uma das mesas.

— Bento! Eu não tenho como agradecer. Eu vou lá dentro pegar o cheque e já volto.

— Não se preocupe, a senhora acerta comigo depois. — disse Bento. Giane fez uma cara de que não concordava com ele. Era melhor que a madame pagasse pelos serviços deles logo. 

— Eu faço questão. — disse Verônica, entrando dentro da casa.

— Enfim, missão comprida. — disse Giane, terminando de arrumar as flores.

— Nossa, eu não vejo a hora de tomar um banho e cair na cama. — disse Bento, ajeitando as flores.

— Pô, nem fala, nem fala. — disse Giane.

Giane e Bento surpreenderam-se ao ver Amora sair de dentro da mansão. Amora cumprimentou o noivo com um selinho.

— Amora? — disse Bento, sem conseguir acreditar.

Todos ficam surpresos ao virem chegar um desconhecido em cima de uma moto. Somente quando o invasor retirou o capacete, que o reconheceram.

— Fabinho? — surpreendeu-se Amora.

— Agora o reencontro tá completo. — disse o moço.

Giane não gostou nada de reencontrar Fabinho. Já não foi com a cara dele. 

— Que marginal é esse invadindo a minha casa? — reclamou Bárbara. — Seguranças, por favor, tirem esse sujeito e essa moto daqui já!

— Mãe, mãe, eu conheço ele. É o Fabinho. — disse Amora.

— Como assim Fabinho? — estranhou Bárbara.

— Olha, perdão pela invasão. — disse Fabinho, descendo da moto. — É que eu cheguei de Londres ontem e eu vi no jornal que ia ter o noivado. Eu não aguentei. Eu quis matar a saudade da minha amiga.

Aproximou-se.

— Você não vai dar um abraço no seu velho amigo?

Amora hesitou, mas acabou dando um abraço nele.

— Você continua igual, né? — murmurou Amora.

— E você está cada vez mais linda. — elogiou ele.

— Escuta, vocês se conhecem de onde? — perguntou Bárbara.

— O Fabinho morou na mesma casa que eu. — explicou Amora, e olhou para Bento. — Ele e o Bento.

— Então o florista é o... Ah, não, meu Deus! Isso não pode estar acontecendo. — disse Bárbara.

— Olha, gente, eu sei que eu não fui oficialmente convidado, mas eu...  Mas eu... Mas... — disse Fabinho, sem jeito.

— Não. Não. Imagina. Seja bem-vindo. — disse Maurício, cumprimentando-o.

— Obrigado. Prazer. — Fabinho sorriu.

— Você também. — disse Maurício, indo cumprimentar Bento. — Amigo da Amora é amigo meu também. Vocês não precisam de convite, não. Fique à vontade.

— Bento, me desculpe a demora. — disse Verônica, chegando com o cheque. — Aqui está. Não tenho como agradecer mesmo.  

— Bom, precisando, a senhora já sabe. — disse Bento.

— Mãe, você viu que coincidência? — perguntou Maurício, aproximando-se da mãe. — O Bento é amigo da Amora.

— Ah, é? — disse Verônica, olhando para Amora. — Pois então, Amora, agradeça a seu amigo essas lindas flores. Ele salvou a sua festa.

— Pena que ela não possa chegar muito perto, porque ela é alérgica, ela pode espirrar, não é Verônica?  — disse Bárbara. Dirigiu-se à filha. — Amora, por favor, os convidados estão chegando. Faça as honras da casa.

— Giane, você me ajuda a terminar de organizar as flores lá dentro, por favor? — pediu Verônica.

— Sim senhora. — disse Giane, entrando na mansão com Verônica.

Os convidados foram chegando, e a festa começou. Assim que acabou de organizar as flores dentro da mansão, Giane foi ao encontro do amigo, e o viu conversar com Fabinho. Acabou ouvindo parte da conversa.

— Conheci cada coisa, cada lugar, cada país. — dizia Fabinho. — E você na Casa Verde ainda plantando flor. Legal. Legal. Achei legal.

Giane ficou furiosa ao ver Fabinho tratar mal o amigo. Então Fabinho se achava superior a eles, só porque era cheio da grana? Que babaca! Quem ele pensava que era, para tratar o Bento daquela maneira? Só porque era rico, se achava no direito de pisar no Bento? Bento podia não ter grana, mas como ser humano, era muito melhor do que ele. Ah, esse Fabinho estava precisando ouvir umas boas verdades, para deixar de ser besta.

— Você deu mermo sorte de ter sido adotado pela família rica que queria adotar o Bento, né, Fabinho? — fez questão de jogar na cara do moço.

— Ela é a famosa quem mesmo? — Fabinho perguntou ao Bento.

Giane abriu um sorriso irônico. Como se não bastasse ter esnobado o Bento, ele ainda finge que não a reconhece? Ele sabia muito bem quem ela era. Não gostou nada do moço, da maneira como ele estrava tratando a ela e ao Bento. Quando criança, Fabinho estava longe de ser um anjo. Não era flor que se cheire. Era uma peste. Agora, pelo visto, ficou pior. Além de arrogante, esnobe, tinha jeito de cafajeste.

— Ela é a Giane, Fabinho, você está cansado de conhecer. — disse Bento.

— Ah... — Fabinho sorriu, olhando para ela. — É que a última vez que eu vi ela era um moleque. — riu. — E, pelo visto, continua sendo, né?

Giane ferveu de raiva por dentro. Odiava ser chamada de moleque.

— É? E você continua sendo o mesmo filho de uma... — descontrolou-se.

— Vambora, vambora. — disse Bento, arrastando-a.

— Bento, Bento! Pô, cara, por que você não deixou eu dizer umas verdades pra esse... — reclamou a garota.

— Porque não vale a pena se desgastar por causa do Fabinho, Giane. E outra, a gente tá aqui a trabalho, lembra?

— Tá. O trabalho acabou. Vambora, vambora! — disse Giane.

— Vamo. Peraí, daqui a pouco, tá? — disse Bento, olhando para Amora, que estava abraçada a Maurício, tirando diversas fotografias. Giane revirou os olhos e grunhiu.

— Cara, deixa de ser otário, Bento. Olha ela ali com o noivo dela, os fotógrafos, os bacana todo aí! Ela nem vai olhar pra você, cara.

— Bento, não é? — Bárbara perguntou, aproximando-se. Bento assentiu.

— No convite que eu emiti estava escrito “traje casual chic” — disse Bárbara, olhando-o de cima a baixo. Olhou-o com desdém. Bento explicou:

— É que eu não recebi convite. Fui convidado pelo noivo agora pouco.

— Pois então você deveria sair e se vestir adequadamente. — disse Bárbara. — É o mínimo exigido pela etiqueta. Caso você não tenha uma roupa adequada, compre com o dinheiro das flores, alguma coisa decente pra você e seu amiguinho aí.

— Ei, eu sou mulher, cara. — disse Giane.

Não gostava de que se referissem a ela pelo pronome masculino. Era mulher, e queria ser tratada como tal.

— Você? — riu Bárbara. — Você não ter a menor ideia do que significa ser mulher. Agora, por favor, saiam da minha casa. Hum?

— Olha, a senhora podia ter dito tudo isso num tom mais adequado, casual e chique. — ironizou Bento.  — Agora vamos embora, que quem não quer ficar nessa casa sou eu.

Afastaram-se. Giane reclamou:

— Mulherzinha nojenta, viu? Quem ela pensa que é pra falar com a gente desse jeito? Ah, vá...

— Oi, vizinhos! — disse tio Lili, ao encontrá-los. — Onde vão com tanta pressa?

— Senhor Lili, eu nem sabia que o senhor estava aí. — disse Bento.

— Pois é. Eu vim fazer o cabelinho da Amora. Vocês estão indo pra casa? Eu queria uma carona. Mas só que tenho que voltar lá dentro, que esqueci a frasqueira, tudo bem?

— Tudo. — disse Bento.

— Ótimo. — disse tio Lili, entrando na mansão.

— Agora tá explicado, né? Foi o tio Lili que inventou de indicar a gente pra essa roubada aqui. — disse Giane.

— Não, fui eu que indiquei vocês. — disse Malu, aproximando-se.

Giane se lembrou. É a garota que entrevistou Bento outro dia. Ela tem aparecido na Casa Verde algumas vezes. Ficou até amiga de Charlene, que se ofereceu para ser voluntária em sua ONG. O que ela estava fazendo ali?

— Malu? O que você está fazendo aqui? — surpreendeu-se Bento.

— Eu sou irmã da Amora, Bento. — revelou Malu.

— Você também é filha adotiva da Bárbara? — perguntou o rapaz.

— Eu sou a única filha de sangue dela. — disse Malu.

— Por que você não me disse isso quando você foi na minha casa?

— Bento, não fica bravo comigo por causa disso. — pediu Malu.

— Eu não tô bravo, Malu. — disse Bento. — Só quero entender duas coisas. Por que você não me falou que era irmã da Amora quando viu a foto dela na minha casa? E por que você indicou o serviço da gente pra Verônica sem me falar nada, sem ao menos me avisar?

— Ah, quis tirar uma da tua cara, né? — disse Giane, furiosa. — Igualzinha à irmã.

— Não, não é isso. — disse Malu. — Oh Bento, deixa eu te explicar. Eu...

— Quer saber? Eu não quero ouvir mais nada. — disse Bento.

— Vambora! Vambora! — disse Giane, e ela e Bento foram andando na frente.

— Que isso? Giane! Bento! Bento! — chamou Malu, e eles a ignoraram.

Estavam caminhando em direção à van, quando tio Lili veio ao encontro deles.

— Que bom que vocês estão aí ainda!

— Vambora, tio Lili. — disse Bento.

— Bora, bora! — disse Giane, mal-humorada.

— Eu já estou cansado. — disse tio Lili.

Bento e Giane trataram de apressá-lo. Tio Lili percebeu que não estavam de bom humor.

— Vocês estão bravos? Eu fiz alguma coisa?

— Entra na van, tio. — disse Bento.

— Bora sair já dessa casa. Vambora. — disse Giane.

— É só porque vão me levar que estão assim? — perguntou tio Lili.

Entraram na van e partiram. Assim que chegarem em casa, dona Odila e Charlene foram ao encontro deles. Dona Odila perguntou:

— E aí, gente? Como é que foi a festa dos grã-finos? Conta.

— Um saco! Um bando de gente nojenta. — esbravejou Giane. — Ah, boa noite! Tchau pra quem fica.


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