Sonny Boy escrita por elda


Capítulo 4
Supérfluo feito plástico




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Pensar em escrever aquele bilhete fora tão difícil e eu ainda estava só começando. Escrever para Vivi não ir embora e retornar pro meu apartamento me deu tremores nas mãos, que eu precisei escrever de novo por conta da caligrafia horrorosa que saiu.

(não fuja)

Depois de tomado o seu corpo, usar o tom imperativo para terminar o bilhete me parecia o menor dos problemas. Eu não costumava ser assim na época do ensino médio, Vivi me manipulava como peça de tabuleiro e eu permitia porque sentia pena dela. O tempo passou e percebi que não estava sendo um bom amigo sendo tão compassivo. Comecei a me preocupar com os seus estudos em vez de fazer seus trabalhos ou dizer as respostas da prova durante o intervalo. Comecei a me preocupar com as amizades estranhas que a maltratavam em vez de agradá-la o tempo todo como se isso pudesse compensar todas as suas dores.

Eu não consegui tomar tal atitude diante de meus pais. Continuei estudando muito, mas não mais sem nenhum amigo. Vivi era a única que esteve ao meu lado e eu quis lhe dar tempo. Quando chegava em casa, meus pais não faziam ideia que havia matado aula do cursinho para ver Vivi na sua casa, chateada com algum namorado.

Vivi tinha dedo podre não só pra amizades, mas ela se relacionava com garotos que a viam como uma coisa supérflua feito plástico. Era como se ela fosse uma boneca.

Isso continuou mesmo depois do ensino médio, quando fui pra universidade e ela optou por não estudar mais. Foi morar com Jonas.

O motivo de eu aceitar a amizade dela foi porque tive a sensação de como ela era especial. Sua sinceridade para com os outros era bonita. Eu lhe disse duas orações no jardim da escola e ela nunca mais se esqueceu. Foi muito grata e começou a me importunar durante os dias letivos até eu perceber que alguém tão transparente estava num meio nada saudável.

Vivi fez com que eu tomasse alguma providência na vida, nunca havia tomado nem por mim mesmo, mas por aquela garota faladeira e de beleza invejável, eu quis me tornar seu herói, embora nunca ter pensado que eu conseguiria dizer meus sentimentos mais íntimos entrando nela com violência e a fazendo gemer meu nome. Como também não sabia que me sentiria poderoso por ouvir o meu e não o de Jonas. Era como se Vivi fosse minha boneca e não a dele. Talvez não fosse diferente dos demais...

A gente precisava conversar...

Estava próximo do meu apartamento e notei as janelas acesas, mostrando-me que Vivi já havia chegado do serviço. No entanto, depois de subir os lances de escadas e abrir a porta para minha sala, tive uma surpresa; encontrei-me com Jonas e Vivi conversando, Jonas parou assim que notou minha presença.

— Joe! — Ele disse entusiasmado e veio até mim para me abraçar. — Como você está? — Ele disse se separando, apenas segurava meus ombros. — Tá estudando tanto que nem mais corta o cabelo, é?

— C-cortar o cabelo?

— Tá grande, daqui uns dias vai parecer com uma garota. — Ele disse cochichando perto do meu ouvido.

Não achava meu cabelo grande e se eu tinha tempo pra aparar as unhas e fazer a barba, eu cortava o cabelo sem resistência. — Eu gosto de parecer uma mulher.

Jonas soltou uma gargalhada homofóbica e eu aproveitei para lançar um olhar confuso a Vivi. Ela o chamou pra vir aqui? Mas Vivi acenava a cabeça negativamente toda hora, como se ela pudesse saber o que perguntava só com o olhar.

— Combina com você, Joe... E teve gente que achou um absurdo deixar Vivi sozinha aqui, mas você não faria nada, né? — Ele soltou um pigarro e se acalmou. — Senti saudades da minha pequena. — Dessa vez enlaçou a cintura de Vivi com o braço e a puxou pra mais perto. Algo embolou na minha garganta. — Obrigado, parça, mas é tanta saudades que já vou levá-la hoje.

— Ela disse isso? — Perguntei, ajeitando os óculos de grau. — Você disse que quer ir? — Encarei Vivi.

Nesse momento, Vivi, que andava pálida, piscou os olhos enquanto ajeitava a postura, percebendo o real sentido da minha pergunta. — Eu posso dizer o que quero?

— Sim... só não digo porque não quero prejudicá-la com minha impulsividade.

Jonas ficou confuso com nossa conversa, mas ainda assim compreendeu algo e nós percebemos. Claro, sendo um hetero idiota só lhe faria pensar que sua propriedade fora usada por outro sem sua supervisão. — O que vocês estão dizendo? Vivi, está me escondendo algo?

Vivi começou a tremer e o encorajamento tomou conta do meu corpo. — Jonas, devia ter escutado os seus amigos. — Eu disse com escarnio.

Jonas me lançou um olhar incrédulo e rapidamente apertou o braço de Vivi. — Vocês foderam, Vivi?

Eu não pensei duas vezes e me lancei nele. Tudo ficou escuro e quando dei conta do que estava fazendo, estava sobre Jonas com o nariz sangrando e horrorizado.

— Por favor, me deixe ir pra casa! — Ele implorava com lágrimas nos olhos.

— É, Joe! Deixe-lhe ir.

Me levantei do chão e vi que as lentes dos meus óculos estavam quebradas. Havia tido uma briga e parecia que o campeão era eu quando vi Jonas sair vazado do meu apartamento.

Respirei fundo e só quando estive em paz que percebi que Vivi estava diferente. Ela estava tremendo.

— Vivi... eu não me tornei esse tipo de homem. — Me joguei no sofá, sentindo só agora todas as dores da briga. — Eu só pirei quando o vi pronto de lhe agredir.

— Eu sei... mas foi assustador... parece que eu não te conheço mesmo! Primeiro a transa e agora isso...

— Você pode ir se quiser... — Eu disse, me arrependendo logo em seguida. — Mas sobre mim... até eu não sabia que podia ficar tão bravo... acho que foi a raiva acumulada por conta dos meus pais.

Vivi parou de chorar e enxugou as lágrimas. — Sempre quis saber se você se sentiu pressionado a fazer medicina...

Eu sorri. — Desculpa nunca ter te dito, mas era difícil pra mim admitir que fazia algo que não gostava. Reclamar com alguém sobre isso só me faria pensar que eu não tinha coragem de me impor contra os meus pais...

— Eu podia te ajudar com essa "coragem".

— E me ajudou, Vivi... você me ajudou demais e é por isso que te amo.

Vivi deu um sorriso e se sentou ao meu lado, depois começou a examinar minhas feridas. — Vou cuidar de você.


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Notas finais do capítulo

fim



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