Corte de Sombras e Desafios escrita por Ju Assis, mari


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, nesse capítulo temos uma música recomendada para a leitura de uma cena específica. Essa música que inspirou o capítulo inteiro, basicamente.

Irei indicar o momento certo no próprio em capítulo ESCREVENDO ASSIM.

Caso queiram deixar pronto: WHERE WE COME ALIVE (Ruelle)

https://youtu.be/9Z9-mYP3IDA?si=bfWR6nFzm4Pt7NI-

BOA LEITURAAA ♥



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~*~

Quase uma semana havia se passado desde o jantar e Gwyn ainda não havia tomado sua decisão. Nestha havia contado tudo que havia ocorrido enquanto estivera fora. Na verdade, ela precisou repetir uma, duas, três vezes para que Emerie e Gwyn conseguissem assimilar tudo que foi revelado.

O surgimento de uma habitante de outro mundo, chamada Bryce Quinlan, desencadeou uma revelação profunda para Nestha e Azriel. Uma história de uma batalha ancestral e cruel se desenrolou diante deles através de uma transmissão mágica, lançando luz sobre os segredos enterrados do passado. Gwyn finalmente compreendeu o porquê da urgência de encontrar os manuscritos sobre os Daglan, também conhecido como Asteri no mundo de Bryce. De repente, tudo se conectou em seus pensamentos. E, quanto mais mergulhavam na profundidade da história, mais sua mente girava e girava.

Gwyn teria que dar a resposta à Rhysand no próximo dia e, no entanto, ainda parecia que foi há poucos minutos atrás que tudo ocorrera: o jantar, a proposta, as revelações... Ela estava mais agitada que o normal. Sua inquietação crescente era palpável, e, mesmo após os árduos treinamentos na parte da manhã ela não conseguia conter sua energia. Tanto que após o exercícios matinais daquele dia em específico, Gwyn interrompeu a conversa de Azriel e Cassian para pedir um treino extra para o General.

"Infelizmente eu tenho um compromisso." Foi o que Cassian disse em resposta, antes de pegar firme no ombro de Azriel "Mas tenho certeza que meu querido irmão Az pode ficar e aplicar uma aula extra para você, Gwyn."

E lá estavam eles de novo.

— Obrigada pelo treino extra hoje. — a Valquíria tentou quebrar o silêncio enquanto faziam o esfriamento após a sessão.

— Não há de quê. — foi tudo que o Encantador de Sombras disse em resposta.

Gwyn ficou encarando Azriel enquanto eles se alongavam quietos novamente. Ele ergueu uma sobrancelha sugestiva para ela. Como se estivesse falando "O que foi?" ou "Vai me contar ou não vai?"

— Suas sombras conversam mesmo com você? — Gwyn perguntou rápido demais.

— Sim.

— O que elas falam de mim?

Se o Illyriano estivesse comendo algo nesse exato momento certamente ele teria engasgado.

— É... — houve hesitação na voz de Azriel. Como sempre, lá estava Gwyneth Berdara o deixando sem palavras mais uma vez. Ele ergueu um sorriso de canto.

— Tudo bem, não precisa responder. — Gwyn deu uma risada sem graça.

— Elas gostam da sua voz, na verdade. — Azriel deu de ombros.

— Da minha voz? Sério?

— Sim. Quando você canta. — Azriel suspirou e se levantou, completando apenas para si mesmo: Quando ri, quando fala qualquer coisa, na verdade.

Gwyn endireitou as costas, surpresa.

— Ah. Eu meio que percebi naquela noite. — ela deu um risinho tímido e se levantou também, imitando o próximo movimento de seu professor. — Você tem ciúme delas? Gostarem... de mim?

O cérebro de Azriel precisou de cinco segundos para processar mais uma pergunta difícil de Gwyn. Céus! Quando ela iria parar de deixá-lo sem palavras? Aquilo era muito interessante. As sombras estavam dando cambalhotas, em êxtase com aquela interação.

— Eu... Eu não tinha pensado nisso na verdade. — ele decidiu ser honesto. — Acredito que não.

— Entendi. — Gwyn deu de ombros. Depois, entreabriu um sorriso e piscou para ele adoravelmente. — Então imagino que não teria problema se eu... É... Brincasse... Um pouco com... Elas?

Azriel congelou.

Gwyn mordeu os lábios, constrangida. 

Céus. Que pedido mais patético! — Ela rapidamente se deu conta o quão ridículo aquilo havia soado, o sangue batendo rápido em suas veias. Gwyn expirou, se culpando enquanto concluía que com certeza não levava jeito para conversar com machos. Ela nunca conseguiria fazer amizades se continuasse falando as coisas por impulso. 

Mas lá estava ela abrindo a boca para falar novamente:

— Sabe? Naquela noite eu... Adorei a sensação. Elas fazem cócegas. Não precisa ser necessariamente "brincar" — Gwyn deu um riso nervoso — Quer dizer... Se eu pudesse somente vê-las mais... Eu gosto delas! Me deixam curiosa e... Aí. Me desculpe, estou falando demais, não é?...

Azriel ainda estava imóvel.

Nunca em seus longos anos de vida imaginou que alguém iria pedir isso a ele. "Brincar" com as sombras? Gwyn estava louca?

As sombras serviam para torturar, enganar, causar dor e ajudá-lo a ser traiçoeiro e cruel. Provocar risos nunca, em hipótese alguma, foi a intenção dele. Geralmente as sombras eram retidas, quietas. Afiadas como adagas e traiçoeiras como serpentes quando estavam na companhia de mais feéricos.

Com Gwyn, não. Com ela, pareciam que estavam dançando. E ultimamente isso estava tirando o sono de Azriel, de certa forma.

— Azriel? — Chamou Gwyn — Az? Você está bem?

Az. O jeito que ela o chamou o fez voltar para a realidade. Uma faísca teimosa ascendeu no seu peito. Ele relutou em apagar. As sombras se derreteram com o som.

Az, Az, Az... — a mais corajosa entre elas ciciava, ameaçando sair da tocaia de suas asas para dançar com a respiração nervosa de Gwyn.

— Estou... — ele limpou um pigarro inexistente na garganta. — Desculpe. É um pedido inusitado. Eu estava ponderando e, bem, não sei se elas iriam gostar.

— Tudo... Bem então. Perdão, eu esqueci que pode ser uma coisa pessoal. — Gwyn se encolheu. — E nem somos tão amigos, não é? Eu fui muito...

— Não fale assim. — Azriel expirou, sem deixar ela terminar a frase. Ele não iria tão longe a ponto de chamá-la de amiga, mas também não precisava agir como um babaca. — Você é amiga de Nestha. Nestha é da minha família, então... Considere-se parte do meu ciclo social. Eu treinei você junto com Cassian. Não somos dois estranhos há muito tempo.

— Tudo bem então. — Gwyn estendeu a mão como alguém que fecha um negócio. — Amigos? Oficialmente, quero dizer... — ela limpou a garganta. — Oficialmente amigos?

Algo no umbigo de Azriel se revirou. Seu peito pareceu ficar pesado demais para respirar. Ele olhou para a mão de Gwyn como alguém que estuda um objeto novo e engoliu em seco.

Você não deveria querer ser minha amiga. — era o que ele queria falar — Não mereço sua amizade.

Inclinando a cabeça para o lado, Azriel deu um meio sorriso:

— O que eu ganho se for oficialmente um amigo seu?

Gwyn recolheu a mão e olhou para o chão enquanto arqueava as sobrancelhas.

— Uh. Bem... — ela corou.— Não tinha pensado nisso. Aulas particulares de canto? Alguém para desabafar? Ou o que você quiser. Desde que eu aceite isso que você quer, claro.

Azriel riu.

— Nesse caso, tudo bem. — foi a vez dele de estender a mão.

Gwyn cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha.

— Já que você tocou no assunto... — ela deu um sorriso presunçoso e andou um passo para frente, mais perto dele. — O que eu ganho com a sua amizade, Encantador de Sombras? Até hoje você está me devendo um prêmio por termos completado o circuito classificatório para o Rito, pelo que eu me lembre.

— Quer mesmo barganhar comigo, Gwyneth Berdara? — o mestre-espião ergueu uma sobrancelha e reposicionou a mão estendida para a lateral de seu corpo.

— Se for necessário para eu ganhar meu prêmio... Então sim.

Os pensamentos e possibilidades atravessavam a mente de Azriel à mil por hora enquanto ele calculava meticulosamente todas as possibilidades de barganha. O que poderia oferecer a ela? O que exigiria em troca? E então...

Então ele soube exatamente o que propor. Mas como? 

— Estou esperando, Encantador de Sombras. — Gwyn inclinou o rosto.

Com um suspiro silencioso, Azriel ergueu o olhar para encontrar o dela, buscando em seus olhos a resposta para a incerteza que o consumia. Cada detalhe da proposta que estava prestes a apresentar era dissecado meticulosamente na mente do mestre-espião, ponderando sobre os riscos e benefícios envolvidos. Ele sabia que suas palavras precisavam ser escolhidas com cuidado, pois cada sílaba que ele escolhesse poderia influenciar o resultado final.

— Certo. Eis o que eu tenho a propor para você: — Azriel cruzou os braços e deu um passo para frente, ainda incerto sobre como aquilo soaria para Gwyn. — Em troca da minha amizade, quero que você aceite a proposta de Rhysand. Venha comigo para as outras Cortes. Convença mais fêmeas a lutarem. Em troca, você terá todo meu apoio: Vou te ajudar quando não se sentir bem. Vou te ajudar a se preparar para a missão. Irei lhe proteger. Não vou deixar que te machuquem. — Azriel respirou fundo. — E depois, quando completarmos a missão, eu posso pensar em dar um prêmio para você.

Gwyn gargalhou alto, sentindo seu peito se iluminar conforme puxava o ar para rir de novo. Não uma risada de quem achara a proposta de Azriel engraçada, mas uma risada de quem estava feliz. Como alguém que acaba de ganhar um presente que tanto esperava.

— Certo, eu aceito.  — Gwyn estendeu a sua mão delicada para Azriel. — Amigos.

Ela agradeceu silenciosa à Mãe por aquele momento. Quando acordou naquela manhã, Gwyn teve quase certeza que estava pronta para dizer sim àquela missão. Ela só não havia admitido ainda. Em suas preces matinais, pediu para a Mãe enviar algum sinal. E agora, com Azriel parado ali abordando exatamente aquele assunto... Era como se ele tivesse dado a ela o pontapé inicial. Era a confirmação que ela precisava. 

Azriel suspirou. Onde ele estava se metendo? Ainda assim, ele estendeu a mão que tanto odiava para aquela fêmea ali, parada em sua frente, com tanta expectativa no olhar.


MÚSICA COMEÇA AQUI. 

 

— Amigos. — Azriel disse baixinho enquanto segurava aquela mão tão fina em contraste com a dele. Os olhos azuis de Gwyn sobressaltaram ao sentir a magia pinicando a sua pele. Ela não soltou a mão de Azriel nem por um segundo.

Ele também não parecia fazer questão de soltar.

Uma tatuagem começou a se formar na pele de ambos bem lentamente, surgindo como se fosse traçada por uma mão invisível. Era uma composição abstrata de linhas sinuosas que se entrelaçavam numa intricada dança. Cada linha parecia pulsar com vida própria, como se estivesse ecoando uma melodia antiga e etérea. No centro, destacava-se uma grande clave de Sol, cujas linhas fluíam graciosamente para se conectar com uma outra nota musical, formando uma ligação perfeita entre os dois símbolos — que pareciam estar envoltos por sombras quase invisíveis.

Era como se música fluísse entre a tatuagem, uma harmonia transcendental que unia duas almas em uma dança eterna de parceria. Mas os dois estavam perdidos demais em seus próprios olhares para notar a figura visível apenas no antebraço de Gwyn, que na ocasião vestia apenas uma regata de couro Illyriano, e não a peça de manga longa habitual, a qual Azriel estava usando.

Azriel sentiu um formigamento percorrer seu corpo, uma sensação elétrica que o deixou arrepiado. Era como se a própria essência das sombras estivesse se entrelaçando com a melodia da música, criando uma conexão única entre ele e Gwyn. 

Para Gwyn, a experiência era igualmente intensa. Ela sentiu como se uma parte dela estivesse sendo revelada, uma parte que sempre esteve lá, mas que agora ganhava forma tangível. Ela olhou para o braço que estendia a Azriel, para conferir o ponto que estava pulsando entre seu pulso e antebraço.

— É... Nada mal. — Gwyn esboçou um sorriso.

Enquanto os dois contemplavam a tatuagem recém-formada na pele de Gwyn, um sorriso se espalhou lentamente pelos lábios de ambos. Bem lá no fundo de suas mentes, no subconsciente, eles sabiam que algo especial havia começado naquele momento. Algo que transcenderia as palavras e perduraria além do tempo.

— Não precisamos contar isso a ninguém, não é? — Gwyn engoliu em seco e finalmente soltou a mão de Azriel.

— Não. Será nosso segredo temporário. — Azriel disse. — O couro Illyriano tradicional deve cobrir isso.

— Ótimo. — Gwyn abriu um enorme sorriso e se preparou para virar e ir embora. — Vejo você amanhã, Encantador de Sombras. E diga ao Grão-Senhor que eu já tomei uma decisão!

— Até logo, Valquíria. Não ache que essa amizade irá te beneficiar. — Azriel inspirou fundo para falar mais alto conforme Gwyn se distanciava. — Não darei descanso a você.

Gwyn gargalhou, ela estava quase alcançando o arco para entrar na Casa.

— Acha que isso me assusta? Eu sou a rocha contra qual as ombras quebram, Azriel. — ela gritou de volta, por cima do ombro. — Nunca se esqueça disso.

Azriel ensaiou um sorriso de canto, as sombras dançando em aprovação. Ele inspirou fundo, delirando com a provocação de Gwyn. Algo se acendeu no peito dele.

Ele não se obrigou a apagar dessa vez.

— Céus. — Azriel respirou fundo e soltou o ar conforme desatava as bandagens da mão. Ele ficou encarando a tatuagem recém pintada em seu pulso. — Onde foi que me meti?


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Notas finais do capítulo

COMENTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEM
Pelo amor da Mãe.....



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