Aliens ou sensação de deslocamento escrita por elda


Capítulo 6
Aliens e sensação de acolhimento




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Após sermos acordados, o zelador — e dono do quarto — nos fez várias perguntas, afinal, não era todo dia que alunos dormiam numa escola e muito menos no seu quarto.

Eu lembro que não conseguia formular uma frase, nada saía da minha boca. Estava muito confuso como o resto, mas Usopp conseguiu falar alguma coisa sem soar esquisito. O zelador parecia não ter ideia do que era o breu.

— Ficamos até tarde fazendo um trabalho e a escola foi trancada com nós dentro. — Usopp mentiu descaradamente, mas foi tão natural o seu jeito de dizer que o zelador acreditou. Enfim, ele levava mesmo jeito para mentir.

— Esse seu nariz... — O zelador parecia reconhecer Usopp. — Você é aquele gênio, né? É a cara de nerds perderem a hora e ficarem trancados numa escola. Aliás, acho que é até o sonho de vocês.

— É isso que aconteceu! Adoramos a escola!

Usopp falava sorrindo, enquanto ainda fazíamos cara feia só de ouvir "escola". Eu pensei se Luffy e Zoro não haviam sentindo o estômago embrulhar como eu senti. Mas se não fosse a boa atuação de Usopp, não conseguiríamos ir... finalmente para fora.

Nós quatro ficamos em pé, quietos e ariscos. Fazia sol e o sol estava no céu, era um sábado e dois garotinhos passaram de bicicletas, uma borboleta atravessou a rua em que estávamos parados que nem varapau. Então, de repente, Luffy jogou os braços pro alto e deu um berro, que foi seguido por mim, Usopp e Zoro. Nós cerramos os punhos dizendo "Isso, isso!" ou "Conseguimos!" ou ainda "Lili vai cantar!". Tiramos nossas camisas do uniforme e as jogamos pro alto, depois Luffy saiu abraçando todo mundo e começamos a chorar de felicidade.

Uma BMW buzinou e mandou a gente sair do meio da rua. Saímos dizendo "Uau, uma BMW", ficamos encantados.

— Usopp!! Você conseguiu!! — Disse enquanto caminhávamos para nossas casas. Estávamos mais calmos, com a camisa do uniforme vestida, mas ainda sorridentes. — Desculpa por duvidar de você.

Eu o puxei para dar mais um abraço.

— Que nada, o herói disso tudo é o Luffy.

Passei a encarar Luffy ainda tendo Usopp em meus braços.

— Se não fosse ele me lembrando de Willy Karen, talvez não conseguiríamos sair antes da comida acabar.

Luffy ficou todo sem jeito e muito meigo. — Eu não acredito que posso ser útil...

— Você foi útil, idiota! — Berrei em meio aos choros e nós três abraçamos Luffy bem apertado.

— Obrigada, galera, mas estou ficando sem ar!!

Assim que soltamos Luffy, uma encruzilhada apareceu. Era formada por três rotas que separariam nosso grupinho.

Luffy pegaria a esquerda, Usopp continuaria seguindo em frente e eu e Zoro passaríamos na direita.

— Será que estou sonhando? — Disse Usopp de repente, antes de voltarmos a andar. — Alguém pode me beliscar?

Luffy lhe deu uma mordida no braço e eu e Zoro não paramos de rir com o seu berro.

— Eu estava acreditando que havíamos mesmo saído até a BMW buzinar. — Disse Zoro, fazendo piada.

Nós rimos.

— Sim, não é muito comum ver um carro desses nesse fim de mundo!! — Respondi, fingindo incredulidade.

Nossas risadas cessaram novamente e olhamos mais uma vez pra encruzilhada. Aquela seria a primeira vez que nos separaríamos e uma incerteza brotou em nossos corações. Tudo voltaria a ser como antes na segunda-feira? Voltaríamos pra nossas rotinas e não trocaríamos mais ideias? Não nos veríamos mais?

A imagem da nossa festa durante a madrugada me atingiu. Eu nunca me senti tão bem ao lado de uma pessoa com minha idade como naquela noite. Nem mesmo com meus irmãos tive algo parecido.

Era muita identificação e ao mesmo tempo muita distinção.

Estava quase chorando novamente quando Usopp deu o primeiro passo e seguiu em frente. No entanto, parou depois de andar um bom caminho.

— Luffy, te vejo na segunda.

Seu olhar era sério. Eu e Zoro passamos a fitar Luffy, ele estava com os olhos abertos. Do nosso grupo, Luffy era o mais difícil de aceitar e andar ao lado. O próprio Usopp se afastou dele no passado e agora estava dizendo aquilo. Luffy se emocionou, ele tirou o chapéu de palha e o deixou no peito.

— Sim! — Respondeu numa postura muito séria que nem parecia ser Luffy.

— Também vejo vocês, Sanji e Zoro! Até!

Usopp se virou para seguir em frente e deu um aceno, depois colocou a mão no bolso como a outra. Ele ficou muito maneiro.

— Tchau, Usopp!! — Gritei muito feliz.

— Eu vou por lá. — Luffy apontava para a esquerda. — Vejo vocês também segunda-feira.

Demos um aceno e ele passou a correr. Sua mochila balançava e o chapéu caiu pra trás, ficando preso na cordinha. Olhando ele correndo só me fez pensar que era livre e mesmo assim não reclamou em nenhum momento por ter ficado preso num lugar que não se podia ver estrelas.

Menino bom.

— Então, vamos? — Zoro me chamou para seguirmos o caminho da direita. Enquanto caminhávamos, eu me lembrei que havia lhe julgado de forma errada. Não me leve a mal, mas Zoro dá mesmo medo e era esquisito quando se isolava. Porém, o seu sorriso é definitivamente o mais lindo que já recebi. Zoro era um bom rapaz, só ficava distante por conta da sua dificuldade de se socializar.

— Me perdoa.

Zoro parou o passo e arqueou uma sobrancelha me encarando. — Do quê?

— Eu achava que você fosse arrogante ou algo assim...

Ele passou o polegar debaixo da alça de sua mochila, gesto que demonstrava estar sem graça, e disse não me encarando: — Você não tem culpa, é estranho uma pessoa não querer se misturar...

— Sim... Mas sabe... Eu tomo remédio pra depressão e ansiedade. — Respondi e molhei meus lábios. — Aconteceu várias ocasiões em que pensaram equivocamente sobre mim, como posso dizer... Na aula de educação física! Quando troco de medicação, eu passo pela adaptação e também pela abstinência... Tem vezes que não consigo jogar bola direito. Eu já não jogo bem e pioro a situação do time. Muita gente acaba brigando comigo e eu penso "se eles soubessem que estou passando por uma abstinência fudida!" e por que estou contando essa história? Porque eu devia ter me colocado no seu lugar e pensado na hipótese que havia um motivo pro seu afastamento. Mas eu apenas agi como aqueles que me xingam.

Eu encarava meu tênis, não estava acreditando que havia falado com alguém sobre meu remédio. Zoro riu e eu ouvi, levantei o olhar para encará-lo.

— Será que tem como você ir pra minha casa?

— A-Agora?!

— Tem problema?

— Na verdade... Não, se meu celular estiver pegando de novo não. — Tirei uma alça da minha mochila para pegar meu celular dentro dela. — Tá pegando. — Sorri. — Vou ligar pro velhote de merda avisando que vou chegar mais... Tarde? Aliás, será que estamos mais de 1 dia sumido?

— Acho que não. Estávamos todos sujos de tinta, nossos materiais espalhados pela escola, sem dizer que a pichamos toda. Mas quando o zelador nos acordou estávamos exatamente vestidos com nossos uniformes, sem faltar alguma peça.

— É verdade.

— Só sinto falta de algo...

— O quê?

— Queria que as fotos e os vídeos que tiramos essa noite viessem com a gente.

Minha mente deu um estalo. — Falar nisso, você tem instagram?

Zoro balançou sua cabeça horizontalmente, os três brincos de ouro na orelha esquerda tilintaram. — Pra ter rede social tem que ter amigos.

Meneei a cabeça, ponderando o que disse. Não era muito verdade, porque acredito que redes sociais têm outros tipos de finalidades, mas não retruquei porque tive uma ideia melhor. — O que disse me parece verdade, eu abri o instagram no início do ano pra me motivar a ter mais amigos, mas nunca postei uma selfie com um.

Zoro piscou os olhos, entendendo o que queria propor.

— Quer tirar uma comigo, marimo?

— Adoraria.

 


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