Depois de tudo o que aconteceu naquele café, o cupido e o íncubo ficaram meio que de olho em suas vítimas, mas mesmo com uma semana se passando tudo parecia na mesma para os supostos casais formados naquela cafeteria.

O Hwang não tirava os olhos do casal de luz como ele chamava, e ele percebeu que algo estava mexendo com aqueles dois ele só não entendia o porquê dessa demora toda para avançarem na relação, era basicamente o Kim em sua biblioteca estudando ou na cafeteria e o Yang o observando com devoção e buscando aprender mais sobre o letrado, que com a mesma devoção o ensinava tudo o que podia.

— Dois virgens só pode! — Ele disse indignado, mas também se divertindo.

O íncubo os olhava enquanto eles tomavam café da manhã juntos, o anjo da virtude sabia que não precisava comer, mas ele comia para fazer parte da rotina do letrado e ele estava fascinado pelos hábitos humanos, porém o demônio estava louco para que eles caíssem logo nos braços um do outro com amor, mas também de forma luxuriosamente irremediável, afinal ele dependia deste resultado para poder finalmente ter o cupido para si.

— Andem logo seus moles, será que eu vou ter que ensiná-los? Apesar que se eu fizer algo será trapaça e não posso ganhar assim, tem que ser de forma limpa, pois o fraldinha não pode me escapar.

...

O cupido estava tão frustrado quanto o íncubo, e mesmo sem saber o que ele pedirá se ganhar a aposta ele queria muito provar que amor e luxúria não têm nada a ver um com o outro, mas aquele casal de quem ele não tirava os olhos não o estava ajudando em nada e sempre que se encontravam era um tipo de discussão diferente que acontecia, mas, no fundo, o cupido via fortes indícios de um amor eminente então só tinha que esperar e esse era o problema.

— Que decepção Lúcifer Christopher! Como assim você ainda não está pedindo o Seo em namoro com flores e bombons? Vamos anjo caído, lace de uma vez o seu caçador marombado. — Ele estava puramente frustrado, fora que o cupido não era nada bom em esperar.

O Felix pensou em atirar mais algumas flechas neles para agilizar o processo da aposta, mas aquilo não lhe pareceu correto, caso ele fizesse teria que avisar ao íncubo para ele aumentar a dose de luxúria do outro casal e isso o deixaria vulnerável diante do demônio, e se ele não avisasse seria trapaça e não era assim que ele queria ganhar do Hwang.

...

— Então você também está seguindo o casal das trevas. — O íncubo pegou o cupido de surpresa, o tirando de seus pensamentos. — E aí algum avanço por aqui?

O cupido o encarou.

— Algum avanço com o casal iluminado?

— Respondendo com outra pergunta? Poxa fraldinha, esperava mais de você! — O Hwang se divertiu ao ver o rosto perfeitamente esculpido do Lee, tomar um tom ruborizado. — Na verdade, é fato que existe uma química danada entre o casal iluminado, mas os dois ainda não sabem bem como pôr para fora todo o tesão acumulado, mas também tem muito sentimento puramente romântico rolando ali então é questão de tempo da minha teoria se provar correta e você ser meu por inteiro.

— Vai sonhando Hwang, e não esqueça que os dois casais têm que entrar na dança para sua teoria se provar, então não se anime tanto demônio. — O Cupido o encarou, mas logo desviou o olhar, pois era difícil para ele encarar tanta beleza — Mas com o casal da escuridão está mais ou menos na mesma, a diferença é que a luxúria está dando lugar para uma linda e perfeita história de amor, e talvez seja por isso a demora deles em ficarem juntos, antes seria apenas sexo e acredito que eles já teriam se rendido se fosse só isso, mas agora tem o amor tomando os corações deles, deixando a luxuria toda de lado e com isso teremos eu ganhando de você bonitão.

— Então eu sou bonitão? — O íncubo disse de forma intensa e com um largo sorriso, fazendo o cupido ruborizar e desviar o olhar mais uma vez.

— Tem que ser, não é? Se não como iria laçar suas vítimas?

— Você gosta de me magoar, não é peladinho? — O cupido se encolheu, ele odiava saber que magoou quem quer que seja, e por mais ranço que tivesse do demônio ali com ele não era essa sua intenção. — Pois fique sabendo bebezinho de fralda, que já fiquei com pessoas completamente desprovidas do sentido da visão, mas que me renderam uma energia intensa, pois me amaram com devoção mesmo sem conseguir ver como eu sou.

O demônio falou e cruzou os braços, fechou a cara e olhou na direção dos irmãos que se encontravam mais uma vez no “Essence Coffee” e seguiu falando.

— E a regra que vale para mim vale para vossa alteza também, então você só ganhará de mim se os dois casais assumirem apenas o lado em que foram tocados, deixando o outro em haver.

O Felix o encarou um tanto frustrado.

— Eu não queria magoar você Hyunjin, me desculpe.

 O cupido fazia um bico enorme, parecia que ia chorar e estava claramente triste por ter magoado o íncubo, o que deixou o Hyunjin em alerta.

— Hey fraldinha, não fique triste, é normal quem não me conhece de fato ter uma ideia errada de mim, afinal sou um demônio, mas acredite em mim, eu não fiquei chateado com você, eu juro, só estava fazendo um drama, eu amo dramas.

As palavras do íncubo não fizeram o Lee ficar melhor, pelo contrário ele se sentiu ainda pior por estar no mesmo nível de todos que apenas julgavam o demônio sem se quer o conhecer, porém, aquilo estava conflitando dentro de si, afinal ele deveria apenas odiá-lo e não se compadecer de um demônio.

— Mesmo assim eu sinto muito, não devia ter falado aquilo, foi rude da minha parte supor que apenas a beleza era o seu real encanto.

— Como disse meu docinho, está tudo bem, nada que eu já não tenha o costume de lidar.

O cupido mordeu seu lábio, ficou pensativo e encarou o demônio mais uma vez.

— Se você diz... não vou me preocupar — Ele disse e o íncubo deu de ombros — mas saiba que isso não muda o fato de que eu ainda vou ganhar de você.

— Vai sonhando peladinho, — ele disse se aproximando do anjo que sentiu seu rosto queimar — Você ainda vai viver um grande amor comigo e não vai demorar para isso acontecer, logo nossos casais favoritos estarão vivendo o amor em sua forma mais completa, você finalmente verá que eu estou certo e inevitavelmente virá para os meus braços, e pode ter certeza que eu não o deixarei cair quando isso acontecer.

Eles já estavam com seus corpos muito próximos e o Felix decidiu que precisava mostrar que ele não o abalava, então o cupido revirou os olhos, e sua culpa por tê-lo magoado já estava passando.

— Se a luxúria não fosse apenas um pecado Hwang, se ela fosse uma forma de amar como você diz, então por que quando você possui suas vítimas suas almas se maculam e são condenadas ao inferno?

— Por que eu sou um condutor meu peladinho lindo, eu elevo o que há de desejos e volúpias nos seres, fazendo com que tudo seja sentido em dobro ou mais, se há uma compulsão eu a aumento fazendo virar uma tara insaciável, e o pecado está justamente nos excessos sabe? É como foi dito há muito tempo, tudo se pode, mas nem tudo convém, entende? — Ele olhava o cupido, o achando verdadeiramente adorável por estar prestando mesmo atenção em seu discurso. — É como está no livro sagrado dos cristãos, “bebeis e não se embriagueis”; você até pode beber se quiser, mas beber em excesso vai o levar a embriagues e isso pode te levar a fazer todo o tipo de coisas que não são do agrado do seu papai tornando quem bebeu em excesso um pecador, consegue me entender bebê?

O Felix o encarou e torceu seus lábios.

— Acho que sim, Hwang. — Ele falou com uma feição atenta ao que o íncubo dizia, mostrando ao outro que ele realmente estava ponderando o ponto exposto a ele.

O Hwang quase o beijou ali mesmo, pensando que o cupido não era só lindo, era um ser puro e pelo mais profundo inferno, era um grande fofo.

— Então, comigo é mais ou menos assim lindinho, digamos que eu sou a bebida, mas no meu caso não existe a opção de não se embriagar, pois eu tomo a energia vital deles justamente fazendo-os cair nos excessos comigo, e para isso eu proporciono um prazer viciante as minhas amáveis vítimas, eu as condeno por aumentar e muito nelas o tom lascivo da luxúria a tornando um pecado da carne, mas sem mim bebê, a luxúria pode ser apenas um forte desejo que se estiver em uma relação entre um casal que se ama de verdade apenas os levará a se amarem ainda mais intensamente tirando disso o maior proveito possível, e a partir deste ponto anjo, eu acredito que se ambas as formas da luxúria expressa forem vistas igualmente como pecado eu digo que quem ditou as regras não sabe nada sobre o amor de fato e me atrevo a dizer que se for assim, o amor também seria um pecado de igual agravante.

O Felix o encarava intensamente. Seus corpos ainda estavam bem próximos o que o deixou em alerta, mas aquele íncubo falava com uma convicção gostosa de se presenciar, e enquanto ele falava por vezes o olhar do cupido parou nos lábios fartos do demônio o levando a pensar em como seria poder tocá-los com os seus próprios, mas depois que isso lhe ocorreu ele se forçou a voltar ao seu estado normal, aquilo jamais poderia acontecer entre eles e o anjo irá se certificar de não cair nessa tentação.

— Amém. — O Felix falou em voz alta como se respondesse seus próprios pensamentos e o íncubo franziu o cenho.

— O que disse fraldinha?

— Não falei... — ele se assustou por quase ter se entregue ali — nada de mais, esquece.

— E você não tem nada a dizer sobre o que acabei de discorrer aqui?

— São pontos fortes, íncubo, devo admitir, mas não sei... ainda precisarei de fatos concretos de que amor e luxuria coexistem como fatores complementares em seres que se amam.

O íncubo reduziu o curto espaço entre eles e deixou um selar demorado na bochecha do cupido que petrificou de imediato por sentir a macieis dos lábios que a pouco ele imaginava nos seus, e em seguida o demônio seguiu o caminho do pescoço do cupido indo o mais próximo que pôde da orelha do anjo.

— Logo você verá meu amor, e melhor ainda, assim que você vir poderá também sentir, eu estarei aqui para garantir que você sinta tudo isso com intensidade e eu te garanto Lee Felix você vai amar cada instante.

A voz doce e suave do íncubo tomou conta de todo o ser do cupido que tremeu.

Depois ele se afastou lentamente e o anjo ainda se encontrava completamente imóvel e os dois ficaram se olhando nos olhos por um longo tempo, tempo esse que nem os dois ali saberiam dizer o quanto durou.

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