Hoje é o meu aniversário. Geralmente, fico até mais tarde trabalhando, o que me dá a oportunidade de conferir os parabéns dos fãs nas redes sociais. Muitos encomendam bolos com alguma foto minha, outros fazem desenhos meus, e isso me emociona bastante. Era um sinal de que eu estava fazendo um bom trabalho e marcando a vida deles de alguma forma.

Os membros da banda, geralmente Reita e Aoi, eram os primeiros a me desejarem feliz aniversário após a meia-noite. Isso me fazia sentir querido. Não que outros não dessem parabéns, até porque no grupo do LINE, isso sempre ocorria de maneira mais orgânica, mas através das redes sociais era diferente.

O Kai me convidou para uma noite de karaokê. Normalmente eu passo a data trabalhando, porém, achei de bom tom aceitar essa proposta inusitada e tão em cima da hora. Inusitada porque nós somos músicos e estamos sempre enfurnados em algum estúdio. Por que iríamos juntos a um local onde a principal fonte de entretenimento era música? Não reclamei da escolha e me organizei para chegar no horário combinado.

Assim que cheguei ao endereço indicado, faltava apenas o líder. Perguntei onde ele estava, se havia atrasado, e Reita comentou que ele já estava dentro do estabelecimento escolhendo uma sala onde as pessoas não soubessem que éramos nós ali. Seria um caos uma quantidade enorme de fãs na porta. Não que já não tenha acontecido algo do gênero, mas era melhor prevenir. Até porque, os estabelecimentos costumam cobrar de nós por todo o transtorno causado.

Quando entrei na cabine, dei de cara com o local todo enfeitado e um bolo de frutas na mesinha de centro com uma plaquinha escrito "Happy Birthday, Ruki".

Nos sentamos para comemorar a data e Uruha tirou de um saco de papel uma garrafa diferente. Eu já vi essa garrafa antes, mas onde?

— De onde saiu essa? — Perguntou Kai, também confuso.

— Jurupinga*. O Aoi conseguiu encontrar um mercadinho com comida brasileira e quando fomos até lá, encontramos essa delícia. Achei que nunca mais seria ter a oportunidade de tomar dela de novo. — Explicou Uruha, todo faceiro, abrindo a garrafa. Se bem o conheço, ele tomaria da boca da garrafa, se pudesse.

Outro que parecia fascinado pela oportunidade era o Aoi. Ele estava com os olhos brilhantes para um certo guitarrista abrindo a embalagem e era difícil saber se essa emoção toda foi pela bebida importada ou pelo fato do Uruha estar sentado ao seu lado lhe dando atenção.

Comemos algumas fatias de bolo e cada um experimentou a bebida. Claramente não era algo que eu tomaria no dia a dia. Kai pareceu não gostar muito e pediu uma cerveja. Reita era o único que ultimamente não estava mais gostando de beber porque, segundo ele, atrapalhava a sua dieta de ficar cada vez mais gostoso... Digo, monstrão.

Eu escolhi cantar uma música do hide e depois uma do Luna Sea. Kai cantou uma enka* que eu nunca tinha ouvido falar e agora nossos ouvidos estavam sendo estrupados porque o Uruha achou de bom tom cantar "E.T." da Katy Perry com aquela voz de pato esganiçado que só ele tem.

Pelo visto, seu fascínio por alienígenas respingou até nas escolhas das músicas.

Aoi, que parecia competir com o Uruha para ver quem secava mais depressa a garrafa de Jurupinga, estava cantando a clássica dos karaokês, "Baka mitai". Ele já estava todo choroso e isso só indicava uma coisa: teríamos problemas. Afinal, não era toda banda que possuía um membro manhoso quando bebia assim.

Não sei onde que ele estava com a cabeça em competir com o cara mais cachaceiro que a gente conhece. É claro que isso não ia dar certo, como de fato não deu.

Nesse exato momento, Aoi está sentado no chão chorando, agradecendo por fazer parte do The GazettE, por estar com a gente nesse karaokê e tudo mais. Uruha, ao seu lado, tentava fazê-lo parar de chorar, em vão.

— Eu não sei nem por que você foi beber se não sabe fazer isso, Aoi. Você, como o mais velho, deveria dar o exemplo — reclamou Uruha, pois sabia que seria tenso levar o moreno para fora do karaokê sem chamar a atenção das pessoas que passavam pelo local.

— Eu estou comemorando que depois de um longo tempo... Você parou de me ignorar, Uru-pon. Se eu soubesse que era só reclamar numa revista, teria feito antes... — disse Aoi, todo manhoso, agarrado ao braço do guitarrista, que rolou os olhos, sem conseguir acreditar nas palavras do mais velho. — E... Onde você estava com a cabeça em me ignorar, Uru-pon, se você é a minha pessoa favorita?

Ouvir isso fez Uruha ficar tão envergonhado que suas bochechas pareciam dois painéis de néon, de tão vermelhas. Mas isso não impediu Aoi de continuar falando, para o desespero do outro guitarrista.

— Você sabe que eu passo horas... Na minha casa vendo vídeos… De você tocando guitarra e é melhor do que qualquer vídeo porno que eu comprasse… Por aí... — Dizia o moreno, pausadamente, tentando processar as suas ideias.

— Tá bom, Aoi. Já chega. Eu não preciso saber dos detalhes. — Reclamou Uruha. Kai, ao meu lado, se levantou, dizendo que era melhor fazer o Aoi vomitar, antes que ele passasse mais vergonha e se sentisse mal por isso depois.

Vi quando Kai conseguiu levar o Aoi para o banheiro. Uruha sentou-se, pegando a garrafa e bebendo dela, como se isso fosse tirar o brilho de suas bochechas. Só naquele momento, percebi o quanto Reita estava silencioso ao meu lado.

— Você tá bem, cara? — Perguntei. Reita olhou para mim, um pouco sem graça.

— Eu tive a ideia de virmos para o karaokê, só não contava com essas coisas. — Afirmou. Entendi que ele estava preocupado pela comemoração não ter sido boa.

— Eu adorei passar meu aniversário com todos vocês. Comer bolo, cantar minhas músicas favoritas e ver aqueles dois passando vergonha. Melhor aqui do que numa revista, não acha? — Perguntei. Reita gargalhou, concordando comigo. De fato, Aoi era uma figura rara e sem ele, a banda não existiria.

— Eu estou muito feliz de estar aqui, de fazer parte da vida de vocês, de ser do The GazettE e sermos reconhecidos pelos nossos esforços. É disso que eu mais gosto e agradeço todos os anos. — Falei, sem conter toda a emoção.

— Você não existe, Ru-chan. Feliz aniversário. — Disse ele. Eu sorri, agradecendo mais uma vez pela oportunidade.

Oportunidade de continuar fazendo música ao lado deles, de poder criar, de poder tocar as pessoas com minhas letras, com minha voz. Por que pessoas que estão há mais de vinte anos em atividade, não são somente astros da música…

São como heróis.