Pior do que o mal escrita por The Bringer of Rain


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Os dois principais diálogos desse capítulo são retirados/referência do seriado americano Yellowstone. É também um tributo meu a esta série. Boa leitura e fica a indicação.



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Tóquio. Quarta-feira, 18 de julho.

A sala estava mergulhada em penumbra, com as cortinas pesadas puxadas para bloquear a intensidade das luzes da cidade que piscavam lá fora. O brilho da metrópole proporcionava uma vista deslumbrante, mas naquele fim de tarde, a atmosfera era tensa, carregada com o peso de revelações.

O som da notificação do celular se destacava entre as buzinas muitos metros abaixo. Na cidade barulhenta, o silêncio das salas movimentava dinheiro, muito dinheiro.

Mensagem de Satoru Gojo: Então, Mei-Mei, pensou na proposta? Me ajuda com esse assunto aí vai. :D

Mensagem de Mei-Mei: Adoraria, Gojo. Mas você precisa aumentar a proposta.

Mensagem de Satoru Gojo: Qual a sua pedida?

Mensagem de Mei-Mei: 223.000 ienes.

Mensagem de Satoru Gojo: No total? :O

Mensagem de Mei-Mei: A diária.

Dois fortes toques na porta. Um tanto quanto desesperados. O aroma do café impregnou a sala instantes depois que a porta se abriu. A silhueta de um jovem homem engravatado se esgueirou para dentro da sala, e seus olhos caíram com esperança sobre a mulher de cabelos embranquecidos ali dentro.

— Senhora, eles estão precisando de você na outra sala.

— Um momento. - ela pediu ainda pendendo em ver o celular.

Antes que qualquer notificação pudesse chegar, o rapaz ergueu o tom de voz. Não fizera por desrespeito, mas por urgência.

Eu não acho que você tem um momento. - riu de nervoso.
A sala de reuniões era imponente, com uma longa mesa de madeira escura que ocupava o centro do ambiente. À sua volta, uma dúzia de executivos, vestidos com trajes elegantes, ocupavam suas cadeiras de couro almofadadas. A luz do lustre acima refletia-se no polimento impecável da mesa, criando uma atmosfera de negociação séria.

Os executivos, representantes de ambas as partes interessadas, trocavam olhares determinados enquanto aguardavam o início das negociações. Pastas de couro estavam abertas, expondo documentos estratégicos que detalhavam os números, projeções e metas para a possível colaboração.

O murmúrio de vozes e o farfalhar de papéis preenchiam a sala, competindo com o som distante da cidade lá fora.

— Por Deus, Yamada, não vim fazer negócios com eles, vim fazer negócios com você.

A porta se abriu, mas o cheiro ali dentro estava muito forte para que o odor do café fresco pudesse preencher o ambiente também. O som do salto contra o piso de madeira tocou uma sinfonia de tensão. Faixa 7 de Bethoven: Impasse. Seria um ótimo nome se fosse, de fato, uma canção.

Escuto você gritar do outro lado do prédio, Ivanov. - a voz feminina, mesmo que suave, outorgou espaço e presença ali.
A tensão no ar era palpável, mas os executivos mantinham uma fachada de profissionalismo. Todos os olhares se voltavam para a mulher de cabelos brancos e macacão preto que entrara na sala.

Mei-Mei encerrou sua caminhada próximo à ponta da mesa, escorada sobre um buffet e com os braços cruzados.

— Achei que tentaríamos resolver isso, Yamada. - ponderou Ivanov.

Yamada, na ponta da mesa mais próximo das janelas, mantinha a expressão altiva de um executivo sênior e a aparência de um homem que já se aproximava da idade senil. Atrás de seu terno e gravata, que mais eram sua armadura de anos acompanhando-o, seu rosto estava tão preocupado quanto seu coração.

Mei-Mei lhe parecia seu último recurso, mas sabia que seu estilo era diferente do comum.

— Tentamos resolver por três horas, Ivanov.

Foram três longas horas onde canetas caras deslizavam sobre cadernos, registrando pontos-chave enquanto cada detalhe era minuciosamente discutido. O serviço de consultoria estava no centro das atenções, e ambas as partes estavam ávidas por garantir os melhores termos possíveis.

— Ela é a alternativa.

E assim, os holofotes indicavam novamente a mulher.

— Não queremos uma fusão. - disse Ivanov sendo bastante enfático com o pedido.

— Ninguém quer uma fusão com vocês. Vocês têm mais dívidas do que lucro, seria mais fácil vender videocassetes. - ela não pegou nenhum arquivo, nenhuma pasta, nada.

De alguma maneira, aquilo seria uma sessão de linchamento, e Yamada sabia disso.

— Eu não vou ser intimidado, Yamada. Tiraremos nossos fundos e levaremos o dinheiro à concorrência.

Yamada ainda tentou contorná-lo, um fracasso no fim das contas.

— Só pedimos a você para suspender os dividendos.

— Isso destruiria as ações. - a palma da mão de Ivanov colidiu com a mesa.

Olhares voltaram a ele, que parecia um pouco mais transtornado do que no início. Mei-Mei sequer se levantou ou moveu um músculo. Ainda apoiada no buffet, ela iniciou seu monólogo, num tom quase que passivo-agressivo e com a expressão fria de um corvo observando a próxima carcaça que irá bicar.

— Sabe o que acontecerá ao vender nossos vinte por cento das suas ações amanhã? Vou lhe dizer, senhor Ivanov...o preço das ações cairá, o mercado parará de operar e todos os seus credores irão exigir uma retratação. Sua companhia ficará destruída na sexta, e como somos os maiores credores, prometo a você que não haverá mais negociações. Serei a gerente geral da sua empresa na segunda. Demitirei todos os funcionários, depois venderei os contratos


As tensões atingiam seu ponto mais alto. Cada palavra pronunciada representava um passo em direção ao sucesso ou ao impasse. Ivanov, que antes não estava satisfeito, ainda engolia os sapos do breve monólogo.

Ele aliviou o nó da gravata e recusou-se a acreditar, mesmo sabendo que aquilo era verdade. Por mais que doesse, ver seu trabalho numa posição como aquela trazia a fragilidade à casa do homem.

— Fundei esta companhia numa garagem...

— E lá terminará se não suspender os dividendos e nos permitir assumir a gerência. Não olhe para ele; você fala comigo agora. O que você decide? - Mei-Mei enfim desencostou do buffet, projetou seu corpo para cima da mesa, apoiando suas mãos na madeira entre os dois homens que negociavam.

— Verno... Verno... Certo. - num ápice da própria falta de razão, as palavras em russo escaparam antes das em inglês.

— É a decisão correta, George. Nós ajudaremos vocês.

Yamada e Ivanov apertaram as mãos. Um sorriso surgiu em diversos rostos, e nenhum deles era o do russo.

Já longe daquela sala, quando apertos de mãos eram executados, o som da notificação do aplicativo de mensagem soou de novo.

Mensagem de Satoru Gojo: Fechado. Estou transferindo o valor referente a 7 dias de diárias. Vá hoje no Tokyo Rooftop Bar, às oito horas; você terá ajuda nesse serviço. Ele não é feiticeiro, mas consegue lidar com maldições se precisar. ;P

Mensagem de Mei-Mei: É sempre um prazer, Gojo.


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