AS INDOMÁVEIS ROSAS DE AÇO - Livro II - Série CD escrita por Georgeane Braga


Capítulo 4
CAPÍTULO DOIS - Temporadas em Lisboa


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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As temporadas haviam começado. E este ano, promovidas pelas senhoras Maria Botelho de Bragança e Lucila Fernandes da Costa, duas damas muito influentes nas cortes de Portugal. 

 

Maria Botelho tinha residência em Évora e uma grande propriedade em Montemor que, desde a sua viuvez há anos, empenhava-se em ajudar os jovens no auge de seus anseios passionais e aulas de etiquetas às moças. Mesmo sendo, na época, jovem e muito bonita, Maria não se casara novamente, e os boatos que surgiram falavam de uma grande paixão, porém, ele a deixou.

Lucila tinha uma grande propriedade em Lisboa e grandes nomes eram listados em suas temporadas. Os convites eram enviados seis meses antes para as famílias, e estas sentiam-se lisonjeadas, preparando então, seus herdeiros para o evento e torcer para render ótimos casamentos.

Emília tentava convencer Anelisa a participar junto com suas primas na temporada de D. Lucila, mas como ela já era uma frequentadora da casa de D. Maria Botelho, não houve como fazê-la desistir.

Isso lhe causava certo desconforto porque Adelaide, sua irmã, não gostava de Maria que, segundo palavras dela, havia flertado e se insinuado para o visconde Henrique, várias vezes depois de casados, o que causou muitas brigas entre os dois e alguns aborrecimentos entre as duas, por Emília permitir que Anelisa se aproximasse da viúva. Contudo, por mais que as pérolas sempre fossem unidas, não costumavam interferir na educação dos seus respectivos filhos. Sendo assim, Adelaide não tocou mais no assunto.

― Anelisa, tenha cuidado, filha, você sabe muito bem discernir as boas e as más ações de uma pessoa. Se há uma coisa que aprendeu com nossa família foi o caráter. Então, peço-te, se perceber algo de errado nas atitudes ou ensinamentos de D. Maria, tenha o dever de contar imediatamente a mim e ao seu pai ― pediu Emília.

― Mamãe, não se preocupe. Dona Maria Botelho é uma senhora de classe, não vejo como poderá me influenciar negativamente. Os apelos de tia Adelaide em relação a ela são apenas seus ciúmes excessivos deturpando seu julgamento.

― Não fale assim de sua tia Adelaide. Ela é apenas preocupada com nossa família. Ela sempre foi assim, cautelosa. ― explicou colocando mais uma peça de roupa na mala da filha.

― Será uma ótima temporada, eu sinto ― Anelisa comentou sorrindo. ― Tenho certeza de que conhecerei belos cavalheiros, e, quem sabe, papai aprova algum para convidarmos para um jantar.

Emília riu.

― Veremos. 

 

~~CD~~

 

― Sejam bem-vindas, minhas rosas! ― felicitou D. Lucila ao ver Celeste, Belinda e Amélia chegando à mansão londrina, juntamente com Liana.

― Estamos honradas em participar de mais uma temporada em sua propriedade, D. Lucila. ― falou Liana.

― Tenho certeza de que gostarão bastante. Preparei uma agenda apertadíssima de eventos. Será muito produtivo. ― anunciou a anfitriã empolgada.

― Certamente.

Celeste quase suspirou alto. Se havia uma coisa que ela participava por obrigação, eram as temporadas. Gostava dos jantares, dos saraus, e até dos bailes, mas as temporadas eram bastante desgastantes e uma bela perda do seu tempo. Assim, pensava ela, mas guardava para si para não chatear a mãe que, uma vez ou outra, mencionava a palavra “casamento”.

As três acomodaram-se nos quartos preparados para elas com duas camareiras à disposição para vesti-las e arrumarem os cabelos, e Liana ficara em um quarto separado de frente ao delas.

― Minha mãe está muito confiante que encontrarei meu futuro marido aqui. ― falou Celeste com uma cara desanimada e as primas riram.

― Pode ter certeza de que ela se empenhará muito para isso ― confirmou Amélia. ― Pena que Anelisa não veio...

― Anelisa só sabe falar de D. Maria Botelho e sua classe, suas etiquetas e suas compras em Paris. ― respondeu Belinda. ― Não sei o porquê, mas aquela mulher não me inspira confiança...

― Nem a mim. Lembro bem do último concerto e de como minha mãe saiu de lá nervosa com meu pai por causa da senhora Botelho. Eles brigaram nesse dia. ― disse Amélia e Belinda afirmou.

― Tio Henrique é apaixonado por tia Adelaide. Só não vê quem é cego ― Celeste interveio. ― No entanto, homens adoram ser bajulados para ostentarem sua masculinidade. Uma espécie de competição idiota entre eles. 

As meninas riram de Celeste. A prima tinha um jeito peculiar de analisar as coisas. Era muito observadora, e seus comentários não deixavam de ser engraçados e reveladores. 

― Bom, vamos descansar um pouco, porque a jornada dessa temporada não será nada fácil. À tarde teremos apresentações e passeios pela propriedade e, à noite, um jantar bem movimentado. ― Lembrou Amélia. ― Belinda, ajude-me a tirar meu espartilho?

― Vou pedir Celeste pra lhe fazer esse favor, prima. Vou dar uma volta pelos campos da Casa. Volto em meia hora.

Na verdade, Belinda queria, de antemão, descobrir quem eram os cavalheiros convidados para a temporada. Da última vez, até gostara do senhor Leonardo Fagundes, caminharam juntos, tiveram conversas após os jantares, mas Judite Benvinda, foi mais esperta, e com suas técnicas clichês como: torcer o pé durante uma caminhada ou sentir-se mal no meio do jogo de cartas atraiu a atenção dos rapazes.

Judite era bem bonita. Belos cabelos e olhos castanhos claros, e um andado bastante sedutor para uma jovem de apenas dezessete anos. Onde passava, atraía a atenção. Mas Belinda também era bela. Possuía longos cabelos louros e cacheados, como os de sua mãe, seus olhos eram esverdeados, gostava de conversar e tinha um sorriso encantador. Diferente de Suzana, sua irmã, que puxara os traços de seu pai, tendo cabelos e olhos escuros e era mais reservada.

 Sobre o jovem Fagundes, ficou sabendo que não firmara compromisso com Judite após a temporada. Ela ficara noiva de outro homem com o dobro da idade dela e uma renda de *** por ano. Ou seja, casara-se muito bem.

Pensou que o senhor Fagundes poderia ter sido convidado novamente para a temporada.

― Quem sabe não tenho sorte dessa vez... ― falou consigo mesma enquanto passava por um pequeno jardim que ficava atrás do casarão.

― Sorte é para os preguiçosos; pessoas proativas traçam seus próprios objetivos e os alcança. ― disse uma voz atrás de si e ela se virou alarmada. ― Perdoe-me por assustá-la, não era a minha intenção.

Era um jovem alto, de cabelos e olhos escuros, pele bronzeada. Trazia um meio sorriso no rosto e seus atentos olhos a analisava. Belinda ficou sem fala.

― Perdoa-me? Vejo que a assustei. Não é assim que gostaria de causar a primeira impressão. Sou Alencastro, Tomaz de Alencastro, muito prazer.

―Hã, desculpe-me, é que sua fala soou como minha prima Celeste falando.  Sou Belinda Casagrande, da Casa D’albartine. ― e estendeu a mão para que ele a reverenciasse.

― Casa D’albartine? Parece importante.

― Nunca ouviu falar? Impressionante.

― Então realmente é importante ― e sorriu. ― Eu não sou daqui, cheguei há pouco tempo da Inglaterra, meu pai é juiz e foi solicitado pelo Conselho Imperial. Minha mãe conhece D. Lucila de longa data, da época em que morava aqui em Portugal; ela soube da nossa volta e, bem, por isso estou aqui.

― Então está apenas de passagem.

― Sim, mas, por um bom tempo. Desculpe-me perguntar, mas porque disse que parecia sua prima falando?

― Celeste tem um jeito excêntrico de ver as coisas. Isso é admirável, mas assusta as pessoas. 

― Certamente. E principalmente por ser uma mulher, não é?

― Sim, mas as moças da Casa D’albartine não costumam se importar com o julgamento das pessoas.

― Hum, interessante... confesso que esta Casa me causou curiosidade.  Posso lhe fazer companhia enquanto me conta mais sobre?

― Você é confiável? ― perguntou com ar zombeteiro. 

―Tem a minha palavra. E eu não colocaria a perder a oportunidade de conhecer uma jovem tão bela... ― e olhou para ela deixando-a corada.

― Não se engane, senhor, posso ser tão bela como uma rosa quanto ferina como um espinho. Aliás, eu não quero chocá-lo, senhor Alencastro ― falou desafiadora.

― Meu Deus... e eu me preocupando em não assustá-la ― caçoou e os dois riram. ― E, por favor, me chame de Tomaz.

― Tudo bem, Tomaz, aceito sua companhia para essa caminhada. A história da Casa D’albartine é longa...

― Tenho todo o tempo do mundo ― falou e os dois seguiram caminhando.

 

~~CD~~

 

― Onde estavas, Belinda? ― Tia Liana já veio aqui duas vezes para nos apressarmos para o chá das apresentações. Você está atrasada. ― questionou Amélia.

― Desculpe-me meninas, mas tenho novidades. ― sentou-se na cama e as outras duas já se juntaram a ela, curiosas.

― Conte-nos. ― se apressou Celeste.

― Conheci um jovem enquanto dava uma volta pelos jardins. Ele é tão inteligente, tão bonito e tão engraçado... ― suspirou.

― Meu Deus, Belinda, com tantos requisitos assim em um só homem, não deve ter sobrado nada para nós. ― Celeste brincou.

― Estou sendo sincera, meninas. Ele se chama Tomaz Alencastro e veio da Inglaterra porque seu pai é um renomado juiz e foi solicitado no país para tratar questões políticas importantes.

― Ele mora na Inglaterra? Ah não, você não pode se apegar a ele. ― Amélia falou com firmeza.

― Eu não vou! Eu só fiquei feliz em ter uma boa companhia nesta temporada.

― Sei... e ele te falou que questões políticas são essas? ― quis saber Celeste.

― Não, não falamos muito sobre isso. Mas podemos nos juntar a ele para uma conversa no chá da tarde e após o jantar.

― Já vi tudo! ― disse Amélia ― você tem interesse nele.

― Eu não! O conheci a poucas horas.

― E já está muito empolgada. Mas sim, vamos conversar com ele, até porque Amélia e eu precisamos aprová-lo. ― Celeste falou e Amélia concordou.

Uma batidinha na porta e as camareiras entraram acompanhadas de Liana para a preparação das moças para o chá. Meia hora mais tarde, as quatro estavam descendo em direção ao Grande Salão para as devidas apresentações e uma tarde agradável de interações.

Estavam presentes as senhoritas Mariana Bueno, Dália Sampaio, Jandira Toledo e as irmãs Campos Sales.  Cada uma delas acompanhada de suas mães ou tutoras. O rol dos cavalheiros se compunha de: Marcos Figueiredo, os irmãos Ângelo e Manoel Duarte, Afonso Camilo, Carlos Batistta, Heitor de Carvalho e Silva, o partido mais cobiçado entre as moças, Venâncio Cabral e o inglês Tomaz de Alencastro.

As apresentações foram feitas formalmente e todos estavam em uma conversa animada. Muitas perguntas naturalmente sendo feitas para conhecerem a procedência e os cofres de cada cavalheiro. 

― Você é inglês, jovem Alencastro, mas tem nome e sobrenome português? Muito interessante. ― perguntou a interessada senhora Sampaio à Tomaz.

― Meus pais são naturais daqui, senhora Sampaio, mas foram para a Inglaterra logo que se casaram. Agora estão de volta para uma temporada no país. ― respondeu educadamente.

― Que pena que estão apenas de passagem, não é mesmo? Digo se, caso aconteça  de contrair noivado com uma dama portuguesa, como fará?

As outras mães olharam de soslaio para a senhora. Ela já tinha a fama de jogar a filha Dália no primeiro bom partido detectado, e o jovem em questão era bombardeado com perguntas e mais perguntas, além de o pobre alvo não ter mais vida própria nas temporadas.

― Se acontecer, é muito provável que me casarei aqui, mas partiremos para a Inglaterra.

― Maravilha! ― respondeu a senhora com empolgação.

― Prevejo que a senhora Sampaio e Dália já escolheram seu alvo nesta temporada e não vão largar o osso ― cochichou Amélia para as primas.

― Não se eu puder evitar ― retrucou Celeste já percebendo o semblante tristonho de Belinda. 

Liana chamou a atenção das meninas discretamente. Não era educado cochicharem.

A mãe de Dália mal respirava com tantas perguntas, de modo que Celeste aproveitou uma breve pausa e falou em bom tom de voz, despertando a atenção de todos:

― Senhor Alencastro, gostaria já de antemão, convidar o senhor para se juntar a nós, minhas primas e eu, após o jantar, com a presença de minha mãe, obviamente. Soube da parte de Belinda em vossa conversa mais cedo que se interessa por política. Acredito que teremos um assunto produtivo.

O salão se calou. Liana baixou a cabeça pensando que era de se esperar por algo assim. Não era costume, claro, uma moça convidar um cavalheiro para uma conversa, normalmente era o contrário, ainda mais quando o assunto fosse política. A senhora Sampaio ficou indignada, principalmente porque ela já tinha planos. Dona Lucila não se importou; ela adorava o jeito irreverente das meninas D’albartine e esse era o motivo pelo qual, sempre estavam em sua lista de convidadas. 

Mas Tomaz abriu um sorriso cúmplice e respondeu:

― Será uma honra, senhorita D’albartine. Certamente teremos muitos assuntos no decorrer desta temporada. Soube também que é colunista no jornal de Évora? Gostaria de saber mais sobre o que escreve e, quem sabe, conhecê-lo antes de partir?

― Já está convocado, senhor Alencastro.

Na visão da maioria ali, estava acontecendo um descarado flerte. Até Liana se sentiu esperançosa enquanto presenciava tão calorosa conversa entre os dois. Mas tudo foi ao chão quando ao saírem do salão, Celeste sussurrou para a mãe:

― Não entenda errado, mamãe.  Estou apenas ajudando Belinda.

 

~~CD~~

 

Após o jantar na Mansão de D. Maria Botelho, a senhora chamou Anelisa para uma conversa amigável.

― E então, Anelisa, suas primas não ficaram chateadas por você ter escolhido vir para cá e não para a temporada em Lisboa?

― Elas não entendem. Gosto bastante de ficar com a senhora.

― Que bom. Me sinto grata. ― e sorriu. ― E sua mãe, não se importa que frequente minha casa?

― Ah não. Quer dizer... ela fica um pouco receosa por conta das coisas que minha tia Adelaide diz sobre a senhora... ― comentou cautelosa.

― De mim? Oras, mas que coisas seriam essas?

― Bom... tia Adelaide tem ciúmes da senhora com meu tio Henrique, e sempre diz que a senhora se insinua para ele... Mas eu não acredito em nenhuma palavra do que ela diz!

Maria deu uma gargalhada e falou:

― Mas isso não tem fundamento algum! O visconde e eu sempre fomos bons amigos, muito antes de ele conhecer sua tia. Mas eu a entendo, Henrique sempre foi a preferência de muitas mulheres da minha época ― disse saudosa e suspirou. ― Porém, são águas passadas. Sua tia Adelaide deveria aprender a ser mais controlada. Homens não gostam de mulheres que fazem cena de ciúmes.

― Concordo. 

― Você é diferente delas, Anelisa. Suas primas são muito bonitas, mas você as supera em beleza, classe e estilo. Você terá um futuro brilhante. E se depender de mim, terás um ótimo casamento e posição.

Os olhos de Anelisa brilharam.

― Aliás, você é uma legítima D’albartine, segundo a história lendária da união das famílias. Mas nem todas suas primas são, não concorda? ― alfinetou.

― Como assim?

― Oras, somente os filhos dos Lamartine’s com as respectivas esposas D’alboquerque, são os legítimos D’albartine. Os outros herdeiros não são; apesar de fazerem parte da família Lamartine ou D’albquerque, mas com a união de outras famílias.

― Ah, mas não existe essa divisão. O lema da família é estarem sempre juntos, independente de qualquer circunstância. Todos os homens que entraram para a família são considerados filhos, assim como os netos que nasceram. Uma família grande, amorosa e única. ― respondeu a menina prontamente.

― Hum. Muito bonito isso, de fato. Não me leve a mal, Anelisa, estou apenas dando a minha opinião… é o que as pessoas pensam, na verdade; não é justo que todos sejam colocados numa mesma posição de honra quando uns merecem mais do que outros, não acha? Aliás, a fama da Casa D’albartine transpassa esse país e tenho certeza de que a família quer manter esse respeito e linhagem.

Anelisa ficou pensativa. Maria continuou:

― Um nome que se tornou tão poderoso, tens que tirar proveito disso, entende? Será uma mulher de posição, destaque, conquistará o respeito das pessoas onde passar. Por isso vou investir em você, porque vejo isso. Porém, as pessoas irão reconhecer somente as legítimas D’albartine’s. As outras terão que contentar com a sorte. ― fez uma cara de desdém.

― Mas, o que se pode fazer a respeito. Quero dizer, como fazê-los entender isso?

― Colocando cada um em seu devido lugar. E somente você pode fazer isso.

 

~~CD~~

 

― Minha família promoverá um baile em breve. O famoso Baile de Outono. Vou pedir à minha tia Joana para enviar o convite a vocês, será em Évora ― disse Belinda a Tomaz.

Os dois estavam conversando reservadamente na sacada do salão. Já era noite. Após o jantar com várias alfinetadas de Dália e sua mãe, às meninas D’albartine, Liana já estava ficando nervosa, porém, Celeste como sempre, conseguiu contornar a situação. Ela era excelente para roubar a atenção e mudar o rumo da conversa. Depois, foram para a sala dos doces, em seguida, sala dos jogos, mas os dois resolveram conversar.

― Um baile. O que seria das nossas vidas sem eles? -- brincou.

― Ah, não fale assim. Bailes são ótimos eventos para conhecer gente nova.

― Ou temporadas. ― E sorriu para ela. ― A propósito, fiquei muito feliz em te conhecer. Eu já estava entediado antes de chegar aqui. Você me salvou, Belinda.

― Então está em dívida comigo. E o pagamento será a sua presença no baile.

― Olha só, estou lidando com uma negociadora. Estou cada vez mais encantado ― e se aproximou dela.

― Eu também estou feliz em te conhecer. Aliás, você também me salvou, confesso. Se não estivesse aqui, o melhor partido seria Manoel Duarte.

― O caladão com cabelo vermelho? ― Ela fez uma cara de riso, afirmando ― Não sei se posso ficar feliz com a comparação.

Belinda caiu na gargalhada.

― Não é isso, é porque todas querem Heitor de Carvalho ou você. Mas Heitor é um pomposo, e se você não estivesse aqui, eu não o suportaria. Então, Manoel seria melhor companhia.

― Está explicado e está perdoada. 

― Não me lembro de ter pedido perdão... mas pelo menos estamos quites, já que nos salvamos um ao outro.

― Então estou livre do baile?

― Óbvio que não! Meu tio, o marquês de Canto e Melo começará a enviar os convites assim que chegarem em Évora, e já farei o pedido a ele.

― Marquês de Canto e Melo? Nós o conhecemos. Quero dizer, meu pai sempre o menciona. São amigos, acredito eu.

― Que coincidência maravilhosa! Ou melhor, já estava no destino que você estaria no baile.

Ele fez uma careta e ela soltou uma risadinha.

 ― Mas se a senhorita estiver lá, tudo será diferente. Terei um motivo especial para me alegrar ― disse ele olhando-a nos olhos.

Ele se aproximou mais um pouco e Belinda não fez nenhuma menção de recuar. Se ele tivesse a intenção de beijá-la, como parecia, ela queria muito que seu primeiro beijo fosse com ele. 

Em todas as outras temporadas ou bailes, ela se interessara por alguns rapazes, todavia, em nenhuma ocasião eles ousaram dar um passo além do limite permitido e ela também não desejara isso. Mas agora, apesar de nunca ter beijado, ela queria que ele o fizesse.

Ele chegou mais perto ainda; olhos nos olhos. Belinda teve a impressão de ter levado seu corpo para frente. Tomaz pegou nas mãos dela, estavam levemente trêmulas.

― Seria muita ousadia de minha parte dizer que quero muito beijá-la? ― sussurrou.

Ela soltou uma leve lufada.

― Seria. Mas se eu dissesse que estou chocada, estaria mentindo. ― respondeu no mesmo tom de voz.

Então ele ousou. E a beijou. Um beijo tímido como se as bocas estivessem se reconhecendo. O anseio mútuo falou mais alto e o beijo se aprofundou, as mãos dele foram parar na cintura dela, e as delas, nos ombros dele.

Esqueceram que podiam ser surpreendidos por alguém. Estavam no terraço, mas não era um lugar tão reservado assim. 

Belinda não soube dizer quanto tempo durou aquele beijo, mas parecia ter se passado várias horas quando terminou. Ela não queria que terminasse e, como se ele adivinhasse seus pensamentos, selou os lábios dela mais uma vez.

As pernas dela tinham perdido as forças e ainda segurava os ombros dele.

― Eu nunca... ― quis falar alguma coisa.

― Eu fico honrado de ter sido o primeiro. ― e a beijou mais uma vez ― Eu poderia beijá-la a noite toda, mas sei que estamos nos arriscando muito.

Ela apenas concordou com a cabeça, com a testa colada na dele e os olhos fechados desejando que não fosse apenas um sonho.

Esperaram mais um pouco de tempo, e voltaram para o salão.

 

~~CD~~


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Notas finais do capítulo

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